Você está na página 1de 62

O BARROCO

“Pequei, Senhor, mas não


porque hei pecado/Da
Vossa alta clemência me
despido;...”
O BARROCO

 NO SÉCULO XVII, O SER HUMANO


VIVE EM CONFLITO, ATORMENTADO
POR DÚVIDAS EXISTENCIAIS,
DIVIDIDO ENTRE UMA POSTURA
RACIONAL E HUMANISTA E UMA
EXISTÊNCIA ASSOMBRADA PELA
CULPA CRISTÃ.
RENASCIMENTO
SÉCULO XVI

 IDEOLOGIA ANTROPOCÊNTRICA E
RACIONALISTA;
 VALORIZAÇÃO DO SER E DO AGIR
HUMANO;
 IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
CONCRETA;
 PRAZERES MUNDANOS;
RENASCIMENTO
SÉCULO XVI

 SUPERIORIDADE DA RAZÃO
SOBRE O MITO E A MAGIA
(MENTALIDADE MEDIEVAL);
 DOMÍNIO SOBRE A NATUREZA =
PROGRESSO TECNOLÓGICO &
EXPANSÃO MARÍTIMA (ERA DAS
NAVEGAÇÕES);
 ARTE OBJETIVA E EQUILIBRADA
RENASCIMENTO
SÉCULO XVI

 O HOMEM RENASCENTISTA

 SATISFAÇÃO PESSOAL
 CRENÇA NA SOLIDEZ DO
MUNDO
CRISE DO RENASCIMENTO

 DECADÊNCIA DAS CIDADES


ITALIANAS
 A REFORMA DE LUTERO
 BURGUESIA FORTALECIDA
 NOBREZA AMEAÇADA
 CONTURBAÇÕES SOCIAIS E
RELIGIOSAS
 CONCÍLIO DE TRENTO(1545)
 CONTRA-REFORMA
CRISE DO RENASCIMENTO

 A HARMONIOSA IMAGEM DA VIDA


DO HOMEM RENASCENTISTA
DISSOLVE-SE NA ANGÚSTIA E NO
CAOS.

 A REALIDADE PERDE A SUA


COERÊNCIA, OS FUNDAMENTOS
DO MUNDO SE DESMANCHAM.
CRISE DO RENASCIMENTO

 O INDIVÍDUO = CONTRADIÇÕES =

 ESPIRITUALISMO RELIGIOSO
X
 VIVÊNCIAS HUMANAS
CRISE DO RENASCIMENTO

 O HOMEM DIVIDIDO:
 ORGULHO X FRAGILIDADE

 TENSÃO ENTRE ELEMENTOS


CONTRÁRIOS = PERDA DAS
CERTEZAS
CRISE DO RENASCIMENTO

 O QUE É CERTO?
 O QUE É JUSTO?
 O QUE É VERDADEIRO?
 QUEM SOU EU?

 “To be or not to be?”


 Hamlet = Shakespeare
RENASCIMENTO X BARROCO

 RENASCIMENTO: Recusa os valores


religiosos e artísticos da Idade
Média.

 BARROCO: Tenta inutilmente


conciliar a visão medieval da vida e
da arte com a visão renascentista.
BARROCO
 DILACERAMENTOS:

 ALMA X CORPO;
 VIDA X MORTE;
 CLARO X ESCURO;
 CÉU X TERRA;
 FÉ X RAZÃO.
BARROCO IBÉRICO

 ARTE DA CONTRA-REFORMA;
 CONOTAÇÃO RELIGIOSA;
 PROPAGAÇÃO DA FÉ CATÓLICA;
 CARÁTER SOLENE;
 ARTE QUE CONQUISTA, CONVENCE,
IMPÕE ADMIRAÇÃO;
 ARQUITETURA EXTRAVAGANTE.
O BARROCO

 CONFLITO: CORPO & ALMA:

 PRAZERES CÓRPÓREOS X
EXIGÊNCIAS DA ALMA

 DILEMA:
 VIDA ETERNA X VIDA TERRENA
O CARPE DIEM
 APROVEITAR A VIDA?
 VIVER INTENSAMENTE?

 CULPA CRISTÃ = O HOMEM NÃO


ALCANÇA A TRANQÜILIDADE

 TENSÃO = ANGÚSTIA
 CULPA & PECADO
TEMÁTICA DO
DESENGANO

 DESVALORIZAÇÃO DA
VIDA HUMANA FRENTE À
MORTE E À ETERNIDADE
TEMÁTICA DO DESENGANO

 “A VIDA É UM SONHO”

 “Que é a vida? Um frenesi.


 Que é a vida? Uma ilusão,
 uma sombra, uma ficção.”

 (Calderón de la Barca = artista


barroco espanhol)
TEMÁTICA DO DESENGANO

 EXISTÊNCIA TERRENA =

 CARÁTER ILUSÓRIO
 REALIDADE APARENTE
 A VIDA VERDADEIRA É A ETERNA
TEMÁTICA DO DESENGANO

 A VIDA É BREVE.

 NADA É ESTÁVEL.

 NADA É PERMANENTE.

 TUDO MUDA.
TEMÁTICA DO DESENGANO

 ALEGRIA DA EXISTÊNCIA X
PREPARAÇÃO PARA A MORTE:

 CONSCIÊNCIA TRÁGICA
(PESSIMISTA) DA PASSAGEM DO
TEMPO, DA EFEMERIDADE DA VIDA.
TEMÁTICA DO DESENGANO

 VIVER É IR MORRENDO AOS


POUCOS = ANGÚSTIA

 A MORTE ONIPRESENTE
CULTISMO & CONCEPTISMO
Concepções Literárias

 CULTISMO = Jogo de palavras =


Estilo excessivo e rebuscado =
Utilização de neologismos = Uso de
figuras de linguagem (Metáforas +
Antíteses + Paradoxos +
Hipérboles, etc.) = Inversões
sintáticas = Predomina na poesia
(Origem = poeta espanhol
Góngora).
CULTISMO & CONCEPTISMO

 CONCEPTISMO = Jogo de raciocínio


(idéias) = Valorização do conteúdo
= Uso de analogias = Duplos
sentidos = Paradoxos e alegorias =
Requinte expressivo = Sutileza das
idéias = Predomina na prosa
(Origem = poeta espanhol
Quevedo).
LINGUAGEM BARROCA

 REBUSCADA + COMPARAÇÕES
INESPERADAS + ANTÍTESES +
PARADOXOS + HIPÉRBOLES +
INVERSÕES NAS FRASES + PALAVRAS
RARAS + ESTILO RETORCIDO =
CONTRADITÓRIO = BRILHANTE =
INCOMPREENSÍVEL OU DE MAU
GOSTO.
O BARROCO NO BRASIL
 ECONOMIA AÇUCAREIRA
 REGIÃO: NORDESTE (BAHIA &
PERNAMBUCO)
 CENTRO ECONÔMICO DO PAÍS =
SALVADOR = BAHIA
 CIVILIZAÇÃO ESCRAVISTA
 CONFLITO = ESPANHA (PORTUGAL)
X HOLANDESES
O BARROCO NO BRASIL

 MARCO INICIAL = “Prosopopéia” -1601


 De BENTO MANUEL TEIXEIRA

 (Inspirada em “Os Lusíadas” = versão


mediana = celebra os feitos do
capitão e governador da Capitania de
Pernambuco = Jorge de Albuquerque
Coelho).
O BARROCO NO
BRASIL
AUTORES
GREGÓRIO DE MATOS
GUERRA
O BOCA DO INFERNO
(1633 - 1695)
GREGÓRIO DE MATOS

 POESIA RELIGIOSA =
 Oscilação da alma barroca entre o
mundo terreno e a perspectiva da
salvação eterna.
 Licenciosidade moral x consciência
da infâmia (arrependimento).
 Postura = o homem ajoelhado
diante de Deus.
GREGÓRIO DE MATOS

 POESIA RELIGIOSA =
 Forte sentimento de culpa por ter
pecado = o poeta promete redimir-
se.

 O homem ajoelhado, implorando


perdão por seus erros.
GREGÓRIO DE MATOS

 POESIA RELIGIOSA =
 “A Jesus Cristo, Nosso Senhor”
 Curiosa dialética = o poeta apela
para a infinita capacidade de Cristo
de redimir os piores pecadores,
alegando que a ausência de perdão
representaria o fim da glória divina.
 Poema humilde & desafiador.
Pequei, Senhor, mas
não porque hei pecado,
Da Vossa alta clemência
me despido;
Porque quanto mais
tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais
empenhado.
Se basta a vos irar tanto
pecado,
A abrandar-vos sobeja
um só gemido:
Que a mesma culpa que
vos há ofendido,
Vos tem para o perdão
lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e
já cobrada
Glória tal e prazer tão
repentino
Vos deu, como afirmais
na Sacra História,
Eu sou, Senhor, a ovelha
desgarrada,
Recobrai-a; e não
queirais, Pastor divino,
Perder na Vossa ovelha a
Vossa glória.
GREGÓRIO DE MATOS
 POESIA AMOROSA =

 O AMOR ELEVADO =

 IDEALIZAÇÃO DOS AFETOS EM


LINGUAGEM ELEVADA
GREGÓRIO DE MATOS
 O AMOR ELEVADO = (poema para D.
Ângela = paixão do poeta que o teria
rejeitado):

 “Anjo no nome, Angélica na cara!


 Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
 Ser Angélica flor, e Anjo florente
 Em quem, senão em vós, se
uniformara?
GREGÓRIO DE MATOS

 Quem vira uma tal flor, que a não


cortara,
 De verde pé, da rama florescente?
 A quem um Anjo vira tão luzente
 Que por seu Deus o não idolatrara?
GREGÓRIO DE MATOS

 Se pois como Anjo sois dos meus


altares,
 Fôreis o meu custódio, e minha
guarda,
 Livrara eu de diabólicos azares.
GREGÓRIO DE MATOS

 Mas vejo que tão bela, e tão


galharda,
 Posto que os Anjos nunca dão
pesares,
 Sois Anjo, que me tenta, e não me
guarda.”
GREGÓRIO DE MATOS

 ANÁLISE DO POEMA = (Dona Ãngela)


 Jogo de aproximações entre as
palavras: ANJO & FLOR para designar
a amada.

 Palavras com caráter contraditório =


ANJO = eternidade + FLOR =
brevidade.
GREGÓRIO DE MATOS

 ANÁLISE DO POEMA = (Dona Ãngela)

 TENSÃO & DESESPERO =

 “SOIS ANJO, QUE ME TENTA, E NÃO


ME GUARDA.”
GREGÓRIO DE MATOS

 O AMOR OBSCENO-SATÍRICO =

 EROTISMO = Exaltação da
sensualidade e da beleza dos corpos
(forma velada).
GREGÓRIO DE MATOS
 O AMOR OBSCENO-SATÍRICO =

 PORNOGRAFIA = Sexo proibido e


culpado, por meio de imagens
grosseiras e chocantes (forma
vulgar).
GREGÓRIO DE MATOS
O AMOR OBSCENO-SATÍRICO

 OBSCENIDADE = Espécie de protesto


contra o sistema moral, contra as
concepções dominantes de amor e de
sexo e contra o próprio mundo. Às
vezes, toma o sentido de um culto
rude e subversivo do prazer contra os
tabus que impedem a plena realização
do libido = instinto sexual.
GREGÓRIO DE MATOS
O AMOR OBSCENO-SATÍRICO

 Poesia de Gregório = visão agressiva


e galhofeira do amor físico = Quer
despertar o riso ou o comentário
maldoso da platéia = Revela
desprezo pela concepção cristã do
amor, que envolve a camada
espiritual.
GREGÓRIO DE MATOS

 O AMOR OBSCENO-SATÍRICO NA
POESIA DE GREGÓRIO =
 Nos poemas mais vulgares, se torna
engraçado (palavrões = descrições
desbocadas dos atos e orgãos
sexuais).
 Machismo & Desprezo pelas mulheres
(principalmente = negras e mulatas)
O AMOR OBSCENO-SATÍRICO EM
GREGÓRIO DE MATOS

 “O amor é finalmente/um
embaraço de pernas,/uma união
de barrigas,/um breve tremor de
artérias./Uma confusão de
bocas,/uma batalha de veias,/um
reboliço de ancas,/quem diz outra
coisa é besta.”
Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome, que me
dais,
meteis a flor, que
guardais
no passarinho melhor!
se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro
fica,
que fico então Pica-flor.
GREGÓRIO DE MATOS

 POESIA SATÍRICA =
 Poesia ferina e contundente que não
perdoa nenhum grupo social (ricos e
pobres) = Ironia cáustica = traço do
barroco ibérico.
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 ESTADO DE ESPÍRITO DO POETA AO


RETORNAR AO BRASIL (1682) =

 Filho de senhor-de-engenho = crise.


 Mundo dos nobres usurpado pelo
oportunismo dos negociantes.
 Como bacharel vê a farsa das
instituições jurídicas.
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 ESTADO DE ESPÍRITO DO POETA =

 Como poeta culto se vê num mundo


iletrado.
 Na vida concreta vê as idéias
barrocas do “desengaño del mundo”
(o desconcerto do mundo = da vida)
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 PROTESTO DO POETA = Contra um


novo mundo que subverteu todos os
princípios e hierarquias, que está
afundando sua classe (nobreza).
 RECURSO UTILIZADO = A linguagem
poética = caricatural = ofensiva =
cínica = sem piedade = acentua
aspectos grotescos dos indivíduos e
do contexto baiano.
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 “A cada canto um grande conselheiro,


 Quer nos governar cabana e vinha,
 Não sabem governar sua cozinha,
 E podem governar o mundo inteiro.”
(...)

 (Cabana e vinha = no sentido de negócios


particulares.)
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 VISÃO DO POETA = O Mercantilismo


estava acabando com a verdadeira
nobreza luso-baiana (sua família).

 OLHAR DO POETA PARA SALVADOR =


 Só vê = corrupção = negociata =
oportunismo = mentira = desonra =
injustiça = imoralidade = inversão de
valores = quebra das normas
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 “Que falta nesta cidade? ... Verdade.


 Que mais por sua desonra? ... Honra.
 Falta mais que se lhe proponha? ...
Vergonha.
 O demo a viver se exponha,
 Por mais que a fama a exalta,
 Numa cidade onde falta
 Verdade, honra, vergonha.” (...)
GREGÓRIO DE MATOS
O BOCA DO INFERNO

 A truculência verbal do poeta gera


muitas inimizades e ódios:

 “Querem-me aqui todos mal,


 Mas eu quero mal a todos...” (...)

 “Se o que fui sempre hei de ser,


 Eu falo, seja o que for.” (...)
GREGÓRIO DE MATOS
POESIA SATÍRICA

 O poeta se identifica com a cidade


vítima de um inimigo maior =
o capitalismo comercial europeu =

 Visão conservadora e reacionária do


poeta.
 A empresa mercantilista (“a máquina
mercante”) é a responsável pelo
declínio da sua classe (nobreza).
GREGÓRIO DE MATOS
À BAHIA

 “Triste Bahia! ó quão dessemelhante


 Estás e estou do nosso antigo estado!
 Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
 Rica te vi eu já, tu a mi abundante.”
 (...)
 A ti trocou-te (modificou-te) a máquina
mercante,” (...)
Padre Antônio Vieira
(1608 - 1697)

 OS SERMÕES (1679 - 1748) =


 Utilização da Bíblia para referir-se a
temas do cotidiano.
 Combate aos hereges e defesa dos
índios.
 Sonho com o “Grande Império”
cristão, a ser localizado no Brasil.
 Linguagem conceptista.
Padre Antônio Vieira

 O VIGOR DA ORATÓRIA =
 Pormenores da vida =

 Ataque aos vícios = corrupção +


violência + pedantismo, etc.

 Elogio às virtudes = religiosidade +


modéstia + caridade, etc.
Padre Antônio Vieira
Sermão do bom ladrão
 “Não são só ladrões - diz o Santo - os
que cortam bolsas ou espreitam os
que vão se banhar, para lhe colher a
roupa; os ladrões que mais própria e
dignamente merecem este título são
aqueles a quem os reis encomendam
os exércitos e legiões, ou o governo
das províncias, ou a administração
das cidades, os quais já com manha,
já com força, roubam e despojam os
pobres. (...)”

Você também pode gostar