MESTRADO EM PSICOLOGIA
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu
em Psicologia, da
Universidade Católica de
Brasília, como requisito
parcial à obtenção do título
de Mestre em Psicologia.
Brasília, DF
2005
___________________________________________
PROFª. Drª. MARTA HELENA DE FREITAS (presidente)
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
_____________________________________________________
PROF. Dr. ROBERTO MENEZES DE OLIVEIRA (vice-presidente)
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
_________________________________________________________
PROF. Dr. ADRIANO FURTADO HOLANDA (membro)
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
________________________________________________________
PROFª. Drª. CLAUDIENE SANTOS (membro)
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
________________________________________________________
PROFª. Drª.TÂNIA MARA DE ALMEIDA (suplente)
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
VI - Pensar em Deus
Alberto Caeiro
DEDICATÓRIA
Pode ser difícil, também, compreender a minha luta por essa conquista,
em todos os sentidos.
Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
É muito bom chegar ao final de uma jornada e ter tanto a agradecer. Quero
subjetividade.
À tia Mônica, pelos inúmeros mimos no final da noite, após longa jornada de
trabalho. Por cuidar dos cães e das plantas e principalmente por me amar tanto
suas camas e nos enchendo de carinho nessa longa jornada. O apoio de vocês
À tia Te, João Carlos e Carol, pela torcida e apoio em momentos importantes.
Aos amigos Fábio, Cecília, Malu e Gabi por suportarem inúmeros nãos e
vocês!
À Teo, meu presente de 2003, pelo apoio e carinho com meu texto mesmo em
terras distantes.
formação.
À tia Cida, mãe-madrinha, que com seu colo e carinho tem o poder de curar
todos os meus males. Ao tio Jessé, que me adotou e cuidou durante todos
À Claudia, mistura de mãe e irmã, sempre a cuidar meus passos. Espero poder
Aos colegas da FINOM: Darcília, Carlos, Alex, Juliana, Valéria, Gilson, Viviane,
José Eduardo, Vera, Walkíria, Célia, Elda, Pedro e Carlinha, com os quais pude
e conquistas.
comigo nessa jornada. Que assumiu essa loucura junto com nosso casamento,
À Helô e Rey, casal maravilhoso! Pessoas que nos fazem acreditar que vale a
pena acreditar em ser humano. Vocês foram fundamentais na etapa final para
do meu trabalho, por não desistir de mim e me segurar, mesmo que através do
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA iv
AGRADECIMENTOS v
RESUMO viii
ABSTRACT ix
INTRODUÇÃO 13
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
SEXUALIDADE 52
CAPÍTULO 3
3.1 - OBJETIVOS 92
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
ANEXOS
INTRODUÇÃO
era por demais penoso para a maioria das participantes (nos dois cursos foram
“fardo” torna-se ainda mais pesado. Parece que o corpo, templo sagrado, é
humano? Difícil vê-lo assim, pois torna-se o corpo do pecado. Dessa forma,
de constrangimento.
adorar e temer a Deus? Que outra espécie tem a religião como forma de
se: Por que é tão difícil estabelecer um diálogo entre sexualidade e crença
como uma ciência que se diz humana, relegou por muito tempo o tema religião
três volumes sobre religião e mitologia. Entretanto, nem mesmo esse vínculo
Psicologia, pois o cenário positivista exigirá desta nova ciência que seja
empírica e objetiva. Foi preciso, portanto, para que ela garantisse o seu
científico faz com que a Psicologia relegue a segundo plano temas relativos à
sujeito vive mais uma ruptura: sua condição paradoxal não permite uma total
ciência do ‘íntimo’” (Moreira, 1997, p. 19). Paiva (1989) relata que foi nos
desconfiada.
resolução desses conflitos, Freud explicita o que quer dizer quando fala de uma
ilusão. Retira desta o caráter de erro e aponta como sua característica básica o
fato de ser derivada dos desejos humanos, sem precisar ser falsa, irrealizável
afirmando ser possível chamar a crença de ilusão, porque esta também parte
cultura (1930), e afirma que aqueles que têm um delírio não o reconhecem
como tal. Faz um percurso pelos processos utilizados pelo homem em relação
(Freud, 1930, p. 103). Para ser salvo, então, o homem precisa por si mesmo,
descobrir o como, pois não existe uma receita única para todos. Assim, critica a
se encontram nossos próprios corpos e, por fim, “(...) a inadequação das regras
pela qual nossos relacionamentos mútuos são regulados. Nesse ponto, Freud
unidade cultural, restringir a vida sexual. Entretanto, alerta que nem toda
quantidade da energia psíquica que ela utiliza para seus próprios fins tem de
pela religião, pois cada renúncia de satisfação pulsional era oferecida a uma
patologizar as questões religiosas, porque via a religião como uma ilusão, esta
falar de sua crença religiosa e religião era extremamente fácil, mesmo havendo
tabu social, mas não científico, e a religiosidade como um tabu científico, mas
não social.
pelo que acontece ou pela forma como acontece a outra (sexualidade), mas
teórico oferecido por J. B. Pratt (1907, 1921), e sua descrição das quatro
CAPÍTULO 1
Conceituar Religião não é tarefa fácil, uma vez que cada ciência ou
abordagem lança sobre ela um olhar. Além dos vários olhares, afoitos por
significado fixo. O autor chama a atenção para o risco que se corre na fixação
Segundo o autor, a observação dos pequenos fatos tem muito a dizer sobre as
detalhes, o quadro geral ficará mais claro” (Hostfee, 2002, p. 145). Nesse
(2001), é possível encontrar uma raiz extensa, o que torna complexa sua
(1999), ao citar Cícero, traz religio remetendo a relegere, donde religião “(...)
cumprimento do dever para com coisas e pessoas, culto dos deuses” (Martins,
1999, p. 676). Esse autor ressalta, entretanto, que na Bíblia não se encontra
uma forma de fazer valer “(...) a fé e a prática cristãs (...) o culto do Deus único
1960/1982), que seria uma ligação com Deus; com o que é da ordem do
sagrado. Assim, Religião seria uma “atitude de piedade e devoção que une os
grupo social.
como tal, exprime uma realidade coletiva; não se limita a enriquecer, com certo
mito de que toda religião para se constituir como tal deve associar-se a uma
divindade, já que pode vir a se instituir sem necessariamente ter que contar
experimentá-la e exteriorizá-la.
ingênuas do evolucionismo que vêem na religião uma forma, por assim dizer,
superior, um dever sagrado, algo que deve ser seguido. Algo que ajuda na
desta. Essa noção possui um caráter individual, mas se não puder ser
povo ou época viveu sem alguma forma de religião. Cultos e ritos comprovam
vimos o quão intrincado esse assunto está à vida do homem. Propomos então,
psicológica têm sua origem remota, uma vez que o homem desde sempre
por muito tempo excluída dos estudos da psicologia. Era um tema rechaçado,
que a religião já “não pode freqüentar aqueles lugares que um dia lhe
pertenceram: foi expulsa dos centros do saber científico e das câmaras onde
presentes na vida dos homens. Percebemos que, embora Freud (1927) tenha
considerado a religião uma ilusão, prevendo o seu fim, apontou também que
sempre desejante.
e não pode, portanto, manter-se à margem desse estudo. O autor afirma que
não há
(...) nada mais humano que a vivência religiosa, de tal modo que, em
certo sentido, poderíamos dizer que a história da humanidade confunde-
se com a história das religiões, nas quais já o homem primitivo ia buscar
razões para explicação de sua vida. (Ribeiro, 2004, p. 11)
(2001); Vergote (2001); Amatuzzi (2001); Mahfoud (2001); Valle (1998), dentre
Pra onde vou? O que acontece após a morte? Deus existe? Qual o sentido da
nesse sentido, como campo das Indagações últimas, ou seja, indagações por
um sentido, “(...) sobre tudo o que acontece, tudo o que existe e nos acontece”
transcende.
Não cabe julgar se existe uma verdade absoluta por trás disso tudo, mas
busca de sentido para sua existência, para seu estar no mundo. Adélia Prado
(1999, p. 17) nos fala dessa inquietação com singular poesia, afirmando que a
“simples” pergunta “(...) para quê? Já é uma pergunta religiosa, porque é uma
pergunta pelo sentido. Achar o sentido é achar uma finalidade. (...), perguntar
me constitui como ser humano”. Ribeiro (2004, p. 12) afirma que há uma “(...)
Psicologia a ciência que, por mérito, estuda esse fenômeno – humano e, por
(citado por Paiva, 2002), que realizou uma pesquisa sobre a fé de cientistas em
estudo, no qual detectaram que “(...) as crenças dos cientistas pouco mudaram
Epistêmico. Se, para ser puro e digno de confiança, é preciso tirar do homem
toda subjetividade, que venha o homem científico, sede da verdade, base para
se não como conflitos científicos, mas como conflitos humanos” (Paiva, 2002,
p. 567).
Questões como gênero, cultura, etnia, classe social, religião, orientação sexual,
mostrar-se cada vez mais presente na vida das pessoas. Esse é um dado
presente nos últimos censos nacionais, nos quais se destaca que grande parte
Ainda sobre esta questão, Valle salienta o espaço ocupado pela religião
como “(...) um lugar especial no conjunto da cultura, mas não” como “um
medida que esse mesmo meio muda” (Valle, 1998, p. 134) O autor assinala a
questão.
que é sua matriz Instituída.” (1998, p. 41) A religião é, portanto, uma forma
claro, mas sua vivência é singular; a religiosidade permite que a religião seja
o que influencia, de certa maneira, sua visão de mundo e a sua visão concreta.
sociedade” – “meio para atingir um fim, seja ele um controle social ou auxílio
pessoas que professam uma religião podem oscilar em alguns momentos entre
um pólo e outro, o que dificulta encontrar uma motivação religiosa pura, seja
socialização, distração e status, mas também como espaço para Deus. No pólo
teoria sobre crença religiosa para fundamentar este trabalho. Viu-se que o
referido instrumento.
atletas de handebol.
Matter and spirit (1920); Personal realism (1927); Naturalism (1938); Why
desenvolvida por ele nas suas últimas obras, o que ele definiu como realismo
realidade física.
Descartes “(...) por não admitir uma consciência pura, desvinculada do corpo e
do mundo – sua opção foi por uma relação interativa entre matéria e espírito”
intuição.
colocar o inconsciente como base da vida psíquica. Sendo assim, até mesmo a
Freud.
crença religiosa. Portanto, far-se-á, a partir de agora, uma incursão pela obra
(...) e com uma boa dose de firmeza, num ser que nenhum homem
jamais viu ou teve a esperança de ver, cuja natureza eles não podem
senão vagamente conceber e, no entanto, devem adorar e amar, e ao
qual – aparentemente – por falta de melhor nome, eles chamam de
“Deus”. (...) Se nosso marciano imaginário viajasse a outras terras, seu
espanto apenas aumentaria. (...) ele se defrontaria com a mesma firme
crença em algum tipo de ser sobre-humano que se deve cultuar, adorar
e ao qual se deve suplicar. (Pratt, 1907, p. 5)
baseia? De onde ela retira sua força e em que região de nossa vida psíquica
ela está mais enraizada?” (Pratt, 1907, p. 6). Segundo o autor, essas são
“margem”.
segunda grande divisão, a não racional, por considerá-la pouco explorada, bem
portanto, a consciência não racional e sua íntima e direta relação com a vida do
tudo são partes deste fundo e crescem a partir dele” (Pratt, 1907, p. 14).
responsável pela conotação afetiva e “colorida” na nossa vida, “(...) sem ela,
ele (pensador) estaria privado de uma das mais fecundas fontes de idéias com
que o homem é abençoado” (Pratt, 1907, p. 11). Assim acontece porque todo
forma lógica, essa é geralmente o produto final, pois a idéia nasce e é nutrida
vital. Da mesma forma que o mar de água tem tormentas e tempestades, o mar
Para Pratt (1907), a nossa consciência não racional tem uma raiz
crença, o filósofo alerta para o fato de que “a vida, o mundo real de nossa
para o fato de que a vida não é passível de divisão; essa ocorre para fins
sentimental nunca são encontrados isolados uns dos outros, porém juntos
formam uma unidade, que é nossa vida consciente” (Pratt, 1907, p. 31). Dessa
outras na vida real, devido ao fato de que “(...) nenhuma crença genuína é
um dado objeto” (Pratt, 1907, p. 31). Acrescenta que essa concordância pode
ser articulada ou não, pode vir de uma percepção imediata da realidade, sem
questionamento prévio:
(...) pode ser a aceitação mais auto-consciente do objeto como real após
a dúvida ter tornado plausível a possibilidade de sua não realidade
imaginada. (...) O objeto da crença não é meramente apresentado ou
representado, mas reconhecido e aceito como parte do mundo real –
seja qual for o entendimento que este venha a ter. (Pratt, 1907, p. 32)
faz toda diferença. Albuquerque (1998) explica que “a decisão por uma crença
ainda as emoções que envolvem a crença, que permitem que uma pessoa
decisão por uma dada crença” (Albuquerque, 1998, p. 35). De acordo com Pratt
Isso faz com que algo tenha importância maior ou menor, dependendo de
quem crê.
crença emocional. Essa concepção triádica da crença religiosa, como foi vista,
saber:
instrospecção auto-reflexiva por parte do sujeito, o que faz com que muitos
tal atitude escorregadia não parece ter sido obstáculo aos estudos de Pratt em
melhor desenvolvimento.
período da infância, quando a criança ainda não faz distinção entre o que é real
ou irreal, quando tudo o que chega à consciência é aceito como real, não
acreditado até que uma causa para dúvida surja, e a dúvida é sempre um
como inocente de falsidade, até que se prove o contrário” (Pratt, 1907, p. 36).
fizeram ou fazem parte da sua vida: pais, professores, igreja e/ou tradição. É
religiosa.
autoridade, que pode tanto ser um outro ser humano, como algo material
percebido.
surge, é porque é possível que algo (objeto da dúvida) não exista. Em caso de
não são meramente aceitos, são aceitos sabendo-se porque o são. A crença
tudo o que percebe ou que lhe vem à mente. Geralmente temos razões, sejam
elas boas ou más, que nos oferecem subsídios para que acreditemos na
palavra do especialista.
questionamento.
pois, se a crença é uma ilusão, não existe preocupação com a veracidade dos
que faz parte justamente da segunda divisão, não racional, de onde essa
O uso do termo “crença” aqui não é uma extensão de seu sentido estrito.
É literalmente “a atitude mental de aceitação da realidade de um objeto
dado”. O objeto, nestes casos, é a coisa que irá satisfazer a
necessidade ou impulso, e a idéia desta coisa deve, é claro, ser
derivada de uma experiência prévia ou da Instrução recebida de outros,
antes que se possa dizer surgida a crença. (Pratt, 1907, p. 42)
que o objeto desejado não está presente, mas o organismo acredita em sua
muito real para ela; acredita nele porque precisa dele. Esta é a forma primitiva
o fundo de sentimento vital como porta-voz do organismo. Para ele, esse fundo
de focalizar o que deve ser acreditado ou sentido, põe ênfase no que deve ser
prática de uma vida de serviços seguindo um ideal moral, uma forma de atitude
assunto moral (Pratt, 1921). Como interpreta Freitas (2003), é intrínseca a essa
promotora, daquilo que seria mais elevado do ponto de vista ético. Tal
crença ético-moral valoriza o que é certo em termos de valores, o que deve ser
como forma de expressar a religião. Como afirma Pratt (1921), para essas
relação a essa denominação, Conceição (2004) alega que no título da obra The
entanto, deixa claro que ética e religião, por vezes, assumem posições
CAPÍTULO 2
SEXUALIDADE
estando sujeita a reformulações de acordo com cada época e grupo social, “(...)
pois cada sociedade inventa a sexualidade que pode inventar” (Catoné, 1994,
p. 7).
podem significar muitas coisas. Na verdade, elas são fugidias, instáveis, têm
essa história (Weeks, 2001). Como destaca Orozco (2005), diante dessa
sexualidade.
Primeiramente cabe lembrar que, para que hoje exista interesse e busca
sendo sustentados por uma variedade de linguagens que buscam nos dizer o
que o sexo é, o que ele deve ser e o que ele pode ser” (Weeks, 2001, p. 43).
autor localiza nos séculos XVIII e XIX o momento histórico propício para essa
p.42). Para ilustrar essas relações de poder, o autor destaca as que acontecem
comportamentos e pensamentos.
distinção biológica. Assim, “seja no âmbito do senso comum, seja revestido por
21).
discussão passa a girar em torno de um novo conceito: gênero, que vem dizer
determinado valor, e
sexuais. A sexualidade humana não pode ser considerada natural porque não
uma unicidade conceitual. Loyola (1999) alerta para esse fato, ao apresentar as
tema recorrente nas últimas décadas, tanto para as ciências sociais, humanas,
demarcam quem faz parte ou quem está à margem, quem se adequa ou não
infância, cujo conteúdo era sexual. Temos nesse momento uma teoria da
sexualidade em estado embrionário, uma vez que Freud ainda não admitia a
do trauma.
religião e da filosofia moral (Weeks, 2001). Freud (1905) lançou luz sobre o
complexa, “(...) ele descobriu que a própria sexualidade “normal” assumia a sua
exemplo, não foi desde o primeiro esboço nos “Três ensaios” que ele
prescrição para uma sociedade patriarcal, mas uma análise de uma sociedade
comportamento, impondo a esses conteúdos uma lei, uma ordem. Assim, traz a
Infância, “(...) e que a função sexual nesta fase se define por uma atividade a
sexualidade feminina.
Freud e sua vida, privilegiando sua relação com as mulheres que dela fizeram
parte.
descreve-o como
mulheres, seja no universo pessoal, em que merecem destaque sua mãe, sua
ama de leite, sua sobrinha Pauline, suas irmãs, sua esposa e grande paixão
Jeanne Lampl-de Groot, Helene Deutsch, Marie Bonaparte, Joan Riviere, Ruth
Mack Bruns-wick, dentre outras; ou como analista dos casos clínicos de Hilda
Nesse sentido, faz uma conexão entre a imagem dessas mulheres e o homem
obra. Quando encontramos, por exemplo, ao longo de sua obra, bem como em
leitura relacional entre sua postura de vida, suas crenças, seu ambiente, suas
sobre a sexualidade feminina, Gay (1989) relata que, em 1928, Freud falou a
afirmativa, Gay nos traz outra máxima freudiana, em que se pergunta “O que
psicanálise não tenta descrever o que é a mulher – seria esta uma tarefa difícil
vários escritos, as idas e vindas que faz ao longo da vida. Vejamos, então, um
por ele como equivalentes até 1924. Destaca logo de início o fator complicador
Freud já tinha alertado sobre esse fato em 1905, nos “Três ensaios sobre a
presente de forma muito mais clara nas mulheres. Isso se deve justamente a
mesma forma, vários são os autores que criticam sua obra e a forma como
precisa “(...) lidar ao mesmo tempo com o falicismo, necessário para afastá-la
seu clitóris, abandona sua atividade fálica e, com ela, sua sexualidade em
geral” (Freud, 1931, p. 264). A menina viveu até essa descoberta, de modo
muito superior do menino”, a menina modifica seu amor próprio, “(...) renuncia
ao mesmo tempo, não raro reprime uma boa parte de suas inclinações sexuais
que a menina abandone a mãe como seu objeto de amor, precisando assim,
ressignificar “(...) sua falta de pênis como uma falha em relação à mãe” (Prates,
2001, p. 42). Até então, “(...) a menina imaginava, na vertente passiva, ser o
sua atividade clitoridiana e refugia-se numa identificação com sua mãe fálica ou
com seu pai” (Freud, 1933, p. 129). Esse complexo também pode “(...) resultar
momento, a menina precisa tomar seu pai como objeto, entretanto, depois de
o desejo que leva a menina a voltar-se para seu pai é, sem dúvida,
originalmente o desejo de possuir o pênis que a mãe lhe recusou e que
agora espera obter de seu pai. No entanto, a situação feminina só se
estabelece se o desejo do pênis for substituído pelo desejo de um bebê,
isto é, se um bebê assume o lugar do pênis, consoante uma primitiva
equivalência simbólica. (Freud, 1933, p. 128)
Embora Freud (1931) não considere que exista resolução para o complexo de
casamento.
a responsável pelas perversões e crimes, pois seria dado livre curso aos
“(...) trocar seu objeto sexual original por outro, não mais sexual, mas
que essa repressão contribui para o “(...) acervo cultural comum de bens
1916, p. 36). Para evitar essa ameaça, é exigido do homem um padrão único
de conduta sexual, o que é considerado por Freud (1908) como uma grande
entanto, Freud alerta para a instabilidade desse desvio, pois existe o risco
1916)
católica.
aos problemas para os quais ainda não tinham sido apontadas soluções.
social.
lenta, “(...) acaba por se adaptar às novas realidades culturais” (Pacheco, 2003,
abarca hoje muitos valores e comportamentos “laicos” ou, pelo menos, “não
(Giumbelli, 2005, p. 7). Essa importância é percebida pelo autor através da “(...)
religiosos.
Essas áreas podem divergir entre si e também internamente, pois “(...) nem
Este estudo visa ampliar essa discussão, bem como fomentar esse campo de
pesquisa.
prática sexual como mera busca pelo prazer. Entretanto, essa postura não está
restrita aos tempos atuais, pois no início da igreja cristã encontra-se a raiz que
seus pecados.
ser perseguidos de todas as formas, sendo o corpo, carne, local por excelência
filosofia, num ambiente de fé. Seu sonho era a conversão de Agostinho, que
Agostinho relata:
E que coisas, meu Deus, que torpezas me sugeriam com o que chamei
de isto e aquilo! Por tua misericórdia, afasta-as da alma de teu servo!
Oh! Que imundícies me sugeriam, que indecências! Já se reduzira a
menos da metade o número de vezes que eu lhes dava ouvidos: não era
mais um assalto aberto, frontal, mas segredado por cima dos ombros, e
como que puxando-me furtivamente, se me afastava, para que me
voltasse para trás.
Contudo, faziam com que eu, vacilante, tardasse em me separar delas
para correr para onde me chamavam, enquanto o hábito violento me
dizia: “Julgas que poderás viver sem elas?” (Santo Agostinho, 2005, p.
183)
no qual encontrou o passo final para sua conversão, “uma espécie de luz de
(Santo Agostinho, 2005, p. 186). Santo Agostinho viveu 76 anos e dedicou boa
parte de sua vida à construção de uma moral cristã para o mundo ocidental,
salvação da alma, mas, para isso, era preciso reprimir o corpo. Alertava aos
1
Evangelizar, segundo o dicionário Houaiss (2001) significa converter alguém a uma religião a
partir da pregação do Evangelho. Já catequizar, para o mesmo dicionário, vem dizer de uma
instrução nos princípios da matéria religiosa, sob Instrução ou conversão a uma doutrina, Iniciar
alguém em alguma atividade. O catecismo cristão é uma prática preparatória para o
recebimento dos sacramentos, visa instruir sobre os preceitos da igreja. Como os índios não
tinham nem essa Instrução básica, foi preciso primeiro catequizar para depois trazer os escritos
do Evangelho.
Inferior (uma vez que fora criada da costela de Adão) e diabólica (por ter
depois ao marido. Marcada pelo pecado, deve ter seus atos, sentimentos,
2
O amor-eros representa o prazer carnal, a eroticidade. O amor-ágape é altruísta, é um amor
puro, remete ao amor de Deus. Segundo Pedreira (2005) “(...) no cristianismo em geral, houve
sempre uma dificuldade de pôr em diálogo ágape e Eros (...) na história da tradição cristã (...)
esse romance entre ágape e Eros não foi resolvido ainda” (Pedreira, 2005, p. 34).
“antimulher” e “anti-sexo”.
momento, aconteceu uma mudança do olhar sobre a mulher, até então vista
mulheres, visão esta que refletiu também na doutrina cristã católica, que se
consideram o contato sexual com a mulher perigoso, pois este “(...) polui e
enfraquece o homem, que perde ali uma parte de sua substância” (Bozon,
2004, p. 25). Para eles, o esperma procriador tem uma quantidade limitada; é
fonte de vida e força, não podendo ser desperdiçado. Para evitar o desperdício,
capaz de significá-la e torná-la humana. Esse amor, por sua vez, é associado
texto continua orientando o homem a não sair desse caminho. Para isso, deve
colocar-se no centro, como ponto de partida, para que sua sexualidade seja
exigida como um dos votos constitutivos aos clérigos, é também praticada por
entretanto, que a virgindade, para ser considerada uma virtude cristã, deve ser
marido não podem se dedicar exclusivamente a Deus, por terem que dividir sua
a vida celeste e não para a vida terrena e caduca. A virgindade tem, nesse
ao domínio do sagrado.
as palavras de São Paulo para ilustrar a luta entre carne e espírito. O espírito
não mais governa o corpo como no estado de inocência original, isso porque o
por causa da concupiscência. Mas, tem pudor não tanto do corpo, quanto
concupiscência”. (www.vatican.va)
“(...) a vergonha indica que se pode e se deve fazer apelo a ele quando se trata
Espírito Santo, que deve convencer o mundo dos pecados da carne. O Papa
retoma São Paulo no que diz respeito à conduta humana, que deve proceder
considerada
relação à educação sexual e alerta que esta, para ser completa, não pode ficar
Paulo II, deveria apoiar a missão dos pais de orientar sexualmente os filhos.
pois “(...) só quem sabe ser casto saberá amar no matrimônio e na virgindade”
que “(...) torna o coração mais livre para amar Deus. O coração virgem não
não para encontrar soluções para questões atuais, “(...) mas porque esse livro
2003, p. 12). O autor escreve que, apesar de a Bíblia ter sido redigida em um
assim ela oferece “(...) uma mensagem capaz de clarear as questões que se
autor, “(...) a Bíblia não é um código de moral; ela é, antes de mais nada, um
livro que fala de Deus. Sobre ele, ela anuncia a Revelação de seu amor infinito
abertura,
nesse campo” (Orozco, 2005, 76). A questão não é condenar a religião e sua
existência de um forte vínculo entre aquele que crê e o objeto da sua crença. O
crença perceptiva.
preocupação com a retidão, com o ser modelo de conduta, com o fazer o bem.
A Igreja por sua vez, apresenta um código de conduta moral, que imprime à
dados.
CAPÍTULO 3
3.1- OBJETIVOS
crença religiosa;
sexualidade.
inclui tudo aquilo que é “naturalmente” humano. É uma pesquisa qualitativa por
depara com uma questão: definir o que é fenomenologia. Essa está longe de
ser uma questão resolvida, pois, por mais que se pesquise, ainda é um tema
não apenas como método, mas também como filosofia, um modo de existir,
torna-a sempre inacabada. Como assinala Giorgi, “(...) a falta de contato com a
de um autor, de forma que “(...) a escolha que um pensador realiza entre uma
(Bello, 2004, p. 20). A autora destaca dois eventos que influenciaram de forma
segundo vem dizer dessa aproximação, que foi justamente sua participação
uma filosofia, que tenta descrever nossas experiências tais como acontecem. A
Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de
uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os
símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo o universo da
ciência é construído sobre o mundo vivido (...) A ciência não tem e não
terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela
simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele.
(Merleau-Ponty, 1999, p. 3)
percepção permite que a realidade externa seja conhecida pelo sujeito. E para
(Bello, 2004, p. 89). O perceber é dirigido para o fato, tende para esse fato, e é
intencionalidade.
expressar atos de toda espécie, atos estes que não são meras palavras,
vivências internas.
82). Para alcançar a essência das coisas, propõe-se colocar entre parênteses,
reduzir à essência, e assim, promover uma redução eidética (Bello, 2004). Para
que ele possa permitir aos seus sujeitos trazerem à luz o sentido por eles
abertura ao fenômeno tal como ele acontece, sem procurar, para isso, um
emerge através da fala, sendo, portanto, acessado por meio de suas versões, o
atos mesmos, permitindo, assim, o acesso ao fenômeno tal como ele se dá.
Para o autor, a idéia de experiência implica que se tenha sobre ela uma
que acontece, sem tecer sobre ele nenhum julgamento. É o entrar em contato
3.3- COLABORADORAS
Serão apresentadas ao longo do trabalho como Aline (23 anos), Bárbara (44
anos) e Clara (43 anos), todos nomes fictícios, visando preservar suas
identidades.
3
São movimentos que visam despertar e fortalecer o compromisso com a Igreja: EAC – até 15
anos, MAC – 15 a 19 anos, EJC – a partir de 19 anos. Esses grupos são responsáveis pela
evangelização, têm como coordenadores casais e participantes da Igreja, que são chamados
de “tios”, são como orientadores dos grupos.
de Goiás e Minas Gerais. A renda familiar mensal das participantes varia entre
casa própria, mas não pagam aluguel, por ser uma casa da família. Bárbara
vive com o marido e três filhos, sendo dois deles também estudantes
com dois dos seus três filhos, a nora e dois netos, e seu marido fica a maior
parte do tempo fora da cidade. Tem casa própria, mas mantém a casa alugada,
como forma de Investimento. Para isso, mora em uma casa mais simples e de
pesquisadora.
material traduzido por Norberto Abreu e Silva Neto, em 1998, e adaptado por
tradução realizada por Norberto Abreu e Silva Neto em 1998. Em sua tese, a
versão utilizada foi justamente aquela destinada a este público. Uma alteração
foi feita na questão nove. Na versão apresentada por Freitas (2002), como seu
item:
9.2- Se você não aceita a Bíblia como autoridade religiosa, mas aceita
outro texto, como por exemplo, Alcorão ou Torá, por favor, declare este
fato. Neste caso, responda às mesmas questões anteriores em relação
a este texto que você aceita como autoridade. (Freitas, 2002, p. I-4)
mesmas. Isso acontece especificamente com as questões um, dois e três, para
as quais o leitor não recebe instruções sobre suas respostas, ou seja, deve-se
Segundo ela, “(...) o simples fato de se deparar com uma questão formulada já
(Carvalho, 1999). Tal escolha torna-se oportuna, caso seja necessário algum
além dos modos habituais de pensar, e buscar uma conexão mais fluente com
será afetado pela entrevista. O autor escreve que uma boa entrevista
entrevistador.
oferecida pela entrevista, pois a fala das colaboradoras permitiu acessar o que
concentração de mulheres.
p. 601).
público alvo em visitas em cada uma das turmas de alunos dos cursos acima
Porém, a pesquisa traz temas eixos que fazem parte da vida da mulher,
pesquisa.
A intenção inicial era realizar um estudo piloto, uma prévia para posterior
sexualidade?
quando se trata do tabu social, o desafio parece maior. Falar de temas afetos à
sexualidade ainda é um tabu, que muitas vezes exige uma maquiagem para
apelidos para os órgãos e relações sexuais, e para tudo que se refira a “sex...”.
E a religião, por sua vez, torna-se um tabu social porque não pode ser
autoridade da religião.
questão por questão (Anexo D). Os quadros são compostos pelas perguntas e
Interpretação fenomenológica.
respeito, ignorando para isso, “(...) suas referências, memórias sugeridas pelo
fato. Deve manter-se fiel em sua descrição para permitir que o leitor julgue por
p. 118).
sentido (Anexo E), assim como no caso das respostas dos questionários, de
Para o autor, o
(...) método fenomenológico trabalha com três passos e que cada passo
Inclui os três. Assim, uma descrição é sempre uma redução e uma
interpretação, uma interpretação é sempre uma redução e uma
descrição e, finalmente, uma redução é necessariamente uma descrição
e uma interpretação. (Gomes, 1997)
fenomenológica.
CAPÍTULO 4
mais difíceis, e Bárbara encontrou maior dificuldade na questão dois. Clara cita
a questão quatro, pergunta-se o que seria fazer uso de Deus, e discorda que
respondê-lo, diz que as “idéias foram fluindo”. Acredita que se expressa melhor
escrevendo do que falando, pois tem facilidade para escrever e expressar seus
adora: Deus e religião. Gastou cerca de uma hora e meia para respondê-lo.
ao que lhe era questionado; não se estendeu nos assuntos abordados, o que
precisou levantar-se mais cedo para respondê-lo. Após fazer suas orações
oportunidade de refletir.
entrevistas.
caracterização dada por Pratt a cada uma das quatro modalidades de crença
religiosa, outras apresentam de forma indireta, através, por exemplo, dos sub-
determinada crença, isso não quer dizer que somente essa crença será
Paracatu aos dois anos de idade, por conta da separação de seus pais. Veio
com a mãe, então grávida do seu irmão, morar com a avó. Foi criada em um
Católica.
Igreja. Inicialmente era levada por alguém mais velho, mas com o passar do
em uma autoridade, como a Bíblia. Essa crença tem suas raízes fincadas
de ter sua base na infância a fortalece, pois tudo que é percebido é creditado
de realidade.
algo existe, e o elemento mais importante que sustenta a sua crença na religião
também pelo fato de sentir-se amada e amparada por ele, o que embasa a
crença perceptiva. Complementa essa idéia dizendo que sua vida não tem
Bíblia.
descarta essa possibilidade, afirmando que somos todos mortais, mas que é
tem a Bíblia e sua autoridade como foco de investigação. Aline crê que todo
cristão deve embasar-se na Bíblia, vista como a sagrada escritura. Julga que
se não acreditar na sua palavra não será uma verdadeira cristã, mas ressalta
que esse não é o único motivo que a faz crer, pois Deus está presente nos
milagres do dia-a-dia.
casar-se, ela mostra preocupação com o julgamento dos seus atos. Acredita
através da oração diária. Considera Deus como o seu melhor amigo, diz que e
uma amizade precisa ser cultivada (questão 5). A forma de cultivar essa
amizade é a oração. Acredita que Deus ouve suas preces e que através da
importante fonte que sustenta a sua fé. Deus aparece em seu discurso como
um amigo íntimo, que a compreende e ama como ela é. Aponta-o como seu
melhor amigo, assim, precisa de especial atenção, pois uma amizade precisa
encontrando nesta uma forma de dialogar com Deus. Esse diálogo traz
proteção contra os males do mundo e funciona como uma comunhão real com
adulta.
pequena. Está casada há 22 anos e tem três filhos. Mudou-se para Paracatu
mas não tem compromisso com sua fé, pois é a única que participa de algum
movimento. Julga que todos na sua família dependem de sua oração, porque
Renovação Carismática, e até então não parou. Junto com seu marido, fez
provocado um conflito intrasubjetivo. Ela diz viver um dilema por não sentir-se
com autoridade suficiente para trabalhar e conduzir os jovens. Seus dois filhos
sente à vontade para cuidar de jovens, se ela mesma não tem controle sobre
que não se incomoda com o fato de eles namorarem pessoas evangélicas; seu
quando pode, mas faz questão de estar presente nos Congressos, Seminários
faz com que o fiel “corra atrás”, busque compreender a Bíblia e conhecer a
palavra de Deus. Não é apenas ir à missa, que por si só não ensina nada. São
estudo da Bíblia. Em relação à sua postura, sente-se “em cima do muro” por
renovação, “lá não é apenas ir, você tem que se comprometer”. Relata que
Inicialmente não assumia por temer não poder cumprir, temia algum imprevisto
com os filhos, que eram pequenos. Hoje são grandes, mas ainda não
participação da família ou do marido, ela não deixou de seguir a sua fé. Fé que
é a base da crença de que Jesus pode estar em todos os lugares. Foi possível
crença emocional.
meio que proporciona a comunhão com Deus, mas acredita que é possível
comprovar sua existência, também, através das suas criações (questão 3). Vê
Jesus e Deus como uma única pessoa, que tem sua vida em suas mãos, pois
Deus é o seu guia (questão 2); uma forma de experimentar sua presença é nos
Deus (questão 5). As respostas de Bárbara fazem menção a uma conexão com
Afirma rezar por acreditar ser ouvida por Deus, o que é comprovado pela
sensação de paz após suas orações (questão 6). Na entrevista, relata que reza
o tempo inteiro, da hora que acorda até a hora de ir dormir, faz orações de
forma contínua. Embora reze o tempo todo, julga que precisa ser mais
fervorosa, dedicar mais tempo à oração, reservar uma parte do dia para isso.
acreditar na imortalidade do Espírito, que vai para junto de Deus após a morte
10).
modalidades de crença.
de suas atitudes, que devem ser exemplares, uma vez que Ele está presente
em sua vida (questão 4). Como vimos, essa preocupação em ser modelo
pensar como pensa, demonstra medo de ser injusta com o marido, quando
noite rezando. Faz esse relato quando chega para a entrevista. Diz que busca
viver em oração, mas acredita que precisa dedicar-se mais, pois não existe um
encontra paz para suas aflições. Pode estar triste, desesperada, preocupada,
Deus.
Quando nasceu, sua mãe já tinha duas outras filhas, era mãe solteira. A
primeira filha foi acolhida pela avó, ela e a irmã moravam com a mãe. Quando
a mãe engravidou pela quarta vez, nasceu um menino e o pai quis assumir a
mãe e o bebê, mas não aceitava levar as duas meninas. Na época, ele não
explicou porque não queria levá-las, já tinha quatro filhos rapazes e temia a
para ir embora, porém ninguém queria ficar com suas filhas. A mãe decidiu ir
embora com o pai do seu filho e abandonou as filhas, que foram encontradas
sozinhas e levadas para a fazenda da avó, que as rejeitou. O avô foi quem
pressionou para que a avó aceitasse as netas, ameaçando sair de casa. Clara
conta que passaram a morar com a avó, mas eram tratadas como escravas;
eram obrigadas a fazer todo o trabalho braçal. A avó não gostava da idéia de
Sonhava com sua liberdade, que para ela, viria com sua saída da
fazenda. Enquanto morava com os avós estudou até a quarta série, seu avô
acreditava que mulher não podia estudar muito, senão perdia o juízo. Foi na
comunhão, por não providenciarem uma roupa branca e também por não
esse dia com entusiasmo, mesmo indo com o uniforme escolar, estava
Diz que a família não tinha uma identidade religiosa, foi a única batizada
se muito doente, desenganada pela família, foi levada pela avó ao padre da
cidade para ser batizada, para que pudesse ser enterrada. O padre
ao mesmo tempo. Diz-se salva pelo batismo, pois curou-se de sua doença.
refrigerante em troca de um abraço, mas nunca foi além disso: “tinha muita fé
prometeu-lhe casa, retorno aos estudos e boas condições financeiras, que ela
poderia inclusive escolher outra cidade da região para morar. Clara ficou
Disse ao fazendeiro que aceitava a proposta, desde que ele lhe desse um
documento comprovando que a casa seria dela, mas a proposta não foi aceita
por ele. Ela relata que se sentiu muito tentada a aceitar, mas pensou na esposa
e nos filhos do fazendeiro e também que não teria 13 anos para sempre, com o
Na mesma época, uma prima, que era irmã de caridade, foi passear na
fazenda e despertou seu interesse. Mesmo sem saber do que se tratava, Clara
quis seguir o mesmo caminho. Buscou na mãe apoio para a sua intenção.
mãe, nas inúmeras tentativas, a torcida para que ficasse com o fazendeiro –
durante a infância da filha. Assim, entrou para o convento das irmãs carmelitas
Conheceu seu marido em uma comunidade religiosa, têm três filhos, todos
Deus, seria possível resolver os problemas sociais. Tem dedicado grande parte
do seu tempo ao que acredita ser uma missão: levar a palavra de Deus. Essa
missão fez com que se mudasse com a família para outro Estado, para cidades
Intriga as pessoas, pelo fato de ser casada e não ser freira. Entretanto, isso
não a incomoda, teve oportunidade de ser freira e não quis, escolheu outros
caminhos.
(1c) por acreditar que significa uma atitude favorável à retidão, ao agir de forma
Deus, para ela, é como uma pessoa, Pai Celestial, criador de todas as
coisas. Define sua relação com ele como a de uma filha com seu Pai,
emocional, porque sua família não tinha uma tradição religiosa. Quando
anos de idade, e diz que sua experiência de Deus é bem anterior a isso. Relata
clama por Deus, pedindo sua ajuda em voz alta. Estava acompanhada de dois
figura de Deus, segundo ela. Diz que esse fato aconteceu por volta dos seus
seis anos. Ainda na questão três, Clara afirma que seu argumento para crer em
4, afirmando que Ele é real, que não pode ser explicado, mas amado, baseada
em sua crença emocional. Esclarece, ainda, que sua vida perderia o sentido e
(questão 5). Segundo ela, Deus está presente em sua vida em todas as horas,
sejam elas boas ou más – crença emocional. Essa experiência permite também
que ela enfrente as dificuldades que encontra em sua vida – crença ético-
moral.
Acredita que Deus ouve as suas preces e por isso reza (questão 6).
Ressalta que não reza apenas para pedir, mas principalmente para agradecer.
Explica que a oração não está vinculada ao falar uma prece, mas ao amar e
sentir-se amada por Deus. Relata que a oração possibilita a comunhão com
Deus e que essa experiência é tão forte que às vezes sente que, se demorasse
um pouco mais em suas orações, poderia morrer, tamanha a força e efeito das
mesmas – crença emocional. Relata que sua relação inicial com a oração era
atitude. Até que chegou à conclusão, de que, sozinho, Deus não faria nada,
que ela teria que fazer sua parte. Assim, colocou os filhos numa creche e foi
trabalhar, solucionando vários dos seus problemas. Diz que hoje tem uma
relação madura com a oração, não fica mais esperando, ela busca na oração
espiritual, descreve esta como aquela que não separa sua vida da sua fé, “vive
vale a pena viver: saber que vai morrer e ir para o céu – crença ético-moral.
Deus é tão forte que supera qualquer dúvida que possa existir.
4.1.3- DISCUSSÃO
Allport (1967), dois pólos: intrínseco e extrínseco. Allport (1967) nos fala da
com a base que lhe dá sustentação. Buscaremos, nas histórias de vida das
diz-se católica, mas não professa a sua fé. Embora não assuma as
família não praticar a sua religião não fez Bárbara abandonar a sua fé; chega a
religião, acredita que precisa rezar para proteger a família e para que esta
encontre o seu caminho. Sente-se sozinha na sua fé, pois a família original não
crença em uma religião ou em Deus. Guiada por sua fé, orientou-se por
caminhos que fossem condizentes com a sua crença e suas expectativas frente
à religião.
sentimento vital, a crença emocional encontra nele seu alimento. Deus não é
base perceptiva.
e incentivada desde pequena a professar sua fé. Podemos inferir que a sua
criação e o peso que ela teve em sua vida são “responsáveis” pela maior
mesma crença.
ambas assumam e preguem sua fé. Bárbara, assim como Clara, tem presente
divulgação dela, e, por que não, um compromisso com Deus? Deus é vivido e
sentido, tratado como uma pessoa íntima. Todas têm Nele uma fonte que
alimenta e sustenta, seja ela uma autoridade externa que foi introjetada, como
modalidades descritas por Pratt (1907, 1921), nos questionários e relatos das
relembramos aqui o que foi ressaltado pelo próprio Pratt: as modalidades não
existem separadas umas das outras na vida real, pois toda crença tem
religiosa.
4.2- SEXUALIDADE
dura dez anos. Tem uma filha de 4 anos e diz que não quer ter mais filhos.
criar um filho. Namorou durante quatro anos antes de se casar, sendo que
durante os três primeiros anos não quis iniciar sua vida sexual. Logo que
quais participava. Diz que as pessoas que participam dos movimentos da Igreja
são vistas como exemplos a serem seguidos e como ela não tinha sido um,
pensou que seria excluída pelo grupo. Assumiu a gravidez aos quatro meses
de gestação. Ficou noiva e se casou, num prazo de sete meses, o que julga ter
contribuído para o fato de não sentir tanta pressão social. Durante o namoro
anticoncepcional.
para estar bem consigo e para agradar ao seu esposo, fazê-lo feliz, e evitar cair
abordando principalmente o que pode fazer por si, para que possa também
preservada até o casamento por causa da pureza que representa. Diz que seu
sonho era ter se casado virgem. Engravidou aos 18 anos e diz ter se
surpreendido com o apoio recebido pela família e pela Igreja. Para ela,
preservada até o casamento, porque é algo muito puro. Fala que é difícil
do que meninas virgens. Faz nesse caso alusão à questão da idade, mulheres
casamento. Relata que quando Deus está presente na vida do casal é fácil
sexualidade faz parte do casamento e que é importante. Diz que nunca leu
nada publicado pela Igreja, ou que fale em nome dela sobre a sexualidade.
palestras aos jovens. Diz que a televisão fala muita coisa, mas não oferece a
errado, para que o jovem tire suas conclusões. Não se lembra de nenhuma
Bárbara tem 44 anos, está casada há 22. Casou-se virgem aos 22 anos,
após três de namoro. Teve outro namorado antes, com quem se relacionou
não é tudo, mas é a parte mais importante”. Para ela, a sexualidade, ou o ato
parte da vida do casal, como diálogo, afeto, carinho e atenção. Para que o ato
sexual seja um ato de amor, ele depende desses fatores. Para haver sexo, é
“sexo é um complemento”.
sempre se sente bem durante a relação, mas que, em outros momentos, isso
foi diferente. No início do casamento, não gostava de ter relações, sentia dor e
nojo, mas sempre “fez” para agradar ao marido. Incomodada com essa
sentir nenhum tipo de prazer. Assim, começou a inovar, pedia ao marido que
fizesse “desse ou daquele jeito”, dizia o que gostava na cama, como gostava;
relação sexual.
para casa era sempre comemorado, era recebido com carinhos. Porém, sua
investida foi recriminada pelo marido e com o passar do tempo foi “esfriando”,
pois seus carinhos não eram bem recebidos, o marido afastava-a, pedindo-lhe
que parasse. No momento atual, o sexo não é mais importante. Relata histórias
de madrugada, bêbado e com perfume de mulher. Isso faz com às vezes sinta
vontade de ter relação, entretanto, quando olha para o marido e lembra de tudo
que já viveu, a vontade passa: “hoje não gosto mais do cheiro dele, não quero
estar perto dele”. Diz que gosta de ter relação, mas que não é por isso que vai
passar por cima de tudo que o marido fez e faz. Não concorda em fazer sexo
só por fazer, pois esse é um ato de amor, que deve ser trabalhado durante todo
o dia. “Se você foi bem tratada durante o dia, vai chegar à noite e fazer amor
como desgastado; diz que não existe diálogo entre eles, que ela não pode
“abrir a boca pra nada”, pois sua fala é sempre condenada pelo marido.
interessante ressaltar que ela fala de pecado quando se lembra da filha que
não é mais virgem, embora não condene ou cobre da filha em relação à sua
esse fato à sua crença religiosa, mas aos costumes da época. Compara o seu
tempo de adolescência com o tempo da filha, que chegou até ela para contar
“Gostava muito de abraçar, beijar, mas o resto não tinha jeito... era a filha mais
fugia do assunto.
Relata sua tristeza ao saber que a filha não é mais virgem, mas não
Igreja para jovens, fez opção por não ter mais relações até se casar;
“uma coisa muito íntima”, tem que ser com uma pessoa especial, na hora certa,
com amor e carinho. Em relação ao filho, tem a mesma preocupação, mas não
com ele e, sim, com a namorada: “o mesmo que desejo para a minha filha,
casado: “Não gostei, eu achei porco, não gostei... fiquei Incomodada com
sexual com o marido uma obrigação, um dever a ser cumprido por medo de
uma ameaça externa: a existência de outras mulheres que possam cumprir seu
papel por ela. Diz que nem sempre gosta de ter relações. A freqüência
Iniciativa. Diz que às vezes, sente vontade, mas essa vontade passa rápido,
“questão de segundos”.
acordo com o que diz a Igreja e ateve-se a dizer e repetir que era um
sacramento.
da Igreja Católica sobre esses mesmos temas. Ela confirmou o que já havia
vida de um casal.
para igreja; o casamento no civil não tem valor. Para existir um relacionamento,
incomodada por precisar falar de sexo com os filhos, e nota que eles também
ficam constrangidos com isso: “Antes eu fazia as duas partes, a minha e a dele.
Educação, saúde, tudo... era eu que era responsável. Hoje tem coisas que eu
não posso fazer, não posso falar...” Julga que o marido deveria ser o
responsável por conversar sobre sexualidade com o filho, mas não aceita que
ele incentive os filhos a terem relação sexual, pois o que quer para a sua filha
quer também para a filha dos outros. O marido não sabe que a filha não é mais
filha ainda não Iniciou a sua vida sexual, como justificativa para que ele não
com a namorada, mas, pra ela, de acordo com a época dela, e agora por estar
nem por parte da Igreja. Diz que sabe que a Igreja Católica condena o sexo
antes do casamento, mas não sabe se ela fala alguma coisa sobre depois do
casamento, sobre “o que pode ou não ser feito”. Acredita que a Igreja não deve
vai. Não percebe relação entre a vivência da sua sexualidade com a sua
é o prIncipal” e que “a vida sexual do casal pertence a ele”, pois “fazer sexo
dentro do casamento não é pecado, mas desde que com amor, sem
que pode ser certo ou errado em relação à sexualidade. Assim, concluiu que a
Igreja não deve se intrometer na sexualidade, que isso é assunto do casal, que
não sei como a Igreja vê, a gente diz Igreja, mas a gente não sabe como a
homem/mulher”.
por ela, mas a partir do ato sexual em si. Relata que Inicialmente sua vivência
foi traumática, quando o sexo era entendido como pecado até entre marido e
aceitou ter relação sexual com o marido devido à intervenção da sogra, que
disse que pecado era não fazer. Assim, assumiu o sexo como obrigação de
e como não sentia prazer, foi buscar orientações em livros, revistas e também
de seu intento, disse que sexo não era o principal e que ela não precisava se
calcinhas lavadas serem estendidas para secar sob o lençol. Acreditava que
tudo relacionado ao corpo era pecado, tinha uma grande preocupação com a
pureza do seu corpo, acreditava que assim estaria protegida, pois se não fosse
minha pureza de corpo e alma/ Por toda a minha vida!” Ao recitar esses versos,
vira-se para a entrevistadora e diz: “Entende por que foi tão difícil pra mim
que o(a) outro(a) já se relacionou com outra pessoa sexualmente, nunca vai
mulher.
Relata que nunca foi uma pessoa apaixonada, desconhece esse sentimento,
mas que nem por isso deixou construir e solidificar seu casamento, que na sua
Fala do sexo como a coisa mais bonita criada por Deus; forma sublime
de expressão do amor. Para Clara, sexo não faz falta, não sente necessidade
de ter relações e diz nunca ter sentido um orgasmo. Relata que se casou por
não é importante. Como o marido mora fora, o casal fica a maior parte do
tempo afastado; quando ele vem, acontece, no máximo, uma relação sexual
respeito e que os dois saibam abrir mão e ceder para favorecer a convivência.
Critica a orientação oferecida pela Igreja, que é muito superficial. Diz que
falta para as pessoas que pregam conhecimento sobre o ser humano como um
todo, que Deus não quer apenas a alma, ele não é só isso. E também não é
4.2.2- Discussão
gênero.
outro; quer estar bem consigo para estar atraente para o marido. Bárbara se
ato sexual um ato de amor, começa a perceber na sua vida uma incoerência,
pois embora tenha relação sexual freqüentemente com seu marido, não
importância da relação sexual na sua vida, que inicialmente foi traumática, mas
que agora é algo superado. Podemos inferir que sua preocupação com a
pureza do seu corpo e da sua alma não permitiu que enxergasse o sexo da
forma como descreve: “coisa mais bonita que Deus fez”, impedindo-a também
descreve.
cuidado, de estar bem consigo para que não caiam rotina de um casal.
conclusão de que esta não tem sido a sua vivência. Muito pelo contrário.
da sua vivência, pois o ato de amor por ela descrito não é vivenciado. Bárbara
parece frustrada no momento com sua vivência sexual. O marido fica pouco
diálogo, mas quando ele está em casa, têm relação sexual todos os dias.
associada à relação sexual, ela concorda que realmente para ela não tem sido
um ato de amor. Hoje tem relações com o marido para cumprir sua obrigação
tempo para essas obras. Eles são casados; compartilham ideais, crenças, mas
o seu compromisso maior é com a Igreja e não com o casal. Vivem em cidades
veracidade das informações fornecidas pela Igreja, quando fala, por exemplo,
que a camisinha não protege contra o vírus HIV. Essa atitude passiva frente a
essas orientações diz um pouco de uma crença perceptiva, embora não esteja
associa esse fato ao costume da época, mas, como vimos, nas orientações
sua época era de importância social manter-se virgem. Hoje, relata a sua
tristeza ao saber que a filha não é mais virgem e controla de certa forma a vida
sexual dos seus filhos. Clara relata sua iniciação sexual como traumática, a
que qualquer manifestação, por menor que fosse, da sexualidade, era vista
vários momentos em relação ao ato sexual, e agora o tem como prática para
agradar ao marido.
Aline retrata sentimento de culpa por ter se casado grávida, e ter iniciado
pois faz parte do matrimônio. Ela diz não ter recebido nenhuma orientação
o que diz a Igreja católica e a vivência da entrevistada. Por exemplo, não sabe
matrimônio trouxe para ela um alívio, uma espécie de redenção frente ao outro.
virgindade até o casamento, pois o sexo faz parte dele. A Igreja Católica
concorda que não existe orientação adequada, mas também acredita que a
da sua sexualidade, ao passo que falar da sua crença religiosa foi fluido.
comuns, de estudo e trabalho, Aline não foi mais vista, Clara evita contato e
vulneráveis.
(1933) não admitiu a sublimação como uma das vias de expressão para a
outros fins, como a religião que, atendendo à sua crença ético-moral, tem uma
refere ao seu amor próprio e ao fato de achar-se o máximo. Embora não relate
destinos sexuais não aparecem sozinhos, não são exclusivos. Assim, podemos
sua sexualidade, pois onde se encontra a vivência da “coisa mais bonita que
Deus fez”, como ela mesma opina sobre o sexo? Esse sexo ela desconhece,
a vivência sexual. Os dados qualitativos que temos nos permitem fazer uma
de Deus, da mãe... Autoridade que ameaça, que faz com que precise se casar
vivência anterior.
sexualidade está diretamente relacionada ao ato sexual em si, que deve ser um
crê porque tem com Deus uma relação direta. Entretanto, em relação à
de amor.
a relação sexual era constante, pois tinha fins procriativos. Quando Clara
eles, enquanto casal, estavam acima disso. Relação sexual visando ao prazer
não era permitida? Perderia assim sua pureza ou sua finalidade? Seus relatos
canalizada para fins mais nobres, como a procriação. Um ato sublime foi
forma da oração, para não pensar em si, para não refletir sobre a sua vida e,
nunca foi uma união de amor como acredita que deve ser um casamento.
de fazer sexo.
sabe que isso vai acontecer, assim, oferece liberdade dentro da repressão.
prescrições morais não são seguidas fielmente pelos católicos, que muitas
nem tudo que nela está escrito deve ser seguido. Dessa forma, a relação com
desconhece essa orientação busca outras. Mas temos também o que conhece
conduta moral. Como afirmou Carrara (2005), não existe um consenso interno
submissão ao outro.
sacramento do matrimônio.
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
se ao fato de existirem muitas pessoas que se dizem católicas, mas que não
Pratt, que prevaleceu neste estudo, foi a crença emocional. Essa modalidade
emocional caracteriza-se justamente por aquilo que Pratt considera como mais
Entretanto não é uma crença de todo ingênua. Pratt descreve essa associação
Essas mulheres vivem a religião na sua prática e não a partir dos valores
mas a comunhão com Deus. A Bíblia não é seguida como código de conduta,
sexualidade, que, para ser vivenciada, precisa de algo que lhe dê um sentido
código moral da Igreja Católica está presente para todas, porém, não sabem
falar disso como algo prescrito, normatizado, não encontram referência para
Lidam com as normas como se elas sempre tivessem existido, como se essa
fosse a forma “natural” de agir, como se existisse uma forma “natural” de agir.
religiosa? Mulheres que atuam em outros movimentos católicos têm uma visão
Vimos que a idade pode ser um fator que interfere nessa leitura, visto
mais dúvidas que respostas. E assim caminhou este projeto. A partir de uma
conhecimentos. E assim como disse o poeta “no meio do caminho havia uma
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Paracatu ___/___/____
Entrevistada:
___________________________________________________________
Tem-se percebido, atualmente, que a religião, como uma das coisas mais
presentes na vida da comunidade e do indivíduo, merece estudo mais
detalhado e extenso. Tal estudo pode ser de valor apenas se for baseado nas
experiências de muitos indivíduos. Se você for favorável a esse tipo de estudo
e desejar participar dele, faça a gentileza de escrever as respostas às
seguintes questões.
Por favor, responda às questões em toda a sua extensão e
detalhadamente. Procure não oferecer generalizações filosóficas, mas sua
própria experiência pessoal.
1.1- Se a religião tem vários elementos, qual é para você o mais importante?
2.1- Como você apreende a relação de DEUS com a humanidade e com você
pessoalmente?
2.2- Se sua posição sobre as duas relações for incerta, por favor, declare esse
fato.
3.1- Se você acredita em DEUS com base em várias razões, por favor Indique
cuidadosamente a ordem de sua importância.
4. Ou você não acredita em Deus, tanto quanto que fazer uso DELE? Explique.
4.1- Você aceita Deus não tanto como um Ser real existente, mas, de
preferência, como um ideal pelo qual se vive?
4.2- Se você tivesse que se tornar inteiramente convencido de que DEUS não
existe, isto faria uma grande diferença em sua vida - seja em relação à
felicidade, à moralidade, ou a outros aspectos? Explique.
5. DEUS é algo muito real para você, tão real quanto um amigo terreno,
embora diferente?
5.1- Você sente que já experimentou a presença de DEUS? Se for o caso, por
favor, descreva o que você que dizer com "experienciar SUA presença”. O que
é tal experiência?
5.2- Quão vaga e quão distinta ela é? De que modo ela o afeta mental e
fisicamente?
5.3- Se você não teve essa experiência, você aceita o testemunho de outros
que reivindicam ter sentido a presença de DEUS diretamente? Por favor,
responda a esta questão com o maior cuidado e com o máximo possível de
detalhes.
6. Você reza? E, se for o caso, por quê? Quer dizer, é puramente por hábito e
costume social, ou você de fato acredita que DEUS ouve suas preces?
6.1- Em suas preces você é unilateral ou bilateral – isto é, você sente às vezes
que recebe algo de Deus em suas preces – tal como força ou o espírito divino?
A oração é uma comunhão real entre você e DEUS?
I – Identificação pessoal
Data de nascimento: ___/___/___ Naturalidade: ________________________
Profissão: _________________________ Escolaridade: __________________
Estado civil / Situação conjugal atual / Há quanto tempo:
________________________
Movimento religioso do qual participa / Há quanto tempo / Por que escolheu
esse movimento para participar: _____________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
II – Entrevista semi-estruturada
(2 b.) Ou é DEUS apenas uma força? Caso seja, o que quer dizer essa força?
(2 c.) Ou é DEUS uma atitude do universo favorável a você? Descreva como é
essa atitude.
2.1- Como você apreende a relação de DEUS com a humanidade e com você
pessoalmente?
2.2- Se sua posição sobre as duas relações for Incerta, por favor declare esse
fato.
4.1- Você aceita Deus não tanto como um Ser real existente, mas, de
preferência, como um ideal pelo qual se vive?
4.2- Se você tivesse que se tornar Inteiramente convencido de que DEUS não
existe, isso faria uma grande diferença em sua vida - seja em relação à
felicidade, à moralidade, ou a outros aspectos? Explique.
Anexo E – Entrevistas
O que é sexualidade?
de um orgasmo, até
hoje. Eu achava que era
sujo... No nosso
casamento isso nunca
foi o principal, sempre
fomos muito amigos, ele
muito carinhoso comigo
e eu com ele
bonita também.”
Toma a Iniciativa?
Alcança o orgasmo?