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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

43º PREPES

HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Projetos Literários na África de Língua Portuguesa

Livro: “Nikethe, Uma História de Poligamia”

Autora: Paulina Chiziane

Manuela Romano Lopes

Disciplina: Projetos Literários na África de Língua Portuguesa (PLA-1916)

Professor: Marli Maria Mendes

Belo Horizonte

2008
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Manuela Romano Lopes

Projetos Literários na África de Língua Portuguesa

Livro: “Nikethe, Uma História de Poligamia”

Autora: Paulina Chiziane

Pesquisa apresentada ao programa de Pós-Graduação

De especialização lato e stricto sensu da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais.

Belo Horizonte

2008

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SUMÁRIO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS....................................1
43º PREPES ...........................................................................................................................1
HISTÓRIA E CULTURA AFRO­BRASILEIRA...................................................................1
Projetos Literários na África de Língua Portuguesa...............................................................1
Livro: “Nikethe, Uma História de Poligamia”........................................................................1
Autora: Paulina Chiziane.........................................................................................................1
Manuela Romano Lopes..........................................................................................................1
Disciplina: Projetos Literários na África de Língua Portuguesa (PLA­1916).........................1
Professor: Marli Maria Mendes...............................................................................................1
Belo Horizonte........................................................................................................................1
2008.........................................................................................................................................1
Manuela Romano Lopes..........................................................................................................2
Projetos Literários na África de Língua Portuguesa...............................................................2
Livro: “Nikethe, Uma História de Poligamia”........................................................................2
Autora: Paulina Chiziane.........................................................................................................2
Pesquisa apresentada ao programa de Pós­Graduação ...........................................................2
     De  especialização  lato  e  stricto  sensu  da Pontifícia ....................................................2
      Universidade Católica de Minas Gerais............................................................................2
Belo Horizonte........................................................................................................................2
2008.........................................................................................................................................2
SUMÁRIO..............................................................................................................................3

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1 – O livro: “Niketche, uma história de poligamia”

O livro foi escrito por uma moçambicana, Paulina Chiziane, em português original de

Moçambique. O texto tem estrutura tradicional e foi baseado na oralidade, descreve a vida em

Moçambique. A escrita rítmica revela uma história cheia de razão e misticismo. Podemos

notar nesta escrita africana, uma corporeidade sem igual, ritmos, cores, sabores, cheiros e

barulhos.

Fig 01. Paulina Chiziane (Fonte: Blog Rosa Leonor)

A narrativa nos permite conhecer a história do país e o papel da mulher na sociedade

moçambicana então ninguém melhor para escrever o livro que uma mulher do país. Narrado

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em primeira pessoa por Rami, a protagonista da história. Durante a narrativa podemos notar o

feminismo muito presente por exemplo à descrição da vagina de uma forma poética, como

sendo uma forma do poder feminino, em outro trecho reza o Pai Nosso, porém transformando

a oração para o feminino, a Madre Nossa.

“Madre nossa que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso

reino - das mulheres, claro -, venha a nós a sua benevolência, não queremos mais violência.

Sejam ouvidos os nossos apelos, assim na terra como no céu. A Paz nossa de cada dia nos daí

hoje e perdoai as nossas ofensas - fofocas, má-lingua, bisbilhotices, vaidade, inveja - assim

como nós perdoamos a tirania, traição, imoralidades, bebedeiras, insultos, dos nossos maridos,

amantes, namorados, companheiros e outras relações que nem sei nomear...Não nos deixeis

cair na tentação de imitar a loucura deles - beber, maltratar, roubar, expulsar, casar e divorciar,

violar, escravizar, comprar, usar, abusar e nem nos deixeis morrer nas mãos desses tiranos -

mas livrai-nos do mal, Amén.”

A história mostra como o machismo ainda é muito presente nesta sociedade e

como a mulher africana é sofrida. Existem comidas, vestuários, trabalhos, femininos e

masculinos.

“Na galinha, as mulheres comem as patas, as asas e o pescoço. Aos homens servem-se

as coxas de frango. A moela” (p. 43)

O tempo todo o livro trata, o feminino (Rami) e o masculino (Tony), de uma forma

bem interessante, dois opostos; as figurações conflitivas do personagem feminino, as

dificuldades que Rami passa como cidadã e como o homem é retratado como um marido

ausente, amante viciado, manipulador e cruel.

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2 – A história: “Niketche, uma história de poligamia”

Niketche: é uma dança do norte de Moçambique, extremo oposto de onde mora Rami,

personagem principal e narradora desta história de poligamia. Ritual de amor e erotismo, a

dança é desempenhada pelas meninas durante cerimônias de iniciação. Dança do amor, do

sol, da lua e da criação.

Niketche narra a história de Tony, um alto funcionário da polícia, e sua mulher Rami,

casados há mais de vinte anos, juntos eles têm cinco filhos. Um casamento tradicional de

papel passado. Uma história de amor, desamor, infidelidade, ciúmes, que desafia a sociedade

patriarcal africana. Rami acaba descobrindo que o marido é polígamo, prática comum na

sociedade em que vivem, ele tem outras quatro mulheres e vários filhos. Tony foi capaz de

acabar com uma vida inteira de amor e dedicação de sua esposa por pedaços de amor.

“Tony. Responde-me. Por que te ausentas?

- Acordaste-me só para fazer essa pergunta?

- Tony, andas a trair-me, não é?

- Traição? Não me faça rir, ah, ah, ah, ah! A pureza é masculina, e o pecado é feminino. Só as

mulheres podem trair. Os homens são livres, Rami. (...) (p. 30-32)”

Primeiro Rami, tenta se vingar, mas depois tenta entender porque Tony buscou estas

outras mulheres. Tia Maria, irmã da mãe de Rami defende a poligamia, relembrando quando

era uma das esposas de um rei, acreditando que "a união faz a força", em um ato de coragem e

determinação Rami decide ir adiante e procurar as outras esposas, que estão espalhadas pelo

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país e acaba descobrindo culturas completamente diferentes, e tem que aprender a lidar com

as diferenças, porém com algo em comum, todas estavam em busca do amor. Rami acaba

conquistando “as outras” e tornando-as aliadas para fazerem Tony a assumi-las como esposas,

transformando em uma relação polígama. Ela estende seus direitos de mulher oficial a todas as

outras. Assim, torna-se a líder do clã, que passa a ter todos os filhos reconhecidos e com uma

escala para que o homem dedique seus carinhos num rodízio de uma semana para cada mulher.

“O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono. Eu,

Rami, sou a primeira-dama, a rainha-mãe. Depois, vem Julieta, a enganada, ocupando o

posto de segunda dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de terceira dama. A Saly, a

apetecida, é a quarta. Finalmente, a Manuá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida. O

nosso lar é um polígono de seis pontos. É polígamo. Um hexágono amoroso.” (p.60)

A principio Tony é contra, mas acaba cedendo aos desejos das mulheres. Nesta

tentativa de não perder o marido, de traze-lo para perto, Rami descobre qualidades que não

imaginava ter, coragem, força, amor a si e aos outros, poder, amizade... e apesar de todas as

diferenças e desavenças a união entre as esposas continua e aos poucos elas vão reconstruindo

suas vidas. Não satisfeito com 5 mulheres, Tony arruma mais 2 namoradas, que causam

intrigas e brigas entre as esposas. A busca incansável de Tony e também de todas estas

mulheres, por um pedacinho de homem, um pedacinho de amor e uma grande ilusão.

“Tremo de piedade, de tristeza e de vergonha. Todas as mulheres são gémeas,

solitárias, sem auroras nem primaveras. Buscamos o tesouro em minas já exploradas,

esgotadas, e acabamos por ser fantasmas nas ruínas dos nossos sonhos” (p. 28).

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“Poligamia é isto mesmo. Encher a alma com um grão de amor. Segurar o fogo que

emerge do corpo inteiro com mãos de palha. Estender lábios à brisa que passa e colher beijos

na poeira do vento. Esperar” (p. 128)

O final contraria a idéia de um amor romântico, mas não chega a ser imprevisível mas

não há como não terminar o livro sem torcer pelo sucesso de suas personagens femininas.

Chiziane utiliza a técnica do final semi-aberto, não apresentando uma solução definitiva para

os conflitos enfrentados por Rami e Tony. Ele encontra-se velho, sem virilidade e

conseqüentemente sem o seu ‘poder’, e também não pode colher, pois só pode colher aquele

que não apenas plantou, mas também cultivou. Tony plantou, semeou muitas famílias e filhos,

mas não regou, não cuidou e por isso ficara sozinho. Não colhe afeto, carinho, respeito,

apenas mágoa, ressentimento arrependimentos, pois não construiu nada, apenas ignorou e

destruiu. Só lhe resta a morte social, a perda do poder e a humilhação. Este é o fim de toda a

sua prepotência machista, todas as mulheres abandonam-no, arranjam novos parceiros. É o fim

de Tony, que acaba colhendo solidão.

Durante toda a leitura podemos perceber a dinâmica das ambigüidades mulher/homem,

esposa/amante, monogamia/poligamia, tradição/escolha individual. Cada leitor pode

interpretar de uma forma e essa interpretação vai de acordo com o meio em que vivemos.

O espelho por exemplo é um elemento simbólico e freqüente nos mitos, lendas e

contos tradicionais africanos, poderia estar representando Oxum, orixá que carrega o espelho,

no romance o espelho estaria representando, o pensar, a consciência de Rami. Podemos

interpretar a poligamia no livro como multidiversidade, que atualmente é um dos maiores

desafios do continente Africano.

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3 – A multi diversidade Africana: Desafio da África atual

De acordo com o dicionário Aurélio diversidade significa qualidade do que é diferente;

o que distingue uma coisa de outra; falta de igualdade ou de semelhança; alteração digna de

atenção, de reparo; modificação, transformação; característica do que é vário; diversidade,

disparidade; falta de harmonia; divergência; falta de eqüidade; desproporção. A diversidade

está mais ligada à heterogeneidade.

Mas antes de entender o porque de tanta diversidade africana, devemos partir de dois

conceitos básicos, cultura e sociedade. Uma sociedade é um grupo de pessoas cujo conjunto

organizado de atividades é auto-suficiente para garantir a cada uma delas a satisfação de suas

necessidades materiais e psicológicas. Uma cultura é um conjunto complexo de objetos

materiais de comportamentos, de idéias, adquiridos numa medida variável por cada um dos

membros de uma sociedade determinada. Uma sociedade não pode existir sem uma cultura.

O Segundo maior continente da Terra e uma população por volta de 770 milhões de

habitantes. A África, é um mundo variado e diverso, possui uma incrível diversidade cultural.

Na sua complexa realidade social, cada sociedade tem sua individualidade cultural. Das

civilizações históricas da África mediterrânea aos grupos étnicos que habitam o Quênia. As

diversidades culturais, no tempo e no espaço, são impressionantes.

Os europeus também ajudaram essa diversidade, a história dos europeus pelo

continente é uma história de conquistas, de legitimação do território a ser habitado e cultivado,

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explicando a diversidade cultural existente. O período colonial africano é recente, durando de

1883-1885 até pouco mais da metade do século XX. Nesse período, os governos europeus

dividiram e reagruparam as sociedades tradicionais da África em colônias, cujas fronteiras não

correspondiam aos seus territórios originais.

Mesmo atualmente com os países independentes, povos lutam, tentando recuperar suas

origens ancestrais, e prosseguir suas vidas. As lutas civis, refletem ainda os problemas que a

exploração européia e a ideologia do desenvolvimento causaram aos povos africanos,

esgotando seus minérios e suas florestas, degradando seu meio ambiente, alterando seu

ecossistema, estabelecendo uma ordem completamente diferente sobre uma experiência

secular de vida.

O continente africano é imenso, com centenas de grupos étnicos ou sociedades, grande

diversidade e complexidade na composição dos grupos culturais. Talvez por ser um continente

com um território tão grande, com países completamente diferentes, paisagens que variam de

florestas tropicais a desertos, assim como os habitantes, o vestuário, as comidas, os dialetos, as

crenças, as artes, a arquitetura, enfim essa heterogeneidade torna a África ainda maior.

Cada cultura africana tem sua forma de explicar suas origens mostram os mitos e

lendas, isso demonstra a grande diversidade cultural no continente, correspondente à

diversidade de formas e estilos na arte tradicional.

4 – Conclusão

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No livro Rami tem dificuldade em conviver com as outras esposas, e observa como o

norte e o sul são completamente diferentes. Atualmente na África essa diversidade tem sido

um grande desafio, causando conflitos entre povos.

O grande segredo de toda essa diversidade é a aceitação, fazer exatamente como Rami

fez, afinal “A união faz a força” Temos que aprender aceitar o diferente.

5 – Referências:

- CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo. Companhia das

letras, 1ª edição, 2004.

- Mulheres e Deusas. Uma voz no feminino, Atualizado em 01/12/2004, Disponível em:

http://rosaleonor.blogspot.com/2004/12/toda-mulher-que-luta-por-uma-mudana.html,

Acessado em: 20 de Setembro de 2008

- SILVA, Alberto da Costa e. Como os Africanos civilizaram o Brasil, Revista


Biblioteca Entre Livros, Edição especial nº6, São Paulo, Editora Duetto, p.64-69.

- MUNANGA, Kabengele. O que é Africanidade, Revista Biblioteca Entre Livros,


Edição Especial nº6, São Paulo, Editora Duetto, p. 8-13

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