Você está na página 1de 2

Porto Alegre, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

A imbecilidade da mídia e os fatos

O jornalista e filósofo Luis Milman, professor da pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, escreve seu segundo artigo para Videversus sobre o conflito entre Israel e a organização terrorista
Hamas. Leia o texto:

“Enquanto a mídia ocidental continua perseguindo quimeras lançadas pela linguagem protocolar da ONU-
a primeira foi a da “resposta desproporcional” e a mais nova é a “da crise humanitária”-, o Ministério da

Defesa de Israel divulgou, no último sábado, as primeiras informações oficiais detalhadas sobre a ofensiva
aérea deflagrada contra o Hamas, na Faixa de Gaza, em 27 de dezembro. O ataque começou no sábado e
envolveu 50 caças-bombardeiros F-16. Os 50 caças foram divididos em formações de cinco (um líder).
Em apenas 3 min e 40 segundos, 50 alvos do Hamas foram atingidos. Os alvos foram previamente
selecionados pelo Shin Bet (a Agência de Segurança de Israel), o Comando Militar do Sul e a Inteligência
Militar. Até a última quinta-feira, cinco dias depois de iniciada a operação, os caças F-16 de Israel fizeram
600 incursões na Faixa de Gaza.

Todos os ataques são filmados e analisados simultaneamente pelo Quartel General do Comando Militar do
Sul e pelo Centro de Comando Central das Forças Armadas, em Tel Aviv, num local desconhecido dos
próprios israelenses. Historicamente, os militares que operam no Comando Central são proibidos de falar
sobre sua localização até mesmo para seus familiares. Os ataques são precedidos de avisos prévios,
enviados em árabe, por telefonia celular, para os habitantes da Faixa de Gaza. Os avisos insistem para que
os civis se afastem das instalações do Hamas e da vizinhança onde residem as principais lideranças do
movimento. A população palestina de Gaza também se comunica com as Forças Armadas israelenses, por
meio da Internet e telefones celulares, pedindo para não visar somente integrantes da milícia terrorista, que
disparam foguetes contra Israel a partir de hospitais, escolas e bairros densamente povoados das cidades
de Faixa. Muitos dos contatos são feitos na tentativa de oferecer aos israelenses informações sobre a
localização das lideranças do Hamas.

Um dos objetivos das operações de Israel é precisamente este: matar as lideranças militares e políticas do
Hamas (e da Jihad Islâmica), que controla a Faixa de Gaza. E, com isto, quebrar a cadeia de comando
destas milícias que, reunidas, contam com 20 mil homens (15 mil do Hamas). No último sábado, dia 3 de
janeiro, foi morto um dos principais comandantes militares do Hamas, Abu Zacharia Al-Jamal. Ele era
subordinado apenas a Ahmed Jabri, que continua escondido. Na quinta-feira, dia primeiro do ano, Israel
matou o mentor dos suicidas do movimento, Hizar Rayyan, de 49 anos, em sua casa (Jabalya). Rayyan,
em 2001, enviara um de seus filhos para cometer um ataque suicida contra Israel.

Entre as figuras mais importantes do Hamas, que se encontram escondidas em bunkers ou disfarçadas de
médicos e enfermeiros, estão o líder espiritual do movimento, sheik Ismail Hamieh e o próprio Ahmed
Jabri. Hamieh ocupou o posto depois de 2004, quando Israel matou o sheik Ismael Yassin, que fundou o
Hamas, em 1987. Yassin era o líder da Irmandade Muçulmana (sede no Egito) na Faixa de Gaza, quando
resolveu criar seu próprio movimento, naquele ano. Também em 2004, um ataque israelense matou o
sucessor de Yassin, Abdel Aziz Rantini. Depois disto, o movimento solicitou a Jerusalém uma hudna, ou
seja, um cessar-fogo em árabe. O Hamas é um acrônimo para Haratat al-Muqawamah al-Islamiyyah (em
português, Movimento de Resistência Islâmica).

Atualmente, seu principal líder militar, Kaled Mashal, encontra-se exilado em Damasco, Síria. Da capital
síria, Jamal declarou, no último dia 2 de janeiro, que se Israel iniciar uma ofensiva por terra na Faixa de
Gaza, muitos soldados israelenses, como Gilat Shalit – que está nas mãos do Hamas desde 2006 - serão
seqüestrados. É do Comando Central em Tel Aviv que partem todas as ordens para novos ataques.
2
O Ministro da Defesa Ehud Barak e o Primeiro Ministro Ehud Olmert são informados da situação em
Gaza a cada hora. As informações também são repassadas ao Gabinete de Segurança do Governo. Já o
Comando de Administração, Coordenação e Comunicação das Forças Armadas informou que, desde o
primeiro dia após o início da ofensiva aérea, foi permitida a entrada, na Faixa de Gaza, de 330 caminhões
com alimentos, medicamentos e equipamento médico, além de 10 ambulâncias e 2 mil unidades de
sangue, pelo portão de Erez. O fluxo da ajuda humanitária, que permite também ações de ONGS
internacionais, não será interrompido, segundo o Comando.

Na frente diplomática, a Ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, mantém constantes
contatos com as principais lideranças da Comunidade Européia, o Egito, a Jordânia e a Autoridade
Nacional Palestina (AP), além da Rússia e, obviamente, os Estados Unidos. O Egito mantém fechada a sua
fronteira com a Faixa de Gaza, em Rafah, para evitar que milicianos do Hamas entrem em seu território.
Mesmo assim, segundo o Ministério da Defesa egípcio, 60 milicianos do Hamas conseguiram entrar no
Egito por túneis, depois que Israel iniciou suas operações. Os 60 homens foram presos e devolvidos a
Faixa de Gaza. O Presidente egípcio Hosni Mubarak já declarou que somente permitirá a abertura da
fronteira, em Rafah, depois que a AP reassumir o comando político e militar na Faixa de Gaza.

As ações coordenadas de Israel, no campo militar, diplomático e humanitário, têm sido, até aqui, bem
sucedidas. O governo de Jerusalém, é claro, não adianta por quanto tempo ainda continuarão suas
operações militares. A mídia ocidental, no entanto, deleita-se em repercutir as fórmulas exaradas pela
ONU, sem analisá-las ou confrontá-las com os fatos. Se Israel tivesse a intenção de atacar
indiscriminadamente a Faixa de Gaza, com seu poderio de fogo e depois de sete dias de incursões
ininterruptas, o número de mortos já teria chegado a dezenas de milhares. Além disto, não permitiria que,
diariamente, medicamentos, alimentos, equipamento médico e sangue chegassem à Faixa. E obviamente
teria interrompido o fornecimento de energia elétrica para Gaza.

Mas, o exercício da lógica não parece fazer parte da rotina da cobertura jornalística. Às favas com a
racionalidade. A mídia se deleita com slogans. Como só quer ver sangue por todos os lados, fica cega aos
próprios fatos. Em lugar da análise, entrega-se a especulações imbecilóides que sequer vislumbram os
objetivos legítimos e de curto prazo de Israel: desmontar a estrutura militar do Hamas, liquidar sua
liderança e expulsar o Irã (que financia e vinha armando o Hamas por meio de contrabando) de sua
fronteira Sul”.

© Copyright 2006 - www.videversus.com.br - Todos os direitos reservados

Você também pode gostar