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Valor Econômico - Tecnologia & Telecomunicações Página 1 de 3

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Segunda-feira, 21 de outubro de 2002 - Ano 3 - Nº 620 - Tecnologia & Telecomunicações

Sociedade Acesso à informática requer iniciativas articuladas


Inclusão digital vai muito além de um PC
Shirley Ribeiro, De São Paulo

:: 1º Caderno No dia 6 de outubro, cerca de 95 milhões de brasileiros estiveram diante


:: Empresas & Tecnologia
de um dispositivo digital. O Brasil promoveu a primeira eleição totalmente
:: Finanças
:: Eu& informatizada do mundo, feito que rendeu elogios e muitas filas. Os
:: Legislação & Tributos elogios partiram da imprensa internacional e de representantes de
diversos países encantados com a capacidade demonstrada pelo país -
apenas emergente - de criar um sistema inédito de votação que permitiu
:: Guia Valor Veículos o conhecimento dos resultados em menos de 24 horas. Quando
:: Suframa comparado à apuração da última eleição presidencial nos EUA, este fato
:: Tecnologia & coloca o Brasil entre os líderes do desenvolvimento tecnológico.
Telecomunicações
:: Empresa & Comunidade
Mas, e as filas? Segundo o IBGE, neste mesmo país, tão avançado na
informatização de bancos, serviços, comércio e indústria, 90% da
:: Geral população não têm acesso aos meios de informação digital. Ou seja, por
:: Empresas Citadas mais disseminados que pareçam estar os terminais eletrônicos dos
bancos, eles estão longe de serem compreendidos pela massa do povo
brasileiro.
:: Angela Bittencourt
:: Fernando Luiz Abrucio
:: Gustavo Loyola A realização da primeira eleição digital mostrou apenas a ponta de um
:: Ribamar Oliveira iceberg chamado exclusão digital, visto por muitos como uma ameaça à
busca por igualdade social tão forte quanto a fome, o analfabetismo e a
falta de saúde. Essa perspectiva vem motivando empresas, ONGs e o
:: Valor + News poder público a investir em programas de inclusão digital não só no Brasil,
:: Valor 1000 mas em todo o mundo.
:: Valor Econômico
:: Valor Financeiro
:: Valor Indicadores A multiplicação de ações e de telecentros é acompanhada pelo
:: Valor Notícias crescimento das questões sobre a inclusão digital que discutem desde a
:: Valor Setorial validade desse esforço, o público prioritário, os objetivos e até o papel a
ser desempenhado pelos diversos segmentos da sociedade.

:: Estampa
Primeiro: é válido preocupar-se com inclusão digital num país com alto
grau de analfabetismo? Para os agentes envolvidos em inclusão digital,
:: Inteligência Digital e ela é um caminho para evitar que esses dados de exclusão social cresçam
Comércio Eletrônico ainda mais. "Estamos diante de uma nova face da miséria. A sociedade da
:: Merc. Imobiliário e informação tende a provocar uma ampliação da miséria ao distanciar,
Construção Civil ainda mais, os que possuem dos que não possuem", alerta o sociólogo
:: Outros temas Sérgio Amadeu da Silveira, que estuda o tema há uma década.

:: Valor Social Autor do livro "Exclusão Digital", editado pela Fundação Perseu Abramo, e
:: Ethos Valor coordenador do governo eletrônico da Prefeitura de São Paulo, Silveira
observa que enquanto a revolução industrial ampliou a capacidade física e
a velocidade humana, provocando uma separação entre as classes, a
:: Assine o jornal revolução digital pode criar um fosso. "A tecnologia da informação amplia
:: Edições anteriores a inteligência humana, a capacidade de armazenar, processar e
:: Expediente transformar informação em conhecimento. Aos poucos, a brecha digital,
:: Fale Conosco como é chamada, vai criando uma diferença cognitiva, uma incapacidade
:: Publicidade de pensar, ampliando exponencialmente a riqueza dos incluídos. Por isso,
não podemos pensar em política social sem olhar esse novo aspecto", diz.

A inclusão digital é vista também como um incentivo à alfabetização e


como uma ferramenta na busca da cidadania. Ao perceber as

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possibilidades abertas pelo mundo digital, o analfabeto descobre a


necessidade de aprender a ler e escrever, a comunidade carente percebe
formas de lutar por melhores condições de vida, o desempregado cria
novas fontes de renda.

A experiência de alguns projetos mostra que isso não é utopia. "Com o


telefone, a televisão e o rádio, a escrita perdeu muito da sua
funcionalidade. A internet resgata o valor da escrita e da leitura. Temos
vários casos de analfabetos que descobriram a necessidade de voltar para
a escola", afirma Carlos Seabra, coordenador da Escola do Futuro da USP.

Mas, para que isso aconteça não basta colocar um computador na frente
das pessoas. "Inclusão digital é dar oportunidade às comunidades de se
inserirem na sociedade da informação como agentes. Conhecimento é a
chave dos programas que vêm obtendo sucesso. Tem que ter o
computador, acesso à internet, softwares adequados e, principalmente,
orientação, não apenas aulas de informática", ressalta Rodrigo
Assumpção, coordenador da Sampa.org.

Segundo: quem são os excluídos e qual deve ser o principal público-alvo


dessas ações? Além da população de baixa renda, é preciso criar formas
de incluir as minorias, como portadores de deficiências e os idosos.

Não se vê mais inclusão digital como acesso ao computador e sim como


acesso à informação digital, ou seja, à internet. É bom lembrar que, de
acordo com o IBGE, dos 5.507 municípios brasileiros, menos de 350 têm
infra-estrutura de acesso local à internet. Então, para realizar um projeto
de inclusão digital nos grotões brasileiros é preciso criar sistemas de
comunicação. "Temos que mobilizar a sociedade para exercer uma
pressão no poder público e nas empresas visando a ampliação dessa
infra-estrutura básica", afirma Rodrigo Baggio, fundador e diretor-
executivo do Centro de Democratização da Informática (CDI), entidade
responsável pela criação e coordenação de 617 escolas de informática em
38 cidades de 19 Estados.

Quais devem ser os objetivos das ações de inclusão digital? A princípio,


todos os objetivos são válidos, desde os cursos de informática com noções
básicas até os programas que oferecem certificação em redes de
comunicação, preparando um grupo de pessoas para um trabalho
qualificado. Mas há quem discorde. "Nós não acreditamos mais na
alfabetização digital", afirma Ricardo Kobashi, coordenador do CDI São
Paulo, hoje uma dissidência do CDI Nacional. Ele ressalta que os incluídos
digitais das classes média e alta não tiveram que estudar escola para
aprender a acessar a internet ou usar um processador de textos. "Eles
foram usando, de acordo com a necessidade, e aprendendo. Para as
comunidades carentes, o processo tem que ser o mesmo sob pena de
transformar algo fascinante em mais uma matéria sem função", defende
Kobashi.

Ainda discutindo os objetivos, o coordenador da Cidade do Futuro, Carlos


Seabra, alerta para o perigo do adestramento. "No caixa eletrônico do
banco, um analfabeto funcional pode ser adestrado. Isso não é inclusão
social. Nosso objetivo deve ser dar condições para que os excluídos sociais
possam se apropriar da tecnologia", prega Seabra.

Qual deve ser o papel das empresas, das entidades do terceiro setor e do
governo no processo de inclusão digital? A participação de empresas é
bem-vinda, mas, para os especialistas, os projetos precisam ter um
caráter mais participativo e menos filantrópico.

O mercado, sozinho, vai dar conta de levar provedores para as cidades


com menos de 20 mil habitantes? A indústria de informática vai investir
para lançar computadores mais baratos? São questões ainda sem
resposta. Mas, como em outras áreas de atuação responsável, o trabalho
a seis mãos - privado, p úblico e terceiro setor - é o que apresenta

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melhores resultados, contanto que haja um envolvimento real e não


apenas marketing e filantropia.

"As doações de computador, muitas vezes tecnologicamente atrasado,


enfraquecem a pressão para que a indústria produza um PC adequado ao
público de baixa renda, com tecnologia atual e custo de R$ 500", analisa
Ricardo Kobashi, do CDI São Paulo, acrescentando que mais de 50% dos
equipamentos angariados em grandes campanhas de doação não têm
condições mínimas de uso.

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