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ECOLOGIA INTEGRAL DO PAPA FRANCISCO: de Hans Jonas a justig¢a ambiental Marijane Vieira Lisboa Enciclica papal sobre ecologia, divulgada em 2015, a Laudato Si’ (FRANCISCO, 2015), destacou-se por sua ousadia e atualidade nas abordagens adotadas, pelas tematicas privilegiadas e pela natureza da reflexao papal, que consistem no seu conjunto no que ha de mais avangado ¢ inovador entre os movimentos socioambientais e correntes do pensamento académico e cientifico no campo ambiental. Entre essas abordagens ousadas, esta a sua concep¢do do que seja uma ecologia integral, que propée que se trate a problematica ecologica como um conjunto de problemas a serem enfrentados nfo s6 pelas ciéncias naturais, mas também do ponto de vista das ciéncias humanas, ou seja, em uma abor- dagem transdisciplinar. O privilegiamento dos pobres e grupos sociais mais desfavorecidos do ponto de vista econdmico e politico — ou seja, povos indigenas, populagées tradicionais e populagées vulnerabilizadas dos centros urbanos — é outra carac- teristica ousada da Enciclica, aproximando-a do que se chama do campo de lutas e reflexao académica da Justiga Ambiental (ACSELRAD et al., 2009; CARRIZO; BERGER, 2012), corrente que engloba movimentos sociais de povos, populagées tradicionais e comunidades que tem visto suas condigdes de vida ambientais serem afetadas por grandes empreendimentos, expansao do agronegécio, desmatamento, e mineragao em grande escala entre outros. Finalmente, outro aspecto onde a Enciclica se mostra extremamente arrojada é no que concerne a sugerir uma Etica biocéntrica, fugindo a grande tradigado hegeménica do cristianismo, que concebia o ser humano como a unico ser da Criago merecedor do direito de vida. Essa concepgao é arrojada porque, mesmo no movimento ambientalista, no Direito Ambiental e na Economia Ecoldgica, 0 que predomina ainda hoje é uma visao antropocéntrica da sua problematica. De fato, ai se sustenta a concepgao de que nds, seres humanos, necessitamos para sobreviver como espécie de um meio ambiente equilibrado, e somente por isso deveriamos preserva-lo. Ou seja, o chamado “argumento egoista”, o de que estamos todos dentro do mesmo barco e dependemos de um meio ambiente saudavel e equi- librado para nele podermos viver. 0. 4 ante do ambientalismo designada de “Ecolog; ae titude piocéntrica em relacdo a natureza P, os EUA, & tendo tido como suas principais expres : Ido Leopold (1887-1948), essa eqn ety n hi ais 3.1914) mals tarde Aldo Ls - - é 1s que ameaga cf ft micas que ameagavam a consery, John Mur as atividades eco! avango das a ' . v opunitia no avarngo o'” iltiplas fungdes da natureza ry $e Pn silvestre, defen’ plas fung eZA, entre g Jendo as mu or E da Laat aetético € moral (ALIER, 2007, p. 22). 0 a a pides. embora tod: ituem a Natureza na esfer, Em relay: bito da interferéncia divina, sua importincig do, see Ea humana pode variar de um oe Ts .um estatuto re «. crendices, heresias, misticismos ¢ animismos, termo COM GUE A antropolog, eurocentrada denominou muitas cosmologias ereligides afticanas eda Oceania nas quais diversas sociedades reconheciam em plantas, animais e fendmenc, climaticos, “almas” ou espiritos semelhantes 4s almas humanas (FRAZER, | of, Por isso, devido Aquela visio hegeménica da tradigo judaico-crig i é surpreendente ver exposta na Laudato Si'a ideia de que todas as esp cies animais e vegetais tem um valor em si, independentemente de su uti lidade para nds. Diz o Papa Francisco: 16 Entretanto ndo basta pensar nas diferentes espécies apenas como eventuis «recursos» exploraveis, esquecendo que possuem um valor em si mesmas Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, uejé no poderemos conhecer, que os nossos filhos nao poderio ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razdes que tém a ver com alguma atividade humana, Por nossa causa, milhares de espécies a nao dardo gloria a Deus com a sua existéncia, nem poderao comunicar- ~nos a sua propria mensagem. Nao temos direito de o fazer (LAUDATO SI [LS], 33). ‘Nessa postura em que reconhecemos 0 valor da Natureza em si, o Papa Francisco se une, contudo, nao sé as cosmovisdes mais profundas dos povos originarios, mas também ao que ha de mais avangado na filosofia da ciéncia ena ciéncia ecoldgica. Seres, sistemas e fluxos ecoldgicos, todos tem sua razao de ser no Planeta e nao deveriamos nos dar o direito de interromper equilibrios que se estabeleceram a partir de lentissimas mudangas e demorados experimentos da Natureza e sobre os quais, pouco ou quase nada sabemos Accitica 4 Etica antropocéntrica, como sabemos, também foi o fulcro d2 teflexdo de Hans Jonas, ao afirmar que nao temos o direito moral de muda mos 0 caminho ou os rumos da Natureza, em particular os da nossa nature2 humana (JONAS, 2006). A tese fundamental de Jonas é que os enormes poderes que hoje de MOS gracas as tecnologias sofisticadas de nossa época requerem de nos ce nova Etica que empreenda a defesa da vida. No passado, éramos impote”™ frente a uma Natureza poderosa, contra a qual necessitavamos simplesmet de astiicia € criatividade. Agora, contudo, é essa Natureza que se tomnou ee neravel ao nosso agir, por isso tornamo-nos responsaveis por ela, see Consideré-la como algo da qual somos apenas tutores. Ao fazé-lo, diz a ‘a abandonariamos uma Etica antropocéntrica e reconheceriamos © ee a Natureza a ser como ela é. Contudo, afirma ele, fora as religides, nem outra Etica anterior poderia nos servir de exemplo, menos ainda @ on —_— UMA TAREFA COMUM: Hans Jonas e 0 Papa Francisco em didlogo sobre a responsabilidade 7 moderna que nao reconheceria 4 Natureza nenhum direito, despindo-a de qualquer dignidade ou sentido (JONAS, 2006; LISBOA, 2005). Aqui ha um segundo ponto de contato entre a filosofia de Hans Jonas ¢ a Laudato Si’, que é a critica da tecnologia. Pois, embora a tecnociéncia tenha nos prestado tanta ajuda, o Papa reconhece que ela também trouxe consigo grandes riscos. Ao contrario, como lamenta o Papa, muitas dessas novas tecnologias de ponta visam apenas obter resultados econémicos imediatos (LS, 34). Por isso, por perseguir o lucro e 0 consumismo, ela se torna fator de empobrecimento e feiura da Natureza. Diz ele: Sao louvaveis e, as vezes, admiraveis os esforgos de cientistas e tecnicos que procuram dar solugao aos problemas criados pelo ser humano. Mas, contemplando o mundo, damo-nos conta de que este nivel de intervengdo humana, muitas vezes ao servigo da finanga e do consumismo, faz com que esta terra onde vivemos se torne realmente menos rica e bela, cada vez mais limitada e cinzenta, enquanto ao mesmo tempo o desenvolvimento da tecnologia e das ofertas de consumo continua a avangar sem limites. Assim, parece que nos iludimos de poder substituir uma beleza insuprivel ¢ irrecuperavel por outra criada por nés (LS, 34). No 3° Capitulo, A raiz humana da crise ecolégica (LS, 103-104), 0 Papa nos alerta para uma outra questao importante, qual seja a dos enormes poderes politicos e econémicos daqueles que detém as novas tecnologias como a energia nuclear, a biotecnologia, e a informatica. Tais poderes podem ser empregados contra os demais seres humanos e seres vivos, exploran- do-se a natureza e afetando os povos mais vulneraveis. Basta recordar 0 fato, diz o Papa, de que as bombas atémicas e a tecnologia armamentista matam milhdes: Nao podemos, porém, ignorar que a energia nuclear, a biotecnologia, a informatica, 0 conhecimento do nosso préprio DNA e outras potencia- lidades que adquirimos, nos do um poder tremendo. Ou melhor: dio, queles que detém 0 conhecimento e sobretudo o poder econémico para 0 desfrutar, um dominio impressionante sobre o conjunto do género humano € do mundo inteiro, Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizar bem, sobretudo se se considera a maneira como o esti a fazer. Basta lembrar as bombas atdmicas langadas em pleno século XX, bem como a grande exibigdo de tecnologia ostentada pelo nazismo, 0 comunismo e outros regimes totalitérios e que serviu para 0 exterminio de milhdes de pessoas, sem esquecer que hoje a guerra dispoe de instrumentos cada vez mais mortiferos. Nas mios de quem esta e pode oo” 18 i _ chegar a estar tanto poder? E tremendamente arriscado que TeSida nung pequena parte da humanidade (LS, 104). Ora, existe hoje uma sociologia especifica que se dedica a es; mente isso que foi objeto da critica papal: os riscos que sio dec. modernas tecnologias. Essa sociologia, a Sociologia do Risco, t principal expressao 0 socidlogo alemao Ulrich Beck, recentem Para esse socidlogo, os riscos da sociedade pés-industrial sa justamente do seu sucesso cientifico e técnico (BECK, 1995). € capaz de criar produtos e técnicas extraordinarios, mas nao esta disposta a avaliar os seus riscos. Movida pelos interesses politicos, tais produtos e técnicas so liberados no meio am| adequada avaliacdo do seu impacto ambiental e na satide, po que o Direito Ambiental reconhece hoje como 0 Princip tudar justa. Orrentes eM como g ente falecidg, 10 decorrentes Essa Sociedade € capaz ou nao €condmicos oy biente sem uma tanto sem aquilo io da Precaucéo Préprios limites. Por isso, é possivel que da seriedade dos desafios que s¢ Ihe te a possibilidade de o homem faze" apresentam, necessidades imediatas, do egoism™- ele esta nu e exposto frente 0 5¢' UMA TAREFA COMUM: Hans Jonas e o Papa Francisco em didlogo sobre a responsabilidade 19 proprio poder que continua a crescer, sem ter os instrumentos para 0 controlar, Talvez disponha de mecanismos superficiais, mas podemos afirmar que carece de uma ética sdlida, uma cultura ¢ uma espiritualidade que Ihe ponham realmente um limite € 0 contenham dentro dum lticido dominio de si (LS, 105). A técnica, portanto, nao € neutra, melhor dito, seus resultados sao ambi- valentes, pois tanto é capaz de produzir o bem, quanto o mal. Condicionada e condicionadora dos nossos modos de vida (LS, 107), o Papa nos recorda aquilo que disse a Escola de Frankfurt e outros importantes pensadores sobre a técnica (ADORNO; HORKHEIMER, 1985; CASTORIADIS, 1987; MAR- CUSE, 1999; MORIN, 1994). O mercado tampouco garante o desenvolvi- mento humano integral nem a incluso social. Os problemas atuais tém muito a ver com os fins e os meios utilizados pela técnica. Recordando-nos 0 que nos diz Hans Jonas sobre examinarmos as fina- lidades das técnicas, afirma o Papa: Assim podemos afirmar que, na origem de muitas dificuldades do mundo atual, esta principalmente a tendéncia, nem sempre consciente, de elaborar a metodologia e os objetivos da tecnociéncia segundo um paradigma de compreensao que condiciona a vida das pessoas e o funcionamento da sociedade. Os efeitos da aplicagado deste modelo a toda a realidade, humana e social, constatam-se na degradagdo do meio ambiente, mas isto ¢ ape- nas um sinal do reducionismo que afeta a vida humana e a sociedade em todas as suas dimensoes. E preciso reconhecer que os produtos da técnica nao so neutros, porque criam uma trama que acaba por condicionar estilos de vida e orientam as possibilidades sociais na linha dos interesses de determinados grupos de poder. Certas opgdes, que parecem puramente instrumentais, na realidade so opgdes sobre o tipo de vida social que se pretende desenvolver (LS, 107). Nao se deveria, portanto, deixar a essas entidades abstratas, que se arvo- ram a representar 0s interesses coletivos da humanidade — a Ciéncia, 0 Mercado ou mesmo 0 Estado — 0 poder € 0 direito de fazer as escolhas tecnolégicas cujos impactos possam ser devastadores para a humanidade e para a Natureza em geral. A Sociologia Politica e a Ciéncia Politica nos mostram que quem hoje tem poder para decidir os rumos da pesquisa basica das tecnologias a serem desenvolvidas so forgas econémicas ¢ politicas poderosas, pouco ou nada comprometidas com os interesses coletivos. A ciéncia, como diz Edgar Morin, precisa ser democratizada (MORIN, 1989; 1994). A técnica, como propée Beck, precisa ser libertada da imposi¢ao do lucro, para servir a felicidade humana (BECK, 1995). Dai a exigéncia moral de que se adote o chamado Principio 20 $$ : i : a investigue previamente a possipiy, iénci que a ciéncia In mi lc cos envolvidos no uso de seus novos pr tas, ‘od GES et al,, 2002; LISBOA, 2005; WHITESIDE, 9» técnicas (HARREMOES e ara as quai se deveria impor limites Como exemplo de téenivas \dugdo de organismos geneticament, * ona aquelas que levaram a produc: oe ‘© modi. fai iis transgénicas. Tolerantes a herbicidas poderosos, oy trans. fea mesmas em inseticidas gragas 4 insergao de SeNes que secretay, substancias toxicas, as grandes empresas de biotecnologia como Monsanto Singenta, Du Pont, Bayer e Basf langaram no mercado plantas alimenticias como a soja, milho, canola e algodao de modo a facilitar o controle de pra mediante aplicagao de agrotéxico para o qual as plantas sofrem alteragies transgénicas de modo a se tornarem tolerantes (ZANONI; FERMENT, 2011), Monoculturas, como se sabe, so particularmente susceptiveis de infestagies, pois sua pobreza ecoldgica as torna alvo de pestes. Ao contrario, do senso comum, que manipulado pela propaganda enganosa das industrias da biotec- nologia e de tantos cientistas vendidos aos seus interesses, cré que os trans. génicos vieram para mitigar a fome do mundo, o Papa aponta para o perigo das tecnologias que nao respeitam o tempo e a ordem proprias 4 Natureza: da Precaugao, ou seja, qu da ocorréncia de sérios rs Embora nao disponhamos de provas definitivas acerca do dano que pode- tiam causar os cereais transgénicos aos seres humanos e apesar de, nalgu- mas regides, a sua utilizagao ter produzido um crescimento econémico que contribuiu para resolver determinados problemas, ha dificuldades impor tantes que nao devem ser minimizadas. Em muitos lugares, na sequénci@ da introdugao destas culturas, constata-se uma concentragao de terres Produtivas nas maos de poucos, devido ao «progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, em consequéncia da perda das terras culliv se viram obrigados a retirar-se da produgdo direta». Os mais frége'* ae eae tabathadores Precérios, e muitos assalariados ari ee ‘grar para miseraveis aglomerados das cidades. A ae Give Culturas destrdi a complexa trama dos ecossistemas, dir riers ese o presen oon a oe ara igopélios na ae nota-se uma tendéncia para o desenvolvine para o cultivo, ¢ aie lugdo de sementes e outros produtos neces’ io ai . pendéncia agrava-se quando se pensa na pro le sementes estéreis los 3 que acabam por obrigar os agricultores a comp" “S empresas produtoras (LS, 13 a 8 gn De fato, as mudan, bie Spice sie ceca ac chen urea ac uh eee coe aaa ore oreo ees RTR UMA TAREFA COMUM: Hans Jonas ¢ o Papa Francisco em didlogo sobre a responsabilidade 2 amplamente devedora da expansio dos cultivos de soja transgénica (LS, 134), ela acarretou impactos sociais sobretudo aos pequenos agricultores que perdem suas terras contaminadas e empobrecidas pelo uso sistematico de agrotoxicos dos seus vizinhos, ampliou 0 desmatamento para o plantio das monoculturas de soja e empobreceu os ecossistemas como um todo. O Papa alertava na Enciclica, também, para o fato de que a transgenia reforca o ja existente oli- gopslio dos produtores de sementes, cuja produgdo se concentra nas maos de poucas grandes indiistrias transnacionais, e que tem na tecnologia de sementes estéreis — popularmente chamadas de Terminator, nome fantasia da semente estéril registrada da Monsanto —a culminagao de uma estratégia de completa dominagao do mercado mundial de sementes. Ha, de fato, uma enorme arrogancia humana em pretender substituir a beleza natural pela beleza criada por nés, diz o Papa (LS, 34). Exemplo disso € 0 fato de que os nossos biotecndlogos que inventam transgénicos costu- mem chamar as plantas engenheiradas de “produtos”, e dizer que elas foram ! melhoradas para consertarem certos defeitos seus, como serem suscetiveis a certas pragas ou quest6es climaticas. Esse é um tema complexo, lemos na Laudato Si’, e que requer uma discussdo ampla e pesquisas independentes: Sem diivida, ha necessidade duma aten¢do constante, que tenha em con- sideragao todos os aspectos éticos implicados. Para isso, € preciso asse- gurar um debate cientifico e social que seja responsavel e amplo, capaz de considerar toda a informagao disponivel e chamar as coisas pelo seu nome. As vezes nfo se coloca sobre a mesa a informagdo completa, mas é selecionada de acordo com os proprios interesses, sejam eles politicos, econdmicos ou ideologicos. Isto toma dificil elaborar um juizo equilibrado e prudente sobre as varias quest6es, tendo presente todas as variéveis em jogo. E necessario dispor de espagos de debate, onde todos aqueles que poderiam de algum modo ver-se, direta ou indiretamente, afetados (agri- cultores, consumidores, autoridades, cientistas, produtores de sementes, populagdes vizinhas dos campos tratados e outros) tenham possibilidade de expor as suas problemiticas ou ter acesso a uma informagao ampla e fidedigna para adotar decisdes tendentes ao bem comum presente ¢ futuro. ‘A questo dos OMG ¢ uma questio de cardcter complexo, que requer ser abordada com um olhar abrangente de todos os aspectos; isto exigiria pelo menos um maior esforgo para financiar distintas linhas de pesquisa auténoma e interdisciplinar que possam trazer nova luz (LS, 135). Alids, no posicionamento em relagao & aplicagao da biotecnologia para plantas, é possivel notar que o Papa Francisco é bem mais exigente do que Hans Jonas, pois enquanto esse ultimo faz excegdes ao uso da engenharia 22 Jantas transgénicas, agrotoxicos ou Mes, a utilidade dessas técnicas pudesse ser i sé cré que nao se deva alterar a p Tag, animais ou pessoas, Teconhecens cmplexidade e beleza que ndo nos permitiria fazé-lo sem cons nig, uma complex! mas também aponta os verdadeiros fins que estariam Dorie ee cs como 0s interesses econdmicos e politicos, _ ae ae so politica e econdmica das transnacionais da biotecn, lg étamanha que chegar a produzir um interditum proibitorum Sobre 0 tema : grandes 6rgios inteacionais relacionados com a satide e aagricultura, ¢ ‘me na Organizagaio das Nagdes Unidas para Agricultura e Alimentagao (FAQ). na Organizago Mundial da Satide (OMS). No Programa de Meio Ambiente é ONU (PNUMA), 0 Protocolo de Cartagena que deveria obrigar a identifica, das empresas e tecnologias de gros transgénicos comercializados intemacia. nalmente, de modo a que fosse possivel responsabilizar paises e empresas po futuros danos, encontra-se ha mais de uma década em compasso de esperz Enquanto isso, avangam as pressdes no ambito dos tratados comerciais de modo a coibir que paises possam se recusar a importar alimentos transgénicos por tazbes de satide publica ou ambientais (ANDRIOLI; FUCHS, 2008). Frente ao poder dessas forgas que calam governos e 6 : rgaos intema- Cionais, a adverténcia do Papa sobre os Tiscos que os transgénicos e outras tecnologias semelhantes Possam trazer destaca-se por sua coragem moral honestidade politica. _ Ha, Portanto, uma notavel convergéncia entre as preocupagées e princi- Pios da Etica da Responsabilidade de Jonas, a Laudato Si’, o Direito da Nant reza da Constituigao Equatoriana, a Sociologia do Risco, a Justia Ambiental caminhos e trajetérias distintas, todas elas se encontram™ dos profundos lagos que nos unem, seres humanos ao conju? lagos complexos e misteriosos, €, por as bascada, rtanto, na exigéncia daade™ mans numa Etica do Cuidado. Ao fim do século XX. PS Telomamos is éticas biocént uae ricas dos povos Origindrios das quais partimos* » € que voltamos a essa ética biocéntrica devido®s genética em Se tratando de i animais clonados, desde aus Me seres humanos, o Papa Francisco : dos seres vivos, quer sejam plantas, aintrustio de ae Primordiais que exigem de nés a conduta cuidados#: Sobre ns, des none” te sido chamada (STENGERS, 2015), E orelon® 64s climéticas, Condutas descuidadas, que se manifestam nas mud : Na perda de biodivers; a ae izada,™ Calastrofica crise ambiental Modiversidade, na intoricapo geneaiza® Mas, aj » A80ra, No so og mi ‘ent “OPT 0 como nas relaionarmes (Us € SUS Titus que nos podem oF enh natmos com a Natureza, pois essa mesma Nat UMA TAREFA COMUM: Hans Jonas e 0 Papa Francisco em dialogo sobre a responsabilidade 23 foi profundamente alterada, bem como os nossos modos de vida. Agora ha toda uma nova ciéncia em construgdo, que unindo conhecimentos e saberes dos povos originarios e populagées tradicionais as ciéncias modernas, nos permite identificar as relagdes complexas que constituem os sistemas ecold- gicos e estabelecer os limites as nossas praticas. Ainda uma vez mais, devemos aprender com a nossa tradi¢ao indigena sul-americana. Assim, diz Acosta, sobre o Direto da Natureza, previsto na Constitui¢ao Equatoriana: Reconhecer tal Direito, nao significaria a defesa de uma natureza into- cada ou selvagem, que s6 pode ter existido antes do homem aparecer sobre a Terra, mas construir uma economia que preserve a integridade dos processos naturais, os fluxos de energia e de materiais da biosfera e a biodiversidade (ACOSTA, 2010). Uma ética biocéntrica na Era Moderna traz enormes desafios, pois é preciso estabelecer os limites em que se preservam direitos de espécies e processos naturais, dada a profunda interdependéncia de todos os seres vivos, alimentos uns dos outros. Ja vimos que Jonas é menos exigente em relagdo aos usos que se possa fazer de plantas e animais, enquanto a ética antropomorfica de nossos povos originarios considera que todos tem os mesmos poderes, sendo os mesmos direitos a uns e outros. A Filosofia, e a Etica em especial, tem um grande futuro pela frente, portanto, se a humanidade no se extinguir nos proximos séculos. Alias, essa sua sobrevivéncia estard relacionada ao desenvolvimento dessa Etica, que faga as pazes com Gaia (STENGERS, 2015). E nessas pazes a contribuigdo de Hans Jonas e do Papa Francisco terao sido marcantes.

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