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Pós-Graduação em Comunicação Digital

Seminário
Comunicação Digital e Ética

Rogério Christofoletti

Feevale – Novo Hamburgo (RS), abril de 2010


O que veremos neste seminário?

Produção de conteúdos e regimes de autoria


Direitos Autorais e internet.
Plágio, violações de direito e infrações éticas
Privacidade em tempos de redes sociais
Política de privacidade de sites e códigos de
conduta de usuários
Anonimato e identidade na web
Ética, moral e ciberética
A dimensão ética...

… na comunicação digital
… na web
… num cenário pós-mídia
… num contexto de produção e consumo de
muitas informações e conteúdos
… num momento em que se confundem as
fronteiras entre produtores e consumidores
de conteúdos
Matrix?
A necessidade de se refletir ...

… sobre princípios e valores humanos


… sobre condutas pessoais e
posicionamentos organizacionais
… sobre as relações de força e tensão entre
os diferentes atores num contexto
Refletir para...
… a tomada de decisões mais acertadas
… ações mais efetivas e afirmativas
Conduta regulada: normas
Ações humanas limitadas por regras
• Leis e marcos regulatórios
• Valores morais e princípios de conduta
• Códigos deontológicos

• Lei. Ética. Moral. Ciberética


Mas de qual contexto falamos?
• Muitos talentos
• Muitos interesses
• Muitas demandas
• Muitas tarefas
• Muitos recursos
• Muitos atritos
• Muitas dúvidas
Web 2.0 e fluxo de arquivos

A web não mais apenas como estante

A web como rede com fluxos dinâmicos,
permanentes e multidirecionais

Cultura do download = transformações sensíveis
nos hábitos de consumo de bens simbólicos e
nas políticas de distribuição

Resistência do usuário de pagar por conteúdo
online

Busca de soluções alternativas para o consumo
de bens simbólicos
Download? Mas é de graça?

O fantasma da pirataria
=
• Prejuízos comerciais
• Violações de direitos autorais
• Sonegação fiscal
• Abalos no sistema produtivo
formal (desemprego,
fechamento de empresas,
concorrência desleal...)
Rombos deixados pelos piratas
• A indústria de software afirma ter perdido US$ 48
bilhões em 2006. Índice de 38% de pirataria sobre a
produção
• Estudos do setor projetam que se a pirataria caísse
10% no Brasil, abriria 12 mil novos empregos e
injetaria R$ 2,9 bilhões
• Estimativas dão conta de que 2 em 3 CDs vendidos
são cópias piratas
• A pirataria cresce nos países pobres e emergentes
• Governos queixam-se de sonegação de impostos
na casa dos bilhões de dólares
Mais rombos dos piratas...
• Indústria do cinema estima perder
US$ 6,1 bilhões por ano no mundo
• No BR, prejuízos de US$ 198 milhões
• Gravações clandestinas nas salas de
projeção de cinema
• Governos e empresas tentam fechar cerco
• Poucas delegacias especializadas
• Legislação dura, mas pouco aplicada
A pirataria, além do mito...
• Satanização da pirataria
• Informação e
contrainformação
• O fenômeno “Tropa de Elite”
e outros vazamentos
voluntários ou inadvertidos
• Interesses contrários: disputa
na sociedade
• Redes de compartilhamento
de arquivo, formas de
“driblar” as autoridades
O caso da Campus Party 2010
Há muito download, mas
também há upload

Balanço mostrou que os
campuseiros mais
compartilharam que
baixaram.

66% do tráfego foi de
upload de arquivos.

6 mil pessoas navegando
numa banda de 10 Gb
Armazenagem e compartilhamento

Fotos

Músicas

Vídeos

Apresentações

Planilhas

Documentos

Livros

Manuais e outros materiais
Sharing: fotos, filmes, vídeos...

Flickr: a metáfora
dos álbuns
fotográficos

YouTube: a
metáfora de se
entubar, do tempo
em que Tvs tinham
tubos de imagem

Mas a família do
YouTube cresceu...
YouTube pra todos os gostos
 Para religiosos:
GodTube
 Para acadêmicos:
Videolectures
 Para safadinhos:
PornoTube
 Outros ainda:
GoogleVideos,
Viemo, Videolog...
Assistir, baixar, compartilhar
 O YouTube mudou nossa
maneira de ver TV

Não só “bagunçou” a
programação, mas estabeleceu
novos hypes e elegeu
celebridades instantâneas
 Também “transformou” o
usuário em cineasta/videasta e
se transformou numa plataforma
de lançamento de sucessos.
Mas quem quer baixar, como faz?
 Softwares, plugins e outras soluções
permitem que se baixe vídeos
 Sites armazenam e permitem download
gratuitamente (com limite) e com preços
populares (sem limite): Rapidshare,
Mediafire, 4Shared, Easy-share, Sendspace,
Megaupload...
 No Brasil, sites e blogs dão links para os
arquivos armazenados nesses sites...
A festa estava boa até que...
 O primeiro caso ruidoso foi o Napster,
serviço interrompido em 2001 pela justiça.
 Ao mesmo tempo em que criou um problema
legal, o Napster ajudou a revolucionar o
consumo, a produção e a oferta de música.
 Baixar músicas, oferecer músicas na compra
de celulares (conteúdo embarcado),
disponibilizar músicas em sites tornou-se
simples, corriqueiro e generalizado.
A polêmica legal sobre os direitos
 Baixar vídeos é ilegal?
 Baixar vídeos é
pirataria?
 Fazer download de
música viola direitos
autorais e prejudica os
artistas?
 Como fazer então?
Litígio: colisão de direitos
 Tenho direito de baixar uma música?
 Tenho direito de dividir a música com
outros?
 O artista e a gravadora têm o direito de me
processar por isso?
 O que há por trás das campanhas do
governo contra a pirataria?
 Quem está certo, afinal?
Parênteses: e a autoria?
• Contexto atual rediscute conceito de autoria
• Mas como surgiu essa noção?
• Século XIII – monges copistas + Gutenberg
(sec XV) + Estado-nação + Escolas +
Mercado editorial + Literatura e Artes +
Crítica especializada (sec. XVIII e XIX)
• Direitos autorais: dimensão moral e
dimensão patrimonial
• Disputas por ganhos e reconhecimento
Autoria no plural

Afinal, quem é o pai da


criança???

Web trouxe à tona


novos regimes de
autoria: remix,
citação, bricolage,
colaboracionismo,
autoria coletiva...
Novos regimes de autoria
• Questões legais
• Questões éticas

• Que tipo de
reconhecimento se
deve ter o criador?

• Fecha parêntese!
A polêmica legal sobre os direitos

Baixar vídeos é ilegal?

Baixar vídeos é pirataria?

Fazer download de música viola direitos
autorais e prejudica os artistas?

Tenho direito de baixar uma música?

Tenho direito de dividir a música com outros?

O artista e a gravadora têm o direito de me
processar por isso?

O que há por trás das campanhas do governo
contra a pirataria?

Quem está certo, afinal?
As duas versões da questão
 Baixar música é 
Pirataria é diferente de
violar o direito direito à liberdade de
informação.
autoral dos artistas.
 Compartilhamento de
 Repassar a música arquivos pela internet,
e cobrar por isso é sem finalidade de lucro,
crime, pirataria. para uso estritamente
pessoal, equivale a
 Pirataria viola empréstimo da obra
direitos e gera entre pessoas, o que não
ofende a lei de direitos
sonegação fiscal. autorais.
Os dois lados da questão
 Artistas  Piratas
 Escritores e intelectuais  Falsificadores

Produtores 
Atravessadores
 Realizadores  Fãs
 Exibidores  Gente sem grana

Distribuidores  Gente com grana
 Indústria do 
Gente comum
entretenimento  Gente incomum
 Governo
Mas um advogado aparece e...
 Lawrence Lessig, professor da
Stanford University
 Uma flexibilização dos direitos
autorais partindo do próprio autor
Creative Commons: a licença. Seja
criativo! Reticulum Rex
 Resgata a discussão dos direitos para
o âmbito dos autores. Intermediários
ficam de fora...
Creative Commons...
• Governo brasileiro,
Gilberto Gil, blogs,
sites, White
Stripes...
Quando começou a pirataria?
Uma questão pendente
 Os governos vão aumentar a pressão sobre
os “piratas”, “falsificadores”e outros
 As indústrias vão continuar demonizando os
usuários do sistema que baixam músicas,
filmes e séries
 As indústrias vão continuar enfrentando o
YouTube e outros sistemas de
compartilhamento
 Os usuários vão continuar baixando...
Uma questão pendente (2)
 As vendas de CDs e DVDs vão se manter
em queda
 Algumas empresas vão se adaptar aos
novos formatos e vão buscar outras formas
de receita para seus negócios
 A justiça vai ter que arbitrar sobre a questão
 Mas as duas partes da confusão terão que
ceder em parte, pelo bem de um acordo
Autoria, pirataria e plágio
• Violações nos direitos autorais
• Cópia
• Plágio
• Distribuição autorizada e não autorizada
• Compartilhamento de arquivos
• Disseminação de conhecimentos
• Jeitinho, má fé, boas intenções...
Choque de éticas...
• Ética do trabalho
• Ética do autor
• Ética do consumidor
• Ética do distribuidor

• Ética Hacker: Pekka Himanen. O hacker para além


do mito. A web para além da prateleira...
• Um choque de valores. O redimensionamento dos
valores. A rediscussão das bases dos direitos.
Novos valores e novos contextos
• Tudo o que está na web pode ser pego, baixado,
copiado, retransmitido?
• A web é uma arena totalmente pública?
• O que recebo por email pode ser distribuído sem
autorização? Quem decide isso?
• A web é um território sem lei? Sem dono?
• É possível impor limites à web? E ao usuário?
• Qual é o sentido de “propriedade” agora?
• Quando algo deixa de ser “seu” para ser “de todos”?
Valores em mutação...
• Esta apresentação de PowerPoint é de Christofoletti
ainda? Quando vai deixar de sê-lo?
• E quanto a bens intangíveis? Como determinar limites?
• Como cuidar da imagem na web? Como zelar pela
privacidade no ciberespaço? Como administrar a própria
reputação?
• Aliás, o que vem a ser reputação agora? É o mesmo que
popularidade? Que celebridade? Notoriedade?
Credibilidade? Autoridade?
• Quem determina o que pode ser “aberto” sobre si
mesmo? Como se assegura a confidencialidade, o sigilo
ou a discrição? É possível num cenário tão exibicionista?
Há espaço para segredos hoje?
Privacidade, pudor, valores...
• Super exposição • Projeção no Olimpo
• Egolatria, individualismo • Dissolução da
• privacidade
Celebridades instantâneas
• • Rediscussão das
Star System (plus!)
fronteiras do
• Imediatismo e alpinismo social público e do privado
• Culto ao corpo perfeito • Ostentação, Luxúria
• Evasão de privacidade e exibicionismo
midiático
• Invasão de privacidade
• Códigos em
• Tráfico de dados pessoais mutação
O que é ser honrado hoje?
• Honra na internet? Como aparece?
• Relações sociais instantâneas e imediatistas.
Amizade online = amizade off?
• Ter muitos seguidores no Twitter e amigos no Orkut e
Facebook faz de alguém popular, querido,
respeitado, referenciado?
• Como os comunicadores sociais devem lidar com as
redes sociais e as suas bases de configuração?
• O que significa hoje dar um unfollow?
• O que é o orkuticídio?
Identidade, anonimato, personas
• O sujeito na web. Plural superlativo.
• A pessoa é o que ela tem?
• A pessoa é o que ela aparenta?
• A pessoa é o conjunto de suas relações? Seus
amigos?
• Avatares. Representação de si. Projeção. Extensão.
• Fakes. Mentira, verdade e construção na web
• Anonimato: sigilo, despiste, covardia, estratégia de
reconfiguração identitária, contraponto à caça de
dados
Novos dilemas do comunicador
• Como, quanto e quando posso usar dados de pessoas e
organizações disponíveis na web para produzir novos
conteúdos e narrativas?
• Como devo me apresentar em redes sociais?
• O que separa privacidade de publicidade no ciberespaço?
• De que forma se deve preservar a autoria de conteúdos?
• Quando novos regimes de autoria são permitidos?
• O que pesa mais: compartilhar ou assegurar direitos?
• É possível ter códigos de conduta para blogueiros?
Mais dilemas do comunicador
• O twitter eliminou a mediação jornalística?
• Redes sociais na internet valem mais que redes físicas?
• Em que situações o anonimato pode ser admitido?
• Em que circunstâncias a falsa identidade vale?
• Se a cópia é um alicerce da web, o que sobra de
originalidade? Ela é importante?
• Um projeto de inteligência coletiva como a internet pode
sepultar as individualidades? Devemos temer isso?
• O que é ter ética na web?
Comunicação Digital e Ética
Esse diálogo, essas reflexões
apenas começaram.
Ninguém pode fazer isso
pelos usuários.
Cabe a eles rolar os dados e
decidir novas regras do
jogo...

rogerio.christofoletti@uol.com.br
http://monitorando.wordpress.com
http://twitter.com/christofoletti

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