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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
ACÓRDÃO REGISTRADO(A)SOBN°

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 571.768-4/9-00, da Comarca de SÃO

PAULO, em que é agravante ASSOCIAÇÃO DOS ADQUIRENTES DE

IMÓVEIS DO EMPREENDIMENTO VILLAS DA PENHA sendo agravada

COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DE SÃO PAULO -

BANCOOP:

ACORDAM, em Nona Câmara de Direito Privado do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores PIVA RODRIGUES (Presidente, sem voto),

ANTÔNIO VILENILSON e JOÃO CARLOS GARCIA.

São Paulo, 04 de novembro de 2008.

DACIO TADEU VIVIANI NICOLAU


Relator

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PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

VOTO N°0 : 1912


AGRV.N :571.768-4/9-00
COMARCA: SÃO PAULO
AGTE. : ASSOCIAÇÃO DOS ADQUIRENTES DE IMÓVEIS
DO EMPREENDIMENTO VILLAS DA PENHA
AGDO. : COOPERATIVA HABIT. DOS BANCÁRIOS DE
SÃO PAULO - BANCOOP

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - Ação Civil


Pública julgada parcialmente procedente -
Decisão que recebeu a apelação em seu duplo
efeito - Inconformismo - Deficiência na formação
do agravo que não inviabiliza o seu conhecimento-
Pretensão da associação autora de recebimento do
recurso somente no efeito devolutivo -
Possibilidade - O artigo 14, da Lei 7.347/85 dispõe
que o juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
recursos, para evitar dano irreparável à parte -
Decisão que não fundamentou a concessão do
efeito suspensivo - Inexistência de demonstração
do dano irreparável - Obras atrasadas, há anos,
gerando prejuízo uos adquirentes - Decisão
reformada, afim de que o recurso de apelação seja
recebido apenas no efeito devolutivo - Recurso
provido ".

Trata-se de agravo de instrumento


interposto contra a decisão prolatada pelo MM. Juiz da 32a Vara
Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo que, em ação
civil pública, proposta por Associação dos Adquirentes de
Imóveis do Empreendimento Villas da Penha contra
Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo -
BANCOOP, processo n° 07.114.957-7, controle n° 219/07,
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recebeu o recurso de apelação interposto pela ré nos efeitos


suspensivo e devolutivo (fls.21).
Inconformada, recorre a autora,
postulando a reforma da r. decisão, a fim de que a apelação seja
recebida no efeito apenas devolutivo, no que diz respeito à
destituição da agravada da incorporação e conseqüente
administração da obra. Postula a antecipação da tutela recursal
(fls. 02/12).
A r. decisão recorrida foi prolatada no
dia 10/04/08 (fls.21), sendo publicada no dia 23/04/08 (fls.21). O
agravo foi interposto no dia 05/05/08 (fls. 02).
Cópias das procurações foram juntadas
àsfls.13/14.
O preparo não foi recolhido, por tratar-se
de ação civil pública (art. 18 da Lei n° 7.347/85).
O efeito pretendido foi negado (fls.
32/33).
A agravada apresentou contraminuta às
fls. 36/53. Invocou, preliminarmente, a ausência de peças
indispensáveis ao correto entendimento da lide. No mérito,
pleiteou seja negado provimento ao agravo, alegando que o
recebimento da apelação apenas no efeito devolutivo trará dano
irreparável.
A Douta Procuradoria Geral de Justiça
opinou pelo provimento do recurso (fls. 324/325).

É O RELATÓRIO.

O recurso comporta provimento.


A agravante ajuizou ação civil pública
em face da agravada, com pedido de antecipação de tutela, em

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defesa dos direitos dos inúmeros associados que celebraram um


"termo de adesão e compromisso de participação" com a
cooperativa agravada, visando à aquisição de unidades
habitacionais do empreendimento denominado "Villas da Penha",
através de sistema de autofinanciamento a preço de custo.
Alega que as obras estão atrasadas, a
agravada afirma enfrentar problemas no seu "fluxo de caixa" e
pretende obter nova contribuição dos adquirentes, em valor
equivalente a 100% do inicialmente cobrado. Sustenta que
adquirir um imóvel dessa entidade não é um bom negócio "pois o
indivíduo compra um, paga por dois e não recebe nenhum".
No julgamento do agravo de instrumento
n° 517.452-4/1-00 (voto 1119), distribuído a este Relator, foi
mantida a decisão liminar proferida pelo MM. Juiz a quo que
impediu a ré de proceder a qualquer ato de execução ou retomada
dos apartamentos ou unidades, bem como de alienar novamente os
direitos sobre elas.
Sobreveio r. sentença de fls. 15/18 que
julgou parcialmente procedente a ação para determinar ao 17°
Cartório de Registro de Imóveis da Capital de São Paulo a
averbação dos termos de adesão e compromisso de participação
dos adquirentes de imóveis no Empreendimento "Villas da
Penha", nas matrículas n° 8076 e n° 8079; determinar a suspensão
dos vencimentos de prestações dos adquirentes que ainda não
quitaram seus imóveis, até que se comprove a retomada das obras,
com a conseqüente abstenção da ré para realizar qualquer
cobrança ou atos de publicidade e execução em face dos
adquirentes do Empreendimento "Villas da Penha" e condenar as
partes pagamento de custas processuais e honorária advocatícia, a
qual arbitro em 10% do valor atribuído à causa, cabendo 70% à ré
e 30% à autora (fls. 15/18).
A r. sentença foi complementada com os
embargos de declaração de fls. 19/20, que foram acolhidos para
reconhecer a destituição da ré da função de incorporadora,

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facultando-se à autora, em representação dos associados e por


manifestação da vontade destes o prosseguimento da obra.
A agravante não juntou cópia de seu
recurso de embargos de declaração. Não se sabe, exatamente, qual
foi o seu pedido.
A r. sentença, em sua parte dispositiva,
determinou a suspensão dos vencimentos de prestações dos
adquirentes que ainda não quitaram seus imóveis, até que se
comprove a retomada das obras, com a conseqüente abstenção da
ré para realizar qualquer cobrança ou atos de publicidade e
execução em face dos adquirentes do Empreendimento Villas da
Penha.
Por outro lado, ao acolher os embargos
de declaração cujo conteúdo se desconhece, o MM. Juiz concluiu
que a conseqüência jurídica do reconhecimento da paralisação
injustificada da obra é a destituição da ré da função de
incorporadora, facultando-se à autora, o prosseguimento da obra.
No relatório da r. sentença há menção
aos vários pedidos formulados pela associação, entre eles "a
destituição dos membros da administração da obra, com
conseqüente nova eleição para ocupação de tais cargos" (fls. 15).
Há notícia de que a agravada também
teria oferecido embargos de declaração, rejeitados (fls. 49). A
agravante não juntou cópia desse recurso oferecido pela agravada
e nem da decisão proferida.
A agravante não juntou cópia da petição
inicial da ação civil pública e nem da decisão que concedeu
liminar.
O agravo de instrumento deveria ter sido
melhor instruído, mas essa deficiência não inviabiliza o seu
conhecimento, como pretende a agravada.
As sentenças proferidas em ação civil
pública se sujeitam a recurso de apelação, recebido, em regra, em

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seu efeito devolutivo. O artigo 14 da Lei n° 7.347/85 dispõe que:


"O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar
dano irreparável à parte".
Em regra, é defeso ao Magistrado dar
efeito suspensivo a apelação que, pela lei, não o teria. No entanto,
no sistema da Lei de Ação Civil Pública, o Juiz pode conferir
efeito suspensivo ao recurso que, originariamente, não o tem.
No caso concreto, a concessão de efeito
suspensivo não foi fundamentada.
Essa exceção não se aplica à hipótese
dos autos, pois milita em desfavor da agravada a sentença
monocrática que julgou pela procedência parcial da ação.
Ademais, denota-se que se houve prejuízo, esse foi dos
associados, em virtude da paralisação das obras há mais de três
anos. Não logrou a agravada demonstrar a necessidade da
concessão do efeito suspensivo, para evitar dano irreparável.
A Douta Procuradoria Geral de Justiça,
em seu parecer, opinou pelo provimento do recurso e bem
analisou a questão: "E isto primeiramente porque a regra nas
ações civis públicas, como se infere do art. 14, da Lei 7347/85, é o
recebimento do recurso no efeito meramente devolutivo. Isto
significa que só em casos excepcionalíssimos deve-se dar o efeito
suspensivo, ao lado do devolutivo, à apelação da sentença que
julgou a ação procedente. Como anotam Nelson Nery Júnior e
Rosa Maria de Andrade Nery: "Regra Geral: recursos têm efeito
meramente devolutivo. Embora as ações propostas com base na LACP
devam submeter-se ao regime recursal do CPC, a regra geral desta lei
quanto aos efeitos dos recursos deve ser extraída "a contrariu sensu" da
norma sob comentário. Como a norma estabelece poder o juiz conceder
efeito suspensivo aos recursos, significa que "a contrariu sensu" que os
recursos no sistema da LACP têm. sempre, o efeito meramente devolutivo
como regra geral O sistema é assemelhado ap da LfE43.{...) Postas estas
premissas, fato é que na verdade não se verifica, "data máxima
vênia", rigorosamente nenhum dos requisitos reclamados para a
concessão do efeito suspensivo, sempre levando-se em

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consideração que o motivo para o recebimento do recurso sem


efeito suspensivo é a expressa disposição legal, que em verdade é
por si só condição suficiente para o provimento do agravo e
reforma da r. decisão agravada. Aliás, o deferimento do efeito
suspensivo à apelação, está sim, é que se mostra decisão em
caráter excepcional, cuja validade está condicionada à
fundamentação (que não teve), e não o reverso. E só porque a lei
reclama. Além disso, é notório - não fossem os dados coletados
nestes autos, que compõe o instrumento, bem como a sentença de
procedência - que a Bancoop não entregou o que prometia a
grande parte de seus cooperados. São inúmeras as ações contra
Cooperativa em questão por motivos assemelhados, a ponto de
várias decisões terem lhe retirado a condição de cooperativa, uma
vez que a submetem ao Código de Defesa ao Consumidor, o que
à princípio, se cooperativa, não haveria como opor-se aos
cooperados dentro da perspectiva consumerista."(fls. 324/329).
Desse modo, viável o recebimento da
apelação somente no efeito devolutivo, possibilitando a execução
provisória da sentença, a fim de destituir a agravada da
administração da obra, com a retomada da construção pelos
próprios adquirentes.
Ante o exposto, dá-se provimento ao
recurso. ^^

Viyi^HÍÍCOLAU
/^^ Relator

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