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Do "sindicalismo unitário" à unidade no sindicalismo

27.11.2008, Carlos Trindade e Ulisses Garrido

A prática da CGTP-IN não alarga a influência da central e não permite a renovação


de ideias e dos eleitos

Énatural - poderia mesmo ser saudável - que um congresso do PCP se debruce sobre o
movimento sindical e muito particularmente sobre a CGTP-IN. Natural porque o PCP
se reclama, com alguma justiça, um partido ligado aos trabalhadores e também
porque a sua influência na central sindical é dominante, não só por razões
históricas de resistência à ditadura, mas também pelo peso real dos comunistas em
muitos sindicatos, força não raro sustentada na ausência de procedimentos
democraticamente transparentes no funcionamento de muitos deles. Mas, para que
esse debate congressual fosse profícuo, não haveria que o perspectivar na procura
das soluções adequadas para as novas realidades laborais? Para a crescente ameaça
da precariedade e do trabalho temporário, o persistente crescimento dos serviços
na economia, as questões laborais induzidas pela pressão negativa das economias
emergentes, etc.? E sobretudo não haveria que falar verdade? Poder-se-á ampliar
sucessos por vezes inexistentes? Ou ocultar os números preocupantes do abandono
dos sindicatos por um número considerável de trabalhadores? Poder-se-á disfarçar
as dificuldades financeiras em que muitos sindicatos já mergulharam, ou a falta de
presença em locais de trabalho?
A designação "sindicalismo unitário", tão querida do PCP, fez a sua história. Pode
ter correspondido à necessidade de unir, de facto, num mesmo projecto correntes
político-sindicais e personalidades com diferentes posicionamentos. Mas acabou por
significar apenas um sindicalismo hegemonicamente comunista (ou de aliados "do
peito"), que pretende que as correntes minoritárias façam a figura de "jarrões
convenientes" para consumo externo.
Os signatários e muitos outros são dirigentes da CGTP-IN, pertencem a correntes
minoritárias e não desempenham o papel que a corrente comunista lhes quer
atribuir. Não se orientam por qualquer espírito de cisão ou de fraccionismo.
O reforço da intervenção da CGTP-IN no mundo do trabalho exige um esforço sério na
procura da unidade - unidade dos trabalhadores, necessariamente construída no
consenso de opiniões ideológicas e visões diferenciadas. Mas unidade igualmente
construída no debate aberto e tolerante entre a maioria comunista e dirigentes
representativos de outras áreas ideológicas.
Ao "sindicalismo unitário" é necessário contrapor um sindicalismo da unidade
construído não na imposição brutal de decisões, mas na discussão autónoma dos
melhores caminhos para a defesa de direitos e anseios dos trabalhadores.
Não questionamos a matriz sindical da CGTP-IN, não nos consideramos menos
lutadores do que outros, move--nos o mesmo interesse pelos trabalhadores. De
certeza que não temos a verdade, toda a verdade; mas rejeitamos que outros a
proclamem apenas baseados no seu maior número - e essa é amiúde a prática nos
órgãos da CGTP-IN, prática que decididamente não contribui para encontrar as
respostas necessárias para os novos caminhos e desafios da sociedade, não alarga a
influência da central, não permite a inevitável renovação de ideias e
rejuvenescimento dos eleitos.
Não raro se contrapõe a "visão revolucionária" dos comunistas à visão "recuada" e
conservadora dos dirigentes que não pertencem ao PCP, sendo, porém, verdade que
isso não corresponde a qualquer análise sustentada. Não é uma atitude
revolucionária a de entender que as lutas sindicais têm o fim em si próprias, como
se se tratasse de cumprir um dever; nem a vida e a dinâmica de um sindicato ou de
uma central sindical se mede exclusivamente pelo número de lutas que promove, num
activismo radical de fracos resultados - como parece ser o entendimento da
corrente comunista da CGTP-IN.
Tanto como de luta, a vida sindical precisa de obter sucessos, de infundir
confiança aos trabalhadores através da resolução dos seus problemas concretos.
Precisa, sobretudo, de se "tornar presente" na solução dos conflitos e ter coragem
de assumir, negociar e acordar soluções, compromissos, entendimentos. Também esta
perspectiva nos diferencia das práticas dos "maioritários".
O sectarismo conduziu sempre à visão limitada, empobrecida e ideologicamente
distorcida da realidade. Constitui por isso um obstáculo à compreensão das
dinâmicas e das mudanças que cimentam as sociedades em conflito; a uma visão
sectária do real há que contrapor a necessidade de encontrar as pontes necessárias
à unidade do que é diferente e por vezes (aparentemente) contraditório - assumimos
conscientemente esse desafio!
Une-nos também em contraponto com a visão da maioria comunista da CGTP-IN o
entendimento de que a nossa central se deve incluir no movimento sindical
internacional mais aberto e plural, que engloba, entre outras, as centrais dos
países da União Europeia, a que pertencemos; não esquecemos que da CSI fazem parte
organizações que não assumem as posições ideológicas que nos orientam. Mas elas
são, de facto, representantes dos trabalhadores dos seus países, sendo que a
unidade dos trabalhadores se mostra cada vez mais necessária face à falência da
globalização económica neoliberal. O isolamento internacional da CGTP-IN - ou pelo
menos a sua não participação de corpo inteiro na CSI - não ajuda os trabalhadores
portugueses nem ajuda a construção de uma resposta social e laboral global aos
ataques do capital. E uma eventual adesão à FSM não faria qualquer sentido: a FSM
é o que resta de um movimento sindical cujos princípios de puro sectarismo não
fazem hoje qualquer sentido e essencialmente constituída por centrais sindicais
que respeitamos enquanto representantes de trabalhadores dos seus países mas cujos
princípios e lógicas de funcionamento são incompatíveis com os do sindicalismo que
defendemos.
Queira a corrente maioritária (comunista) da CGTP-IN dar os passos necessários
para o reforço da efectiva unidade que os trabalhadores portugueses reclamam e
será bem diferente a sua capacidade de obter resultados favoráveis. Carlos
Trindade é membro da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN. Ulisses Garrido é
membro da Corrente Sindical Autonomia e Unidade da CGTP-IN

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