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A Invasão da Rússia

Moscou, Desastre alemão

Ataque à Moscou

A Batalha de Moscou

Outubro de 1941. A Wehrmacht penetrou profundamente na Rússia, vencendo a encarniçada resistência dos
exércitos soviéticos. Na sangrenta batalha de Kiev, mais de 600.000 soldados russos caíram prisioneiros.
Porém, apesar das repetidas vitórias, os alemães não conseguiram alcançar seu objetivo. O exército russo
permanece de pé e continua lutando obstinadamente.

É necessário, portanto, realizar uma última e demolidora investida. Hitler acaba compreendendo isso e
permite finalmente a seus generais que lancem o ataque decisivo contra Moscou. A operação batizada com o
nome de “Tufão”, deverá Ter início a 2 de outubro e seu objetivo será o aniquilamento das 100 divisões
soviéticas que se acham entrincheiradas diante da capital.

Sem dar descanso às extenuadas tropas, as diferentes unidades do Grupo de Exércitos Centro, do Marechal
von Bock, completam aceleradamente sua concentração nas posições de assalto. O 2 o Grupamento Panzer, do
General Guderian, deve percorrer, a marchas forçadas, mais de 300 km, depois de terminar com os
sangrentos combates de Kiev para se incorporar ao resto da força de ataque. Guderian perdeu, desde o início
da invasão da Rússia, mais de 505 de seus tanques. No entanto, para iniciar a nova ofensiva, recebe como
reforços apenas 50 blindados.

Ao terminar seu avanço frente a Moscou, o Grupo de Exércitos Centro conta com um total de 70 divisões,
agrupadas em três grandes massas de ataque. Situados ao norte da estrada que corre de Smolensk para
Moscou, encontra-se o 3o Grupamento Panzer, do General Hoth e o 9o Exército, do General Strauss (três
divisões Panzer, 2 motorizadas e 18 de infantaria). Ao sul daquela rota, estão o 4o Grupamento Panzer, do
General Hoeppner, e o 4o Exército, do Marechal von Kluge (5 divisões Panzer, 2 motorizadas e 15 de
infantaria). Estas duas forças, precedidas por suas unidades blindadas, tem como missão aniquilar, por meio
de uma manobra de cerco, o grosso dos exércitos russos localizados a oeste de Moscou. Mais para o sul, o 2 o
Grupamento Panzer, do general Guderian e o 2o Exército, do General Weichs (5 divisões Panzer, 4
motorizadas, 1 de cavalaria e 14 de infantaria), irromperam numa penetração de flanco nas posições russas,
para infiltrar-se aceleradamente em direção a Moscou.

Este plano se baseava na aceitação, por parte do Alto Comando alemão, de um tremendo risco. A época de
bom tempo já havia praticamente terminado e apenas restavam poucas semanas para que as chuvas do
outono convertessem os primitivos caminhos da Rússia em lodaçais intransitáveis. Se as colunas motorizadas
da Wehrmacht não conseguissem alcançar Moscou antes do aparecimento da lama, o avanço poderia ser
paralisado e o exército teria que enfrentar, sem roupas nem equipamento apropriados, todo o terrível rigor do
inverno russo.

Para Moscou

No dia 30 de setembro, as Divisões Panzer de Guderian se lançaram ao ataque, antecipando-se em dois dias à
ofensiva principal. A investida surpreendeu os soviéticos e, rapidamente, as colunas blindadas conseguiram
internar-se para o nordeste. A 4a Divisão Panzer, aniquilando as unidades russas que se interpunham sem eu
caminho, dirigiu-se a toda velocidade para a cidade de Orel e, num único dia, conseguiu penetrar mais de
100 km em território inimigo.

No dia 2 de outubro, Guderian havia conseguido uma ruptura completa do dispositivo soviético. Os tanques
de vanguarda da 4a Divisão Panzer alcançaram, naquele dia, a estrada pavimentada que vai para Orel e se
deslocaram rapidamente para aquela cidade, sem encontrar praticamente nenhuma oposição. Na manhã do
dia seguinte, penetraram inesperadamente em Orel, assegurando, assim, a posse deste centro vital de
comunicações na rota de avanço para Moscou.

Sem dar descanso ao inimigo, Guderian dirigiu para oeste as 17a e 18a divisões Panzer, para cercar as
unidades russas localizadas sobre seu flanco, em torno da cidade de Briansk. A 6 de outubro, os Panzer se
apossaram daquela cidade e, três dias depois, estabeleceram contato com as unidades de infantaria do 2o
Exército de von Weichs. Três exércitos russos acabavam de ser cercados. Os soviéticos, porém, arremeteram
violentamente para romper o cerco e iniciou-se uma batalha encarniçada.

Na noite do dia 6, caiu uma nevada antes do tempo na frente de luta do 2 o Grupamento Panzer e, apesar de
sua curta duração, converteu os caminhos em imensos lodaçais, paralisando o avanço das colunas
motorizadas. Apenas os tanques e veículos com lagartas podiam deslocar-se através das rotas barrentas. Foi
este o primeiro anúncio das terríveis dificuldades que logo haveriam de se apresentar aos exércitos alemães.

Prosseguindo em seu ataque a Moscou, a 4a Divisão Panzer se deslocou pela estrada que corre para o
nordeste, para ocupar a cidade de Tula. Sua intenção, porém foi frustrada por um violento contra-ataque
russo. Grandes massas da infantaria investiram frontalmente contra as unidades alemães e. simultaneamente,
centenas de tanques T-34 lançaram-se de surpresa sobre seus flancos. Os velozes blindados russos
demonstraram possuir uma nítida superioridade sobre os tanques alemães e causaram grandes baixas na
divisão. Totalmente desmoralizados, os alemães tiveram que ceder terreno. Pela primeira vez, desde o início
da guerra, os “invencíveis” Panzer foram derrotados. Na grossa couraça do T-34 ricocheteavam os projetis
dos canhões antitanques de 47 mm e também os dos canhões curtos de 75 mm dos tanques Mark IV.

A Batalha de Viasma

Em cumprimento às determinações do plano Tufão, o grosso das forças do Marechal von Bock iniciou, no
dia 2 de outubro, a ofensiva sobre Moscou. O 3o Grupamento Panzer, de Hoth, e o 4o Grupamento Panzer, de
Hoeppner, ao norte e ao sul da estrada Smolensk-Moscou, avançaram rapidamente em direção à cidade de
Viasma. No dia 7 de outubro, as duas pinças das colunas blindadas se fecharam sobre aquela localidade.
Formou-se assim uma gigantesca bolsa na qual ficaram cercados três exércitos russos.

Nesse mesmo dia, o marechal von Brauchitsch, comandante-em-chefe do Exército alemão, foi ao posto de
comando do Marechal von Bock para estudar o desenrolar as operações. A situação se apresentava
nitidamente favorável à Wehrmacht. Mediante uma série de impecáveis manobras, as unidades blindadas
haviam cercado, em Viasma e Briansk, uma gigantesca massa de forças russas, criando, assim, a
possibilidade de realizar uma rápida penetração em direção à Moscou. Brauchitsch, por isto, resolveu
prosseguir imediatamente no ataque à capital e ditou a respectiva ordem.

As forças de infantaria do 2o Exército e parte do 4o se ocupariam de completar o aniquilamento das unidades


russas em Briansk e Viasma. Liberados dessa tarefa, os 2o, 3o e 4o Grupamentos Panzer, apoiados pelo 9o
Exército e parte do 4o, avançariam sem demora sobre Moscou, vindo do sul, do centro e do norte. Com esta
tríplice penetração, o Alto Comando alemão se propunha envolver por completo a capital soviética e derrotar
os últimos restos do exército soviético encarregado da defesa.

Paralisa-se o avanço

No momento em que as três grandes colunas blindadas iniciaram o ataque decisivo sobre Moscou,
desencadearam-se com furiosa intensidade as chuvas outonais acompanhadas por nevadas antes do tempo. O
2o Grupamento Panzer de Guderian, atolado na lama da estrada de Orel-Moscou, aprestou-se para reiniciar o
avanço. Parte de suas forças se achavam ainda empenhadas na luta do cerco de Briansk, onde os russos
continuavam lutando heroicamente. Finalmente, entre os dias 17 e 20 de outubro, capitularam os últimos
restos dos exércitos soviéticos. Mais de 50.000 homens forma feitos prisioneiros.

Ao norte, as tropas alemães de infantaria conseguiram também pôr fim à resistência das tropas russas
cercadas em Viasma. No dia 14 de outubro, renderam-se, no interior da gigantesca bolsa, perto de 650.000
soldados. A retaguarda do Grupo de Exércitos Centro, ficou assim limpa de forças regulares russas. Haviam,
porém, aparecido já as primeiras unidades de guerrilheiros, cuja ação entorpeceu o trabalho do serviço de
abastecimento.
A chegada do “período da lama” teve funestas conseqüências para a Wehrmacht. Até a estrada pavimentada
Smolensk-Moscou se converteu numa armadilha para as colunas mecanizadas, pois o intenso tráfego de
veículos e tropas acabou por desintegrar a capa de asfalto. Nos caminhos enlameados, os soldados
afundavam até os joelhos e os caminhões e automóveis se enterravam até os eixos no lodaçal. Somente os
tanques e veículos de lagartas podiam continuar avançando lentamente por esses rios de lama.

Atolados no barro, as divisões se dispersaram e perderam centenas de veículos e milhares de cavalos.


Tornou-se, portanto, impossível o transporte das peças de artilharia e das armas pesadas. O abastecimento de
víveres, munições e combustível tornou-se cada vez mais difícil. Os soldados sofreram terríveis
padecimentos e o esgotamento e a paralisação se estenderam por todas as unidades. Apesar de tudo, o Alto
Comando permaneceu firme em sua intenção de alcançar Moscou antes da chegada do inverno.

As unidades Panzer, de Guderian, deslocando-se a uma velocidade máxima de 20 km por hora, deram início
à penetração rumo à cidade de Tula. O primeiro ataque fracassou, diante da obstinada resistência dos russos.
A estrada sobre a qual se desenvolvia o movimento se desintegrou logo debaixo do peso dos tanques e
veículos. Os russos, além disso, explodiam todas as pontes e enchiam de minas amplos espaços de ambos os
lados das estradas, para impedir a manobra de envolvimento.

Finalmente, no dia 29 de outubro, os tanques de vanguarda se aproximaram a poucos quilômetros ao sul de


Tula. A tentativa de tomar a cidade por um golpe de surpresa terminou em sangrenta derrota. As esgotadas
tropas blindadas já haviam perdido o ímpeto combativo. Algumas unidades não recebiam nem sequer pão
fazia mais de uma semana. Ao norte, os 4o e 3o Grupamentos Panzer haviam conseguido abrir caminho com
maior rapidez e se situaram sobre uma linha que ficava a menos duas jornadas de marcha de Moscou. A meta
já estava praticamente ao alcance das mãos. Na capital soviética viviam-se horas de angústia. Stalin
permanecia no Kremlin, mas a maior parte do governo havia partido para o leste. O povo trabalhava
febrilmente levantando barricadas e cavando valas antitanques. Todas as forças encarregadas da defesa se
encontravam, desde o dia 14 de outubro, sob o comando do Marechal Zukov que, com inquebrantável
energia, dispôs-se a enfrentar a última investida.

O ataque final

Na noite de 3 de novembro de 1941, caíram as primeiras geadas na frente de luta de Moscou. Sobre os
caminhos, formou-se então uma firme camada de gelo que permitiu a aceleração do avanço alemão. O
Marechal von Bock ordenou imediatamente às suas forças: recomeçar o ataque com o máximo de ímpeto
possível.

Na ofensiva final, os 3o e 4o Grupamentos Panzer deviam avançar em direção ao canal do Volga, para
envolver Moscou pelo norte. O 4o Exército, do Marechal von Kluge, levaria a cabo o ataque frontal contra a
capital e, pelo sul, os tanques de Guderian completariam o cerco. A proteção dos gigantescos e expostos
flancos da cunha alemã ficaria a cargo do 2o Exército, ao sul, e do 9o, ao norte.

Guderian reiniciou o ataque contra Tula, deslocando o centro da gravidade para o leste, para atacar pelo
flanco as poderosas unidades russas entrincheiradas em frente à cidade. No curso da manobra, os alemães
foram inesperadamente atacados no flanco direito por numerosas divisões de infantaria e cavalaria
soviéticas, apoiadas por uma brigada de tanques. Após duros e violentos combates, os blindados alemães
conseguiram pôr em retirada os russos. O avanço para Tula prosseguiu, então, em meio a permanentes
tempestades de neve. No dia 13 de novembro, a temperatura desceu a 22 graus negativos, o que provocou
terríveis sofrimentos às tropas desprovidas quase por completo de roupas de inverno.

No dia 15 de novembro, o 3o Grupamento Panzer se lançou ao ataque no norte, apoiado por parte das forças
do 9o Exército. No dia seguinte, aderiu à ofensiva o 4o Grupamento Panzer. O avanço de ambas as forças
blindadas logo perdeu o impulso diante da inflamada resistência dos russos e os efeitos desastrosos do frio
sobre homens, armas e veículos. As unidades Panzer conseguiram, porém, abrir caminho em direção ao canal
do Volga, ao norte de Moscou. Os tanques de Guderian continuavam, porém, sustentando violentos combates
em torno de Tula. A cidade permanecia firme nas mãos dos russos.

As tropas alemães eram submetidas a incríveis penúrias. Apesar dos insistentes pedidos dos chefes dos
diferentes exércitos e do Alto Comando, Hitler não autorizara a tempo a provisão de agasalhos para os
soldados. O resultado dessa estúpida atitude foi desolador. Providos de simples uniformes de algodão, os
infelizes soldados viram-se submetidos a temperaturas de até 40 graus negativos nas planuras cobertas de
gelo e neve. Milhares de homens morreram congelados.

As perdas de veículos também foram desastrosas. A gasolina se congelava nos tanques de combustível e os
caminhões e blindados só podiam ser postos em movimento acendendo-se fogo debaixo dos motores. As
miras de pontaria dos canhões, ofuscados pelo gelo e as metralhadoras se enguiçaram. O poder de fogo das
unidades reduziu-se, assim, radicalmente. Apesar dessas terríveis dificuldades, os alemães prosseguiram
ainda avançando lentamente. A leste de Tula, os blindados de Guderian conseguiram penetrar em direção à
Moscou, sustentando encarniçados encontros com os soviéticos. No dia 17 de novembro, uma divisão de
infantaria conseguiu conter um violento contra-ataque das tropas siberianas russas, mas foi logo derrotada
por uma fulminante investida dos tanques T-34. Tomados pelo pânico, os soldados da infantaria alemã
bateram em desordenada retirada. Guderian, profundamente abatido, compreendeu que a capacidade
combativa de suas tropas havia chegado ao fim. Uma de suas brigadas, que devia contar com 600 tanques,
havia ficado reduzida a 50 blindados avariados.

Estas circunstâncias não conseguiram, porém, levar o Alto Comando a deter o ataque. Moscou estava já a
poucos quilômetros, e tinham que jogar tudo na última cartada. Finalmente, a 23 de novembro, Guderian foi
ao posto de comando do Marechal von Bock, para solicitar-lhe que pusesse fim ao avanço. O 2 o Grupamento
Panzer havia chegado já ao limite de sua capacidade de luta e enfrentava uma oposição cada vez mais
violenta por parte dos russos.

Von Bock pôs-se imediatamente em comunicação, por telefone, com o Marechal Brauchitsch para pedir-lhe
que determinasse a detenção da ofensiva sobre Moscou. Brauchitsch, porém, recusou o pedido e ordenou de
forma categórica que Guderian prosseguisse no ataque. A última esperança de evitar a iminente catástrofe foi
frustrada.

A Wehrmacht é derrotada

Envoltos nas tempestades que os cegavam, os exércitos alemães tentaram, em fins de novembro, um último
esforço para alcançar Moscou. Uma divisão Panzer conseguiu abrir caminho até a localidade de Krasnaia-
Polnaia, situada a 22 km da capital. Guderian, por sua vez, continuou avançando para o norte e, a 27 de
novembro, uma de suas divisões conseguiu situar-se a poucos quilômetros ao sul da cidade de Kashira,
próxima de Moscou. Este foi o ponto extremo da penetração do 2o Grupamento Panzer.

No dia 28 de novembro, Guderian recebeu ordem do Alto Comando para completar a conquista de Tula por
meio de uma manobra de cerco. Rapidamente se realizaram os preparativos para a operação. As divisões,
esgotadas e dizimadas pelo frio e pelas contínuas lutas, aprontaram-se, na madrugada de 2 de dezembro, para
realizar o ataque. A neve caía sem cessar e a temperatura havia descido para 35 graus negativos. De início, as
3a e 4a divisões Panzer surpreenderam os russos e conseguiram abrir caminho em direção a Tula. O avanço
progrediu lentamente através de caminhos cobertos de neve e em meio a contínuas tempestades. Pouco a
pouco, o ataque foi perdendo ímpeto. As tropas esgotaram suas últimas forças e os veículos ficaram sem
combustível. O esperado apoio do 4o Exército, do Marechal von Kluge, que devia vir do oeste, não chegou.
Ao norte e na retaguarda, grandes massas de infantaria e tanques soviéticos ameaçavam envolver as forças de
Guderian. A temperatura havia descido para 50 graus negativos.

Ao cair da noite, a 5 de dezembro de 1941, o General Guderian tomou uma resolução extrema. Pela primeira
vez desde o início da guerra, ordenou a seus tanques que empreendessem a retirada. Com sua heróica e
encarniçada resistência, os soviéticos haviam conseguido o que até então parecia impossível. A Wehrmacht
fôra derrotada.

No dia seguinte, o Marechal von Bock, com aprovação do Marechal Brauchitsch, comandante-em-chefe do
Exército, emitiu a ordem de suspender o ataque a Moscou. Era a ocasião que Zukov esperava. Sem perda de
tempo, ordenou aos exércitos soviéticos que se preparassem para lançar o contra-ataque.

Missão em Moscou

Tal como havia sido decidido por Churchill e Roosevelt em sua entrevista nas costas da Terra Nova, em fins
de setembro de 1941, Lord Beaverbrooke e Harriman partiram a bordo de cruzador britânico London para a
Rússia.
A chegada dos plenipotenciários aliados ocorreu pouco depois no porto de Arkangel, Mar Ártico. Dali se
dirigiram imediatamente a Moscou, por via aérea, chegando à capital no dia 28 de setembro. A recepção dos
russos não foi calorosa, pois a negativa de Churchill sobre a abertura de uma segunda frente foi interpretada
por Stalin como ato inamistoso. No dia seguinte à chegada, os dois delegados encontraram-se com o
dirigente russo. Este mostrou-se cordial na recepção de ambos os embaixadores. Em reuniões posteriores
produziram-se ásperas mudanças de opiniões que chegaram a converter-se em inesperados choques verbais.
Stalin, abertamente, acusou a Inglaterra de abandonar a União Soviética à sua sorte. Mais tarde, no entanto, o
tom das conversações tomou um tom amigável. Stalin, então, declarou achar-se satisfeito com os resultados
obtidos na conferência. Molotov, no discurso que encerrou as conversações, expressou o profundo
agradecimento dos russos aos americanos e ingleses e assinalou que o trabalho realizado permitia vislumbrar
a vitória final sobre Hitler. O resultado concreto foi a assinatura de um acordo pelo qual fixavam-se as
quantidades e tipos de abastecimento que os aliados enviariam à União Soviética, no período compreendido
entre o dia 1o de outubro de 1941 e 1o de junho de 1942.

Os materiais citados no tratado incluíam aviões, em número de 400 mensais, tanques (500 por mês), canhões
antitanques e antiaéreos, caminhões e veículos blindados e matérias-primas como alumínio, cobre, níquel,
magnésio, petróleo, borracha, etc.

A promessa de ajuda dos aliados à Rússia foi concretizada nos momentos mais difíceis para esta última. No
dia 2 de outubro as forças da Wehrmacht iniciavam sua ofensiva final contra Moscou. Em meio à catástrofe,
o compromisso aliado de reforçar a União Soviética não podia ser mais oportuno. A rádio de Moscou, no dia
14 de outubro de 1941, anunciou-o da seguinte maneira: “Enquanto milhares de alemães morrem nos
bosques de Briansk, centenas de aviões ingleses devastam Nuremberg... Abastecimentos militares nos são
enviados pela Inglaterra através dos oceanos... Os Estados Unidos constroem 5.000 aviões por mês... O
tempo é nosso aliado...”

ANEXO
“A Rússia acabou”
Como conseqüência da rápida campanha realizada pelos exércitos alemães na frente soviética, rica em triunfos, e
também diante da retirada quase ininterrupta das forças russas, na Alemanha considerou-se que a operação militar
chegava ao fim. Comunicados transbordantes de otimismo foram publicados, a esse respeito. Pela mensagem telegráfica
que damos a seguir, tem-se uma idéia disso:
“Berlim, 9 de outubro de 1941. Uma onda de júbilo sem precedentes invadiu hoje a Alemanha, como resultado de uma
série de notas oficiais que declaram categoricamente que a Rússia deixou de existir como potência militar. Durante toda
a amanhã e a tarde, o povo recebeu uma quantidade de notas sensacionais. Todos os recursos da organização de
propaganda alemã foram empregados para explorar, até os últimos limites, os acontecimentos registrados.
“O chefe da Imprensa do Reich, Otto Dietrich, reuniu os jornalistas, ao meio-dia, na grande sala do Ministério de
Propaganda, e leu um comunicado especial do Alto Comando. Assinalou que a destruição dos exércitos russos havia-se
completado e que a “Rússia como potência militar estava acabada”. Não há dúvida, acrescentou, “que toda as frente
russa foi destroçada”.
“Segundo declarou Dietrich, os russos adotaram o plano de campanha que mais convinha à Alemanha. “O exército
russo, disse, escolheu um sistema de resistência e de luta em vez da retirada para os espaços vazios. Isto era exatamente
o que nós queríamos, e os destruímos”. Admitiu que “foi uma luta dura”; que quando for escrita a história desta
campanha, “ficará demonstrado que todo êxito é devido ao poderoso gênio do Fuhrer”.

“Rückmarsch!”
Burzewo, localidade na estrada Naro-Fominsk-Moscou. 2 de dezembro de 1941. O termômetro assinala 35 graus
negativos. Uma espessa capa de neve cobre os tetos das 30 ou 40 casas que formam o povoado. Alguns soldados do 3o
Batalhão do 478o Regimento de Infantaria da Wehrmacht patrulham as ruas desertas. Caminham lentamente, com a
arma pronta e o olhar fixo nas portas e janelas. Mas, apenas o ruído de seus próprios passos os recebe e acompanha. O
povoado está deserto. É meio-dia. Um pálido sol arranca faíscas do gelo que cobre o caminho. Poucas horas antes, às 8
da manhã, os homens deste batalhão lançaram-se ao ataque, desesperadamente, sem esperar o apoio prometido da
artilharia. O frio os impulsionou, um frio espantoso, cruel, horrível. Todos preferiram jogar cara ou coroa com a própria
vida. Aquelas casas ocultavam estufas, tetos firmes, calor. Algo mais valia do que a própria vida, sob a neve. E agora, o
3o Batalhão do 478o estava ali, sob o comando do Major Staedke, a apenas 40 km de Moscou.
Após acomodar precariamente os feridos, os soldados apressaram-se na tarefa de reforçar suas defesas e preparar-se
para enfrentar um presumível contra-ataque russo. Uma bateria de canhões de assalto e um 88 antiaéreo foram postos
em posição. As sentinelas se dispersaram pelos postos assinalados. A preparação do rancho provocou júbilo nos homens
e fez com que se esquecessem o risco que corriam.
Mas o perigo estava ali, muito perto.
Por detrás das colinas próximas, observando-os, os oficiais das guarnições dos T-34 esperavam. Os binóculos dos russos
moviam-se lentamente, marcando as posições dos canhões de assalto, do 88 e dos grupos de infantaria.
As horas da luz passaram lentamente. As sombras da noite começaram a cair. Nos arredores do povoado, acendiam-se,
espaçadamente, pequenos pontos avermelhados: eram os cigarros das sentinelas. Muito perto, os oficiais russos
continuavam esperando.
Às 10 da noite, um oficial dos blindados veio reunir-se a eles e, agachando-se, correu para o seu T-34. Desapareceu,
engolido pelo monstro de aço. A pequena torre fechou-se sobre ele e o motor começou a zumbir. O rádio do tanque
chefe estabeleceu contato com os demais carros e a coluna se pôs em movimento. Como uma onda que não pode conter,
as lagartas surgiram no alto da colina. Com uma sacudidela, inclinaram-se e começaram a descer. Todos os canhões, a
uma ordem, abriram fogo. Dez, 12, 15 casas arderam simultaneamente. A noite, silenciosa até então, converteu-se num
inferno de disparos, gritos, explosões de granadas e estampidos das caixas de munições. Os soldados alemães
surpreendidos no descanso, abandonaram os refúgios desesperadamente, fugindo em desordem. Com grandes esforços,
o Major Staedke conseguiu reorganizar a defesa. Os canhões responderam ao fogo dos tanques, as metralhadoras
começaram a vomitar fogo em todas as direções, os fuzis cuspiram descargas atrás de descargas.
Ao amanhecer, seis tanques russos ardiam nas ruas do povoado. As casas, convertidas em montanhas de fumaça,
serviam de trincheiras ao que restara do batalhão. Os feridos, dispersos por todas as partes, morriam sem receber a
mínima assistência. O único oficial médico alemão, esquentando a seringa de injeções para que o seu conteúdo não se
congelasse, aplicava morfina aos feridos que encontrava em seu caminho. Era tudo o que podia fazer.
O Major Staedke, horrorizado, ordenou a retirada. Porém, novos T-34 apareceram, cortando-lhes o caminho. A batalha
se reacendeu, sem descanso, sem trégua, desesperadamente para ambos os lados.
Na tarde de 4 de dezembro, alguns sobreviventes alcançaram as linhas alemães; 24 horas depois, o General Guderian
resolveu suspender o ataque no setor central. Era a data, na qual, segundo os planos de von Bock, os Panzer deviam
iniciar o assalto a Moscou. Agora, a ordem de assalto final havia sido substituída por outra sem dúvidas: -
“Rückmarsch!”- “Retirada!”.

“Nosso exército deve ganhar e ganhará”


A proximidade dos exércitos alemães da cidade de Moscou mobilizou todos os recursos da União Soviética. Stalin,
pessoalmente, dirigiu-se ao povo russo numa proclamação dramática, chamando-o para a luta sem quartel contra o
invasor. A gravidade da situação pode ser deduzida dos termos da proclamação.
Este foi o discurso pronunciado por Stalin no dia 6 de novembro de 1941, no momento em que os exércitos alemães se
aproximavam de Moscou:
“Nosso país foi atacado e invadido... O inimigo planejou acabar conosco em um mês e meio e chegar aos Urais num
tempo ainda menor. Os fatos tem demonstrado que este plano insensato fracassou por completo. O Exército russo, a
Armada e as forças aéreas já tem enchido os rios com o sangue inimigo, mas o inimigo não deixa de levar para a frente
reservas frescas, para alcançar seu objetivo antes que chegue o inverno. Não há dúvida, no entanto, de que depois de 4
meses de guerra, a força do inimigo, que certamente foi calculada por excesso, vai declinando, enquanto que nossas
reservas chegam agora em número crescente.
“Os invasores alemães confiavam em penetrar profundamente em nosso país depois da derrota inicial do exército russo,
mas aqui os alemães se enganaram igualmente. O Exército russo não tem ainda a experiência combativa dos alemães,
pois nossas forças estão lutando apenas há quatro meses, enquanto os alemães vem lidando com a guerra há dois anos.
O fato principal é, porém, que o moral do Exército russo está mais elevado do que nunca. Nosso Exército defende seu
próprio país, enquanto o exército alemão é levado a uma guerra de agressão e de conquista. Em conseqüência, nosso
Exército deve ganhar e ganhará”.

“A última grande batalha”


Proclamação de Hitler ao exército alemão, ao iniciar-se a ofensiva contra Moscou, em 2 de outubro de 1941: “Soldados
da Frente Oriental! Preso da mais profunda inquietação pela existência e futuro do nosso povo, resolvi, a 22 de junho,
apelar diretamente a vós para nos adiantarmos ao ataque que nos ameaçava mo último momento. Era intenção do
potentado do Kremlin, como bem o sabemos, destruir não somente a Alemanha, mas toda a Europa”.
“Soldados: quando, em 22 de junho, convoquei-os para afastar o terrível perigo que ameaçava os nossos lares, vós vos
encontrastes diante do maior poder militar de todos os tempos. No entanto, em três curtos meses, graças a vossa
valentia, meus camaradas, conseguistes destruir, uma depois da outra, as brigadas blindadas do inimigo, exterminar uma
infinidade de divisões, fazer inúmeros prisioneiros e ocupar espaços incomensuráveis”.
“Em poucas semanas, os três distritos industriais vitais deste inimigo estarão totalmente em vossas mãos. Vossos nomes,
soldados das forças armadas alemães, e os nomes de nossos valentes aliados, os de vossas divisões e regimentos, de
vossos navios e vossas esquadras aéreas, ficarão ligados para todo o sempre às mais gigantescas vitórias da história
universal. Fizestes mais de 2.400.000 prisioneiros, com a destruição ou captura de mais de 17.500 tanques, mais de
21.600 canhões, derrubando ou destruindo em terra 14.200 aviões. O mundo nunca viu nada igual.
“Nesses três meses e meio, meus soldados, assentaram-se as bases para o último e gigantesco esforço destinado a
esmagar o inimigo antes que sobrevenha o inverno, Já foram realizados todos os preparativos necessários, dentro do que
é humanamente possível. Tudo foi preparado sistematicamente, passo a passo, para levar o inimigo a uma situação que
nos permita assentar-lhe o mais demolidor dos golpes. Começa hoje a última grande batalha decisiva deste ano”.
“O que vós e as tropas aliadas haveis realizado nos impõe a mais profunda gratidão a todos. Prendendo a respiração, a
pátria os acompanhará com suas bendições nos graves dias do futuro. Com a ajuda de Deus, vós lhe dareis não só a
vitória, como também a mais importante condição prévia para a paz”.
Adolf Hitler. Fuhrer e Comandante Supremo das Forças Armadas

Guerra sem quartel


Dia 30 de novembro de 1941. A avalanche alemã está chegando às portas de Moscou. Porém, na cidade, algumas coisas
permanecem imutáveis. O diário Pravda, pontualmente, é distribuído nas ruas, nas trincheiras, nas fábricas. Na primeira
página, em destaque, a notícia do fuzilamento de vários indivíduos surpreendidos enquanto roubavam casas
abandonadas. Além disso, a condenação à morte de vários especuladores que revendiam gêneros e víveres. Moscou já
se converteu em zona de primeira linha. Não comporta meias medidas. A mobilização total é imposta pelas autoridades,
decisivas a salvar a capital da Rússia. Os poderosos T-34, mal saídos das fábricas, são conduzidos pelos próprios
operários para a frente. Os batalhões siberianos, transportados em ônibus e automóveis, carros requisitados e caminhões
partem para as primeiras linhas. As tropas são lançadas na batalha sem ordem alguma, à medida que chegam da
retaguarda. O objetivo, nesses instantes dramáticos, é deter os alemães, não permitir que ponham os pés dentro dos
limites da capital. Não importa como, nem com o quê. Basta detê-los. Regimento após regimento, batalhão após
batalhão, os homens são lançados ao combate. É uma verdadeira carnificina. Homens jovens e anciãos empunham
armas e se lançam na primeira linha. Adolescentes e mulheres, trabalhando dia e noite, abrem centenas de postos
fortificados, valas antitanques e muralhas de arame farpado. Nenhum momento de repouso interrompe seu trabalho. Dia
e noite lutam por defender sua capital.
Por fim, na noite de 5 para 6 de dezembro de 1941, chegou uma ordem às primeiras linhas alemães. Seu texto
era breve, mas dramático. Dizia: “O ataque a Moscou fracassou. Retirar!”.

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