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CURSO DE ECONOMIA

BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
Graduação em Ciências Econômicas
Código: 3138.9 (DCON101)

Prof. Dr. Ricardo Zimbrão Affonso de Paula


UNIDADE 2
A Economia Brasileira do Regime
Militar– 1964/1984
CAPÍTULO 6
Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
1 – Introdução
• A disputa pela sucessão de JK teve como principais candidatos:
- Jânio Quadros (Gov. SP) – PTN – com apoio da UDN;
- Ademar de Barros – PSP;
- Gal. Henrique Lott – PSD – com apoio do PTB.
• Jânio Quadros venceu as eleições com um projeto que defendia, pelo
lado econômico, uma política anti-inflacionária; pelo lado político, o
combate à corrupção que, dizia, foi a principal característica do
governo anterior.
• João Goulart foi eleito novamente vice-presidente.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
2 – O curto governo J. Quadros
• Posse: J. Quadros foi empossado em 31 de janeiro de 1961. A primeira medida de seu governo foi lançar um pacote de
medidas macroeconômicas que incluía:
- Política Cambial: forte desvalorização cambial e unificação dos mercados de câmbio (Instrução 204 da SUMOC);
- Política Fiscal: ajuste fiscal, com cortes e contenções do gasto público;
- Política Monetária: contracionista e com redução dos subsídios concedidos às importações de petróleo e trigo.
• A Estratégia do governo Quadros:
- Previsão para o ano de 1961 – esforço de estabilização doméstica e a recuperação do crédito externo.
- A partir de 1962, retomada do crescimento dentro do tripé – Estado, Capital Estrangeiro e Privado Nacional.
• O Fim:
- Sem base parlamentar de sustentação, com o Congresso dominado pelo PSD e pelo PTB;
- Com tomadas de decisões erráticas no plano social – proibição de brigas de galo, proibição do uso de biquínis
nas praias;
- Política externa independente. Condecoração de Che Guevara com a principal condecoração feita pelo governo
brasileiro à estrangeiros (Ordem do Cruzeiro do Sul);
- Renúncia em 25 de agosto de 1961. Um governo que durou apenas 4 meses.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
3 – O tumultuado Governo João Goulart – 07/09/1961 – 01/04/1964
• Jango – viagem à China na ocasião da renúncia de Quadros:
- Oposição dos militares à sua posse;
- Resistência legalista no RS – Leonel Brizola;
- Solução parlamentarista para garantir a posse.
• Jango presidente – Tancredo Neves primeiro-ministro:
- Gabinete T. Neves: ministro da Fazenda – Walter Moreira Salles;
- Tranquilizar as forças conservadoras e o mercado.
- Jango – apoiado pelos sindicatos de trabalhadores e pela
esquerda.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
3.1 – Resultados econômicos no ano de 1961

Resultados Econômicos - ano 1961

PIB 8,6%
Inflação-IGP 47,8%
FBCF/PIB 13,1%
Exportações/US$
1,4 Bilhão
Milhões
Dívida Externa
2,0%
Líquida/Exportações
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• Comentários:
- Crescimento do PIB – maturação dos diversos projetos de
investimentos iniciados na gestão JK;
- Expressiva elevação da inflação, passando de 30,5% em 1960
para 47,8% em 1961 (dez./dez.)
- Recuo da taxa de investimento – indício de que o auge dos
investimentos pesados havia passado.
- Saldo positivo das exportações;
- Redução da relação dívida externa líquida/exportações – 2,7%
em 1960, para 2,0% em 1961.
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3.2 – O Plano Trienal – 1962
• O ano de 1962 foi marcado pela deterioração do quadro econômico. Fator
principal:
- Crise Política:
# Tensão entre o presidente e seus apoiadores, pressionando
um governo mais à esquerda e as forças conservadoras do congresso que
nomeavam o primeiro-ministro.
# Três primeiros-ministros no ano de 1962 – Auro de Moura
Andrade, Brochado da Rocha e Hermes Lima.
# Tensão política afetou a economia:
$ Elaboração do PLANO TRIENAL DE
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – Celso Furtado (Ministro
Extraordinário para Assuntos de Desenvolvimento Econômico).
• Lançamento do Plano: 30/12/1962
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• Objetivos do Plano:
1 – Garantir taxa de crescimento do PIB de 7% a.a – próximo da média
dos anos anteriores;
2 – Reduzir a taxa de inflação para 25% em 1963, visando alcançar
10% em 1965;
3 – Garantir o crescimento real dos salários à mesma taxa do aumento
da produtividade;
4 – Realizar a reforma agrária como solução não só para a crise social
como para elevar o consumo de diversos ramos industriais;
5 – Renegociar a dívida externa para diminuir a pressão de seu serviço
sobre o balanço de pagamentos.
• Resultados econômicos no ano de 1962
- PIB – 6,6% ante a 8,6% em 1961;
- Inflação – 100%.
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3.3 – Fim do Parlamentarismo, Fracasso do Plano Trienal e


Radicalização Política
• Em 06/01/1963 ocorreu o plebiscito com a vitória do
presidencialismo.
- Esse movimento fortaleceu, mesmo que aparentemente, o João
Goulart.
- Dessa forma, pôde-se implementar o Plano Trienal.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
• Execução e fracasso do Plano Trienal
- A ideologia contida no Plano era: conciliar crescimento
econômico, reformas sociais e combate à inflação.
- Sobre o combate à inflação: diagnóstico da equipe econômica –
excesso de demanda causado pelo déficit público.
# Ações de cunho “ortodoxo”:
$ Correção dos preços públicos defasados;
$ Realismo cambial;
$ Corte de despesas;
$ Controle de expansão do crédito ao setor privado;
$ Aumento do compulsório sobre depósitos à vista.
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- A estratégia de desenvolvimento – tradição cepalina:
# Diagnóstico: a crise econômica brasileira do período era,
acima de tudo, uma crise do modelo de desenvolvimento. Sua
superação deveria ser o aprofundamento do próprio modelo.
# Aprofundar o processo de industrialização via
substituição das importações;
# Ampliar o mercado interno:
$ Reforma agrária
$ Políticas voltadas para à redistribuição de renda.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
- O problema do Balanço de Pagamentos:
# Março de 1963 – missão brasileira em Washington – objetivo: negociar o
reescalonamento da dívida externa e obter ajuda financeira adicional.
# Indisposição do governo norte-americano:
$ Lei de Remessa de Lucros (Lei n. 4.131-03/09/1962).
$ Artigos 31 e 33 – limite a 10% sobre o capital registrado as remessas de lucro ao
exterior; considerava as remessas em excesso a esse limite como retorno de capital; e determinava que os
lucros em excesso ao mesmo limite, quando não remetidos, seriam registrados como capital complementar,
não dando direito à remessa de lucros no futuro.
$ Resultado dessa lei: queda de 40% em comparação o período 1956-1962. Ou
seja, média anual de entrada de capital estrangeiro no país entre 1956-1962 foi de US$ 150 milhões. Em 1963,
menos de US$ 90 milhões.
$ Os norte-americanos foram diretamente atingidos com essa lei.
$ Além dessa lei, os EUA estavam descontentes com a política externa brasileira,
na qual tinha uma postura bastante independente, desde JQ.
% Aproximação com Cuba e outros países socialistas;
% Apoio ao anticolonialismo na África;
% Apoio ao pleito de ingresso da China no ONU.
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• O fracasso do Plano. Fatores:
- Fracasso na ajuda externa;
- Crítica interna à medidas contracionistas para combater a inflação, que resultou no
abandono da ortodoxia econômica;
- Restituição de subsídios – trigo e petróleo importado;
- Aumento dos salários do funcionalismo público;
- Reajuste do salário mínimo.
- Resultado:
# Aumento da taxa mensal da inflação: em abril de 1963, caiu para 1,6%,
resultado positivo no início de implementação do Plano.
$ Em maio começou a escalada de 4,0%, mantendo-se em patamar
elevado até o final de 1963.
# Descontrole das contas públicas;
# Permanência dos déficits no BP;
# Redução drástica de entrada de capitais;
# Forte desaceleração da atividade econômica.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964
• Radicalização Política
- Politicamente, agravava-se a radicalização no país, envolvendo:
# De um lado, invasões de terras e expropriação de empresas
estrangeiras;
# De outro, o acirramento da conspiração militar contra Jango;
# Esquerda: demanda por acelerar as reformas de base
(agrária, universitária, do capital estrangeiro);
# Direita: reação com manifestações, como a Marcha com Deus
pela Liberdade;
# Crescente politização das forças armadas – superiores direita;
inferiores, esquerda.
- Resultado: O Golpe Civil-Militar em 01/04/1964.
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4 – Conclusão
• Os governos Quadros e Jango foram derrotados pelos seguintes
fatores:
- Dificuldades de formar coalizões anti-inflacionárias – entendida
como uma conjunção de interesses políticos, empresariais e sindicais
que se traduzisse em respaldo para medidas de estabilização;
- Herança macroeconômica do período JK – alta inflação, quadro
deteriorado das finanças públicas, déficit gigante no BP.
- Inábeis na construção de consensos;
- Decisões erráticas.
Capítulo 6: Os Governos de Jânio Quadros e João Goulart – 1961/1964

• Referências

• ABREU, M. P.. Inflação, estagnação e ruptura: 1961-1964. In: ABREU,


M. P.. A ordem do progresso. Cem anos de política econômica
republicana – 1889/1989. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1990. Cap.
8, pp., 197-212.
• VILLELA, A.. Dos “anos dourados” de JK à crise não resolvida (1956-
1963). In: GIAMBIAGI, F. ET ALLI. Economia brasileira contemporânea
– 1945-2004. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2005, Cap., 2, pp., 45-
68.

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