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AFASIOLOGIA

LINGUÍSTICA

LINGUÍSTICA G
MÓDULO I: PERDA DA LINGUAGEM
PROFESSOR: JEAN CARLOS DA SILVA GOMES
“ O que significa
“afasia”?

Perda ou alteração da capacidade de falar ou
de compreender a linguagem escrita ou falada.
"afasia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, https://dicionario.priberam.org/afasia [consultado em 06-02-2019].
Afasia – Período greco-romano

 O órgão língua é responsável pelas


desordens na linguagem.
Afasia - Renascimento

 Perda de memória para as


palavras.
Afasia – Século XVIII

 Johann Augustin Phillip Gesner (1738-1801): analisa


a afasia sob um prisma inovador, caracterizando-a
como a inabilidade de associar imagens ou ideias
abstratas a seus símbolos verbais expressivos.
Afasia de Broca

“nós falamos com


o hemisfério
esquerdo”
(BROCA, 1865)
AFASIA DE BROCA

 Sintomas: Perda sobretudo na produção.


 Casos: motora, agramática, produz apenas sons
repetidos.
Causas para afasia

 AVC (isquêmico, que se caracteriza pela interrupção da circulação de


sangue em determinada área do cérebro, e o hemorrágico, caracterizado
pelo rompimento de um vaso sanguíneo que resulta no sangramento dentro
do crânio.)
 Lesão na cabeça severa, tal como ferimento resultando de um acidente de
tráfego rodoviário ou de uma queda séria
 Um tumor cerebral
 Infecções do cérebro tais como a meningite ou a encefalite
 Doenças neurogenerativas progressivas
Vídeo 1 – Afasia motora
https://www.youtube.com/watch?v=ciZV2-QIDYQ
Vídeo 2 – Produção oral afasia de Broca
https://www.youtube.com/watch?v=houbwrZY_yg
Vídeo 3 – Produção de sons repetitivos
https://www.youtube.com/watch?v=6CJWo5TDHLE
Vídeo 4 – A escrita
https://www.youtube.com/watch?v=IIR778K8UDs
Perda no conhecimento linguístico
Caramazza e Zurif (1976)

 O menino chutou a bola. SEMÂNTICAMENTE


A bola foi chutada pelo menino. IRREVERSÍVEL

 O menino chutou a menina.


SEMÂNTICAMENTE
A menina foi chutada pelo menino. REVERSÍVEL

Sentenças semanticamente irreversíveis: bom desempenho dos pacientes.


Sentenças semanticamente reversíveis: o desempenho dos pacientes ficava no nível da
chance.
CONCLUSÃO: dificuldade com as sentenças semanticamente reversíveis seria decorrente
de problemas no processamento sintático.
Hipótese do apagamento do vestígio
Grodzinsky (1986)

 Nas sentenças geradas por movimento o constituinte movido deixaria um vestígio. Uma das
funções do vestígio é crucial, uma vez que é através dele que o papel temático dos NPs
movidos é atribuído. Outra função relevante seria a de estabelecer relações permissíveis entre
ele e seus antecedentes, restringindo os movimentos.
 Essas operações com movimentos que estariam prejudicadas nos afásicos de Broca, fato que
levou à hipótese de que os vestígios de movimentos estariam apagados das representações
sintáticas. Ele explica, ainda, que o desempenho dos pacientes nos testes de compreensão de
sentenças complexas, ou seja, que envolvem movimento, estaria no nível da chance, devido a
uma estratégia default de atribuição de papel temático.
 Essa estratégia seria utilizada quando o afásico percebesse um NP que não possui papel
temático, atribuindo, assim, o papel temático canonicamente associado com a posição que ele
ocupa. Em uma sentença passiva, por exemplo, o primeiro NP, para o afásico, está sem papel
temático, porque ele não consegue ligar o NP ao vestígio e, dessa maneira, atribui a esse NP o
papel de agente, por ser o papel temático canônico para o primeiro NP da sentença. Contudo,
o agente é o segundo NP da sentença, e assim, dois NPs teriam o mesmo papel temático em
uma sentença. O afásico, então, escolheria aleatoriamente entre um dos dois e, por isso, teria o
desempenho no nível da chance.
Dissociação entre tempo e concordância
Friedmann e Grodzinsky (1997)

POLLOCK (1989) CHOMSKY (1991)


Dissociação entre tempo e concordância
Friedmann e Grodzinsky (1997)

 Paciente falante nativo do hebraico


 50% de erro com tempo – 2% de erro com concordância
 Problemas com movimento de constituinte (palavras qu- /
complementizadores)

 Já era amplamente descrito na literatura o uso demasiado das formas


nominais dos verbos – infinitivo, gerúndio e particípio – por pacientes
agramáticos (cf. GRODZINSKY, 1990), que seria a única maneira de se
construir sentenças na ausência de nódulos flexionais na árvore sintática.
Dissociação entre tempo e concordância
Friedmann e Grodzinsky (1997)

HIPÓTESE DA
PODA DA
ÁRVORE
BRAGA (2004)
Dissociação entre tempo e aspecto
Braga (2005)

 Paciente afásico de Broca


 Testes linguísticos
 Problema com imperfectivo, mas não com pretérito perfeito.
 Maior parte das produções foi com infinitivo (forma preferida pelos
afásicos pois não exige movimento para nódulos mais altos).
Dissociação entre tempo e aspecto
Braga (2005)
Dissociação entre tempo e aspecto
Braga (2005)
AFASIA DE WERNICKE

 Karl Wernicke (1848 – 1905)


 Médico, anatomista, psiquiatra e neuropatologista
alemão.
AFASIA DE WERNICKE

 Descreve pacientes com lesão na região posterior do


lobo temporal do hemisfério esquerdo (área de
Wernicke) com problemas sobretudo de
compreensão linguística e problemas de produção
ao dar significado às produções linguísticas.
 Em 1874, Wernicke descreve afasia como a “perda
parcial ou completa da capacidade de empregar
linguagem após uma lesão encefálica”.
AFASIA DE WERNICKE

 Problema sobretudo na compreensão.


AFASIA DE WERNICKE

 perda da capacidade de simbolizar;


 observa - se erros de trocas e repetição de palavras na linguagem oral;
 dificuldade de nomear cores, números (com mais de 2 algarismos), objetos, formas, letras e categorias (ex:
animais);
 em alguns casos, perda da escrita
 em alguns casos, perda da leitura compreensiva e silenciosa
 dificuldade de narrar fatos e outros;
 dificuldade ou incapacidade de reconhecer símbolos linguísticos;
 em alguns casos, o diálogo é deficiente ou quase impossível.
 dificuldade de memória.
Vídeo 1 – Afasia de Wernicke
https://www.youtube.com/watch?v=njtEzRdnZ8k
Vídeo 2 – Escrita na afasia de Wernicke
https://www.youtube.com/watch?v=M5sPDF2gRLA
DUPLA DISSOCIAÇÃO

 Um paciente com problema na produção e lesão


na área de Broca;
 Um paciente com problema na compreensão e
lesão na área de Wernicke.
AFASIA DE CONDUÇÃO

Perante uma imagem de uma frigideira:


 Doente: Um… Pri, soprassizeira. Frizeira,
frezeira. Não! Não é!
 Médico: É parecido.
 Doente: É parecido, mas não é.
 Doente: Frenizeira. Não, não é. Não vai.
 Médico: Quer que eu diga? Ou ainda
consegue?
 Doente: Não, não consigo. Não vai.
Vídeo 1 - AFASIA DE CONDUÇÃO
https://www.youtube.com/watch?v=RfUZ01fz-fE

 A partir de 01:45
AFASIA DE CONDUÇÃO

 SINTOMAS:
 Fluente
 Nomeação pobre
 Compreensão normal
 Repetição: muito prejudicada
 Parafasias frequentes
 Descrevem imagem, mas não
conseguem nomeá-la.
Vídeo 2 - AFASIA DE CONDUÇÃO
https://www.youtube.com/watch?v=hY6XIkUK_7c
AFASIA DE CONDUÇÃO

 Wernicke propõe uma conciliação entre as visões localizacionista e


holística: o conexionismo (funções psicológicas superiores resultantes da
conexão entre áreas distintas do cérebro; somente as funções mentais
básicas seriam localizadas em áreas corticais específicas).
 A afasia poderia decorrer de uma lesão na área de Wernicke (causando
sintomas receptivos), na área de Broca (causando sintomas expressivos)
ou na região que conecta ambas as áreas (fascículo arqueado),
gerando um tipo de afasia que viria a ser conhecido como afasia de
condução.
A CASA DE LICHTHEIM
PET
Referências

 "afasia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-


2013, https://dicionario.priberam.org/afasia [consultado em 06-02-2019].
 BRAGA, M. O traço aspectual no agramatismo: reformulando a hipótese da poda da árvore.
Dissertação de Mestrado em Linguística, Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras. 2004.
 BROCA, P. Sur le siège de la faculté du langage articulé. Bulletin de la Societe d’anthropologie, v. 6,
pp. 337–93, 1865. Caramazza, A. e Zurif, E. (1976) Dissociation of algorithmic and heuristic processes in
sentence comprehension: evidence from aphasia. Brain and Language, 3, 572-582
 CHOMSKY, N. Some notes on economy of derivation and representation. In: FREIDIN, R. (Ed.). Principles
and parameters in comparative grammar. Cambridge (MA): MIT Press, 1991.
 FRIEDMAN, N., GRODZINSKY, Y. (1997). Tense and Agreement in agrammatic production: Pruning the
syntactic tree. Brain and Language, 56, 397-425.
 GRODZINSKY, Y. (1986) Language deficits and the theory of syntax. Brain and Language, 26, 186-196 .
 Pollock, J. (1989). Verb movement, universal grammar and the structure of IP. Linguistic Inquiry, 20, 365-
424.
FIM DA
AULA DE
HOJE

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