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4.1.3.

Wittgenstein e Kant

Poder-se-ia comparar a posição de


Wittgenstein com a de Kant?
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “No Tractatus há um processo que permite
traçar os limites entre o inefável e mostrar que
um mundo apenas é possível à medida que
ele pode ser exprimido linguisticamente;”
(Zilles, 1991, p.89).
• “Para Kant, entretanto, a experiência possui
não só forma, mas também conteúdo.” (Zilles,
1991, p.89).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “Enquanto no Tractatus o mundo é um
pressuposto situado aquém da experiência, sem
conteúdo propriamente dito, para Kant, as
proposições sintéticas a priori se refere
exclusivamente, à forma da experiência.” (Zilles,
1991, p.89).
• “Enquanto, no Tractatus, a linguagem não tem
capacidade auto-referencial, segundo Kant, é
possível formular proposições significativas no
domínio transcendente;” (Zilles, 1991, p.89).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “Enquanto, no Tractatus, as questões metafísicas,
éticas e estéticas, como as religiosas, não são
possíveis de formulação linguística, Kant recorre à
razão prática.
• “Kant tentou demarcar os limites do pensamento;
Wittgenstein, os limites da linguagem. Kant
delimitou o conhecimento factual; Wittgenstein,
o discurso factual. Ambos relegaram a metafísica
a segundo plano.” (Zilles, 1991, p.89,90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “Enquanto Kant situava as verdades da
religião e da moral na Crítica da razão prática,
Wittgenstein as situa no campo místico.”
(Zilles, 1991, p.90).
• “Wittgenstein rejeitou a metafísica como
sistema filosófico. Neste ponto aproxima-se de
Kant, estabelecendo limites lógicos ao
conhecimento.” (Zilles, 1991, p.90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “Mas, embora rejeite a metafísica como sistema, desde
o Tractatus até as Investigações defronta-se sempre
com algo que não pode ser dito, que todavia se
mostra.” (Zilles, 1991, p.90).
• “À primeira vista, é mais radical do que Kant, que
menosprezou o discurso metafísico de seu tempo,
garantindo lugar para o homem expressar a
consciência que tem do dever moral. Kant admitira
uma linguagem que, excedendo os limites do que pode
ser analisado logicamente pode ser dito em conceitos
como Deus, imortalidade da alma etc. (Zilles, 1991,
p.90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “Para Wittgenstein, a consciência da vida
moral e prática situa-se fora do âmbito da
filosofia. Trata-se de metafísica do silêncio.”
(Zilles, 1991, p.90).
• “Todo o Tractatus depende da concepção da
linguagem. Cabe, pois, examinar se a
fundamentação de sua teoria da linguagem é
suficientemente sólida.” (Zilles, 1991, p.90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “A concepção de linguagem do Tractatus parte
do fato de que o homem faz figurações da
realidade.” (Zilles, 1991, p.90).
• “Primeiro a linguagem é o conjunto das
proposições elementares, e estes conjuntos de
nomes que figuram, num perfeito paralelismo,
os fatos atômicos, conjuntos de coisas ou
objetos.” (Zilles, 1991, p.90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “A proposição é concebida como reprodução
exata do fato que representa. A proposição
elementar é a que mantém contato direto
com a realidade.” (Zilles, 1991, p.90).
• “Pelo princípio de extensionalidade, as
proposições ou são elementares ou
complexas. As últimas são funções de verdade
das elementares.” (Zilles, 1991, p.90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “Como há paralelismo completo entre
linguagem-mundo, proposição-fato, o que vale
da linguagem vale também do fato, do mundo.
Cada proposição é um átomo linguístico como o
mundo é um conjunto de átomos ontológicos.”
(Zilles, 1991, p.90).
• “Toda a linguagem está baseada nas proposições
elementares entendidas essencialmente como
figurações de fatos atômicos, ou seja, empíricos.”
(Zilles, 1991, p.90).
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “A primazia da linguagem em face ao mundo e
à concepção especular e passiva da
proposição é o ponto de partida do qual
deriva tudo.” (Zilles, 1991, p.90).

• “A questão é: como poderão as proposições


elementares, sendo determinadas, gerar
proposição universal?”
4.1.3. Wittgenstein e Kant
• “A concepção de linguagem do Tractatus não
permite integrar as leis científicas e,
consequentemente, não consegue fundamentar
uma filosofia da ciência.” (Zilles, 1991, p.90).
• “O próprio conceito de filosofia como crítica da
linguagem é anulado pelo fato de expor
concepções de mundo, substância, fatos, objetos
etc., no sentido tradicional de filosofia.” (Zilles,
1991, p.90,91).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Embora, à primeira vista, a partir da concepção
de linguagem seja possível a existência de
metafísica, materialmente tal se encontra no
Tractatus, como já mostramos.” (Zilles, 1991,
p.91).
• “Afirma a existência de domínio metafísico
centrado no problema do mundo e do homem.
Embora não se possa falar de metafísica, dela
Wittgenstein consegue falar muito.” (Zilles, 1991,
p.91).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Da discutível concepção de linguagem deriva
igualmente discutível concepção de mundo.
Como o mundo não passa de um derivado da
linguagem, objetos e fatos atômicos, na
verdade, são elementos puramente lógicos e
convencionais.” (Zilles, 1991, p.91).
• “Assim o atomismo funda-se exclusivamente
em razões lógicas, não ontológicas ou físicas”
(Zilles, 1991, p.91).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Tudo isso porque esquece o fundamento
antropológico da linguagem, pois a linguagem é
vinculada ao homem, seu elemento ativo, síntese
de racionalidade e sensibilidade. O homem cria a
linguagem.” (Zilles, 1991, p.91).
• “Nela, nas proposições mais elementares, está
presente o geral. Para o homem, perceber é já
conceber. As proposições mais elementares são
síntese de individual e universal.” (Zilles, 1991,
p.91).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Wittgenstein ignora o papel ativo do sujeito e
o caráter universal que a razão confere ao
conhecimento humano.” (Zilles, 1991, p.91).
• “A forma lógica, como postulado para o
paralelismo linguagem-mundo, é pressuposto
nada evidente. Antes parece um deus ex
machia para resolver todos os problemas. É
realidade metafísica que não se pode dizer,
mas só mostrar.” (Zilles, 1991, p.91).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Embora verbalmente rejeite a metafísica
como carente de sentido, há no Tractatus
afirmações metafísicas implícitas e explícitas,
as últimas sob o nome de místico.” (Zilles,
1991, p.91).
• “Entre as afirmações metafísicas implícitas
podemos citar três tipos: a) a existência e
caracterização da forma lógica, da substância
e seus objetos;
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
b) As teorias sobre a linguagem, o mundo, a
filosofia, a ciência, a lógica etc; c) a metafísica
explícita nas proposições sobre a ética e o
místico.” (Zilles, 1991, p.91).”
• “É esta metafísica que dá à concepção de
linguagem caráter provisório. A interpretação
dada à obra pelo neopositivismo fixou-se na
concepção de linguagem e silenciou os
pressupostos metafísicos.” (Zilles, 1991, p.91).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Ao mesmo tempo que o Tractatus apresenta
determinada concepção de linguagem que
exclui a metafísica, não só a pressupõe, mas
até a formula.” (Zilles, 1991, p.91,92)
• “Em resumo, é obra cheia de contradições e
de caráter provisório. Por isso justifica-se a
segunda grande obra do autor, da qual aqui
não trataremos.” (Zilles, 1991, p.92).
4.1.4. Crítica à crítica de Wittgenstein
• “Portanto, dizer que Deus não é logicamente
pensável nem dizível não significa dizer que
Deus não existe. Deus apenas não é questão
de lógica ou de ciência empírica.” (Zilles, 1991,
p.92).

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