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Serviço de Cirurgia do Hospital de S.

João – Porto
Disciplina de Cirurgia da FMUP

INFECÇÃO DOS TEDIDOS


MOLES
Alexandre Pinto
Patrícia Ferreira
Rosa Gomes
Tiago Gomes

Turma 7 - Grupo H
3 de janeiro de 2019
Infecções das Partes Moles - Superficiais
Abcesso
Superficiais Circunscritas/focais
Foliculite
Furúnculo
Carbúnculo
Impétigo
Ectima gangrenosa
Linfangite
Linfadenite
Hidradenite supurativa

Difusas Celulite
Erisipela

Profundas (necrozantes) Fasceíte necrosante


Miosite necrosante

Outras: Úlcera de pressão


Úlcera de estase venosa
Pé diabético
Doença Pilonidal
Infecção do Local Cirúrgico (ILC)
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ABCESSO

 Etiologia:

- Anaeróbios (+aeróbios);
- Staphylococcus aureus.

 Sinais e sintomas:

 Centro necrótico e edema periférico;


 Tumefacção;
 Flutuação, com pús;
 Eritema;
 Dor;
 Febre;
 Mal-estar;
 Arrepios;
 Linfadenopatia regional;
 Fistulização e descarga purulenta...
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ABCESSO
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ABCESSO

 Factores Predisponentes:
- Foliculite, furúnculo, carbúnculo, celulite;
- Trauma/queimaduras;
- Cateteres intravenosos...

 Diagnóstico
- Clínico;
- Cultura da drenagem.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ABCESSO

 Tratamento:
- Incisão e Drenagem;
- Antimicrobianos.

 Complicações:
- Extensão local da infecção;
- Gangrena;
- Extensão da infecção à corrente sanguínea.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

FOLICULITE

Infecção e inflamação dos folículos pilosos.

 Etiologia:

- Staphylococcus aureus (+++);


- Str. pyogenes, Ps. aeruginosa, Gram (-), fungos...

 Sinais e sintomas:

- Pequena pápula eritematosa/ vesícula/ pústula;


- Queda do pêlo;
- Prurido ou dor.

Foliculite por St. aureus


Infecções das Partes Moles - Superficiais

FOLICULITE

 Diagnóstico:

- Clínico – morfologia lesões.

 Tratamento:

- Compressas quentes;
- Boa higiene;
- Antissépticos tópicos;
- Antimicrobianos.

 Complicações:

- Furúnculo.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

FURÚNCULO

Infecção necrótica profunda do folículo piloso de uma área restrita.


Frequente drenagem espontânea à superfície da pele.

 Etiologia:

- Staphylococcus aureus (foliculite++).

 Sinais e sintomas:
- Frequente evolução: foliculite → furúncul → abcesso;
- Nódulo profundo e adjacente ao folículo piloso;
- Dor;
- Base eritematosa;
- Centro purulento e flutuante;
- Adenopatia regional.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

FURÚNCULO

 Tratamento:

- Incisão e drenagem caso haja flutuação;


- Antimicrobianos.

 Complicações:
- Furúnculo recorrente;
- Carbúnculo;
- Celulite;
- Gangrena;
- Fasceíte necrosante;
- Hidradenite supurativa;
- Flebite purulenta...
Infecções das Partes Moles - Superficiais

CARBÚNCULO

Infecção profunda de um grupo de folículos contíguos que,


separados por septos, drenam por orifícios independentes.

 Etiologia:

- Staphylococcus aureus;
- Bacillus anthracis.

 Sinais e sintomas:

- Massa de trajectos fistulosos (entre folículos infectados);


- Dor, eritema, flutuação;
- Aberturas pustulares;

- Febre;
- Mal-estar;
- Mialgias e linfadenopatias.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

CARBÚNCULO

Infecção por Bacillus anthracis - Antraz


Infecções das Partes Moles - Superficiais

CARBÚNCULO
Infecções das Partes Moles - Superficiais

CARBÚNCULO

 Tratamento:

- Incisão e drenagem caso haja flutuação;


- Antimicrobianos.

 Complicações:

- Feblite purulenta;
- Septicemia.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

IMPÉTIGO

 Etiologia:
- Staphylococcus aureus;
- Streptococcus pyogenes.

 Sinais e sintomas:

- Eritema;
- Evolução pápulas → vesículas → pústulas;
- Ruptura espontânea → crosta seca amarela dourada;
- Prurido.

 Factores predisponentes:
- Queimaduras, picadas de insecto, humidade;
- Crianças em más condições de higiene e clima tropical.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

IMPÉTIGO

 Tratamento:

- Cuidados higiénicos;
- Antibioterapia.

 Complicações:

- Linfadenite/linfagite;
- Celulite;
- Bacteriemia;
- Glomerulonefrite.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ECTIMA GANGRENOSA

 Etiologia

- Idiopática (50%);
- Mecanismos imunológicos.

 Sinais e sintomas:

- Lesão pustular com centro necrótico característico;


- Contorno violáceo;
- Eritema;
- Dor;
- Libertação de exsudado purulento e hemorrágico;
- Febre, mal-estar, mialgias e artralgias.
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ECTIMA GANGRENOSA
Infecções das Partes Moles - Superficiais

ECTIMA GANGRENOSA

 Diagnóstico:

- Clínico – Doenças associadas (DII, AR, Hepatite crónica…);


- Morfologia lesões;
- Exame histológico – exclusão de outras etiologias.

 Tratamento:

- Glicocorticóides;
- Antimicrobianos;
- Imunossupressores;
- Imunoglobulinas i.v.;
- Desbridamento.
Infecções das Partes Moles - Superficiais
Celulite
Qualquer idade
Membros

 Agentes
- Streptococcus pyogenes (2/3)
- Staphylococcus aureus (1/3)
- Pseudomonas aeruginosa (mãos e pés)
- Haemophilus influenzae (face de
crianças)

 Factores predisponentes
- Lesões cutâneas
- Micoses
- Diabetes
- Alcoolismo
- Obesidade
- Gravidez
- Alterações da drenagem venosa ou linfática
Celulite

 Sinais e sintomas
- Eritema
- Edema
- Aumento de temperatura local
- Dor
- Bolhas
- Adenomegalia
- Abcedação

 Terapêutica
- Antibioterapia
- Elevação da área atingida
- Evitar outros traumatismos
- Factores predisponentes

 Complicações
- Linfangite e linfadenite
- Septicemia
Infecções das Partes Moles - Profundas
Conjunto de várias doenças infecciosas distintas mas com
patofisiologia, apresentação clínica e abordagens terapêuticas
semelhantes

 Factores predisponentes:  Sinais e sintomas precoces:


- Doenças crónicas e/ou - Dor severa
imunossupressoras (diabetes mellitus, - Febre sem outra causa
obesidade grau III, cirrose hepática…); identificável
- Alcoolismo e abuso de outras drogas;
- Vesículas da pele
- Neoplasias malignas;
- Úlceras isquémicas e de decúbito;
- Edema tenso
- Traumatismos cutâneos, cirurgias e - Eritema
outras portas de entrada. - Equimoses focais e/ou
isquemia
- Crepitações
- Parestesias
Infecções das Partes Moles - Profundas
Celulite necrotizante

- Clinicamente semelhante à fasceíte


necrotizante mas a infecção é mais
superficial
- Envolve pele e gordura subcutânea
- Geralmente aparece nas 24h após uma
cirurgia
- A toxicidade não é tão grave como na
miosite necrotizante
- - Não necessita de terapêutica cirurgica
extensa, apenas de desbridamento
Infecções das Partes Moles - Profundas
Miosite necrotizante (gangrena gasosa)
Mortalidade 25-100%
♂:♀ 1:1
Incidência não varia com a idade

Clostridium perfringens
Clostridium septicum
Clostridium bifermentans
outros

 Etiopatogenia
- Tecido muscular aparentemente
com massa desvitalizada
normal
mínima (cirurgia, trauma)
- Colonização por Clostridium da PMN
- Colonização por Clostridium ambiental
intestinal
- Produção
Forte associação
de toxinas
com neoplasias GI
- C. septicum
Necrose tecidular
mais frequente e com
associação mais forte a neoplasias
- Toxicidade cardíaca
Miosite necrotizante (gangrena gasosa)

 Sinais e sintomas

- Dor
- Febre ligeira
- Apatia

- Edema e exsudação serohemática


- Pele adquire tonalidade azul/negra
- Vesículas e bolhas hemorrágicas
- Crepitações
- Odor adocicado

- Taquicardia pouco coerente com


temperatura corporal
- Hipotensão
- Falência renal
- Melhoria paradoxal do estado de
consciência
- Choque cardiogénico
- Hemólise
Miosite necrotizante (gangrena gasosa)

 Sinais e sintomas mais importantes

- Dor intensa
- Edema
- Vesículas e bolhas hemorrágicas
- Crepitações
- Taquicardia relativa
- Alterações do estado mental
- Odor adocicado

 Estudo analítico
 Imagiologia (Rx eTAC)
 Exploração cirúrgica
Miosite necrotizante (gangrena gasosa)

 Terapêutica

- Manutenção dos sinais vitais


- Antibioterapia (benzilpenincilina,
clindamicina, cefalosporinas,
cloranfenicol…)
- Desbridamento cirúrgico
- Oxigénio hiperbárico

 Complicações
- Hemólise generalizada
- Coagulação vascular disseminada
- Falência renal
- Síndrome de insuficiência respiratória
aguda
- Choque
Infecções das Partes Moles - Profundas
Fasceíte necrotizante
Mortalidade em média 70%
♂:♀ 3:1
38-44 anos
Raramente atinge crianças

 Etiopatogenia
- Fáscias profundas com algum grau de
hipóxia (traumatismos, cirurgia recente,
comprometimento circulatório…)
- Proliferação de bactérias aeróbias gram -
e anaeróbias
- Comprometimento da função leucócitária
pela hipóxia
- Produção de gases (hidrogénio, metano,
azoto…)
- Necrose dos tecidos envolventes

Staphylococcus aureus Bacteroides fragilis


Bacteroides, Clostridium, Peptostreptococcus Escherichia coli
Enterobacteriaceae Streptococcus pyogenes grupo A
Fasceíte Necrotizante

 Sinais e sintomas

- Dor e edema sobre lesão inicial


- Pode não apresentar qualquer
outro sintoma

- Dor evolui para anestesia


- Área eritematosa expansiva
- Bordos mal definidos
- Mal estar geral

- Pele azulada, acastanhada ou enegrecida


- Necrose
- Incisões revelam fáscia com aspecto verde amarelado
- Extensão muito rápida
- Produção de gás e crepitações
- Choque
- Falência orgânica múltipla
Fasceíte Necrotizante

 Sinais e sintomas mais importantes

- Necrose tecidular
- Descargas purulentas
- Dor intensa
- Produção de gás
- Progressão rápida através de
fáscias
- Ausência dos sinais inflamatórios
clássicos

 Estudo analítico
 Imagiologia (TAC e RM)
 Biópsia tecidular
Fasceíte Necrotizante

 Terapêutica

- Manutenção dos sinais


vitais
- Antibioterapia empírica
(cloranfenicol,
cefatriaxona,
metronidazol,
gentamicina…)
- Desbridamento cirúrgico
agressivo
- Oxigénio hiperbárico

 Complicações
- Choque séptico
- Colapso cardiovascular
- Falência renal
- Cicatrizes inestéticas
Infecções das Partes Moles - Profundas
Gangrena de Fournier
Forma de fasceíte necrotizante
Períneo, porções proximais dos MI e parede abdominal
♂ 50-70 anos com comorbilidades

 Sinais e sintomas
- Prodromo de 2-7 dias com febre e letargia
- Aumento da dor, edema e eritema
- Crepitação subcutânea
- Gangrena e drenagem espontânea do conteúdo
purulento

 Terapêutica
- Especial atenção à anatomia do
períneo

 Complicações
- Dor associada a erecções
Outras Infecções dos Tecidos

 Doença Pilonidal
 Úlceras de Pressão
 Úlceras de Estase
 Pé Diabético
 Infecção do Local Cirúrgico
Doença Pilonidal

 Infecção adquirida

 Abcesso/seio na região
sacrococcígea, que resulta do
crescimento de pêlos para
dentro da pele

 Homens, brancos, 15-40


anos
Doença Pilonidal

 Complicações:
 Recorrência;
 Infecção
necrotizante;
 Degeneração maligna.
Doença Pilonidal

 Tratamento
 Não cirurgico;
 Cirurgico:
 Drenagem
 Excisão

 Prognóstico
 Excelente
Úlceras de Pressão

 Resultam de pressão
prolongada nos tecidos moles
sobre os ossos e consequente
necrose isquémica.

 A maioria pode ser prevenida.


Úlceras de Pressão

 Prevenção:
 Ospontos de pressão devem ser aliviados;
 Mudar de posição a cada 2 horas;
 Camas com sistemas de flutuação.

 Pesquisadiária de possíveis áreas


eritematosas.
Úlceras de Pressão

 Tratamento:
 Difícil e prolongado
 Desbridamento de todo o tecido desvitalizado
 Recobrir
 Locaiscirurgicos devem ficar livres de pressão 2 a
3 semanas

 Cura espontânea (úlceras pequenas)


Pé Diabético

 Aumento da
susceptibilidade a
infecções por:
 Neuropatia diabética
 Diminuição da
sensibilidade dolorosa
 Deformidades ósseas (pé
de Charcot)
 Doença arterial periférica
 Isquemia crónica
 Imunodeficiência
Pé Diabético

 Profilaxia e tratamento

 Controlo da diabetes
 Uso de calçado adequado
 Antibioterapia
 Cirurgia
Infecção do Local Cirúrgico

 Resulta da contaminação bacteriana durante ou


após um procedimento cirúrgico.
Infecção do Local Cirúrgico

A maioria das feridas cirúrgicas é


contaminada.

A infecção raramente se desenvolve se:


 a contaminação for mínima,
 a lesão for pequena,
 houver boa perfusão e oxigenação do tecido
subcutâneo,
 não houver espaço morto.
Infecção do Local Cirúrgico

 Risco de infecção:
 Factores de risco do
doente
 Contaminação da
ferida
 Limpa (<2%)
 Limpa-contaminada
(2%-5%)
 Contaminada (5%-30%)
 Infectada
Infecção do Local Cirúrgico

 Clínica:

 5ºe 10º dias


 Febre
 Dor
 Edema
Infecção do Local Cirúrgico

 Prevenção:

 Cirurgia cuidadosa e limpa;


 Redução da contaminação;
 Promover as defesas do doente.

 Suturas.
Infecção do Local Cirúrgico

 Tratamento:

 Abrira ferida e deixá-la drenar


 Antibioterapia nas infecções invasivas

 Prognóstico
Abordagem do doente
com infecção das partes moles
História Clínica – Doença Actual

 Modo de aparecimento;
 Evolução cronológica;
 Dor, prurido, alterações da sensibilidade;
 Escorrências (supurativas, sanguinolentas, serosas);
 Causa aparente…
História Clínica – Exposições

 Idade
 Viagens;
 Ocupação profissional;
 Passatempos;
 Cirurgia recente;
 Produtos tópicos;
 Medicação;
 Plantas irritantes;
 Higiene pessoal;
 Alcool e drogas;
História Clínica – Exposições

 Residência;
 Stress fisio/psicológico
 Marisco ou água de mar;
 Parto recente;
 Traumatismo;
 Mordeduras animais ou
humanas;
 Estado imunológico;
 Contacto com animais;
 …
História Clínica – Comorbilidades

 História traumática acidental ou iatrogénica;


 Patologia adjuvante:
 Cardiovascular;
 Respiratória;
 Hepática;
 Endócrina;
 Imunológica;
 Neurológica…
História Clínica – Comorbilidades

 Diabetes mellitus;
 Eczema;
 Psoríase;
 Dermatomicose;
 Bypass com veia safena;
 Linfedema crónico;
 Estáse venosa;
 Antecedentes locais;
 …
Comorbilidades
 Atenuam a clínica, encobrindo a severidade da infecção:

 A DM – estreptococcias e infecção do pé diabético;

 A obesidade - infecção profunda com poucas manifestações cutâneas;

 A cirrose hepática - infecção por V. vulnificus.


Comorbilidades
 A imunossupressão aumenta a vulnerabilidade à infecção, particularmente
na neutropenia e hospitalização recente:

 Colonização por organismos multi-resistentes;

 Pseudomonas - ectima gangrenosa (neutropenia).


Diabetes Mellitus

 Possíveis alterações do quadro clínico:

 Ausência de febre e leucocitose;

 Hiperglicemia marcada e toxicidade sistémica


sugerem infecção agressiva/profunda;

 Ausência de taquicardia;

 História natural: aeróbios/anaeróbios 


estreptococcos do grupo B  grupo A;

 Gás nos tecidos - infecção mista ou Clostridia


(as estreptococcias não produzem gás).
Diabetes Mellitus

DM

Hiperglicemia

Imunidade
Vasculopatia Neutrófilos

Neuropatia
Regeneração
Inflamação:
Eritema;
Edema;
Calor;
Antibióticos
Dor,
Comorbilidades

 Exame físico cuidado e consulta precoce de cirurgia;

 A variação da resistência aos antibióticos torna a terapia empírica ineficaz e exige


cultura e antibiograma seriados como guia;

 A doença por Gram (-) em pessoas saudáveis é rara, mas bastante frequente nos
imunocomprometidos.
Exame Físico - Pele

 A relação anatómica dos diferentes tipos de lesões;

 Sinais inflamatórios:
 Eritema, calor, dor e edema.

 Sinais de infecção:
 Flutuação;

 Drenagem;

 Odor…
Exame Físico - Pele

 Simetria;

 Crepitações;

 Vesículas/Bolhas;

 Pápulas/Pústulas;

 Nódulos/Densificações;

 Manchas/Cor;

 Úlceras;

 Lacerações…
Exame Físico – Sinais de Alerta

 Sinais de infecção severa:


 Epidermólise;

 Bolhas violáceas;

 Necrose;

 Ulceração cutânea;

 Angeoedema;

 Alterações sensitivas e dor profunda:


 Síndrome do compartimento…
Toxicidade Sistémica

 Dor local severa e progressiva;


 Febre;
 Taquicardia/Palpitações;
 Fadiga/Astenia;
 Hipotensão/Afundamento mental;
 Taquipneia/Dispneia;
 …
Exames Laboratoriais

 Obter amostras para coloração imediata por Gram (morfologia);

 Na suspeita de toxicidade sistémica, realizar:


 Exames culturais específicos e antibiograma;

 Hemocultura (dois ensaios);

 Hemograma;

 Gasimetria;

 Ionograma:
 Bicarbonato;

 Cálcio.

 Creatinina;

 CPK (creatine phosphokinase);

 Glicose;

 Albumina…
Biópsia

 Biopsia na celulite:
 Só 20% das culturas é positivo;

 A IF é muito sensível nas estreptococcias, mas cara e complicada.


Biópsia

 Infecção não associada a lesão de entrada:


 50% das fasceítes necrosantes e mionecroses estreptocóccica;

 100% das gangrenas gasosas por C. Septicum;

 Disseminação hematogénia com exteriorização cutânea tardia;

 O dx e tx definitivo precoces reduzem a mortalidade e morbilidade;

 A preparação extemporânea de biopsia cirúrgica reduz:


 O tempo de dx de 6 dias → 21 horas;

 Mortalidade de 72,7% → 12.5%.


Imagiologia

 Radiografia simples;

 Ecografia;

 TC;

 RMN;

 …
Radiografia Simples

 Gás:

 Músculo;

 Tecido subcutâneo.

 Alterações ósseas:

 Osteolíticas;

 Desformações.

 Osteomielite.
Ecografia

 Abcesso
Tomografia Computorizada

Fasceíte necrosante complicada com mediastinite.


Ressonância Magnética Nuclear

Infecção do compartimento
dos adutores, complicado
por Síndrome de
Compartimento.
Diagnóstico Cirúrgico

O apoio de Cirurgia pode ser crucial na presença de:


 Sinais de toxicidade sistémica;

 Bolhas arroxeadas, equimose ou epidermólise;

 Sinais de necrose na TC ou RMN;

 Trauma, cirurgia ou parto recentes;

 Evidência de síndrome do compartimento;

 Dor severa progressiva, mesmo se apirética;

 Evidência clínica ou imagiológica de gás nos tecidos…


Diagnóstico Cirúrgico

 Inspecção directa de fáscias e músculos;

 Colheita de material de qualidade superior para:


 Preparação extemporânea e coloração Gram;

 Histopatologia;

 Cultura;

 Antiobiograma…

 Desbridamento cirúrgico imediato do tecido necrótico;

 Melhorar o prognóstico da lesão profunda grave, pouco sintomáticas


e tardiamente diagnosticada.
Dx Diferencial

A inflamação acompanha a infecção, mas é inespecífica e associa-se a


patologia não infecciosa (ex., alergias), podendo mimetizar ou ser causa
adjuvante da infecção;

A histopatologia (imunofluorescência) é útil no dx de processo não


infeccioso, mas a simetria no exame físico é um sinal forte.
Diagnóstico

OBJECTIVOS E ALERTAS:

 Obter (história clínica e exame físico) os elementos chave para


determinar a potencial causa da infecção;

 Avaliar (exame físico) a profundidade e a severidade da infecção;

 Atentar no potencial de certas terapias e comorbilidades alterarem o


quadro clínico clássico;

 Realizar testes laboratoriais para caracterizar e determinar a


etiologia da infecção, e guiar a antibioterapia empírica/definitiva;

 Reconhecer os dados clínicos/laboratoriais de toxicidade sistémica;

 Reconhecer que as infecções das partes moles possuem etiologia


variada e podem ser confundidas com doenças não infecciosas.
Hospitalização

 Angeoedema;

 Febre ou síndrome gripal;

 Taquicardia (exagerada para a temperatura);

 Hipotensão (basal ou ortostática);

 Taquipneia;

 Afundamento mental;

 Progressão rápida da infecção;

 Sinais de necrose: equimose, bolhas


violáceas, epidermólise, crepitações,
ulcerações;
Hospitalização

 Linfangite;

 Dor contínua, severa, evolutiva, fixa, de


difícil controlo;

 Evidência de síndrome de
compartimento;

 Sinais de I.R.: creatinina e CPK elevadas,


hipoalbuminemia, acidose metabólica;

 Hipocalcemia;

 Hiperglicemia (marcada nos diabéticos);

 Falência multi-orgânica…
Ambulatório

 Obter o consentimento informado do paciente (ou responsável legal);

 Assegurar a existência do ambiente domiciliário apropriado;

 Acesso fácil e capacidade de recorrer a cuidados de saúde;

 Disponibilidade de pessoal de enfermagem creditado na administração e.v.


e cuidados médicos 24h por dia…
Ambulatório
Contra-indicações:
 Infecção grave (necrose, disseminação);

 Toxicidade sistémica;

 Diabetes Mellitus;

 Doença arterial oclusiva periférica (DAOP);

 Terapia imunosupressora/corticoterapia;

 Obesidade;

 Doença varicosa grave ou linfedema;

 Prótese;

 Alcoolismo;

 Idade avançada;

 …
Tratamento Empírico

Sem sinais sistémicos ou comorbilidades, usar antibioterapia anti


estafilococcica e estreptococcica:

 Mediante baixo risco de MRSA:

 Nafcilina/dicloxacilina e.v.;

 Cefalosporina oral (cefuroxima, cefpodoxima, cefadroxil…);

 Azitromicina/claritromicina e.v.;

 Ampicilina/sulbactam e.v. e depois amoxicilina/clavulanato oral;

 Nova fluroquinolona (levofloxacina, moxifloxacina…);

 Clindamicina…
Tratamento Empírico

 Mediante alto risco de MRSA:

 Vancomicina e.v.;

 Oxazolidinona (linezolido) e.v. ou oral;

Regime ambulatório:

 Cefalosporina: ceftriaxona (1x dia) ou cefazolina (2x dia ou 1x


dia + probenecide oral);

 Infusão de 24h com outros antibióticos, com acesso i.v.


adequado (ex. catéter venoso central);

 Dar prioridade ao tx ambulatório sempre que possível.


Tratamento Cirúrgico

 Remoção cirúrgica da fáscia friável e músculo escurecido não sangrante e


sem abalos;

 Alargar o desbridamento cirúrgico até atingir tecido viável;

 Reparar possíveis danos vasculares.


Tratamento Cirúrgico

 Amputação:
 Infecção invasiva e virulenta de comportamento maligno;

 Inviabilidade tecidular por lesão vasculonervosa…


Tratamento Cirúrgico

 Cirurgia plástica…
Desbridamento

 Cirúrgico;

 Mecânico;

 Autolítico;

 Enzimático.
Desbridamento

 Fasciotomia
Terapia adjuvante

Na infecção grave com toxicidade sistémica:


 Fluidoterapia na hipotensão, azotemia e acidose metabólica;

 Hipertensores quando sem resposta aos fluidos;

 Monitorização intensiva (UCI);

 Oxigenoterapia;

 Ventilação mecânica;

 Hemodiálise (IRA);

 Oxigénio hiperbárico;

 Plasmaferese;

 Imunoglobulinas IV;

 PCR.
Prevenção

 Prevenir a infecção secundária a lesão traumática;

 Traumatismo ligeiro:

 Queimaduras, escoriações, abrasões ou lesões de impacto;

 Flora cutânea (S. aureus e estreptococcos do grupo A);

 Limpeza simples com sabão bactericida é suficiente em pessoas


saudáveis.

 Pé diabético:

 Limpeza agressiva e antibioterapia;

 Educar para lesões de causa neuropática, higiene, calçado


protector, inspecção e tx precoce.
Prevenção

Lesão profundas (esmagamento ou fracturas expostas), com lesão


vascular ou contaminação evidente pelo solo com:
 Limpeza cirúrgica profunda da ferida;

 Remoção de todo o material estranho;

 Re-anastomose vascular;

 Irrigação abundante com soro fisiológico;

 Antibioterapia;

 Deixar a ferida aberta;

 Assegurar-se da imunização activa contra o tetano…


Prevenção

Educar os pacientes com comorbilidades adjuvantes nas medidas de


higiene preventivas:

 O pé diabético na DM;

 Bypass da veia safena;


 Linfedema crónico mastectomia, prostatectomia radical e radioterapia;

 Insuficiência venosa crónica;

 Infecção fúngica crónica dos pés.


Seguimento
 Avaliação cautelosa antes, durante e após o tx, procurando sinais de
recidiva:

 Sinais de drenagem persistente;

 Cultivar a drenagem para identificação do agente e antibiograma;

 Rx ou TC para excluir infecção profunda, corpo estranho ou


osteomielite;

 A fisioterapia é vital na recuperação dos sobreviventes sujeitos a


limpeza radical ou amputação;

 A consulta de medicina física e de reabilitação avalia a necessidade de


prótese, reabilitação, reaprendizagem…
Serviço de Cirurgia do Hospital de S. João – Porto
Disciplina de Cirurgia da FMUP

CASO CLÍNICO

3 de janeiro de 2019
Serviço de Cirurgia do Hospital de S. João – Porto 3 de janeiro de 2019

IDENTIFICAÇÃO

MJCM
♂ 60 anos
Caucasiano
Profissão: Reformado (comerciante de produtos alimentar)
Residência: Gondomar

ANTECEDENTES PESSOAIS

 Ex-fumador há 20 anos;
 DM II diagnosticada há 10 anos;
 Dieta, exercício e ADO, o qual suspendeu 1 ano.
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HISTÓRIA DA DOENÇA ACTUAL

2006/03/30 – 1ª vez que se desloca ao S.U do HSJ - PORTO.

MOTIVO DA URGÊNCIA
Grave dispneia de esforço e astenia de agravamento contínuo com 1
mês de evolução. Edema dos M.I., inicialmente à direita e depois
também à esquerda de evolução mais recente.
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EXAME FÍSICO
 Pálido, hidratado, sem sinais de cianose ou icterícia;
 Sem tiragem. AP: sons simétricos, com crepitações inspiratórias e
expiratórias, mais abundantes nos QS e reduzidas no 1/3 inferior
direito. Sibilos bilaterais. Tempo de expiração ligeiramente prolongado;
 AC: S1 e S2 normais, sopro aórtico e taquicardia;

 FC: 100/110 bpm; TVJ a 45º positiva;


 PAS: 90/100 mmHg; PAD: 60/80 mmHg;
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EXAME FÍSICO
 Abdómen: globoso e distendido, sem outras alterações;
 MI: edema bilateral até à extremidade proximal da coxa mais
acentuado do lado direito;
 MS: Contractura de Dupuytren em ambas as mãos;

Dx: Infecção respiratória inferior;


Tx: Penicilina G;
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2006/04/04 - 2ª vez que recorre ao S.U. do HSJ - PORTO


Manutenção do estado geral e manutenção do esquema terapêutico.

2006-04-10 - 3ª vez que recorre ao S.U. do HSJ - PORTO


MOTIVO DA URGÊNCIA
Manutenção da sintomatologia respiratória e agravamento do edema
dos M.I., particularmente à direita, com sinais inflamatórios na face
anterior do 1/3 médio da coxa. Refere dor à palpação e à mobilização
activa e passiva do membro. Aparente presença de flutuação local.
Tentativa de aspiração local.
Dx: Abcesso;
Tx: Sem alteração;
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2006/04/13 - 4ª vez que recorre ao S.U. do HSJ - PORTO

MOTIVO DA URGÊNCIA
Manutenção da sintomatologia respiratória e agravamento do edema
dos M.I., em particular à direita, com acentuada inflamação da face
anterior-interna do 1/3 médio da coxa. Drenagem espontânea de
colecção purulenta, sugestiva de abcesso fistulado. Mancha de
tonalidade azulada sugere possível hematoma infectado;
Realização de ecografia à coxa direita e recolha de sangue para
análises clínicas;
O doente regressa a casa com o acordo de voltar no dia seguinte para
ser internado no Serviço de Cirurgia do HSJ – Porto.
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ECOGRAFIA – S.U.
Densificação dos tecidos moles da coxa direita, em particular da face
antero-interna com colecção complexa medindo 10X3,6cm de maior
diametro sugestiva de volumosa formação abcedada ou hematoma
infectado.
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2006/04/14 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO


MOTIVO DE INTERNAMENTO
Abcesso em drenagem espontânea no 1/3 médio da face antero-
interna da coxa direita com 2 semanas de evolução.
ANÁLISES CLÍNICAS
Leucócitos – 23000;
PCR – 278;
Glicose – 356;

Tx: Drenagem cirúrgica do abcesso, ferida aberta; Suspensão da


penicilina G e início de ciprofloxacina, metronidazol e insulina.
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2006/04/17 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO


Manutenção da sintomatologia respiratória, redução do edema da coxa;
ANÁLISES CLÍNICAS
Leucócitos – 14000;
PCR – 232;
Glicose – 236;

Tx: Sem alteração.

2006/04/19 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO


Manutenção da sintomatologia respiratória, redução significativa do
edema e processo inflamatório da coxa;
Tx: Suspende metronidazol, mantém de ciprofloxacina. Realiza Rx
torácico.
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Rx TORÁCICO
Broncopneumonia e
consolidação de
grandes dimensões
no 1/3 médio do
pulmão esquerdo,
(pneumonia lobar), dx
diferencial carcinoma
broncogénico. Sinais
de derrame pleural
nos ângulos
costofrénicos. Pedido
de TC torácico para
esclarecimento.
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2006/04/21 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO


Melhoria da sintomatologia; Anemia NC/NC;
ANÁLISES CLÍNICAS
Hemoglobina – 9;
Leucócitos – 5000;
PCR – 46;
Glicose – 140;

Tx: Sem alteração. Realização de TC torácico.


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TC TORÁCICO
Consolidação
pulmonar lobar dos
lobos superiores,
com broncograma
aéreo. Derrame
pleural bilateral de
médio volume.
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TC TORÁCICO
Achados
sugestivos de
hemorragia e
infecção pulmonar
em fase de
resolução, ainda
de considerar
carcinoma
broncoalveolar.
Pedido de
broncoscopia para
despiste de
neoplasia.
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2006/04/27 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO


Sem queixas. Melhoria franca do estado geral, com exame físico e
análises clínicas dentro do normal. Diabetes controlada. Bom processo
de cicatrização da ferida cirúrgica aberta, sem sinais de infecção.
Tx: Sem alteração. Realização de TC torácico de controlo.
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Rx TORÁCICO
Sem imagens
significativas de
consolidação lobar e
sem sinais de
derrame pleural.
Alguns sinais de
fibrose do 1/3 médio
do campo pulmonar
esquerdo.
Desaparecimento da
imagem sugestiva de
massa neoplásica.
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2006/05/04 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO


Bem estar geral. Sem queixas. Tx: Sem alteração.
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2006/05/04 – internado no S. de Cirurgia do HSJ - PORTO

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