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DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL, GOVERNANÇA

CORPORATIVA E CONTROLE ORGANIZACIONAL: UMA RELAÇÃO


NECESSÁRIA.

1 – INTRODUÇÃO

Considerando-se a cadeia completa de usuários da informação contábil - gestores,


administradores, investidores, governo, clientes, etc., de fato os externos são o seu elo mais frágil.
A dependência dos usuários externos em relação à acurácia das informações que recebem sobre
as empresas de seus interesses, vem sendo percebida ao longo do tempo e a percepção desta
fragilidade algumas vezes se materializa em momentos de frustração e incredulidade.
Informações distorcidas, ou não prestadas pela administração de uma empresa, transcende o
ambiente de nações, ou de mercados, e é corporificada normalmente por casos tais como: o
difundido crash da bolsa de Nova Iorque, dos bancos Econômico, Nacional e Santos e de outras
empresas como Worldcom, Enron e Parmalat.
 Assimetria informacional pode ser entendida como uma situação na qual uma das partes da
transação não possui toda a informação necessária para analisar o que está sendo proposto e é um
assunto complexo, tratado pela Teoria da Agência, cujo cerce é o estudo sobre a relação do principal
e do agente, surgindo quando o agente se compromete a realizar certas tarefas para o principal e
este se compromete a remunerá-lo.
 A alta administração de uma empresa não participa de todas as atividades e operações efetuadas na
empresa. Assim, orienta-se por relatórios contábeis e financeiros formatados para a sua necessidade
de acompanhamento do negócio. Essas informações refletem eventos econômicos que foram
registrados pela contabilidade, mas não garantem que todos aqueles que ocorreram no contexto
administrativo da organização estejam refletidos naqueles relatórios. Isto é, estes usuários também
estão, de certa forma, distantes do momento e do cenário em que decisões são tomadas e
implementadas, ocorrendo isto devido ao fato de o porte da organização nem sempre o permitir ou
mesmo pela simples razão de que os gestores tendem a possuir um maior volume de informações do
que aqueles que eles registram.

2 - A INFORMAÇÃO CONTÁBIL, SEUS USUÁRIOS E ASPECTOS


EXISTENTES NO ENTORNO DE SUA DIVULGAÇÃO.

2.1 Os Atributos da informação contábil

 Informações com finalidades genéricas baseiam-se na presunção de que usuários significativamente


numerosos demandam informações semelhantes e que essas não visam a satisfazer necessidades
específicas de usuários individuais. Entretanto, os usuários da informação podem ter motivações e
necessidades diversas para o seu uso.
Os relatórios e demais informações padronizadas de forma genérica podem limitar sua utilidade e, não
raro, frustrar as expectativas de cada um desses usuários. A informação útil, portanto, passa a ser aquela
que chega ao usuário no momento certo e no formato por ele desejado.
o importante é possuir informações adequadas
Segundo Stair (1998) a boa informação deve ser completa, econômica, flexível, confiável, relevante,
tempestiva, rastreável e atender às expectativas dos interessados por elas.
Na tentativa de definir uma abordagem adequada para isto, as autoras analisam, em seu estudo, as
propostas de outros autores, baseadas no produto (informação enquanto coisa) e no usuário (abordagem
subjetiva).
características qualitativas que devem nortear, especificamente, as informações contábeis, Hendriksen
e Van Breda (1999) apresentam as seguintes: benefícios e custos; relevância; confiabilidade;
comparabilidade, e materialidade.
Segundo Iudícibus (1998), a informação necessita ser acompanhada de qualidades, as quais, segundo
sua ótica, consistem em: tempestividade, integralidade, confiabilidade, comparabilidade,
compreensibilidade.
ATRIBUTO FASB - IASB - CFC -
Financial International Conselho Federal
Accounting Accounting de Contabilidade.
Standards Board Standards Board
Compreensibilidad Qualidade específica do Idem ao FASB, porém Idem ao FASB e IASB,
usuário que tenha hierarquicamente no porém
e
conhecimento prévio. mesmo nível de hierarquicamente no
Hierarquicamente a relevância, mesmo nível de
mais confiabilidade e confiabilidade,
importante. comparabilidade tempestividade e
comparabilidade.

Relevância Possuir valor preditivo e Influenciar na tomada


ser oportuna. É uma de
qualidade principal ou decisão; possuir valor
primária. preditivo e de feedback

Confiabilidade Verificável, imparcial, Livre de erros materiais, Elemento essencial na


neutra e fidedigna. É a fidedigna, neutra, relação entre usuário e
segunda e última imparcial e completa a
qualidade principal ou informação.
primária.

Materialidade Limite ou restrição para Considerada para o


a julgamento da
ATRIBUTO FASB - IASB - CFC -
Financial International Conselho Federal
Accounting Accounting de Contabilidade.
Standards Board Standards Board
Neutralidade Imparcialidade. Está Idem FASB
abaixo de
confiabilidade.

Totalidade Completa; abaixo de


confiabilidade

Comparabilidade Qualidade secundária Inclui a consistência e Possibilita o


ou está no mesmo nível da conhecimento
interdependente; inclui relevância, da evolução da situação
a compreensibilidade e analisada ao longo do
consistência. confiabilidade. tempo.

Tempstividade No momento certo; está Restrição à relevância e No momento certo;


abaixo de relevância à manutenção de
confiabilidade periodicidade na
elaboração e divulgação
das informações

Benefícios > Considerada restrição Considerada restrição à


geral: os custos da relevância e à
Custos
produção da confiabilidade
Análise Quadro 1

 As características evidenciadas pelo FASB, IASB e CFC, com algumas peculiaridades ou


exceções, convergem com as apregoadas pelos autores explorados no texto anteriormente,
como Iudícibus; Hendriken e Van Breda; Stair, entre outros, e também entre si, ou seja, entre os
elementos constituintes da hierarquia de atributos que conferem qualidade e utilidade às
informações contábeis não se notam diferenças significativas.
 Pode-se notar a essencialidade em se observar as características qualitativas para que a
informação possa ser útil ao usuário, independentemente da hierarquia adotada pelos órgãos
normatizadores, procurando-se evitar, dessa forma, a simples comunicação de dados aos
usuários, muitas vezes intempestivos e irrelevantes, que podem prejudicar sensivelmente suas
tomadas de decisões.

2.2 - Os usuários

 Segundo Hendriksen e Van Breda, o uso da informação atende a diferentes objetivos de cada grupo de
usuário, seja para fins lucrativos ou não. E para isso a estruturação de relatórios atende à essa
necessidade. Mas, os obstáculos giram em torno da particularidade de cada modelo de usuário.
 A divulgação das informações contábeis da empresa é importante para o mercado externo, e o usuário
interno também toma decisões relacionadas as operações da empresa. Sendo assim, a informação
contábil interessa tanto aos usuários internos quanto aos externos de acordo com os interesses
específicos de cada um. Pois o usuário externo identifica oportunidades de investimentos, otimiza o
retorno do investimento realizado, decide sobre a permanência ou a retirada dos investimentos e avalia
a capacidade de geração futura de caixa da empresa, e o usuário interno apoia processos decisórios,
monitora o desenvolvimento organizacional e presta contas. Todos esses interesses, externos e
internos, estão em torno da gestão dos negócios.
2.2.1 Usuários externos

Os usuários externos são os acionistas e instituições financeiras, os fornecedores, o governo e outros
também considerados como stakeholders, que são os indivíduos, grupos de indivíduos e instituições
que definem o sucesso da empresa ou afetam sua habilidade em definir e administrar
suas relações com cada um de seus grupos de stakeholders principais. Concentram suas atenções,
de forma geral, em aspectos mais genéricos, expressos nas demonstrações contábeis.

2.2.2 Usuários internos

Os usuários internos incluem os administradores de todos os níveis, que usualmente se valem de
informações mais aprofundadas e específicas, e tem como objetivo primário a administração do
negócio. Depende fundamentalmente da informação contábil, e sua ausência remete a resultados
indesejáveis.

Em resumo, a contabilidade é um dos principais elementos para tomada de decisões, pois armazena
os eventos econômicos da empresa e sustenta informações úteis e adequadas necessárias para o
processo de gestão. Registra, acumula, mensura e disponibiliza a informação dos relatórios dos
usuários. Esse processo de comunicação da informação, pode levar a informação contábil a perder
parte de suas propriedades, ou a não conservar os seus atributos por causa do distanciamento físico
existente entre as diferentes áreas para cada atividade, o que acarreta um volume menor de
informações do que os profissionais que as disponibiliza. Essa é a assimetria informacional, do qual
vem os Princípios Fundamentais de Contabilidade que procuram minimizar a perda dessas
informações, protegendo os interesses de usuários externo e interno quanto à qualidade das
informações. A quantidade grande de profissionais que atuam podem levar a descentralização da sua
contabilidade, pois estes podem não possuir conhecimentos específicos sobre os cuidados
necessários.
Os riscos de perda são causa do distanciamento citado, mesmo que os sistemas de informações sejam
formatados para estarem dentro dos padrões da contabilidade de cada transação. Para tal fato ser
evitado, os sistemas devem ser construídos com base em normas e princípios contábeis sólidos, que
mesmo não sendo perfeitos, proporcionam segurança na uniformidade na formação do sistema de
dados contábil.

2.3 – Assimetria da Informação


Empresas são controladas e administradas por seus próprios donos,a propriedade e o controle delas
estão centralizados no mesmo indivíduo,isto é, no proprietário.A medida que elas se
desenvolvem,tornando-se mais complexas,surge a necessidade de delegação do controle pelo
proprietário aos administradores.
Essência desse principio é que levou as investigações que culminaram na chamada ‘Teoria da
Agência’.
Coase abordou de forma pioneira a natureza da firma,que se refere a consideração dos aspectos
internos da empresa,enfatizando a imagem do empreendedor como a figura-chave para a alocação
correta de recursos no processo de tomada de decisão.Trata-se também das questões que são vistas
como conseqüência de contratos implícitos(parcerias informais) e explícitos(parcerias formais de
trabalho) que são estabelecidos entre agentes,como clientes,executivos.
Devido a separação da propriedade e do controle da empresa,ocorreram profundas mudanças na
forma de gerenciá-la,visto que os agentes tendem a considerar nas tomadas de decisões não apenas o
interesse do principal,o proprietário,mas também seus próprios interesses.
A relação entre o principal e o agente não se restringe apenas aos proprietários e administradores.
A Teoria da Agencia se preocupa com os problemas causados por informações incompletas fornecidas
pelo agente ao principal ou para outros stakeholders por ela interessados.Esse problema é conhecido
como Assimetria da Informação.
Segundo Milgron e Roberts, a assimetria de informação pode ser caracterizada como uma situação na
qual uma das partes da transação não possui toda a informação necessária para averiguar se os termos
do contrato que esta sendo proposto são mutuamente aceitáveis e serão implementados.
De acordo com Marchet, a assimetria de informação é um fenômeno que leva as partes envolvidas a
despenderem recursos para uma das partes observar ou monitorar a outra,o que eleva o custo total da
relação,que é efetivada a partir de um contrato,seja ele formal ou informal.
A assimetria de informações também pode ocorrer quando o proprietário possuir dificuldades para
observar todas as ações do administrador,que podem ser diferentes das que ele mesmo teria escolhido.
Essa situação cria o que é conhecido como Risco Moral,que segundo Milgrom e Roberts,é uma forma
de oportunismo que surge apenas depois que é efetivado um contrato.O risco moral é um fenômeno
muito comum nas organizações.
O problema do risco moral, segundo Marchet ‘aumenta em situações nas quais uma das partes da
transação – gerentes,consumidores,empregados,entre outros – sente-se tentada a agir de forma
tendenciosa ou a fornecer informações distorcidas para seu próprio favorecimento’
Em relação a esses problemas de assimetria de informação,Martinez define quatro momentos criticos
principais que demandam especial atenção:

- Problemas na Criação
- Problemas do Controle
- Problemas do Desempenho
- Problemas da Conclusão
2.4 – Os princípios fundamentais de contabilidade e o alinhamento dos
atributos da informação

Objetivo:analisar se os princípios contábeis propiciam condições de alinharem as expectativas dos


usuários internos e externos e mais especificamente,de garantirem que a informação tenha os atributos
necessários para a sua adequada divulgação e compreensão pelos seus receptores.
Carvalho e Lemes fizeram um estudo,cuja proposta foi a de verificar o estagio de harmonização das
normas contábeis brasileiras com relação ao que apregoa o mencionado IASB( Internacional
Accounting Standards Board).Nesse estudo apontaram exemplos da falta de harmonização entre as
normas contabeis,como foi o caso da Aracruz,Copel,Telesp,etc.
Foi decorrente de diferenças encontradas no reconhecimento e na mensuração das transações e na
estruturação e apresentação das demonstrações contábeis.

Princípios da contabilidade
Os fundamentos da contabilidade,segundo Hendriksen e Van Breda,se classificam em: entidade,
empresa em funcionamento, periodicidade,incerteza e conservadorismo, unidade monetária.
Alem dessas classificação Iudícibus apregoa a existência das convenções,que também são
normatizadas pelo CFC e pela CVM – IBRACON.Entre elas,estão:

a) Objetividade: estimativa – julgamento e relações lógicas entre procedimentos de mensuração e o


objeto dele;
b) materialidade: custos x benefício da informação;
c) conservadorismo: a regra é custo ou mercado,entre eles o que for menor;
d) consistência: adoção dos mesmos critérios contábeis durante os períodos
e) Qualidade da informação e prevalência da essência sobre a forma:
tempestividade,confiabilidade,comparabilidade.Cabe aqui destacar que essas características também
são ressaltadas pelo FASB e IASB.

3 – MECANISMOS MINIMIZADORES DA ASSIMETRIA


INFORMACIONAL:GOVERNANÇA CORPORATIVA VERSUS CONTROLE
ORGANIZACIONAL

3.1 – A transparência na divulgação das informações contábeis e a


governança corporativa

 Para que uma empresa possa atrair maiores investimentos, principalmente sendo ele estrangeiro, ela
deve manter as informações transparentes e divulgadas tanto para o cliente externo quanto para os
internos. Estes, da governança corporativa devem controlar o desempenho da organização a fim de
criar uma proximidade com acionistas, alinhando seus interesses e objetivos.
Porém os indivíduos que participam da organização e são representantes desta não participam do
processo de decisão, mesmo tendo conhecimento das práticas da empresa. Por isso surgiu a lei
Sarbanes-Oxley, com intuito de minimizar os conflitos de interesses internos.
O IBGC (Instituto de Governança Corporativa) é um dos defensores da prática da transparência
organizacional, e cabe às empresas adotarem este método para tranquilizar os seus proprietários e
tornar eficazes os próprios gestores.

3.2 – Minimização da assimetria informacional através da visão do controle


organizacional.

Com as informações da organização sendo divulgadas com transparência, é necessário que os


administradores assegurem que o capital investido pelos acionistas retornará, garantindo assim a eficácia
do negócio.
A disponibilização das práticas organizacionais garantem o melhor funcionamento da empresa, para
que todos fiquem cientes das informações contábeis e acompanhem os resultados esperados.

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