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É preciso estudar como organismo

se cura, diz homeopata


Para David Reilly, medicina sempre priorizou o
desenvolvimento de remédios; ideal é proporcionar que cura
ocorra naturalmente, diz

Participante do Congresso Brasileiro de Homeopatia, ele


propõe orientar o pensamento ao bem-estar e também à boa
nutrição

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A medicina precisa estudar mais as formas como o organismo


humano pode se curar de uma doença e os meios de educá-lo a
isso, pois nos últimos 300 anos esteve voltada a métodos
intervencionistas, enfocando a eficácia de remédios. Essa foi uma
das teses defendidas pelo homeopata escocês David Reilly, um
dos principais nomes dessa especialidade no mundo, durante o
Congresso Brasileiro de Homeopatia, que ocorre até amanhã em
SP. O diretor do Hospital Homeopático de Glasgow, autor de
diversos estudos publicados em importantes revistas científicas
como a "The Lancet" e o "British Medical Journal", diz não se tratar
de estimular uma autocura "mágica", mas, sim, de criar condições
para que a possibilidade de cura aconteça de forma mais natural.
Veja trechos da entrevista concedida à Folha.

FOLHA - Por que o sr. coloca a cura como algo a ser mais
estudado?
DAVID REILLY - Eu tenho chamado a esse questionamento. Como
todos os seres vivos, o homem tem mecanismos de recuperação e
cura. E eles foram muito negligenciados pela ciência e pelos
estudos médicos. A ponto de, quando eu era estudante e olhava no
índice do livro de medicina de Oxford, não havia uma disciplina
sobre processos de cura. Não há conhecimento porque não há
questionamento. E, nos últimos 20 anos, eu assisti ao nascimento
do que eu acho que pode se tornar esse questionamento, com a
tendência de começar a entender essa interatividade com a cura
biológica.

FOLHA - Nessa visão há um antagonismo entre cura e remédios?


REILLY - Seria uma loucura fazer esse antagonismo. Sou um
médico treinado em métodos convencionais e não operaria e nem
poderia fazê-lo sem o conhecimento dos sistemas tradicionais. Mas
por que eu preciso viver para isso? É possível pensar em ambas as
formas.

FOLHA - Os pacientes estão preparados para esse tipo de visão?


REILLY - Com o tempo ocorrem ondas de mudanças culturais,
geralmente em unidades de 50 anos. Há um documento publicado
na Escócia mostrando isso. Chama-se "The Fifth Wave" ("A Quinta
Onda"). Ele mostra que, numa perspectiva de 300 anos, nós
construímos a cultura da sociedade com o pensamento de
intervenção "outside-in" (de dentro para fora). As epidemias
crônicas como obesidade, depressão, artrites e câncer ainda estão
inclinadas para o modelo tradicional intervencionista. Mudando para
a quinta onda da saúde pública, será o começo da mudança.

FOLHA - Como essa mudança poderia ajudar a tratar doenças?


REILLY - Com o pensamento voltado para a nutrição e para o bem-
estar. Isso é construir a partir das quatro ondas. Não quer dizer que
devemos abandonar os antibióticos. É sobre colocar uma pergunta
adicional. A primeira pergunta nascida desses 300 anos é o que
podemos fazer para ajudar essa pessoa? Se eu imagino a medicina
daqui a 30 anos, eu acho que deveria haver uma segunda pergunta
automática. O que poderíamos fazer para melhorar a capacidade de
cura desse indivíduo e ajudá-lo a fortalecer isso? A segunda
questão estaria ligada a questões como nutrição, nutrição
emocional, espiritual, relações sociais, coisas que ajudam a
capacidade.
Sabemos que ao menos 40% dos cânceres estão ligados a uma
nutrição pobre. O indivíduo começa a tomar poder, com
aprendizagem e habilidades. Mas não é você ir no médico para ter
uma nova técnica de autocura. Estamos falando de algo que
envolve uma mudança cultural profunda, que (os médicos)
considerarem a possibilidade de seu corpo também ser resposta à
cura de problemas.

FOLHA - E quanto ao patrocínio de pesquisas sobre cura?


REILLY - Essa é uma pergunta maravilhosa. Como temos visto,
mesmo medicina complementar, algumas têm algo a dizer sobre
esse assunto. A homeopatia, por exemplo, tem sido uma forma de
tentar ativar a capacidade de cura nas pessoas.
Ela tem estado muito inserida à totalidade do indivíduo, de como
manifestações do organismo afetam a resistência e a recuperação
de doenças e está indo em um caminho melhor de encontrar
históricos médicos para questionamentos. A melhor definição que
eu vejo de medicina complementar é que não pode ser
patenteada. Até mesmo nutrição é vista como uma alternativa. Nós
tivemos essa intervenção máxima por meio de medicamentos e
indústria. Precisamos pensar fora dessa "caixa". Eu falo com
médicos ao redor do mundo e outros profissionais da saúde que
dizem sentir que foram transformados em máquinas por influência
da indústria e sentem que o mundo sofre um processo de
desumanização.

Frase
"Como todos os seres vivos, o homem tem mecanismos de
recuperação e cura. E eles foram muito negligenciados pela ciência
e pelos estudos médicos"

"Estamos falando de algo que envolve uma mudança cultural


profunda"
DAVID REILLY
homeopata

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2009200815.htm

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SUGESTÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR:

As doenças do Século XXI


Dana Ullman
As doenças do século XXI, inevitavelmente, serão diferentes das
do século XX, assim como as nossas enfermidades atuais são bem
diferentes das do século XIX. Embora, sob vários aspectos, nossa
saúde esteja melhorando e a perspectiva de vida seja maior do que
em décadas anteriores, novas doenças e estados ameaçam a
qualidade de nossa vida. Já observamos algumas mudanças
significativas na década de 1980, que pressagiam o tipo de
problemas de saúde que nos esperam no século XXI:

• Doenças do sistema imunológico, não apenas a AIDS, mas


vários estados de sistema imunológico deficiente ou
superativo, atingindo proporções epidêmicas.*
• Está aumentando o número de pessoas portadoras de
estados provocados por vírus, incuráveis através das terapias
convencionais, e também está aumentando significativamente
o número de estados provocados por vírus recentemente
identificados, tais como o vírus Epstein-Barr e os
citomegalovírus.
• Mais e mais infecções bacterianas estão se tornando
resistentes aos antibióticos comumente usados, exigindo
antibióticos cada vez mais potentes, que nem sempre
conseguem curar a infecção.
• As alergias a alimentos, a substâncias comuns e a novos
produtos químicos estão se tornando mais e mais difundidas.
• As insuficiências crônicas estão afetando mais
freqüentemente as pessoas, em idade cada vez menor.
• As doenças mentais afetam um número cada vez maior de
pessoas.

Além dessas várias tendências, um dos fatos mais significativos a


afetar o futuro da assistência médica é que haverá uma
porcentagem maior da população acima de 65 anos de idade. De
acordo com as projeções da agência de recenseamento

* Os capítulos seguintes fazem referência a cada uma das tendências aqui


mencionadas.

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dos Estados Unidos, o contingente de pessoas com mais de 65
anos, nos EUA, em 2030, será o dobro do que era em 1985.1
Os futurólogos, em geral, presumem que a medicina do século
XXI disporá de novas e mais poderosas drogas e de vários
acessórios tecnológicos inovadores. Entretanto, eles tendem a
ignorar os sérios problemas que já surgem atualmente das
medicações convencionais. De acordo com estatísticas de 1986, o
americano médio recebe 7,5 prescrições por ano.2 Este é um
número particularmente assustador, porque todos nós conhecemos
pessoas que não receberam nenhuma prescrição no ano passado,
o que significa que outra pessoa está ficando com as suas 7,5
drogas. Como a maioria das drogas tem efeitos colaterais, alguns
deles bem sérios, e como o doente em geral recebe uma receita
com várias drogas ao mesmo tempo, das quais qualquer uma pode
provocar efeitos colaterais ainda mais sérios, não é de surpreender
que, em 50 por cento dos casos, as pessoas sequer cheguem a
comprar os remédios. Além disso, vários estudos indicam que, em
25 a 90 por cento dos casos, os pacientes cometem erros na
administração dos medicamentos.3 Apesar do respeito que as
pessoas de modo geral manifestam aos médicos da atualidade,
elas parecem não ter igual confiança nos tratamentos prescritos.
A maioria dos futurólogos que escreveu sobre a assistência
médica no século XXI tende a ignorar esses sérios problemas. Eles
discutem novas maneiras de usar computadores, esquadrinhadores
e outras tecnologias, e só raramente descrevem muitas das terapias
naturais que têm sido usadas por séculos e que se tornaram cada
vez mais populares nas décadas de 1970 e 1980.
Ao contrário da maioria dos outros futurólogos, Clement Bezold,
Rick Carlson e Jonathan Peck, no livro The Future of Work and
Health, predisseram que a medicina do século XXI terá um
componente de alta tecnologia, mas um componente igualmente
forte de “alto toque”.4 Além de novos procedimentos tecnológicos de
diagnóstico e terapia, haverá uma dependência significativamente
maior das práticas de autocuidado; programas de bem-estar;
regimes terapêuticos, nutritivos e de boa forma física e outras
práticas curativas alternativas. Os autores também observam que a
ciência já começou a reconhecer, e em breve integrará mais
plenamente, os conceitos a respeito da influência do estado
psicológico sobre vários processos fisiológicos. Unindo as
especialidades médicas da psiquiatria, da neurologia e da medicina
interna, a psiconeuroimunologia está rapidamente se tornando um
campo formalmente reconhecido de investigação científica sobre o
relacionamento entre mente e corpo.5 Seus praticantes tentam
entender e prevenir a doença de maneira holística e científica, e
atualmente estão desenvolvendo métodos para acelerar a
recuperação e atingir níveis mais elevados de saúde.
Bezold, Carlson e Peck também predizem que conceitos mais
amplos de saúde abrirão a ciência e a medicina a várias práticas
espirituais de saúde e cura. A meditação será valorizada pela
capacidade de induzir a estados de relaxamento e de percepção
mais elevada. A imposição de mãos, feita por pessoas de várias
orientações religiosas, também se tornará mais difundida. E a cura
pela fé, que sempre foi popular, conquistará a sanção da ciência e
da medicina.
É difícil imaginar a medicina do século XXI sem um componente
de alto toque. Não apenas a dependência da medicina tecnológica
será muito dispendiosa, mas também a medicina de alta tecnologia,
em geral, tem sido muito ineficaz no tratamento de um grande
número de enfermidades crônicas e agudas. Embora a cura de
várias doenças sempre pareça estar “só a alguns passos de
distância”, a verdade é que as curas reais, com o emprego de
tratamentos médicos convencionais, continuaram ilusórias. Há um
grande número de doenças que os médicos convencionais sequer
alegam “curar”, mas apenas “controlar”. As terapias médicas
convencionais podem ter reduzido significativamente os efeitos
prejudiciais à saúde de doenças infecciosas agudas e realizado
intervenções heróicas para lidar com emergências médicas;
entretanto, o médico da família e o especialista não conseguem
tratar eficazmente de sintomas, síndromes e doenças crônicas que
atingem uma grande quantidade de pessoas. Como as doenças
crônicas provavelmente serão ainda mais disseminadas do que
hoje, na medida do aumento da idade média da população, os
métodos terapêuticos que não apenas administrem ou controlem os
sintomas, mas que efetivamente os curem, precisam ser a meta da
medicina e da ciência.
Também existe, hoje, um significativo número de pessoas cujo
diagnóstico escapa aos profissionais da medicina. Essas pessoas,
muitas vezes descritas como tendo doenças “não-específicas” ou
“não-diferenciadas”, freqüentemente não recebem um tratamento
eficaz com as terapias convencionais. Obviamente, são necessárias
abordagens de terapia e diagnóstico alternativas e complementares
para que se possa proporcionar uma assistência médica eficiente. A
medicina homeopática tem esse potencial. A homeopatia muitas
vezes complemente a assistência médica ortodoxa, e em outras
ocasiões a substitui. Aspectos específicos da utilização da
homeopatia no tratamento de problemas de saúde atuais e futuros
são discutidos nos últimos capítulos deste livro. Por proporcionar
um sistema de diagnóstico que avalia o organismo todo, e não
simplesmente suas partes, e por ser um sistema terapêutico que
funciona através da estimulação do sistema imunológico e
defensivo do indivíduo, e não simplesmente através do controle ou
supressão de sintomas, a homeopatia, inevitavelmente, tornar-se-á
parte integrante da assistência médica nos Estados Unidos.”

Fonte: páginas 17 a 21, do livro: ”Homeopatia – Medicina para o


Século XXI”. Dana Ullman, Editora Cultrix, São Paulo, 1995. Título
do original: “Homeopathy Medicine for the 21st Century”, 1988 by
Dana Ullmann

ISBN : 85-316-0199-1

HOMEOPATIA: MEDICINA PARA O SÉCULO XXI


Dana Ullman
Cultrix
352 páginas

Editora Pensamento-Cultrix Ltda –


Rua Dr. Mário Vicente, 368
São Paulo - SP - BRASIL /
F: (0**11) 6166-9000 –
Fax: (0**11) 6166-9008

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