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INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS

AMBIENTAIS: NOÇÕES GERAIS E


QUESTÕES PRÁTICAS
PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

A atividade de repressão de ilícitos administrativos contra o


meio ambiente é expressão do poder de polícia ambiental a
cargo da Administração Pública federal, estadual e municipal.

“O poder de polícia ambiental é a atividade da


Administração Pública que limita ou disciplina direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção
de fato em razão de interesse público concernente à saúde da
população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
ou de outras atividades dependentes de concessão,
autorização/permissão ou licença do Poder Público de cujas
atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.”
(Leme Machado).
FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO
PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

CF, art. 23, III, IV, VI e VII – Competência administrativa


comum em matéria ambiental.

Competência comum, porém coordenada (LC 140/2011).

CF, art. 30, VIII e IX - Compete aos Municípios:

VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento


territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano;

IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural


local, observada a legislação e a ação fiscalizadora
federal e estadual.
Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo
licenciamento ou autorização, conforme o caso,
de um empreendimento ou atividade, lavrar
auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo para a apuração de infrações à
legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou
autorizada.

§ 1o Qualquer pessoa legalmente identificada, ao


constatar infração ambiental decorrente de
empreendimento ou atividade utilizadores de
recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que
se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder
de polícia.
§ 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de
degradação da qualidade ambiental, o ente federativo
que tiver conhecimento do fato deverá determinar
medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la,
comunicando imediatamente ao órgão
competente para as providências cabíveis.

§ 3o O disposto no caput deste artigo não impede o


exercício pelos entes federativos da atribuição
comum de fiscalização da conformidade de
empreendimentos e atividades efetiva ou
potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos
naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental
lavrado por órgão que detenha a atribuição de
licenciamento ou autorização a que se refere
o caput.
Art. 225. (...) § 3º - As condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

- Independência das esferas administrativa,


penal e cível.
FUNDAMENTOS LEGAIS DO PODER DE
POLÍCIA AMBIENTAL MUNICIPAL

Lei 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais. O


Decreto Federal 6.514/2008 regulamenta esta lei.

Lei Municipal 17.894/2004 – Código Ambiental do


Município de Santarém.

São a espinha dorsal do trabalho da fiscalização,


podendo ser complementadas por outras
legislações, resoluções do CONAMA, etc.

Deve-se fundamentar o máximo possível na lei.


AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL

O auto de infração é um ato administrativo e, como


tal, deve obedecer a certos pressupostos e observar
os princípios da Administração Pública.

Princípios do direito administrativo: legalidade,


impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. Além desses, notadamente: motivação,
proporcionalidade e razoabilidade.
PRESSUPOSTOS DO ATO
ADMINISTRATIVO

1. Competência – a realização de atividades


fiscalizatórias deve estar incluída nas atribuições do
cargo/função ocupado pelo agente.

LCA, art. 70. (...) § 1º São autoridades competentes


para lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo os funcionários de órgãos
ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades
de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias
dos Portos, do Ministério da Marinha.

A SEMMA é órgão do SISNAMA.


§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração
ambiental, poderá dirigir representação às
autoridades relacionadas no parágrafo anterior,
para efeito do exercício do seu poder de polícia.

§ 3º A autoridade ambiental que tiver


conhecimento de infração ambiental é obrigada
a promover a sua apuração imediata, mediante
processo administrativo próprio, sob pena de
co-responsabilidade.

Caso as regras de competência não sejam


observadas, o ato pode ser anulado por
incompetência do agente autuante.
Código Ambiental de Stm – Art. 138: A
fiscalização do cumprimento das disposições
deste Código e das normas dele decorrentes será
exercida pelo órgão ambiental municipal, através
de quadro próprio, de servidores legalmente
empossados para tal fim (e por agentes
credenciados ou conveniados).
2. Forma – observância das formalidades
(requisitos) indispensáveis à existência ou à
seriedade do ato. Ex: correto preenchimento dos
autos de infração, embargo etc.

Tais formalidades decorrem, sobretudo, da lei. A


inobservância gera vício de forma, que pode
ensejar a nulidade do ato.

Princípio da instrumentalidade das formas e


possibilidade de convalidação de meras
irregularidades e vícios sanáveis.
Vício sanáveis: poderão ser convalidados
(corrigidos e ratificados) pela autoridade coatora,
após parecer da Procuradoria.

- Porém, em regra, deve ser comunicado o


“saneamento” do processo e reaberto prazo para
defesa.

Vícios insanáveis: anulam o auto de infração e


determinam o arquivamento do processo.

- Porém, mesmo sendo nulo, se estiver provada a


infração, pode ser lavrado outro auto.
Formalidade mais essencial: a correta descrição do
fato infracional e definição da autoria.

São vícios insanáveis aqueles em que a correção implica


a modificação do fato descrito no auto de infração.

“Causar dano a UC”... “Fazer funcionar atividade


econômica sem licença”... Não pode ser genérico e nem
transcrever literalmente o que está na lei.

O erro no enquadramento legal da infração não implica


vício insanável, podendo ser alterado pela autoridade
julgadora mediante decisão fundamentada que retifique
o auto de infração.

Ou seja: o infrator se defende do fato e não da lei.


3. Objeto – o objeto ou conteúdo do auto de
infração ambiental é a imposição de sanções
administrativas por cometimento de ilícito
administrativo contra o meio ambiente (multas,
embargos, apreensões, interdições).

O ato de infração deve possuir “objeto lícito”, ou


seja, não pode aplicar sanções ou reprimir
condutas não previstas em lei ou violar direitos
fundamentais dos cidadãos presentes na
Constituição.
4. Motivo – são as circunstâncias fáticas (motivo
fático) e causas jurídicas (motivo de direito) que
autorizam o ato. O fato que motiva o auto de
infração é a infração ambiental.

A prova da inexistência do motivo abala o ato


administrativo, como também pode ser
argumentado pela má interpretação ou incorreta
aplicação da lei, ou, ainda, pela
inconstitucionalidade.

Os agentes administrativos, porém, estão


obrigados a aplicar a lei vigente e não cogitar
sobre a sua constitucionalidade ou não.
Motivo X Motivação – Diferença.

O motivo é pressuposto do ato. É existir ou não,


concretamente, amparo fático e jurídico para o
ato.

A motivação é operação de demonstração


arrazoada da existência desses motivos. Pode ser
suscita. Geralmente consta no “Relatório de
Fiscalização” e nas provas colhidas.

Exemplo da “valoração das multas”.

Os motivos não podem ficar guardados no


pensamento do fiscal. Devem ser expostos.
5. Finalidade – o ato administrativo deve sempre prestigiar
o interesse público, plasmado, principalmente, na lei.

No caso do auto de infração ambiental, o interesse


resguardado é o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Desvio de finalidade – quando o agente pratica o ato


visando fim diverso daquele previsto, explícita ou
implicitamente, na regra de competência.

São comuns alegações de “perseguição”, “corrupção” etc.

É importante observar os princípios da impessoalidade, da


moralidade, da isonomia, agindo sempre com boa-fé.
Políticas claras e procedimentos uniformes diminuem o risco
de aparentar “dois pesos e duas medidas”.
ATO ADMINISTRATIVO E
DISCRICIONARIEDADE
Embora o agente público esteja sujeito ao princípio da
estrita legalidade, a lei muitas vezes confere ao mesmo
uma margem de opção entre vários atos possíveis dentro
da legalidade. Ex: várias possibilidades de sanção
(embargo, multa etc.) ou várias destinações aos
instrumentos da infração (venda, destruição etc.).

Esta liberdade regrada do agente público é a chamada


discricionariedade, que não se confunde com
arbitrariedade e nem com voluntarismo.

Por isso, o Poder Judiciário pode exercer o controle dos


atos administrativos discricionários, desde que não invada
o chamado “mérito administrativo”.
A opção é dada porque a realidade (sobretudo ambiental)
é dinâmica e múltipla, sendo que cada situação merece
tratamento adequado.

Geralmente o “motivo” e/ou o “objeto” do ato são passíveis


de ser discricionários.

Motivo no auto de infração ambiental – não é


discricionário no caso do auto de infração, pois, caso haja
infração, o fiscal “deve” agir. Porém, às vezes a lei fala
que quando ocorrer determinado fato, a autoridade “pode”
agir.

Objeto no auto de infração ambiental – tem


margem de discricionariedade, pois o valor da multa
é variável, as sanções possíveis são diversas, a destinação
de bens, produtos e instrumentos também são várias.
ATRIBUTOS DO ADMINISTRATIVO
1. Presunção (relativa – admite prova em contrário) de
legitimidade (ato conforme a lei) e veracidade (dos
fatos nele expressos) dos atos praticados por agentes
públicos competentes.

2. Autoexecutoriedade – a Administração, através dos


órgãos competentes, pode e deve executar a lei
imediatamente e por suas próprias mãos, podendo
requisitar apoio policial, independentemente de autorização
judicial, exceto quando a lei dispuser em contrário.

3. Imperatividade – Os atos administrativos são, em regra,


obrigatórios, desde que amparados na lei e que não violem
liberdades e direitos fundamentais. Por isso, o desrespeito a
ordem legal pode levar ao crime desobediência.
ALGUMAS QUESTÕES PRÁTICAS

- Valoração das multas: necessidade de


motivação quando for aplicada acima do mínimo.

(Gravidade concreta do fato, reincidência, poder


econômico, circunstâncias atenuantes e
agravantes).

Reincidência (art. 137, XIII, CAM) – É a


perpetração de infração da mesma natureza
(reincidência específica) ou de natureza
diversa (reincidência genérica), pelo agente
anteriormente autuado por infração ambiental.
-Infrações em coautoria:

Art. 135 do CAM – Quem, de qualquer forma, concorre


para a prática das infrações administrativas, incide nas
sanções a elas cominadas, na medida de sua
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o
membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica que,
sabendo da conduta ilícita de outrem, deixar de impedir
a sua prática, quando poderia agir para evitá-la.

Art. 150 do CAM – As penalidades poderão incidir sobre:


I – O autor material;
II – O mandante;
III – Quem de qualquer modo concorra à prática ou dela
se beneficie.
- Embargos e interdições – desrespeito.

Possibilidade de aplicação “multa diária” (infrações


permanentes ou continuadas).

Além disso, Decreto 6.514/2008. Art. 79. Descumprir


embargo de obra ou atividade e suas respectivas
áreas: Multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$
1.000.000,00 (um milhão de reais).

Além disso, suspensão da atividade, cancelamento de


licenças e registros (inclusive o Alvará).

Além disso, comunicação ao Ministério Público de


Crime Praticado por Particular contra a
Administração Pública (Código Penal).
Resistência: Art. 329 - Opor-se à execução de ato
legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja
prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses
a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se
executa: Pena - reclusão, de um a três anos.

Desobediência: Art. 330 - Desobedecer a ordem


legal de funcionário público: Pena - detenção, de
quinze dias a seis meses, e multa.

Desacato: Art. 331 - Desacatar funcionário


público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DE APURAÇÃO E
SANÇÃO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL

LCA, Art. 70. (...) § 4º As infrações ambientais são


apuradas em processo administrativo próprio,
assegurado o direito de ampla defesa e o
contraditório, observadas as disposições desta
Lei.

CAM, 134 – Repete a redação.

Defesas, provas e notificações das decisões –


a base do devido processo legal.
Procedimento:

- Instauração do processo (Fiscalização) – lavratura


do auto. Deve ser o processo “autuado”, ou seja,
identificado, paginado, colocado em capa etc. pelo
próprio setor de fiscalização. É recomendável o
“apensamento” de processos conexos.

- Defesa – 20 dias (processo aguarda na fiscalização).

- Parecer jurídico (Procuradoria). Não tem previsão


na lei, nem prazo, mas é praxe.

- Diligências – Possibilidade de diligências requeridas


na defesa.
- Decisão da autoridade (Secretário) – o
autoridade não está vinculada ao Parecer
Jurídico, que é meramente opinativo. Pode
discordar, motivadamente. Ou pode concordar,
adotando motivação suscinta ou mesmo adotar
como motivação as razões exaradas no Parecer.

- Recurso – é possível, para o Conselho Municipal


do Meio Ambiente, em 20 dias.

Alguns advogados também adotam o “pedido de


reconsideração ou de declaração”. Somente
deve ser considerado quando houver ilegalidade
grave ou acrescentar fato novo. Se for mero
inconformismo ou repetição, sem acrescentar
fatos novos, pode ser rejeitado.
TAC – AJUSTAMENTO DE CONDUTA.

LCA, Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto


nesta Lei, os órgãos ambientais integrantes do
SISNAMA, responsáveis pela execução de
programas e projetos e pelo controle e fiscalização
dos estabelecimentos e das atividades suscetíveis
de degradarem a qualidade ambiental, ficam
autorizados a celebrar, com força de título
executivo extrajudicial, termo de compromisso
com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela
construção, instalação, ampliação e
funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadores de recursos ambientais, considerados
efetiva ou potencialmente poluidores. (Incluído
pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001)
§ 1o O termo de compromisso a que se refere este
artigo destinar-se-á, exclusivamente, a permitir
que as pessoas físicas e jurídicas mencionadas
no caput possam promover as necessárias
correções de suas atividades, para o atendimento
das exigências impostas pelas autoridades
ambientais competentes, (...).

Ou seja, o TAC pode flexibilizar questões


acessórias, como prazos e condições para
cumprimento da lei.

Mas não pode dispensar deveres legais.

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