dias atuais. “Porque virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; Mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas.” II Timóteo 4.3 e 4. Estes dias chegaram. C. H. Spurgeon declarou que “um dia será necessário um microscópio para encontrar um grão de evangelho em dezenas de sermões. Creio que não há dúvidas que os dias atuais são marcados pelo “vazio”, pelo entretenimento, pelo culto dirigido por animadores culturais descompromissados com as verdades bíblicas que transformam as vidas dos que ouvem. “Há muito show, muita música, muito louvor, mas pouco ensino bíblico. Nunca os evangélicos cantaram tanto e foram tão analfabetos de Bíblia.” – Augustus Dicodemus Na introdução desta análise sobre exegese do Novo Testamento, desejo despertar em cada um de nós, indagações tais como: Porque há um desinteresse pelo estudo Bíblico? O problema é o ouvinte ou o orador? Meus sermões serão instrutivos, elucidadores, verdadeiros, fiéis aos ensinos bíblicos ou sou especialista em arrancar gargalhadas do meu público (ainda que não se tenha problemas com um pregador que tenha humor)? Que tipo de ouvinte eu tenho em minha Igreja? Quanto tempo tenho disponível para pregar? Poderíamos alistar inúmeras indagações a respeito das mensagens transmitidas em nossos púlpitos. Por hora creio que nos cabe neste encontro apenas algumas poucas perguntas: Como posso “enriquecer” minhas mensagens e conduzir “meu” povo a um lugar seguro? Que estrutura cristã quero produzir aos que com paciência me escutam 4 vezes na semana? Como pregar tanto, sem cansar um auditório exausto pelo trabalho diário e manter um nível saudável de aprendizado? Talvez o maior desafio seja interpretar Cristo para essa geração enlouquecida. Quais contribuições nos diversos campos da vida, meus sermões podem ajudar? Nossa reflexão deve passar por uma crítica pessoal, honesta e, acima de tudo, de alta relevância tecnológica, tão necessária aos dias atuais. Falta-nos coragem para assumir nosso papel como “Arautos num tempo de surdez. ”Um professor universitário declarou recentemente: “Meu maior desafio é ensinar para quem não quer aprender.” Pois bem, o texto bíblico responde a essa inquietação. “Se é ensinar, que haja dedicação ao ensino.” Romanos 12:7. Paulo não nos poupa: dedicação. Essa é a nossa árdua tarefa. Dedicação máxima ao ensino. A importância do Estudo do Novo Testamento Nossa teologia bíblica encontra “força” nos escritos do Novo Testamento. Aqui encontramos a revelação de Deus no seu sentido pleno: Cristo Jesus. Jesus é o ponto mais alto da revelação de Deus e compreendê-lo é fundamental para o sucesso de uma boa exegese do Novo Testamento. Encontramos também o início da Igreja cristã como a conhecemos hoje (Os evangelhos e o livro de Atos), bem como os escritos de Paulo e toda a sua teologia, fundamental para o bem êxito das Igrejas Cristãs do nosso tempo. Terminamos nosso estudo do Novo Testamento refletindo sobre os últimos acontecimentos na vida da Igreja, fundamental para que a Igreja esteja “preparada para o encontro com o Senhor” Sobre Jesus, ficamos profundamente interessados no tempo que dedicou a ensinar seus discípulos. A. T. Robertson disse: “Quanta alegria para nós se tivéssemos pertencido àquela pequena companhia.” Foi um treinamento especial aos doze, que começaria um ministério entre os Judeus (primeiro aos da promessa) e chegaria finalmente aos gentios. Por isso, por exemplo, comenta Robertson, a relutância de Jesus em curar a filha da mulher siro-fenícia. Não fosse a astúcia em responder a Jesus e sua fé notável, não teria sido atendida A importância do Novo Testamento Estudar o Novo Testamento é uma viagem por demais gratificante na busca pela compreensão da vontade de Deus e da compreensão na própria estrutura humana nos seus diversos modos de se compreender o ser. Georg Eldon Ladd declara que toda reflexão teológica pode ser considerada uma empreitada humana e, levando-se em conta que nenhuma posição assumida pelo homem pode ser considerada final, temos a oportunidade de comparar os pensadores, buscar os melhores caminhos, descobrir (descor- tinar) as verdades bíblicas estabelecidas pelo autor da vida. O bom disso tudo é que sempre haverá um novo ensino, uma nova possibilidade de conhecer algo novo sobre a revelação de Deus. Em relação a Deus, a revelação esta fechada em Cristo. Aberta, porém, em relação ao homem. O estudo da Bíblia esteve durante boa parte da história completamente subordinada ao dogma eclesiástico. Ladd considera um período que as Escrituras eram usadas apenas para reforçar os ensinos dogmáticos da Igreja. Os reformadores (Estamos comemorando 500 anos da reforma – 31 de outubro de 1517), reagiram contra o caráter não bíblico da teologia dogmática e insistiram em que a teologia deve estar fundamentada apenas na Bíblia. Esta nova ênfase levou ao estudo das línguas originais das Escrituras. Passamos por vários períodos de compreensão dos textos bíblicos que, por hora, não são nosso objetivo de apreciação. Broadus David Hale ao falar sobre o Novo Testamento, aborda a necessidade de conhecermos o fundo histórico do N. T. Diz ele: “Um estudo adequado da Bíblia não pode ser feito sem uma consciência aguda das diferenças nas atitudes e estruturas políticas, culturais e religiosas que existem entre o Velho e o Novo Testamentos. É necessário voltar-se na história até o tempo entre os dois testamentos, a fim de se apreciar mais completamente a situação pressuposta no Novo Testamento. Para compreendermos melhor os textos do Novo Testamento, precisamos consi- derar a situação política do período neotestamentário, a dispersão Judaica, a língua falada, o exclusivismo Judaico, a sinagoga e a escola, o sinédrio, as seitas religioso – políticas, a literatura apócrifa, as doutrinas da época sobre ressurreição, anjos, etc e o interesse no apocalíptico, entre outros. Portanto, analisar os escritos do Novo Testamento requerirá empenho, disciplina, tempo (disponibilidade) e uma luta pessoal para não ser “tentado” por uma teologia simplista, mediática, sem compromisso com a Bíblia, antropocêntrica e, muitas vezes, doutrinas de demônios. Somos tentados dioturnamente a buscar respostas fáceis para os grandes temas bíblicos que merecem nossa atenção A teologia foi produzida à medida que os problemas iam surgindo na vida da Igreja primitiva. Tais problemas assolam a vida da Igreja contemporânea e precisamos “responder com mansidão às questões relativas à nossa fé.” É preciso falar em exegese do N.T abordando o maior erro cometido pelos pregadores na tentativa de entender o texto sagrado. Estamos falando de uma ação que denominamos eisegese. Eisegese é o ato de introduzir, colocar no texto a partir de fora. Ela não se preocupa em extrair o significado de um texto qualquer, mediante legítimos métodos de interpretação. Ao contrário, ela procura “injetar” em um texto, alguma coisa que o interprete quer que esteja ali, mas que na verdade não faz parte do mesmo. Em última instância, quem usa a eisegese força o texto mediante várias manipulações, fazendo com que uma passagem diga o que na verdade não se acha lá. É uma prática comum nos diferentes púlpitos de nossas Igrejas. Essa prática é feita exclusivamente baseada em teorias subjetivas, sem uma pesquisa ou análise profunda e real do texto. A eisegese é o resultado da caminhada na contramão da hermenêutica, pois se caracteriza por violações grosseiras das regras de interpretação. Não se examina nenhuma das condições necessárias para interpretar o texto bíblico. A eisegese é a matriz de todas as heresias. Dá luz aos erros doutrinários. O leitor procura imprimir no texto sua própria interpretação. *O que significa exegese? Comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra. O termo deriva da palavra ʼ ´ grega εξηγησις / exegese, que tanto pode significar apresentação, descrição ou narração como explicação e interpretação. Quando se refere a Bíblia, é o trabalho de explicação e interpretação de um ou mais textos bíblicos. Trata-se de uma interpretação minuciosa, de caráter científico, detalhado e aprofundado. A tarefa da exegese é aclarar as situações descritas nos textos, ou seja, redescobrir o passado bíblico de tal forma que o que foi narrado nos textos se torne transparente e compreensível para nós que vivemos em outra época e em circunstâncias e cultura diferentes. A exegese permite que se possa ouvir a intenção do texto em sua origem. *A principais dificuldades de se realizar uma boa exegese: 1º- A cultura da maioria dos textos bíblicos não corresponde à nossa cultura ocidental, mas, sim, à cultura própria do Oriente. Por isso temos dificuldades em entender uma série de costumes, valores, modos de pensar e agir encontrados na Bíblia. 2º- A distância que nos separa do período bíblico é também responsável pelo nosso parcial desconhecimento de uma série de grupos (fariseus, saduceus, zelotas, samaritanos, etc) e instituições (templo, sinagogas, casa/família, sinédrio, festa, etc). 3º- Nossos condicionamentos culturais, religiosos e ideológicos. Ninguém consegue interpretar textos bíblicos de forma neutra e completamente objetiva. A interpretação que realizamos está condicionada pelas lentes que usamos. A interpretação estará sempre condicionada por nossa história de fé, de cidadania, de classe, de cor, de etnia e de gênero, com o qual nos identificamos em maior ou menor escala. 4º- Não conseguir dar ouvidos ao que os próprios textos realmente querem dizer, mas ouvir apenas o que gostaríamos que os textos dissessem. 5º- Há uma tendência “popular” que nos alcança com maior ou menor intensidade, de interpretarmos a Bíblia à luz de nossas experiências pessoais. Talvez resida aqui um dos maiores problemas de nosso tempo. Não se pode admitir que qualquer experiência pessoal sobreponha o texto bíblico. *Métodos de leitura da bíblia mais conhecidos: Os métodos de leitura bíblica mais conhecidos são o histórico-crítico, o fundamentalista e o estruturalista. Todos eles possuem pontos positivos e negativos e cabe ao estudioso da Bíblia escolheu um melhor caminho a seguir. -Método Fundamentalista: Surge após a primeira Guerra Mundial com o objetivo de salvaguardar a herança protestante ortodoxa contra a postura crítica e cética da teologia liberal. Era de seu interesse reafirmar, com renovada convicção, doutrinas como inerrância das Escrituras, o nascimento virginal de Jesus, sua ressurreição corpórea e a historicidade de seus milagres O método fundamentalista parte do pressuposto de que cada detalhe da Bíblia é divinamente inspirado, não podendo, em decorrência, apresentar erros. O método comete o erro de absolutizar o sentido literal da Bíblia e desconsiderar a condição humana de seus autores, com tudo que isto implica. Também idolatra a letra dos textos, uma espécie de bibliolatria. -Método Estruturalista: Vêem o texto como estrutura e organização que produz sentido para além da intenção de seu autor. Dedicam-se ao texto em si, levando em conta o fato de que o texto tem uma identidade própria e uma autonomia, apesar de sua história. O seu valor reside no fato de fundamentar a validade de novas releituras e interpretações: cada texto carrega uma reserva de sentido a ser infinitamente explorada de forma inovadora por gerações posteriores. O método é muito criticado pro seu desinteresse pela gênese e evolução histórica dos textos, o que torna o método reducionista ao fazer a abstração da vida do texto, sua história, seu contexto cultural, social e religioso. -Método Histórico-Crítico: É o método que lida com fontes históricas. Faz uma análise das fontes dentro de uma perspectiva de evolução histórica, procurando determinar os diversos estágios da sua formação e crescimento, até terem adquirido sua forma atual. È um método que necessita emitir uma série de juízos sobre as fontes que tem por objeto de estudo. O método caracteriza-se por ser eminentemente racional e insistentemente questionador. O estudo sério e cuidadoso da intenção histórica original dos textos protege-os contra a fácil manipulação do seu sentido por interesses ou interpretações subjetivas ou, então, determinadas por posições ideológicas. O estudo da evolução histórica dos textos bíblicos nos torna mais sensíveis para a rica pluralidade que representam os seus diversos estágios de conteúdo. Começando o trabalho de interpretação bíblica Podemos, num primeiro momento, desenvolver ações práticas para realizarmos uma boa exegese bíblica no N.T *Podemos fazer uma leitura atenta do texto em uma tradução portuguesa de uso cotidiano e, também, leituras de outras versões disponíveis. Antes de consultar qualquer comentário, tenha uma visão pessoal do texto ou textos disponíveis. Essa ação evitará uma visão do texto a partir da visão do “outro”. *É necessário fazer perguntas ao texto, tais como: que significado o texto possui para o leitor atual e que significativa para o primeiro leitor? Qual a primeira impressão que o texto provoca (o texto pode provocar várias impressões)? O que o texto queria e quer comunicar? Que sentimentos o texto provoca? Há empatia entre o que o texto diz e aquilo que penso e creio? Somos facilmente conduzidos aos textos que nos “agradam” mais. Alguns textos “parecem” trazer problemas em relação às crenças pessoais e tentamos evitá-los. Isso é um grande erro. *Considero algo no texto estranho, ao ponto de não concordar. Preciso avaliar meus conceitos pré- estabelecidos e examinar o texto com o máximo de imparcialidade. *Busque os detalhes no texto. Torne o texto enriquecedor àqueles que estão acostumados com a leitura bíblica. *Que mensagem o texto comunica para a Igreja como um todo, para a sociedade e seu aspecto pessoal. É preciso entender os aspectos relevantes para o indivíduo e para a Igreja. Essa primeira aproximação do texto bíblico iniciará um diálogo com o texto. É preciso investir tempo nessa primeira tentativa de compreender o texto bíblico. Você perceberá que as indagações merecerão respostas mais apuradas e profundas. A medida que buscamos as respostas satisfatórias para compreendermos o texto do N.T, percebemos a necessidade da utilização de alguns instrumentos mais precisos para “cavarmos um poço mais profundo e tornarmos uma água mais pura.” Após um primeiro exame do texto nas traduções disponíveis, é necessário realizar uma tradução do texto grego. O Novo Testamento foi redigido originalmente em grego. Entender o texto em sua forma original é fundamental para compreendermos o sentido e mensagem do Novo Testamento. São muitas as vantagens da tradução do grego: - Nos familiariza com o texto grego que serve de base para a exegese. - Mostra-nos que há termos ou expressões que apresentam diversas opções de tradução. -Mostra-nos sentidos que não conseguimos ver nas traduções de uso cotidiano. -Mostra-nos a profundidade dos termos bíblicos. Isso torna o sermão mais atraente e eficaz. É preciso reconhecer que nem todos os estudiosos da Bíblia possuem ferramentas para fazer uma boa tradução do Novo Testamento. Segue algumas orientações que permitirão, ao menos, uma análise de palavras chaves que elucidarão os princípios fundamentais do texto bíblico: - Tenha um bom dicionário de grego bíblico. - Tenha uma boa gramática de grego do Novo Testamento. - Se possível, tenha um novo testamento na língua original. - Tenha edições interlineares do Novo Testamento. - Chaves gramaticais ou linguísticas do Novo Testamento. A tradução deve dar o sentido mais exato possível da mensagem original, produzindo um texto bem compreensível, numa linguagem natural (sem que pareça tradução). Não há nenhum problema, após uma tradução pessoal do texto original, comparar com outras traduções em uso entre os teólogos. Isso apenas reforçará as várias possibilidades de tradução do texto. No início desse trabalho, você perceberá a necessidade de rever sua própria tradução. O tempo investido neste trabalho trará segurança na exposição do texto. Você perceberá que os textos traduzidos omitem termos ou expressões ou, em alguns textos, acrescentam expressões inexistentes no texto original. Encontramos, também, por vezes, modificações ou substituições de termos encontrados no texto original, o que demonstra a necessidade de um trabalho cuidadoso do pregador. *Crítica Textual A tarefa da crítica textual é determinar com a maior exatidão possível o texto grego que deverá servir de base para a tradução e a pesquisa posteriores. Nesse caso, o estudante deverá possuir habilidades suficientes para realizar uma boa tradução e escolher os melhores textos bíblicos. O Novo Testamento, como já dissemos, anteriormente, foi escrito em grego e em manuscritos cujos originais desapareceram. Esses manuscritos foram sucessiva mente copiados no decorrer dos séculos, de modo que conhecemos milhares dessas cópias na atualidade. Quando comparamos essas cópias entre si, constata-se que o texto produzido nem sempre é igual. São cópias diferentes. Daí a necessidade da crítica textual. As diferenças entre os manuscritos podem ser explicadas a partir de alterações involuntárias ou intencionais. Fazer uma boa exegese bíblica é fascinante. À medida que vamos interpretando seus textos, somos também interpretados por ela. Esta dialética nos permite conhecer um pouco mais do Autor Sagrado e, ao mesmo tempo, somos “descobertos” por esta palavra bendita.