Você está na página 1de 5

06/12/2008

Som tangível: Uma mesa de luz,


tocando a música do futuro
Manfred Dworschak

Cientistas em Barcelona criaram um novo instrumento musical que


produzirá sons notáveis, mesmo por um novato não treinado. Mas a
"Reactable" é mais que um sintetizador digital. Ela também pode
apontar uma nova forma de usar os computadores.

Raramente se viu homens brincando com blocos com tamanha


dedicação. Quatro ficam ao redor de uma mesa circular, colocando
discos e cubos coloridos na superfície, ocasionalmente os
movendo, girando e os retirando de novo.

Cada uma dessas mudanças aparentemente pequenas produz um


efeito – barulho que varia de gorgolejo, batidas ou estrondos até
uma alto ritmo de percussão. Quando os objetos na mesa são
movidos, o resultado é sons novos e inesperados. De repente há
um zunido, seguido por um forte baixo pulsante. O brilho azul
celeste da mesa reflete os rostos desses músicos peculiares.

O público poderia estar testemunhando uma forma avançada de


bruxaria. Mas na verdade está ouvindo um instrumento musical
diferente de qualquer coisa que tenham visto ou ouvido.

Os discos na mesa produzem o som. Cada um tem sua própria


mágica. Alguns discos emitem sons de vários timbres quando fazem
contato com a mesa; outros modificam esses sons quando
deslocados para próximo dos primeiros discos. Há discos
"misturadores", cubos tremulantes e um dado de ritmo. Algumas
peças produzem um som mais encorpado ou picado. As
possibilidades musicais são infinitas.

A mesa mágica foi criada na Universidade Pompeu Fabra, em


Barcelona, onde um grupo de jovens musicólogos passou anos
pesquisando um tipo completamente diferente de instrumento. "Ele
supostamente seria capaz de fazer qualquer coisa que
quiséssemos", disse Martin Kaltenbrunner, um dos projetistas, "e ao
mesmo tempo ser extremamente fácil de tocar".

Seus esforços produziram um sintetizador poderoso que emite


qualquer som concebível, mas não parece nem um pouco um
sintetizador. Não há botões e nem cabos, nenhum teclado e
nenhuma interface tecnológica intimidante. De fato, ele parece
consistir apenas da mesa luminosa azul e de uma pilha de peças
translúcidas, chamadas tangíveis.

A mesa se chama "Reactable". Ele vem sendo exibida em feiras e


conferências por toda a Europa. Ela recentemente recebeu o
prêmio Golden Nica no festival Ars Electronica em Linz, Áustria.
Muitos museus já possuem uma Reactable em suas coleções, e o
aparelho está fazendo tanto sucesso que seus criadores agora
planejam oferecê-lo ao público.

Som maleável

Qualquer um pode tocar uma Reactable. Usando os tangíveis, até


mesmo alguém sem a menor sensibilidade para afinação, sem o
menor dom para música ou com dificuldade de audição pode se
transformar em feiticeiro. Produzir um impressionante ruído,
vibração e chiado é como trabalhar uma pelota de argila acústica.

A mesa é tanto simples quanto profunda. Atualmente há cerca de 90


tangíveis diferentes, que podem ser alterados de modos diferentes
e casados aleatoriamente. Ao virar os discos como botões de um
rádio, o usuário pode mudar o volume, tom e comportamento dos
sons. Alguns tangíveis introduzem pré-gravações, como um ritmo
de percussão ou uma base de guitarra.

Os músicos geralmente começam com uma mesa vazia. Ele


formam um instrumento um bloco de construção de cada vez. Isso
pode produzir rapidamente estruturas de complexidade
desconcertante. Um instrumento usando uma ou duas dúzias de
tangíveis é tão complexo que se torna quase impossível
acompanhar as interações. O músico preside o processo, mas ele
também deve permitir que os módulos de som adquiram vida
própria.

Para aqueles que preferem criar melodias convencionais, um


teclado simples é mais adequado – criar melodias com notas não é
o forte da Reactable. A mesa é para pessoas que gostam de fazer
novas descobertas. A cantora pop islandesa Björk adquiriu uma
para sua mais recente turnê, para um dos membros de sua banda.
Ela agora encomendou uma segunda, disse Martin Kaltenbrunner.
"Ela quer aprender a tocá-la."

A tampa da mesa consiste de um placa comum de vidro fosco, que


esconde uma câmera de vídeo. Símbolos que podem ser lidos por
computador estão impressos na parte inferior dos tangíveis para
que a câmera os reconheça. Os símbolos comandam o som. Os
músicos podem sempre ver como seus tangíveis interagem, porque
trilhas luminosas animadas revelam as conexões. Um gerador de
pulso que adiciona um ritmo ao som produzido por outro tangível,
por exemplo, também exibe pulsos de luz visíveis para o tangível na
mesa. Isso é obtido com um projetor, que está instalado sob o vidro.

É possível construir uma mesa mágica caseira a uma fração do


custo da Reactable. A princípio, tudo o que é necessário é uma
webcam comum e um projetor barato de uma loja de eletrônicos.
Caixas de papelão com símbolos impressos nelas podem ser
usadas como tangíveis. Modelos estão disponíveis na Internet
(mtg.upf.edu/reactable), assim como o software gratuito necessário
para localizar e reconhecer os símbolos.

Software, não hardware

Os criadores da máquina consideram o software o seu maior feito. A


mesa é apenas uma amostra inicial do uso. O propósito por trás não
é criar música; a Reactable é realmente uma nova forma de operar
computadores. Uma pessoa ouvindo rádio poderia colocar dois
discos circulares na mesa, um para controlar o volume e outro para
escolher as estações. A rota convencional – um mouse e teclado –
freqüentemente não é muito intuitiva. Kaltenbrunner acredita que
muitas coisas são mais fáceis de aprender quando envolvem pegar
objetos.

A Microsoft vende um computador que reage aos movimentos do


dedo e objetos da mesma forma que a Reactable. O usuário pode
mover fotos digitais pela mesa, e para realizar um zoom basta abri-
las com dois dedos, como no iPhone da Apple. Quando o usuário
coloca uma garrafa de vinho especialmente codificada na mesa, a
informação sobre o vinho aparece. Até o momento, essas mesas
são usadas quase que exclusivamente por hotéis e lojas de
eletrônicos. Se a tecnologia avançará para o uso doméstico comum
ainda é incerto e alguns especialistas têm suas dúvidas.

Na música, entretanto, as vantagens da manipulação tátil de dados


são claras. Um sintetizador digital – ao menos – está finalmente
pronto para uso em concertos. A manipulação eletrônica da música
vem crescendo há anos, mas não é atraente em um concerto ao
vivo assistir músicos no palco abrindo seus laptops e começando a
digitar como funcionários de escritório.

Mas a Reactable é diferente. Em concerto, a superfície colorida da


mesa pode ser projetada em uma tela, de forma que o público pode
ver as mãos dançando sobre a superfície luminosa.

A mesa ainda é pesada e desajeitada, já que a câmera e projetor


exigem bastante espaço. Mas o grande gabinete em breve poderá
ser desnecessário. A companhia eletrônica japonesa Sharp
desenvolveu um monitor que serve como scanner. Atualmente
existe apenas uma versão pequena, para celulares, mas ela permite
que um usuário segure um cartão de visita diante da tela para dar
entrada a todas as suas informações. O mesmo princípio poderia
ser aplicado à Reactable. Os músicos então apenas moveriam seus
discos ao redor de um monitor plano.

Nada é pequeno demais para os cientistas em Barcelona. A meta


do seu Music Technology Group empresarial é criar um instrumento
de bolso. O iPhone da Apple, por exemplo, poderia facilmente ser
convertido em um instrumento. "Os sensores de movimento
necessários já estão presentes", disse Kaltenbrunner. Tudo o que é
preciso é um programa que permita ao usuário mudar a função do
iPhone para a de um instrumento de percussão. Ele então poderia
selecionar uma série de instrumentos virtuais feitos de metal ou
madeira.

O grupo já conseguiu fazer algumas poucas incursões comerciais.


Ele recentemente começou a vender seu programa RjDj por alguns
poucos dólares na loja de aplicativos do iPhone. O programa gera
música eletrônica no telefone que reage constantemente ao
ambiente ao redor do ouvinte. Ela pode ser ajustada para
acompanhar o padrão dos passos, ou pode distorcer ou abafar uma
voz em tempo real enquanto alguém canta no microfone. Há até
uma função que incorpora som ambiente modificado -o som de um
carro freando em uma esquina, o latido do dobermann do vizinho-
em uma peça de música.

O que significa que a música do futuro poderá transformar até


mesmo uma caminhada até a padaria local em uma viagem
psicodélica.

Tradução: George El Khouri Andolfato


Visite o site do Der Spiegel

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/12/06/ult2682
u1015.jhtm

-------------------------------------

Links com vídeos mostrando a utilização do “Reactable”:

http://www.youtube.com/watch?v=Zodf6_YGujo&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=F8I91LehtHo

http://www.youtube.com/watch?v=Llud2q6CoHs&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=vm_FzLya8y4&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=Kd4ef9edpSU&feature=related

“Reaclogon”:

http://www.youtube.com/watch?v=AklKy2NDpqs&feature=related

multitouch general midi:

http://www.youtube.com/watch?v=GZ5GGofqUfg&feature=related

Você também pode gostar