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ISR – Dep.

de Engenharia Electrotécnica e de Computadores


Universidade de Coimbra

Qualidade da Energia Eléctrica

Aníbal Traça de Almeida

28 de Maio de 2007.
Sumário
1ª Parte
• Alguns conceitos sobre Qualidade da Energia Eléctrica (QEE).
• Evolução do conceito.

2ª Parte
• Avanços tecnológicos e alteração profunda da natureza das cargas.
• Concorrência à escala global e margens de lucro em alguns sectores
• Perturbações e “PQ Costs”
• Economia Digital requer energia eléctrica com “Qualidade Digital”

3ª Parte
• Clarificação dos deveres e direitos das partes.
• O que fazer para maximizar a utilidade alcançável com a QEE
actualmente atingível e disponível.

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Alguns conceitos sobre QEE

1. Qualidade na Onda
– (designada também por Power Quality)
– “Produto” energia eléctrica onde todos os parâmetros estão muito próximos dos
valores nominais que o definem (nível de tensão, sistema equilibrado e simétrico,
frequência, onda sinusoidal…).

2. Fiabilidade no Fornecimento
– (designada também por Power Reliability)
– Relacionada com a continuidade do fornecimento. A potência contratada deve
estar “sempre” disponível e com qualidade na onda.

3. Qualidade Comercial
– Engloba todos os serviços de interface com o cliente relacionados com o
fornecimento deste produto particular.

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Natureza do processo.

Factores que interferem com a QEE no sistema que a disponibiliza.

• Processo ainda assente maioritariamente em grandes centros produtores.


• Funcionamento síncrono.
• Oferta = procura em cada instante.
• Sistema Distribuído de T&D até às cargas.

• A QEE no local de geração.

• Degradação introduzida pelo sistema de T&D.

• Degradação introduzida pelas cargas.

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Caracterização da Qualidade de Serviço actual

• O sistema de T&D está sujeito a factores perturbadores (alguns inevitáveis):


1. Descargas atmosféricas,
2. Quedas de tensão (e sobretensões) entrada e saída de grandes cargas,
3. Contornamentos nos isoladores,
4. Agressões físicas (acidentes, animais, erros humanos…).

• Podem-se mitigar estes factores mas não suprimi-los na totalidade.

• É assim em todo o mundo

• Estes factores provocam uma degradação cumulativa na QEE.

• Qualidade de serviço no cliente é a resultante da robustez do sistema


global aos factores perturbadores.

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Curva CBEMA reflecte esta realidade
Base da EN 50160, do RQS, ...
Tensão
nominal %

300% 2 1 Tensão dentro dos limites.


Zona proibida
de alta perigosidade 2 Sobretensão de muito curta duração.
250%
3 Cava de longa duração.
200%
41 Interrupção de 2 segundos.

150%

106% Banda de variação permitida


1
100%
87%  87 – 106% Valor Nominal
Região segura Zona proibida
50% de operação 3 de baixa perigosidade
4
0% Ciclos
0,001 0,01 0,1 0,5 1 10 100 1000
200 2 mseg. 20 mseg. 200 mseg. 2 seg. 10 seg. 20 seg.
microseg.

Curva CBEMA - “Computer Business Equipment Manufactures Association”, definida pelo


EPRI (Tom Key) em 1978.

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Partes envolvidas no processo.

“Stakeholders”

• Empresas do sistema eléctrico que englobam:


– Produção, Transporte, Distribuição.

• Clientes
– Residencial.
– Comercial.
– Industrial

• Fornecedores de equipamentos

• Entidade Reguladora

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Evolução das exigências

Grandes avanços tecnológicos e alteração profunda da natureza das cargas


• Estas são simultaneamente mais sensíveis e mais perturbadoras da QEE
• As cargas não lineares são já 100% em alguns sectores.

• Concorrência à escala global


• Margens de lucro marginais em alguns sectores
• Perturbações causam quebra de produtividade - “PQ Costs”
• EE factor crucial para a competitividade
• “Economia Digital requer energia com “Qualidade Digital”
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Fiabilidade atingível e exigências actuais
Tempos de
Nº de Fiabilidade interrupção Tecnologias associadas / Exigências
noves (%) por ano
3 99,9 8,7 horas Valor disponibilizado pelo sistemas de
P&T&D tradicionais
4 99,99 52,5 minutos Valor máximo atingível com sistemas de
P&T&D tradicionais.
6 99,9999 31,5 segundos Valor mínimo exigido pelas cargas da nova
economia.

7 99,99999 3,15 segundos Melhores tecnologias de UPS com Gen-Sets


e “Ride Through Capability”

9 99,9999999 31,5 milisegundos Energia é efectivamente adequada às


actuais aplicações da economia digital.

10 99,99999999 3,15 milisegundos Valor ideal para a qualidade da energia.

Desadequação entre a QEE disponibilizada e a QEE requerida pelas


cargas da nova economia.

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Registos da QEE actualmente disponibilizada
Cavas, micro-interrupções, picos transitórios, desequilíbrios entre fases,
distorção harmónica, sobretensões, interrupções longas.
Percentagem da tensão nominal
Curva ITIC

1 10 100 1000
Duração (ciclos)

Monitorização e registo da qualidade da energia eléctrica à entrada de uma


fábrica, durante um ano.
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Perturbações evidenciada em MT em Portugal

Duração

Número de perturbações
Caracterização das perturbações à entrada de uma instalação
industrial Região Centro de Portugal, ano de 2003.

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Consequências da desadequação

• “PQ Costs” que são devidos a:


1. Perdas de informação,
2. Perdas de tempo de produção,
3. Perdas de material em vias de fabrico,
4. Custos de re-arranque e sintonia de processos,
5. Perigos acrescidos para a segurança de pessoas e bens,
6. Perda de credibilidade no mercado,
7. Aumento dos impactos sobre o meio ambiente.

Sectores mais críticos


• Todas as indústrias de processo contínuo
• Todas as indústrias intensivas em TIC (não devidamente protegidas)

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Como mitigar os problemas

Regulamentar:

1. O nível mínimo de qualidade de serviço que as redes devem disponibilizar


(RQS);

2. O nível de imunidade mínima que as cargas devem possuir “Ride Through


Capability”;

3. A perturbação máxima admissível para todo o tipo de cargas sobre as redes.

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1. Regulamento da Qualidade de Serviço

Ponto de situação

1. Regulamenta o nível mínimo de qualidade de serviço que as redes


devem disponibilizar por região, por nível de tensão, etc…

• Regulamento da Qualidade de Serviço (RQS) - adoptado em


Portugal e em plena aplicação e supervisão pela ERSE.

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2. Nível de imunidade mínima das cargas
Curva ITIC - “Information Technology Infrastructure Council”
definida em 1996 e revista em 2000.

Outras referências SEMI F45, SEMI F47…

Zona de robustez
das cargas

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Curva ITIC
(“Information Technology Infrastructure Council”)

2. Zona proibida

1. Zona
permitida

3. Zona de
não avarias

Projecto dos equipam. Electrón. de Potência Electrón. de Potência


Armaz. de energia Armaz. de energia CUSTOS
Capacid. de geração

Diferentes tecnologias para implementação da “Ride Through Capability”


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3. Máxima perturbação admissível para as cargas

• Imposição de limites para a Poluição Harmónica (T. Ind. e THD)


– Normas IEEE 519, IEC 61.xxx, etc.

• Controlo da perturbação ao nível de cada componente individual


– Actuação preventiva (novas topologias e novas tecnologias,
– Actuação curativa

Sistemas de filtragem PASSIVA, ACTIVA e HÍBRIDA.

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Quando é necessária fiabilidade superior à da rede

Uso de tecnologias reparadoras

Picos Energia com


Qualidade

Cavas
Tecnologias
Micro-Cortes Reparadoras
Variações
Frequência Transitórios

• “Ride Through Capability” pode ser efectuada:


– Ao nível de um dado componente crítico,
– De um determinado receptor específico,
– De uma instalação completa,
– De um grupo de instalações ou clientes (Subestação ou P.T.)

• Envolve sempre investimentos – e custos – adicionais.


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Interrupções Longas(2003)
Local e Data, No Consumidores , Duração e Amplitude (GW) do Corte

•London(28-8-03)
•Birmingham(5-9-03) •South of Sueden and
•410.000
•20.000 East of Denmark
•47 minutes (23-9-03)
•Canada and USA •11 minutes
•720 GW •4.000.000
(14-8-03) •253 GW
•50.000.000 •2 hours •Italy,except
•6.600 GW Sardinia
•24 hours (28-9-03)
•61.800 GW •60.000.000
•20 hours
•27.702 GW

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Apagão na Europa – 4/Novembro/2006

• 15 milhões de consumidores afectados na Europa

• Duração de uma hora com cortes substanciais:

• França, 6,400 MW
• Alemanha-Oeste 2,550 MW
• Italia 2,250 MW,
• Espanha 2,100 MW
• Portugal 1,100 MW

http://www.ucte.org/pdf/Publications/2007/Final-Report-20070130.pdf

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Causa - Corte uma linha de 400 kV na Alemanha !
(sem respeitar regras de segurança)

Às 22-10 a rede europeia partiu-se em 3 Zonas

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Conclusões
• É fundamental possuir uma visão alargada e rigorosa sobre a problemática da
QEE.
• Não existe qualidade total e fiabilidade a 100% em nenhuma parte do mundo.
• As medidas efectivas de melhoria devem traduzir-se numa atitude preventiva em
torno dos seguintes domínios:
1. Adquirindo formação sobre novas metodologias e tecnologias ao serviço da
QEE,
2. Maximizando a qualidade atingível com os sistemas de P&T&D tradicionais,
3. Efectuando uma selecção rigorosa dos novos equipamentos conversores:
• Mais eficientes,
• Menos poluidores,
• Com maior imunidade (ou robustez!) aos fenómenos perturbadores.
• A combinação destas medidas induz – de forma directa - grandes benefícios na
melhoria da produtividade e do aumento da competitividade de todos os
sectores onde sejam integradas.

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