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LINGUÍSTICA TEXTUAL

Profª. Ma. Bruna Barbosa


A virada cognitivista – década de 80
TEXTO COMO PROCESSO
 Tomada de consciência de que todo fazer (ação) é necessariamente
acompanhado de processos de ordem cognitiva.
 Texto: resultado de processos mentais.

 “[...] o texto é originado por uma multiplicidade de operações cognitivas


interligadas, “um documento de procedimentos de decisão, seleção e
combinação.” (Beaugrande & Dressler, 1981 apud KOCH, 2013)
Abordagem procedimental

 Os parceiros da comunicação possuem saberes acumulados quanto aos


diversos tipos de atividade da vida social, têm conhecimentos na memória
que necessitam ser ativados para que a atividade seja coroada de
sucesso.(KOCH, 2004)
Heinemann & Viehweger (1991) –
Sistemas de conhecimento
 Linguístico: conhecimentos gramatical e lexical; responsável pela
articulação som-sentido;
 Enciclopédico (semântico ou conhecimento de mundo): conhecimento
armazenado na memória de cada indivíduo. Pode ser:
1. Declarativo: enunciações acerca dos fatos do mundo
2. Episódico: intuitivo, adquirido através da experiência.

 Ambas as formas são estruturadas em modelos cognitivos


Modelos cognitivos

 Frames: são situações estereotipadas e sem ordenação armazenada em


nossa memória sob certo rótulo. Por exemplo, o conhecimento acerca da
palavra futebol aciona uma série de outros elementos, tais como: jogador,
estádio, bola etc.
 FRAMES = QUADROS, MOLDURAS
O campo da significação em duas Cartas do Leitor
FRAMES E ESCOLHA LEXICAL

Carta 1 - SADDAM HUSSEIN (Veja, 10 de janeiro de 2007)

Reverenciemos e respeitemos os parentes e amigos dos milhares


de curdos assassinados com gás mostarda, ou os cidadãos de
bem metralhados, enforcados ou trucidados pelo monstro que
felizmente se foi. Esquecer a forma como Saddam morreu é
mais sensato do que discutir neste momento direitos humanos
de tiranos que nunca deveriam ter nascido. (“Encontro marcado
com a forca”, 30 de dezembro). David Axelband Rio de Janeiro,
RJ.
SADDAM HUSSEIN (Veja, 10 de janeiro de 2007)

Formalmente Saddam Hussein Abd al-Majid al-Tikriti,


presidente do Iraque deposto por uma invasão para lá de
questionável, foi condenado à morte em 5 de novembro por um
tribunal iraquiano pelo massacre de 148 xiitas na aldeia de
Dujail, em 1982, o que foi considerado crime contra a
humanidade. E os outros? Inúmeros crimes contra a humanidade
são perpetrados dia após dia em todo o globo terrestre e os
facínoras que os comandam ficam absolutamente impunes. Será
que, se o Iraque produzisse banana, abobrinha ou coco em vez
de petróleo, Saddam teria subido ao patíbulo?

Márcio Assad
Lapa, PR
Modelos cognitivos:

 Esquemas: são conjuntos de conhecimentos armazenados em forma de


sequências ordenadas, previsíveis e fixas que seguem a uma orientação
temporal ou causal.

 Exemplo: celebrações de casamento, receitas de bolo.


Ou
Um marido diz à esposa:
Há um acidente na esquina, pois uma ambulância e um carro da polícia
estão parados lá.
Modelos cognitivos

 Planos: se reportam aos conhecimentos que orientam o nosso modo de


agir para alcançarmos determinado fim.
Além de terem os elementos numa ordem previsível, levam o leitor/ouvinte a
perceber a intenção do escritor/falante e é isso que os distingue dos
esquemas: permitirem reconhecer o que pretende o planejador.

Exemplo: pedir um aumento de salário.


Modelos cognitivos

 Scripts: são conhecimentos que regulam o como devemos agir em nosso


meio de acordo com os ditames da cultura na qual estamos inseridos, até
mesmo, em termos de linguagem.

 Observe os exemplos:
Uma velhinha (Cecília Meireles)

“Perdera a infância: já não podia correr com as meninas pelos barrancos,


nem subir pelas árvores, ne passar por entre os arames das cercas das flores.
Isso não poderia fazer nunca mais – e, ofegantes e suadas, parávamos diante
dela com imensa pena. Perdera a mocidade: não tinha mais vez para
cantar, nem corpo para dançar, e nunca mais poderia vestir-se de noiva, e
era tão velha, que nem se podia imaginar como teria sido, quando moça.”
Feliz aniversário (Clarice Lispector)

“Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo


que ninguém podia saber se ela estava alegre. Estava era posta à cabeceira.
Trata-se de uma velha grande, magra, imponente e morena. Parecia oca [...]
Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava. E para aqueles que junto
da porta ainda a olharam uma vez, a aniversariante era apenas o que
parecia ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão fechada
sobre a toalha como encerrando um cetro, e com aquela mudez que era a
sua última palavra. [...] Enquanto isso, lá em cima, sobre as escadas e
contingências, estava a aniversariante sentada à cabeceira da mesa,
erecta, definitiva, maior do que ela mesma. Será que hoje não vai ter janta,
meditava ela. A morte era seu mistério.”
Modelos cognitivos

 Cenário: abrange as situações que se estendem ao domínio da referência


como a ideia de atos que acontecem num clube, numa escola ou igreja.

 Cenário interpretativo atrás do texto: o bom êxito na compreensão do


cenário depende da eficácia do escritor/falante em ativar cenários
apropriados.
Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras


mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.


Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

De Alguma poesia (1930)

Carlos Drummond de Andrade


Modelos cognitivos

 “os modelos constituem conjuntos de conhecimentos socioculturalmente


determinados vivencialmente adquiridos, que contêm tanto
conhecimentos sobre cenas, situações e eventos, como conhecimentos
procedurais sobre como agir em situações particulares e realizar
atividades específicas. [...] É com base em tais modelos, por exemplo, que
se levantam hipóteses, a partir de uma manchete ou título, que se criam
expectativas sobre o(s) campo(s) lexic(ais) a ser(em) explorado(s) no texto;
que se produzem as inferências que permitem suprir as lacunas ou
incompletudes encontradas na superfície textual.” (KOCH, 2013, p.23)
Heinemann & Viehweger (1991) –
Sistemas de conhecimento
 Sociointeracional: relaciona-se com a dimensão interpessoal da
linguagem, ou seja, com a realização de certas ações por meio da
linguagem. Divide-se em:
1. Conhecimento ilocucional: referente aos meios diretos e indiretos utilizados
para atingir um dado objetivo; é o ato de realização de uma ação através
de um enunciado;
2. Conhecimento comunicacional: ligado ao anterior, relaciona-se com os
meios adequados para atingir os objetivos desejados;
Conhecimento comunicacional - máximas
conversacionais (Grice, 1975):

1. Quantidade: Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto
necessário”;
2. Qualidade: “Não diga o que você acreditar ser falso; não diga senão
aquilo para o que você possa fornecer evidência adequada”;
3. Relevância ou Relação: “Seja relevante”;
4. Modo ou Maneira: “Seja claro: evite obscuridade de expressão, evite
ambiguidades, seja breve, seja ordenado.”
 3. Conhecimento metacumunicativo: refere-se aos meios empregados
para prevenir e evitar distúrbios na comunicação (procedimentos de
atenuação, paráfrases, parênteses de esclarecimento, entre outros).
Heinemann & Viehweger (1991) –
Sistemas de conhecimento
 Superestruturas ou modelos textuais globais: permite aos usuários
reconhecer um texto como pertencente a determinado gênero ou tipo.

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