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6) CICLONES

6.1) Introdução

• Operações como elutriação, transporte pneumático, fluidização


exigem posterior separação dos sólidos arrastados pelo gás, o que
no caso de partículas finas consiste num despoeiramento do gás.

• O objetivo do despoeiramento é frequentemente para proteger a


saúde de operadores fabris e populações vizinhas, mas pode ser
também evitar perda de materiais valiosos

• Há vários tipos de equipamentos de despoeiramento para este


efeito: lavadores de gases, filtros, precipitadores eletrostáticos,
ciclones, etc.
• O ciclone é provavelmente o mais comum. É barato e eficaz para separar
partículas com dp > ~ 10 m. É muitas vezes usado para remover estas
partículas, antes de outro equipamento de despoeiramento adequado a
partículas mais finas.

 Despoeiradores mais eficientes:


 Lavadores de gases,
 Filtros,
 Precipitadores eletrostáticos
• O ciclone consiste de um cilindro ligado a um tronco de cone.
• O gás entra tangencialmente na secção cilíndrica, desce em espiral pela periferia
do tronco de cone e sai finalmente subindo pelo centro (ver fig. abaixo)
• Os sólidos são atirados para a periferia pela força centrífuga, escorrem por
gravidade pela parede e são recolhidos numa tremonha ou num tubo de
descarga. A fracção de sólidos mais finos é arrastada pelo gás.

• http://www.youtube.com/watch?v=GxA49uVP2Ns&feature=related
• http://www.youtube.com/watch?v=wA8f0okOwlM
6.2) Mecanismo. Modelo da distância crítica.
• A separação dos sólidos é devida à aceleração centrífuga, dada por r  w 2  v 2 / r
• Consideremos agora uma partícula com diam. d que entra no ciclone à distância x
da periferia, com a mesma velocidade do gás, vg. O raio médio do percurso do gás
é R.
• A partícula é acelerada em direção à parede e atinge rapidamente a velocidade
terminal vt . Pressupondo a lei de Stokes, com a aceleração da gravidade g
substituída pela aceleração centrífuga:

vt 
  S    d 2vG2 (6.1)
18  R

• O tempo para uma partícula atingir a parede


e ser capturada pela parede é:

t x (6.2)
vt

- - - - percurso de elemento de gás que se


encontrava inicialmente à distância da parede
a que a partícula se encontrava
Ora, se N é o nº de voltas que o gás dá no ciclone o tempo de residência do gás é:
2R N
t  (6.3)
vG
Para a partícula ser capturada é preciso que t’ > t , ou seja que haja tempo para
ela chegar à parede. Combinando (6.1), (6.2) e (6.3) isso é equivalente a:

9  ( x L) L
d (6.4)
 N vG (  S   )

9 L
Partículas de diam. d  d100  serão teoricamente capturadas
 N vG (  S   )

9 L
d
e partículas de diam. 50  têm 50% de probabilidade de o ser,
2 N vG (  S   )

desde que a sua distribuição inicial seja uniforme. Numa população com diam.
uniforme será capturada a metade que estiver mais perto da parede que L/2.
9  L
Generalizando: d (6.5)
 N vG (  S   )

onde  =x/L é a probablidade (eficiência) de captura de partículas de diâmetro d.

O modelo da distância crítica tem limitações (ver figura acetato 9) devidas a que :
(i) as órbitas não têm todas o mesmo raio;
(ii) as partículas não têm à entrada distribuição homogénea;
(iii) há colisões e ricochetes de partículas;
(iv) o gás traz a sua própria turbulência.
6.3) Curvas de eficiência.

9  L
d (6.5)
 N vG (  S   )

A equação (6.5) pode no entanto ser útil, pressupondo que N é função do


diâmetro de partícula, d, mas não da velocidade do gás, das suas propriedades
nem do tamanho do ciclone (embora o seja das suas proporções geométricas).
Dividindo (6.5) membro a membro para duas condições experimentais
diferentes, fica:

d L vG (  S   )
 (6.6)
d vG (  S   )   L
A figura mostra várias curvas experimentais de  em função de d. As curvas são
válidas para valores específicos de vg, ,  e dimensão característica do ciclone
(no caso o diametro principal, D).
A curva pode no entanto ser corrigida para outros valores de vg, ,  ou D, como
se mostra abaixo, onde a curva inferior pode ser obtida a partir da superior
usando a equação (6.6) e agindo sobre as abcissas .
EXEMPLO : Converter curva de ciclone de diametro D em curva de diametro 3D.
Partindo da equação (6.6) e tendo em conta que só variam as variáveis geométricas
e que são todas proporcionais entre si, vem:

d L vG (  S   ) d3D 3D
   1,73

d vG (  S   )   L dD D

Os pontos da curva 3D são obtidos para várias ordenadas, corrigindo a abcissa, por
exemplo, para =0,8:
(i) lê-se na curva D dD0,8  6 m
(ii) e calcula-se a abcissa correspondente da curva 3D (ver fig. pg. anterior)

d3D0,8  1,73  6  10,4 m


As curvas acima podem ser facilmente usadas para se obter a eficiência global de
um ciclone conhecida a distribuição de tamanhos da poeira que é alimentada.
Diam. Fração,
C.C.I Abertura (m) Equival. fi (d)
(% m/m) d retida no
(DADO) (DADO) (mm) peneiro (LEITURA CURVA 1)

0 1,0 0,5 0
2 2,5 1,75 0.02 0,35
10 5,0 3,75 0.08 0,7
40 7,5 6,25 0.30 0,8
95 10,0 8,75 0.55 0,9
100 15,0 12,5 0.05 0,94

A eficiência global é: CICLONE   f ii = 0,02x0,35+ 0,08x0,7+… = 0,85

EXERCÍCIO: calcular a distribuição


de tamanhos dos sólidos que não são retidos
pelo ciclone
RESOLUÇÃO:
Partindo de uma base de 1 de sólidos à entrada, obtem-se:

Não são retidos Fração não retida de diam


pelo ciclone:_ di
di (1-i) fi (1-i) fi / ( (1-i) fi)

0,5 1x0 0
1,75 (1-0,.35) 0,02 = 0,013 0,013/0,155 = 0,08
3,75 (1-0,7) 0,08 = 0,024 0,024/0,155 = 0,15
6,25 (1-0,8) 0,30 = 0,060 0,060/0,155 = 0,39
8,75 (1-0,9) 0,55 = 0,055 0,055/0,155 = 0,36
12,5 (1-0,94) 0,05 = 0,003 0,003/0,155 = 0,019

 (1  ) f
i i  0,155
Uma forma mais geral da curva de eficiências é apresentada na fig. abaixo.
 é representado em função de (d /d50) . Uma curva deste tipo é geral para uma
família de ciclones geometricamente semelhantes .

N50=5

- - - - Modelo da distância crítica


_____ Curva experimental

A curva experimental acima é válida para ciclones com as proporções do desenho.


Para se usar a curva é preciso calcular d50 . Para isso é necessário que com a curva de
eficiências seja fornecido o correspondente valor de N50 (valor de N para d50 ).
OBS: a figura mostra também a inadequação do modelo da distância crítica.
6.4) Dimensionamento de um ciclone.

1) Escolher um tipo de ciclone cujas dimensões relativas, N50 e curva de


eficiências estejam publicadas.
2) Escolher uma velocidade de entrada de gás (usar vg ~ 15 m/s)
3) Especificar a eficiência CICLONE requerida para o ciclone.
4) (Pressupondo que se tem uma curva  vs. d/d50 ) Obter d50 tal que
CICLONE =  fi. i seja o desejado. Este cálculo de d50 poderá ter que ser por
tentativa e erro.
9 L
5) Obter L a partir da equação: d 50 
2 N vG (  S   )

6) Sabidas, como são, as proporções do ciclone, a partir de L obtêm-se todas as


outras dimensões.
7) Verificar quantos ciclones são necessários para tratar o caudal desejado. Se o
nº não for inteiro, arredondar o nº de ciclones para o inteiro inferior
(aumentará vG , o que por sua vez aumentará a eficiência e a perda de carga)
EXEMPLO
Projetar um ciclone semelhante ao da pag. 9, para captura de poeiras do ar saído
de um secador com a eficiência de 0,98. O ar tem um caudal de 20000 m3/h. A
viscosidade do ar a 127ºC é 2,29.10-5 Pa.s. A distribuição de tamanhos da poeira
(S=800 kg/m3) é:
Diam. Equival. d (m) Fração mássica
5 0
17,5 0.02
37,5 0.08
62,5 0.30
87,5 0.55
125 0.05

Diam 1ª tentativa : d50=50 m


RESOLUÇÃO . Equival.
Fração
F mássica
d/d50  (d/d50) i.fração
d (m)

5 0 0,1 0 0
17,5 0,02 0,35 0,13 0,0026
37,5 0,08 0,75 0,35 0,0264
62,5 0,30 1,25 0,58 0,174
87,5 0,55 1,75 0,75 0,412
125 0,05 2,5 0,88 0,044

CICLONE   fii  0,66


Como d50 = 50 m não serve, tenta-se outro valor:

Diam.
Equival.
Fração retida
no peneiro 2ª tentativa : d50=10 m
d (m) d/d50  i.fraçã
(d/d50) o
5 0 0,5 0,2 0
17,5 0,02 1,75 0,75 0,008
37,5 0,08 3,75 0,95 0,076
62,5 0,30 6,25 1 0,3
87,5 0,55 8,75 1 0,55
125 0,05 12,5 1 0,05
CICLONE   fii  0,984
 OK!
Logo, fazendo vg ~ 15 m/s, desprezando a densidade do gás e tendo em conta que
N50 =5, vem:
5 9 L 9  2,28  10 5 L
d 50  1  10 m  
2 N vG (  S   ) 2  5  15  800

Donde L= 0,18m e, tendo em conta as proporções do ciclone da p. 9, vem


D=0,74 m
Nº de ciclones em paralelo necessários= caudal vol/(2 L2 vg) = 5,5 ~ 5 
 arredondar para baixo para não baixar eficiência
6.5) Perda de carga num ciclone.

• Uma vez que os ciclones funcionam em regime turbulento, a perda de


carga do gás varia com o quadrado da velocidade:

P  Pin  Pout    v 2

• Onde  é uma função da geometria do ciclone, sendo igual para uma


família de ciclones geometricamente semelhantes.

• Para a família de ciclones da figura,


a perda de carga é dada por:

P  0,024  v 2

• (P-polegadas de água,  - lb/ft3, v – ft/s)

• [REF – PERRY, 5ª ED)

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