Você está na página 1de 2

Psicologia no cinema

STUDIUM E PUNCTUM Existe uma passagem na Gradiva que parece-me relacionar-se com o conceito de punctum desenvolvido por Barthes no captulo dez do livro A cmara clara. Nobres Hanold depois de se deparar com uma imagem que perturba e o consome inicia um processo que o vai levar a relembrar algum. Talvez fosse essa forma rara e encantadora de andar que, havia tantos sculos, atrara a ateno do escultor e continuava ainda a fascinar o nosso arquelogo. Logo a partir disto podemos pensar no conceito de bissociao inerente percepo artstica. Hanold no viu aquele baixo-relevo s como algo material ou formal, foi atacado por essa tal ''forma de andar'', picado, usando o vocabulrio de Barthes, por estar relacionado com um sentimento da sua prpria vida. A vivncia passada da personagem, ainda que recalcada, foi accionada por aquela imagem que se tornou transparente ao nvel da percepo. Sem esta particularidade da imagem Hanold no se teria envolvido emocionalmente , vendo apenas o studium e o baixo relevo iria ser percebido ou apenas em funo do seu saber arqueolgico. Tal como Barthes refere o studium remete para o campo da informao clssica, sem acuidade particular; sem o punctum - esse detalhe da imagem que a diferencia de todas as outras, Hanold no teria conseguido encontrar a vida da sua amada dentro da imagem. O fundamental da ideia de Barthes referente ao Studium e ao punctum que estes dois conceitos diferenciam e validam a fotografa. a presena desse elemento que nos ataca, que nos fere e que nos marca,fazendo com que a fotografa se insira no centro da criao artistica ao comunicar emoes distantes do referente do retratado, no meramente uma informao clssica mas uma ressonncia na eternidade interior das

emoes e vivncias do observador. No fundo, esta caracterstica muito particular faz-nos mergulhar na imagem, ou ento, dito de outra maneira, faz-nos sentir e pensar com uma intensidade diferente aquela imagem. H algo no seu interior que nos liga efectivamente ao seu interior ou que nos faz descobrir algo sobre ns, tanto atravs do sentimento como do intelecto. Talvez seja legtimo dizer que a aco da imagem passa no s por um ou por outro destes efeitos mas que passa pelos dois. A fotografa perde a moldura para dar lugar a uma transparncia uma transparncia. No caso de Hanold aquela imagem, ou melhor, aquele punctum, funciona como uma obsesso que o vai fazer voltar a ele mesmo, na medida em que se tinha esquecido uma das pessoas mais importantes da sua vida em prol do conhecimento arqueolgico. Creio existir um paralelismo entre esta formulao e os conceitos de dolo e cone sendo que por comparao o studium estaria no mesmo plano que o dolo que presentifca e duplica e o puctum no mesmo que o cone que estabelece uma transitoriedade. Este pormenor extraordinariamente importante pois desdobra a imagem afastando-a da banalidade. No se trata de histria, de tempo ou de espao, trata-se de uma outra realidade que s pode ser encontrada naquela imagem especfca. Pedro Rocha n 678

Você também pode gostar