A atividade de repressão de ilícitos administrativos contra o
meio ambiente é expressão do poder de polícia ambiental a cargo da Administração Pública federal, estadual e municipal.
“O poder de polícia ambiental é a atividade da
Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou de outras atividades dependentes de concessão, autorização/permissão ou licença do Poder Público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.” (Leme Machado). FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL
CF, art. 23, III, IV, VI e VII – Competência administrativa
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural
local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
§ 1o Qualquer pessoa legalmente identificada, ao
constatar infração ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder de polícia. § 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.
§ 3o O disposto no caput deste artigo não impede o
exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput. Art. 225. (...) § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
- Independência das esferas administrativa,
penal e cível. FUNDAMENTOS LEGAIS DO PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL MUNICIPAL
Lei 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais. O
Decreto Federal 6.514/2008 regulamenta esta lei.
Lei Municipal 17.894/2004 – Código Ambiental do
Município de Santarém.
São a espinha dorsal do trabalho da fiscalização,
podendo ser complementadas por outras legislações, resoluções do CONAMA, etc.
Deve-se fundamentar o máximo possível na lei.
AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL
O auto de infração é um ato administrativo e, como
tal, deve obedecer a certos pressupostos e observar os princípios da Administração Pública.
Princípios do direito administrativo: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Além desses, notadamente: motivação, proporcionalidade e razoabilidade. PRESSUPOSTOS DO ATO ADMINISTRATIVO
1. Competência – a realização de atividades
fiscalizatórias deve estar incluída nas atribuições do cargo/função ocupado pelo agente.
LCA, art. 70. (...) § 1º São autoridades competentes
para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
A SEMMA é órgão do SISNAMA.
§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia.
§ 3º A autoridade ambiental que tiver
conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade.
Caso as regras de competência não sejam
observadas, o ato pode ser anulado por incompetência do agente autuante. Código Ambiental de Stm – Art. 138: A fiscalização do cumprimento das disposições deste Código e das normas dele decorrentes será exercida pelo órgão ambiental municipal, através de quadro próprio, de servidores legalmente empossados para tal fim (e por agentes credenciados ou conveniados). 2. Forma – observância das formalidades (requisitos) indispensáveis à existência ou à seriedade do ato. Ex: correto preenchimento dos autos de infração, embargo etc.
Tais formalidades decorrem, sobretudo, da lei. A
inobservância gera vício de forma, que pode ensejar a nulidade do ato.
Princípio da instrumentalidade das formas e
possibilidade de convalidação de meras irregularidades e vícios sanáveis. Vício sanáveis: poderão ser convalidados (corrigidos e ratificados) pela autoridade coatora, após parecer da Procuradoria.
- Porém, em regra, deve ser comunicado o
“saneamento” do processo e reaberto prazo para defesa.
Vícios insanáveis: anulam o auto de infração e
determinam o arquivamento do processo.
- Porém, mesmo sendo nulo, se estiver provada a
infração, pode ser lavrado outro auto. Formalidade mais essencial: a correta descrição do fato infracional e definição da autoria.
São vícios insanáveis aqueles em que a correção implica
a modificação do fato descrito no auto de infração.
“Causar dano a UC”... “Fazer funcionar atividade
econômica sem licença”... Não pode ser genérico e nem transcrever literalmente o que está na lei.
O erro no enquadramento legal da infração não implica
vício insanável, podendo ser alterado pela autoridade julgadora mediante decisão fundamentada que retifique o auto de infração.
Ou seja: o infrator se defende do fato e não da lei.
3. Objeto – o objeto ou conteúdo do auto de infração ambiental é a imposição de sanções administrativas por cometimento de ilícito administrativo contra o meio ambiente (multas, embargos, apreensões, interdições).
O ato de infração deve possuir “objeto lícito”, ou
seja, não pode aplicar sanções ou reprimir condutas não previstas em lei ou violar direitos fundamentais dos cidadãos presentes na Constituição. 4. Motivo – são as circunstâncias fáticas (motivo fático) e causas jurídicas (motivo de direito) que autorizam o ato. O fato que motiva o auto de infração é a infração ambiental.
A prova da inexistência do motivo abala o ato
administrativo, como também pode ser argumentado pela má interpretação ou incorreta aplicação da lei, ou, ainda, pela inconstitucionalidade.
Os agentes administrativos, porém, estão
obrigados a aplicar a lei vigente e não cogitar sobre a sua constitucionalidade ou não. Motivo X Motivação – Diferença.
O motivo é pressuposto do ato. É existir ou não,
concretamente, amparo fático e jurídico para o ato.
A motivação é operação de demonstração
arrazoada da existência desses motivos. Pode ser suscita. Geralmente consta no “Relatório de Fiscalização” e nas provas colhidas.
Exemplo da “valoração das multas”.
Os motivos não podem ficar guardados no
pensamento do fiscal. Devem ser expostos. 5. Finalidade – o ato administrativo deve sempre prestigiar o interesse público, plasmado, principalmente, na lei.
No caso do auto de infração ambiental, o interesse
resguardado é o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Desvio de finalidade – quando o agente pratica o ato
visando fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.
São comuns alegações de “perseguição”, “corrupção” etc.
É importante observar os princípios da impessoalidade, da
moralidade, da isonomia, agindo sempre com boa-fé. Políticas claras e procedimentos uniformes diminuem o risco de aparentar “dois pesos e duas medidas”. ATO ADMINISTRATIVO E DISCRICIONARIEDADE Embora o agente público esteja sujeito ao princípio da estrita legalidade, a lei muitas vezes confere ao mesmo uma margem de opção entre vários atos possíveis dentro da legalidade. Ex: várias possibilidades de sanção (embargo, multa etc.) ou várias destinações aos instrumentos da infração (venda, destruição etc.).
Esta liberdade regrada do agente público é a chamada
discricionariedade, que não se confunde com arbitrariedade e nem com voluntarismo.
Por isso, o Poder Judiciário pode exercer o controle dos
atos administrativos discricionários, desde que não invada o chamado “mérito administrativo”. A opção é dada porque a realidade (sobretudo ambiental) é dinâmica e múltipla, sendo que cada situação merece tratamento adequado.
Geralmente o “motivo” e/ou o “objeto” do ato são passíveis
de ser discricionários.
Motivo no auto de infração ambiental – não é
discricionário no caso do auto de infração, pois, caso haja infração, o fiscal “deve” agir. Porém, às vezes a lei fala que quando ocorrer determinado fato, a autoridade “pode” agir.
Objeto no auto de infração ambiental – tem
margem de discricionariedade, pois o valor da multa é variável, as sanções possíveis são diversas, a destinação de bens, produtos e instrumentos também são várias. ATRIBUTOS DO ADMINISTRATIVO 1. Presunção (relativa – admite prova em contrário) de legitimidade (ato conforme a lei) e veracidade (dos fatos nele expressos) dos atos praticados por agentes públicos competentes.
2. Autoexecutoriedade – a Administração, através dos
órgãos competentes, pode e deve executar a lei imediatamente e por suas próprias mãos, podendo requisitar apoio policial, independentemente de autorização judicial, exceto quando a lei dispuser em contrário.
3. Imperatividade – Os atos administrativos são, em regra,
obrigatórios, desde que amparados na lei e que não violem liberdades e direitos fundamentais. Por isso, o desrespeito a ordem legal pode levar ao crime desobediência. ALGUMAS QUESTÕES PRÁTICAS
- Valoração das multas: necessidade de
motivação quando for aplicada acima do mínimo.
(Gravidade concreta do fato, reincidência, poder
econômico, circunstâncias atenuantes e agravantes).
Reincidência (art. 137, XIII, CAM) – É a
perpetração de infração da mesma natureza (reincidência específica) ou de natureza diversa (reincidência genérica), pelo agente anteriormente autuado por infração ambiental. -Infrações em coautoria:
Art. 135 do CAM – Quem, de qualquer forma, concorre
para a prática das infrações administrativas, incide nas sanções a elas cominadas, na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica que, sabendo da conduta ilícita de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando poderia agir para evitá-la.
Art. 150 do CAM – As penalidades poderão incidir sobre:
I – O autor material; II – O mandante; III – Quem de qualquer modo concorra à prática ou dela se beneficie. - Embargos e interdições – desrespeito.
Possibilidade de aplicação “multa diária” (infrações
permanentes ou continuadas).
Além disso, Decreto 6.514/2008. Art. 79. Descumprir
embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas: Multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
Além disso, suspensão da atividade, cancelamento de
licenças e registros (inclusive o Alvará).
Além disso, comunicação ao Ministério Público de
Crime Praticado por Particular contra a Administração Pública (Código Penal). Resistência: Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos.
Desobediência: Art. 330 - Desobedecer a ordem
legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Desacato: Art. 331 - Desacatar funcionário
público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. PROCESSO ADMINISTRATIVO DE APURAÇÃO E SANÇÃO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL
LCA, Art. 70. (...) § 4º As infrações ambientais são
apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei.
CAM, 134 – Repete a redação.
Defesas, provas e notificações das decisões –
a base do devido processo legal. Procedimento:
- Instauração do processo (Fiscalização) – lavratura
do auto. Deve ser o processo “autuado”, ou seja, identificado, paginado, colocado em capa etc. pelo próprio setor de fiscalização. É recomendável o “apensamento” de processos conexos.
- Defesa – 20 dias (processo aguarda na fiscalização).
- Parecer jurídico (Procuradoria). Não tem previsão
na lei, nem prazo, mas é praxe.
- Diligências – Possibilidade de diligências requeridas
na defesa. - Decisão da autoridade (Secretário) – o autoridade não está vinculada ao Parecer Jurídico, que é meramente opinativo. Pode discordar, motivadamente. Ou pode concordar, adotando motivação suscinta ou mesmo adotar como motivação as razões exaradas no Parecer.
- Recurso – é possível, para o Conselho Municipal
do Meio Ambiente, em 20 dias.
Alguns advogados também adotam o “pedido de
reconsideração ou de declaração”. Somente deve ser considerado quando houver ilegalidade grave ou acrescentar fato novo. Se for mero inconformismo ou repetição, sem acrescentar fatos novos, pode ser rejeitado. TAC – AJUSTAMENTO DE CONDUTA.
LCA, Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto
nesta Lei, os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização dos estabelecimentos e das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, com força de título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) § 1o O termo de compromisso a que se refere este artigo destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as pessoas físicas e jurídicas mencionadas no caput possam promover as necessárias correções de suas atividades, para o atendimento das exigências impostas pelas autoridades ambientais competentes, (...).
Ou seja, o TAC pode flexibilizar questões
acessórias, como prazos e condições para cumprimento da lei.