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“FRÍGIDA”
Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita, Povo! No pano cru rasgado das camisas Como animais comuns, que uma picada esquente,
Disseminadas, gritam as peixeiras; Uma bandeira penso que transluz Eles, bovinos, másculos, ossudos,
Luzem, aquecem na manhã, Com ela sofres, bebes, agonizas; Encaram-na sanguínea, brutalmente:
Uns barracões de gente pobrezita Listrões de vinho lançam-lhe divisas, E ela vacila, hesita, impaciente
E uns quintalórios velhos, com parreiras. E os suspensórios traçam-lhe uma cruz! Sobre as botinhas de tacões agudos.
Não se ouvem aves; nem o choro duma nora! De escuro, bruscamente, ao cimo da barroca, Porém, desempenhando o seu papel na peça,
Tomam por outra parte os viandantes; Surge um perfil direito que se aguça; Sem que inda o público a passagem abra,
E o ferro e a pedra - que união sonora! – E ar matinal de quem saiu da toca, O demonico arrisca-se, atravessa
Retinem alto pelo espaço fora, Uma figura fina, desemboca, Covas. entulhos, lamaçais, depressa,
Com choques rijos, ásperos, cantantes. Toda abafada num casaco à russa. Com seus pezinhos rápidos, de cabra!
Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços, Donde ela vem! A actriz que tanto cumprimento
Cuja coluna nunca se endireita, E a quem, à noite na plateia, atraio
Partem penedos. Voam estilhaços. Os olhos lisos como polimento!
Pesam enormemente os grossos maços, Com seu rostinho estreito, friorento,
Com que outros batem a calçada feita. Caminha agora para seu ensaio.
ESTRUTURA INTERNA
Partem penedos
desemboca
Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!
Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços, Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!
Cuja coluna nunca se endireita, Que vida tão custosa! Que diabo!
Partem penedos; cruzam-se estilhaços. E os cavadores descansam as enxadas,
Pesam enormemente os grossos maços, E cospem nas calosas mãos gretadas,
Com que outros batem a calçada feita. Para que não lhes escorregue o cabo.
A sua barba agreste! A lã dos seus barretes! Povo! No pano cru rasgado das camisas
Que espessos forros! Numa das regueiras Uma bandeira penso que transluz
Acamam-se as japonas, os coletes; Com ela sofres, bebes, agonizas;
E eles descalçam com os picaretes Listrões de vinho lançam-lhe divisas,
Que ferem lume sobre pederneiras. E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!
No pano cru rasgado das camisas
ESTRUTURA EXTERNA
• MÉTRICA
O poema Cristalizações de Cesário Verde é constituído por vinte quintilhas, sendo o primeiro verso
de cada uma alexandrino (doze sílabas) e os quatro restantes decassílabos.
Admiro-a. A sua longa e plácida estatura Metálica visão que Charles Baudelaire E se uma vez me abrisse o colo transparente,
Expõe a majestade austera dos invernos. Sonhou e pressentiu nos seus delírios mornos, E me osculasse, enfim, flexível e submissa,
Não cora no seu todo a tímida candura; Permita que eu lhe adule a distinção que fere, Eu julgara ouvir alguém, agudamente,
Dançam a paz dos céus e o assombro dos infernos. As curvas da magreza e o lustre dos adornos! Nas trevas, a cortar pedaços de cortiça!
Eu vejo-a caminhar, fleumática, irritante, Desliza como um astro, um astro que declina,
Numa das mãos franzindo um lençol de cambraia!... Tão descansada e firme é que me desvaria,
Ninguém me prende assim, fúnebre, extravagante, E tem a lentidão duma corveta fina
Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia! Que nobremente vá num mar de calmaria.
Ouso esperar, talvez, que o seu amor me acoite, Não me imagine um doido. Eu vivo como um monge,
Mas nunca a fitarei duma maneira franca; No bosque das ficções, ó grande flor do Norte!
Traz o esplendor do Dia e a palidez da Noite, E, ao persegui-la, penso acompanhar de longe
É, como o Sol, dourada, e, como a Lua, branca! O sossegado espectro angélico da Morte!
Pudesse-me eu prostar, num meditado impulso, O seu vagar oculta uma elasticidade
Ó gélida mulher bizarramente estranha, Que deve dar um gosto amargo e deleitoso,
E trêmulo depor os lábios no seu pulso, E a sua glacial impassibilidade
Entre a macia luva e o punho de bretanha!... Exalta o meu desejo e irrita o meu nervoso.
ESTRUTURA INTERNA
Pudesse-me eu prostar, num meditado impulso,
Ó gélida mulher bizarramente estranha,
E trêmulo depor os lábios no seu pulso,
Entre a macia luva e o punho de bretanha!...
Cintila ao seu rosto a lucidez das jóias.
Ao encarar consigo a fantasia pasma;
Pausadamente lembra o silvo das jibóias