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Prof.

Fábio Frizzo
fabio.frizzo@gmail.com
 Contexto de enfraquecimento de persas e bizantinos
em decorrência da última guerra perso-bizantina
entre 602 e 628.
 Sucessor eleito segundo a tradição árabe dos sheikhs.
 Escolha de Abu Bakr, sogro do profeta, para o cargo de
khalifa, com poderes executivos e militares, diferentes
daqueles dos sheikhs.
 Em 634, após a morte de Abu Bakr, Umar assumiu o
cargo de califa.
 A recusa das tribos leais pessoalmente a Maomé de
aceitar o governo de Abu Bakr.
 Abu Bakr costurou novos acordos com as tribos e
submeteu outras através do exército, dando início às
guerras da Ridda (reconversão).
 As guerras de reconversão transformaram-se em
guerras de conquista, expandindo o domínio
muçulmano ao Iraque, Síria e Egito.
 As primeiras expedições para o norte da Arábia não
passavam de pilhagens para solucionar problemas
econômicos.
 A fraqueza dos inimigos, demonstrada com as
expedições de pilhagem, levou às conquistas lideradas
pelo general Khalid ibn al-Walid.
 O verdadeiro início das conquistas árabes deu-se em
633 com a vitória na Batalha de Aqraba, no Njad
Oriental.
 Já em 636, os árabes infringiram a primeira derrota aos
bizantinos na Síria-Palestina, que ficou a mercê dos
muçulmanos, excetuando-se as fortalezas de Bizâncio,
Cesaréia e Jerusalém.
 Em 637, a capital persa, Madain, foi capturada e os
muçulmanos ocuparam o Iraque.
 A invasão do Egito iniciou-se em 639 e foi facilitada
pelo descontentamento dos coptas em relação ao
domínio grego.
 Em 641 a última cidade egípcia, Alexandria, rendeu-se
e, ao contrário do senso comum, não há provas de que
os muçulmanos tentaram destruir a grande biblioteca.
 A expansão estacionou com a resistência no território
de Khurasan, na Pérsia Oriental, e com as dificuldades
de ultrapassar as fronteiras naturais da Anatólia.
 O domínio árabe do deserto era usado como estratégia
militar. Como era uma área acessível e familiar aos
árabes e não aos seus inimigos, foi utilizado para
comunicação aprovisionamento e refúgio.
 Em todas as províncias, as principais bases árabes
localizavam-se nas orlas dos desertos, onde foram
construídas guarnições militares.
 A história árabe designa esssas cidades nas orlas do
deserto como Amsar e era através delas que a
produção local escoava e por onde penetrava a língua
árabe.
 Houve um processo de urbanização favorecido por
dois fatores:
 A maior tributação cobrada aos agricultores não
muçulmanos;
 A baixa dos preços agrícolas em virtude das distribuições em
larga escala entre os conquistadores árabes.
 A expansão árabe foi resultante da pressão
demográfica na Península Arábica.
 A religião teve importância fundamental na expansão,
servindo para dar um sentido único ao povo árabe.
 A expansão teve, todavia, um caráter muito mais
materialista do que religioso.
 Os primerios califas foram guiados pela prática, não
sentindo necessidade de maiores elaborações .
 A política era determinada pelos interesses de uma
aristocracia muçulmano-árabe forjada pelas
conquistas.
 A princípio, os árabes mantiveram os aparelhos de
governo persa e bizantino.
 Na Síria e no Egito, a capitulação se deu através de um
acordo, o que levou à manutenção das leis costumeiras
locais.
 No caso do Iraque, onde a rendição foi incondicional,
Umar teve liberdade de ação.
 Os árabes se apoderaram apenas das terras dos
Estados conquistados e dos inimigos do regime.
 Os tributos, for a um pequeno dízimo religioso, eram
pagos apenas por povos vassalos. As principais taxas
eram:
 Jizya – imposto individual
 Kharaj – imposto predial
 A arrecadação fiscal continuou, nas províncias, sob
responsabilidade dos funcionários bizantinos e persas.
 Não houve interferência na administração interna dos
povos submetidos (dhimis).
 Com as conquistas, os árabes executaram um
movimento de identificação entre o islamismo e o
arabismo.
 Os convertidos tinham que se tornar mawali
(membros de alguma tribo árabe).
 O império era governado por uma elite árabe que,
durante muito tempo, excluiu os novos convertidos,
deixando apenas aos árabes os direitos importantes
como o diwan, relacionado à distribuição dos
produtos das conquistas.
 O regime estava calcado na identidade árabe-
muçulmana e no prestígio religioso do califa.
 Em 644, Umar foi assassinado por um escravo persa e,
antes de morrer, nomeou uma Shura (colégio eleitoral
para eleger o novo califa).
 O nome escolhido foi Uthman ibn Affan, o primeiro
representante convertido da antiga aristocracia de
Meca.
 Os muçulmanos haviam tentado incorporar a antiga
elite de Meca ao império através da nomeação para
cargos, mas isto não conteve a insatisfação.
 Com Uthman, houve uma pausa nas guerras de
conquista.
 A tradição muçulmana aponta Uthman como um fraco.
 O califado de Uthman sofreu seu primeiro ataque com
as revoltas nômades contra o controle centralizado, por
estes povos não acreditarem no controle pessoal dele.
 Um ataque armado contra o califado partiu do Egito,
mas o centro da oposição era em Medina.
 Em 656, Uthman foi assassinado por rebeldes
muçulmanos. Isto levou a um enfraquecimento do
poder religioso e moral do califado. A partir de então o
poder passou a ter mais base política e financeira.
 Em Medina, Ali, tio do profeta, foi eleito califa.
 Em Meca, a oposição foi feita pelo triunvirato formado
por Aisha, Talha e Zubair.
 Em 656, Ali abandona Medina liderando um exército’.
Foi a última vez que Medina foi capital muçulmana e a
primeira vez que um califa esteve à frente do exército.
 Ali venceu a oposição na “Batalha do Camelo”, em
Basra, e fez da Kufa a capital do império.
 Contra Ali, levantou-se um movimento de oposição na
Síria, liderado por Muawiya (sobrinho de Uthman) a
frente de um exército forte, organizado e treinado nas
guerras de fronteira.
 Em 657, na Primeira Guerra Civil, os exércitos de Ali
venceram na Síria, mas a população local apelou para
uma “decisão de Allah” ao colocarem o Alcorão na
ponta das lanças.
 O apelo à “decisão de Allah” levou a um acordo de
arbitragem para definir o novo califa: Muawiya e Ali
escolheriam seus árbitros e se comprometiam a aceitar
o veredito.
 Enquanto Muawiya escolheu um representante hábil e
leal à sua causa, Ali optou por um árbitro neutro e
independente.
 A aceitação de Ali transformou-o de califa em
pretendente ao califado e isto enfureceu alguns grupos
que o apoiavam, como o caso dos Kharijitas, que se
rebelaram, foram reprimidos e partiram.
 Em 659 foi proferido o veredito da arbitragem em favor
de Muawiya, apontando para uma renúncia de Ali.
 Ali rejeitou o veredito, levando Muawiya a se apoderar
militarmente do Egito e privar o califa de boa parte dos
recursos econômicos do ímpério.
 Em 661, Ali foi assassinado por um kharijita, levando
seu filho Hasan a abandonar a luta.
 Por fim, Muawiya foi aclamado na Síria como novo
califa e, em breve, reconhecido por todo o império.
 Quando Muawiya subiu ao califado, a administação era
descentralizada e estava desorganizada, facilitando
movimentos nômades anárquicos.
 O vínculo teocrático que mantinha o califado foi
quebrado definitivamente com o assassinato de
Uthman por um muçulmano. Desta maneira, o império
árabe passa por um processo de secularização do poder,
no qual deixa de ser uma teocracia para ser uma
monarquia baseada na aristocracia árabe.
 Para centralizar seu poder, Muawiya transfere a capital
para Síria, estabelecendo-se em Damasco.
 O antigo vínculo religioso que servia de cimento social
deu origem a um vínculo moral baseado na lealdade ao
califa.
 Muawiya passou o governar tendo a Shura (conselho
de sheikhs com funções consultivas e executivas) como
principal instrumento em conexão com os Wufuds
(delegações de tribos).
 Nas províncias, o poder era representado por
governadores designados.
 A máquina administrativa (de herança perso-bizantina)
permaneceu intacta no que diz respeito aos
funcionários e suas funções.
 O antigo vínculo religioso que servia de cimento social
deu origem a um vínculo moral baseado na lealdade ao
califa.
 Muawiya passou o governar tendo a Shura (conselho
de sheikhs com funções consultivas e executivas) como
principal instrumento em conexão com os Wufuds
(delegações de tribos).
 Nas províncias, o poder era representado por
governadores designados.
 A máquina administrativa (de herança perso-bizantina)
permaneceu intacta no que diz respeito aos
funcionários e suas funções.
 O problema de sucessão do califa impôs-se por conta da
tradição árabe da eleição. Muawiya resolveu isto
indicando seu filho, Yazîd, para ser confirmado pela
Shura e pelo Wufud.
 Durante o reino de Muawiya, o império se desenvolveu,
expandindo-se para a Ásia Central e o Norte da África.
 Em 670, o califa fez um ataque a Constantinopla e
conseguiu dominar uma parcela da cidade por algum
tempo.
 As guerras contra Bizâncio tinham dupla função:
 Reforçar o prestígio religioso de Muawiya.
 Dotar o exército árabe de melhor preparação, disciplina e
experiência.
 Em 680, assumiu Yazîd, filho de Muawiya, sucedido três
anos depois por seu filho Muawiya II.
 O regime duro de Muawyia havia levado a uma
insatisfação dos muçulmanos do Iraque para com o
governo Sírio. Os árabes iraquianos apoiavam o filho de
Ali, Hussein, que seria assassinado em 680 catalizando
o desenvolvimento do partido opositor centrado nas
reivindicações da linha de Ali.
 A morte de Muawiya II, após seis meses de reinado,
levou à Segunda Guerra Civil.
 Com a guerra civil, dois pretendentes ao califado
apareceram:
 Ibn az-Zubair, filho do opositor de Ali, apresentou-se
na Arábia.
 Marwan, na Sïria, membro de um outro ramo da casa
Omíada.
 Marwan foi confirmado como califa e governou entre
648 e 685 com autoridade sobre a Síria e o Egito. Antes
de sua morte, conseguiu indicar seu filho.
 Abd al-Malik governou entre 685 e 705 e foi responsável
por restaurar a unidade do império.
 Base na ascendência árabe. Os árabes não pagavam
impostos e eram a maioria dos guerreiros com direito a
pensões e pilhagens (Diwan).
 Houve um aumento de proprietários rurais árabes,
principalmente for a da arábia, a partir de terras
compradas de não-árabes ou de doações feitas pelo
Estado.
 Os vastos domínios bizantinos e persas somavam-se aos
terrenos não cultivados dando origem às terras mawat,
arrendadas pelo califa às famílias árabes.
 Os arrendamentos (Qatai) implicavam a obrigação do
cultivo, da cobrança de impostos e de sua entrega ao
governo.
 Os proprietários árabes não pagavam impostos,
somente o dízimo (ushr).
 O número de Qatai aumentou rapidamente. As terras
podiam ser compradas e vendidas, acabando por
converterem-se em propriedades privadas. Os
proprietários dos Qatai não residiam nas terras, mas
nos Amsar ou na capital, entregando o cultivo a um
rendeiro nativo.
 Os árabes presentes nas províncias eram
majoritariamente funcionários e soldados.
 Muitos príncipes omíadas eram grandes latifundiários
que dedicavam seus esforços ao desenvolvimento de
suas propriedades.
 As enormes fortunas conquistadas pelos guerreiros
árabes não eram relativas ao comércio (mesmo em
Meca). Assim, o que existia era uma aristocracia de
guerreiros.
 A economia era predominantemente monetária, ainda
que alguns pagamentos ainda fossem feitos em gênero.
A cunhagem de moedas foi herdada dos persas e
bizantinos e se baseava no padrão ouro e prata.
 Com o enriquecimento, surgiu uma nova casta social, os
Mawali, muçulmanos que não eram descendentes das
tribos árabes.
 O grupo social mais empobrecido era dos Dhimis, não
muçulmanos adeptos das religiões protegidas.
 Com o enriquecimento, havia um fluxo de mawali para
os Amsar, o que desencadeou uma luta pela igualdade
de direitos econômico-sociais em relação aos árabes.
 No exército, os mawali também tinham um papel
menor, o de infantaria.
 O aumento do número de mawali criou uma grande
camada insatisfeita da população.
 Os mawali não podiam ser igualados aos árabes porque
isto sifnificaria uma redução das receitas e um aumento
das despesas, o que levaria um colapso total.
 Os árabes mais pobres do Iraque, que não estavam
inscritos no diwan, eram forçados a ocupar posições
idênticas aos mawali.
 O descontentamento dos mawali encontrou expressão
religiosa no Shia (xiismo), iniciado como apoio a Ali.
 A transferência da capital para Kufa, feita por Ali, aliou
o xiismo com o patriotismo local iraquiano contra o
governo omíada baseado na Síria.
 Os propagandistas xiitas apelaram para os mawali
convencendo-os de que a linha de sucessão correta para
o profeta era aquela de Ali e seus descendentes.
 O xiismo foi, portanto, a expressão religiosa da oposição
ao Estado representado pela submissão ao Sunni
(doutrina ortodoxa muçulmana).
 O xiismo se espalhou pela Pérsia e deu origem a uma
série de revoltas contra a aristocracia árabe.
 Os mawali xiitas introduziram o conceito de mahdi
(“guiado pela justiça”) para denominar o chefe político e
religioso.
 Os próprios xiitas dividiam-se em dois grupos:
 A linha mais moderada dos descendentes de Fátima
 Alinha mais extremista e mais próxima das reivindicações
mawali encabeçada por Muhammad ibn al-Hanafiya.
 Os Pietistas (em Meca e Medina) representavam um
sentimento antiestatal de origem árabe e a oposição
teocrática ao governo iniciado por Muwaiya.
 O movimento dos Khawarij (adeptos de Ali que se
revoltaram) representava a maior oposição de base pré-
islâmica.
 O movimento dos khawarij era uma força anarquista
que afirmava obedecer apenas ao Califa (que eles
mesmo nomeavam).
 Os khawarij acabaram esmagados por Abd al-Malik e
empurrados para Pérsia.
 A maior fraqueza interna dos omíadas estava nas rixas
entre as tribos árabes, reunidas em uma “liga” do norte
e outra do sul.
 A neutralidade omíada frente aos conflitos entre as
tribos árabes terminou com o apoio das tribos do sul ao
governo após a morte de Yazîd.
 O Iraque era a principal área de conflito na II Guerra
Civil.
 Nos primeiros anos de governo de Abd al-Malik houve o
reestabelecimento da ordem. Entre 690 e 693, o califa
concentrou-se em agir contra os rebeldes e aumentar a
centralização de poder com o apoio do exército sírio.
 A partir desse governo de al-Malik deu-se início ao
processo conhecido como “Organização e
Ajustamento”, um novo sistema imperial árabe que
substituía os sistemas persa e bizantino colocando a
língua árabe como idioma oficial da administração e
contabilidade.
 692 – Cunhagem árabe para substituir a persa-bizantina
 Criou-se um novo sistema tributário especificamente
islâmico.
 No califado de Walîd (705-715) as conquistas e a
expansão foram retomadas na Ásia Central, na Índia, na
Espanha e Península Ibérica.
 No califado de Sulaiman (715-717) houve a tentativa
fracassada de ataque a Constantinopla, cujo esforço
financeiro necessário levou a uma crise de poder na
dinastia omíada, tanto por uma crise fiscal quanto por
uma destruição do exército sírio.
 O califado de Umar ibn Abd al-Aziz executou uma
reforma fiscal que atendia aos interesses dos mawali.
 A grande conversão dos dhimis ao islamismo tinha
aumentado o número de proprietários rurais árabes
indignados com os privilégios da elite árabe.
 A solução fiscal foi exigir o pagamento integral de todos
proprietários rurais muçulmanos. Todavia, esta decisão
gerou uma revolta que a tornou impraticável. Só no
califado de Umar II (719) formou-se um acordo em que
os muçulmanos pagariam apenas o Ushr (dízimo
religoso), mas não o kharaj (imposto predial mais
levado).
 Umar II também equiparou os pagamentos do exército,
que anteriormente privilegiavam a milícia síria.
 As medidas signficaram maior exploração dos dhimis.
 As reformas levaram a um aumento das despesas
estatais e uma diminuição das receitas.
 Nos califados de Yazîd II (720-724) e Hishâm (724-743)
foi concebido um novo sistema fiscal, baseado nos
seguintes princípios:
 O kharaj passou a ser cobrado com base na terra e não mais no
proprietário.
 O território coberto pelo ushr permaneceu com vantagens
fiscais mais não poderia mais se expandir.
 Os dhimis, por outro lado,tinham que pagar também o Jizya
(imposto individual)
 Para garantir a execução do sistema, foram nomeados
superintendentes financeiros autônomos para executar
o senso de base para a tributação.
 Aumento dos conflitos tribais e das oposições xiita e
kharijita.
 A partir de 744 a legitimidade omíada passou a ser
contestada até mesmo na Síria.
 O fim veio do partido Hashimiya,, xiitas da corrente de
Muhammad ibn al-Hanafiya, que morreu em 716 e foi
sucedido por Al-Abbas ibn Ali, descendente de um tio do
Profeta. O centro de atividades encontrava-se no khurasan,
partindo da cidade de Kufa.
 Em 747 teve início o golpe hashimiya no khurasan chefiado
por Abu Muslim, representante de Ibrahim, filho de
Muhammad ibn al-Abbas.
 Marcha para o Oeste e proclamação de Abul-Abbas (irmão
de Ibrahim como califa)

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