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17/02/2018

CONGRESSO DE LETRAS DO TOCANTINS/UFPA


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ
DIÁLOGOS LUSO-BRASILEIROS NA LITERATURA OITOCENTISTA.

Prof.ª Dr.ª Lucilena Gonzaga

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BURKE, Peter. O que é história cultural?. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
____________. Hibridismo Cultural. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos,
2010.
____________. Perdas e Ganhos: Exilados e expatriados na história do
conhecimento na Europa e nas Américas, 1500 – 2000. SP: Unesp, 2017.

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Escritos e escritores portugueses (des)conhecidos do Século XIX

O Beijo (Teixeira de Vasconcellos)


O que são as mulheres (José Victorino da Silva)
O amor livre (Luís Augusto Palmerim)
A mulher do Minho (Antonio da Costa)
Na Aldeia (Alberto Braga)
Emilia Adelaide (Lopo Vaz)
As Mulheres de Balzac (Maria Amália Vaz de Carvalho)
Cartas Lisbonenses (Guiomar Torrezão).

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Em 12 de junho de 1868, foi publicada na coluna “Variedade” uma crônica intitulada
“O Beijo”, do escritor e jornalista português (Antonio Augusto) Teixeira de Vasconcellos
(01/11/1816 – 29/06/1878) – autor de O Prato de Arroz Doce. Vemos a defesa do beijo
como um gesto de amor e devoção, quando o autor justifica que “Por elle se patenteião e
se consagrão o amor e respeito filial, a affeição conjugal, a amisade, a gratidão, a
paz, a beneficência, a humildade, a alegria e alvoroço, a tristeza, o conforto na
desgraça e a confraternidade dos homens em variadíssimas conjucturas”, tanto na
relação conjugal, familiar e de amizade, quanto na religiosidade, principalmente católica,
o beijo sempre representou afeto.
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Segundo Teixeira de Vasconcellos, o beijo sempre foi celebrado ao longo dos
tempos, chegando, inclusive a encontrar-se “nos versos de Homero, nas lamentações de
Job, e nos costumes da antiga Roma, onde tribunos, cônsules e dictadores davam a
mão a beijar aos seus inferiores”. Embora essa publicação pareça ser banal para os
tempos atuais, certamente, no século XIX, ela era representativa no que diz respeito ao
comportamento social do período, bem como denota que, esse tipo de cumprimento tão
usual hoje, foi “Inventado pelo instincto”, e “será sempre o fiel espelho dos affectos da
alma, a primeira demonstração de bem querer que as crianças aprendem, e o ultimo
adeus ao mundo quando nos paroxismos da morte”. O autor ratifica a intenção com
que esse gesto – tão romântico naquela época – deveria ser empregado.

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O português José Victorino da Silva publicou no Diário de Belém de 1869, as
seguintes : O que são as mulheres e Quem não gosta de dinheiro. Na primeira, o autor,
ao questionar o comportamento das mulheres, argumenta que “nem Voltaire com a sua
sciencia encyclopedica e universal nem Lavater com a sua sciencia phisionomica,
alcançaram a solução definitiva do que é a mulher”.
Segundo ele, as mulheres sempre foram as mesmas, independente das épocas
“Há muitas que são virtuosas como Penélope, em quanto tecia o seu véo, fortíssimas
como Lucrecia, heroínas como Sapho e Joanna d’Arc, ardilosas como Ariadne com
o seu novello, intrépidas como Atalanta a caçadora, e guerreiras como a Maria da
Fonte ou a padeira d’Aljubarrota”. Vemos que José Victorino apresenta mulheres
historicamente importantes, procurando exaltar características semelhantes às das
portuguesas.

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O que são as mulheres é uma instigante publicação que traz a epígrafe latina
“O Vós omnes qui transittis attendite et vidette”, traduzida como “Oh vós todos que
passais vinde e vede”, por meio da qual o autor interpela os leitores a conhecerem as
grandes personagens femininas da história universal, podendo ser elas reais ou
ficcionais. Por fim, assume que “A conclusão é, que os homens todos, servem-se da
mulher como de um relógio, que se adianta ou se atrasa à feição da necessidade
do homem, ou segundo o tempo e as circunstancias (desculpe-me o meu sexo essa
liberdade, imperdoável, mas verdadeiramente verdadeira)”. Convém enfatizar que
a maior parte das publicações relacionadas ao perfil feminino foi feita no ano de 1869,
período em que o Romantismo começava a ser preterido em favor do Realismo.

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O Amor Livre, crônica publicada em 1873, de autoria de Luís Augusto Xavier
Palmeirim (Lisboa, 09/08/1825 – Lisboa, 04/12/1893) – autor do poema Camões,
declamado por Emília Adelaide no Teatro da Paz, em homenagem ao Tricentenário da
morte de Camões. Discorre sobre a liberdade amorosa que, na opinião
ultraconservadora do escritor “é uma espécie de cão sem colleira, e sem dono, a quem
todos podem deitar a rede”, ou seja, é uma contestação ao comportamento libertário
da época, em relação ao amor livre que parecia estar em voga.

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O autor argumenta que esse modismo propagado em França não é uma
novidade oriunda desse país, mas sim de Roma, onde nasceu “a liquidação social da
mulher”. Segundo ele, “os romanos foram os inventores do amor à queima-roupa,
que dispensa o aceno do lenço branco, a epistola ardente e sem orthographia, e,
nos nossos dias, o annuncio alambicado, mas correcto, por conta e risco do
revisor de jornal”. O fato dessa crônica ter sido publicada na década de 1870 permite-
nos aventar algumas hipóteses, tais como: a influência dos costumes franceses na
cultura portuguesa e paraense começa a modificar o comportamento desses e, por isso,
o autor combate essa atitude vista por ele como algo ruim para a sociedade e que “os
Quasimodos querem fazer livre, na esperança de pescar nas aguas turvas e de
serem aceitos ao menos uma vez na vida em nome de um direito imaginário”; a
referida década favorece transformações sociais com a perspectiva do Movimento
Realista, cujo objetivo era afrontar a sociedade conservadora, mormente no que diz
respeito ao casamento e ao “amor livre”.

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A Mulher do Minho foi a crônica publicada na primeira página do Diário de
Belém, de 1874. De autoria de Antonio da Costa (de Sousa de Macedo, Lisboa,
21/11/1824 – Lisboa, 17/01/1892), essa é mais uma das publicações que envolveram a
temática feminina sob a perspectiva portuguesa, o próprio título sugere tratar-se
especialmente da região do Minho, norte de Portugal, que no dizer do autor “De
quantas impressões me encantaram a alma na formosa província, nenhuma se me
entranhou tão viva como a da mulher do Minho”, as primeiras linhas da crônica
identificam a temática a ser decantada por ele.

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Após intensa descrição em favor da mulher do Minho, ele argumenta que
“Menos tentando estou a buscar o fundamento do phenomeno na emigração do
homem. A emigração, como torrente, não data de muitos annos e de poucos annos
não é que a minhota cunhou pelo trabalho a sua originalidade n’uma província
inteira”, antes mesmo da emigração, as mulheres já assumiam o papel do homem no
trabalho. Entre outras informações importantes localizadas nessa crônica, temos a
notícia de que “Os homens lá emigram para o Brasil, Alentejo, Lisboa, Porto,
Hespanha; à minhota, quasi exclusivamente, é que está[va] incumbido o trabalho
da província”. Assim sendo, o Brasil foi o único país, fora do continente europeu,
citado pela emigração portuguesa, o autor faz referência à Espanha, mas sabemos que é
pelo fato de ser o país mais próximo do Minho.

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Alberto (Leal Barradas Monteiro) Braga (Porto, 1851 – 1911) publicou, em 07
de janeiro de 1879, a prosa de ficção Na Aldeia com o subtítulo “excerto de um livro
inédito” (possivelmente do livro Contos da Aldeia,1880). A narrativa reporta-se ao ano
de 1857, especificamente o dia 5 de janeiro, dia chuvoso e triste, principalmente depois
que Paulo, o sacristão da igreja de Santo Estevão de Gião, comunica aos devotos o
estado de saúde do senhor Abade. Após o cirurgião examinar o religioso, ele
entrevistou maliciosamente a criada, perguntando há quanto tempo ela servia ao abade;
ela ingenuamente respondera que há vinte e dois anos. Assim, continua a história até o
retorno do cirurgião à sua casa, onde a criada Joanna o aguardava para lhe massagear as
pernas, “d’estos e de outros preservativos, antepostos pela caridosa Joanna ao
reumatismo do doutor, seguião-se quasi sempre outras scenas que transformavão
a residência do cirurgião num cerralho oriental”, assim era descrito o que se
passava na casa.

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A narrativa enfatiza os acontecimentos na casa do médico, “onde Joanna era
odalisca, o doutor, o sultão; e para complemento do pessoal, o criado Jeronymo
fazia papel de eunucho... sem mutilação”. Ao utilizar uma linguagem sensual para
insinuar o que ocorria na casa do médico, o autor da ficção aponta para o Realismo,
enquanto movimento literário já em voga em Portugal e prestes a ser demarcado
oficialmente no Brasil, quando justificava as ações do cirurgião dizia que “As pessoas
das cidades suppoem que a continência nos costumes corre parelhas com o atraso
material das aldeias! engano, puro engano!”, ou seja, o aldeão também desfrutava
dos prazeres oferecidos pela modernidade, principalmente no que dizia respeito ao
amor livre, pois “ali, no meio daquellas saudosas carvalheiras, onde os poetas
urbanos idealisão uns amores cândidos como o dos pastores de Theocrito é que a
sensualidade sôrna se alaparda e vinga”.

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Emilia Adelaide era o título do folhetim assinado pelo escritor português Lopo Vaz
(29/09/1848 – 20/03/1892), publicado no Diário de Belém, em 1880, certamente essa
publicação marcava a chegada da atriz portuguesa na província do Pará, indo passar uma
temporada de apresentações teatrais na região. Lopo Vaz não economizou elogios ao
apresentar ao público paraense: “A atriz EMILIA ADELAIDE (escapou-nos o seu
nome!) a pythoniza da arte dramática traz o seu nome laureado pela litteratura e
pelo jornalismo de duas nações irmãs: sucedâneo digno da eminência e da
inteligência”.
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A estada da afamada atriz portuguesa na província do Pará tornou-se notícia
quase diária nos jornais de Belém, sendo divulgada, inclusive, pela corresponde
portuguesa do jornal O Liberal do Pará Guiomar Torrezão, que dedicou parte de seus
escritos nas Cartas Lisbonenses, de 29 de março de 1880, destinadas às leitoras
paraenses para falar do desejo de estar na cidade para amenizar a saudade que sentia
daquela “borboleta ingrata”, conforme veremos mais adiante.

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Também no ano de 1879, encontramos a publicação da portuguesa Maria Amália Vaz
de Carvalho (02/02/1847 – 24/03/1921), intitulada As Mulheres de Balzac. A autora
refere-se às leitoras do Brasil, a quem dizia já ter falado das “filhas de Victor Hugo, não
das filhas de sua carne, mas das filhas de sua phantasia” e que “Cada homem de
gênio tem a sua galeria de figuras typicas, que ficão vivas e eternas no coração ou na
memoria das gerações que se vão sucedendo”, assim apresenta o escritor francês
Honoré de Balzac e justifica que “Balzac fez no romance o que Miguel Angelo fez com
as artes plásticas”.
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Sobre o francês Honoré de Balzac, a escritora argumenta que “Se
escolheu o romance, foi porque o romance era a única moldura em que elle
podia enquadrar o mundo de pensamentos, de ideas, de systemas, de
theorias que lhe enxameiava no cérebro”. Isto porque, na perspectiva de
Amália, o francês conseguia transpor em seus romances, de forma mais natural
possível, todos os dilemas característicos da sociedade de seu tempo, por isso “A
posteridade há de fazer lhe plena justiça”.

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Guiomar (Delfina de Noronha) Torrezão (Lisboa, 26/11/1844 – 22/10/1898), conhecida
pela alcunha de “Operária das Letras” , foi a correspondente portuguesa mais atuante entre
os jornais paraenses e uma das primeiras autoras a se manter financeiramente dos seus
escritos, atuando, principalmente, como ficcionista, dramaturga, poetisa, ensaísta e
jornalista em vários periódicos, mas sua colaboração com o Almanaque de Lembranças
Luso-Brasileiro, a tornou mais popular. Na penúltima carta lisbonense, datada de 28 de
março de 1880, Torrezão dizia que “Se fosse possível inverterem se os papeis, seria eu hoje
que pederia a vv. excs., leitoras, que me escrevessem uma carta paraense em vez de lhes
dirigir eu como costume, uma carta lisbonense”.
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Notemos que a folhetinista, ao sugerir a troca dos papeis, expressa um desejo curioso
de conhecer suas leitoras, assim como a província do Pará, uma vez que ela gostaria de
receber uma “carta paraense”, o que nos permite aventar a vontade de ser leitora, ou mesmo
de estar no Pará, pois havia um grande motivo para isso: a presença da atriz portuguesa
Emília Adelaide Pimentel (01/11/1836 – 11/09/1905). Ela prossegue a carta no devaneio de
receber a correspondência paraense, pedindo informação da atriz: “E eu responderia a vv.
excs. com um lyrismo ultra bucólico, suplicando lhe que nos enviasse pelo primeiro
paquete, espalmada n’um album, espetada n’um alfinete ou fechada n’uma boceta –
exceptuando a de Pandora, bem entendido – essa borboleta ingrata e esquiva”. Guiomar
expressava grande admiração por Emília Adelaide, a famosa atriz portuguesa que fazia fama
no Brasil, depois de ter brilhado nos palcos de Portugal com as peças “A Morgadinha de Val
Flor” e “Magdalena”, ambas de Pinheiro Chagas.

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17/02/2018

OBRIGADA PELA ATENÇÃO!

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