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A sociologia no Brasil

Antônio Candido
3 fases

 1880-1930 Intérpretes do brasil


 1930-1940- fase transitória de institucionalização - ensino nas escolas e
universidade.
 Pós 1950- institucionalização USP (1934)e ISEB (1955)
Formação

 Vinculada às escolas de direito e medicina (perspectiva evolucionista)

 Fundamentos jurídicos do Estado brasileiro

 Adequação do evolucionismo à realidade local, escravismo e


mestiçagem e nossa formação étnico racial
1881- Silvio Romero- Introdução à literatura
no Brasil

 Primeira obra de cunho sociológico


 Literatura é vista como cultura, essa cultura é representada pela evolução
institucional da raca brasileira
 Influência de Conte e Burkle
 A exuberância da natureza “abafa” a obra humana
 As notas, todavia, predominantes no clima do país são, pois, o calor e a umidade, com todo o seu
cortejo formado pelo impaludismo. Daí um certo abatimento intelectual, uma superficialidade
inquieta, uma irritabilidade, um nervosismo, um hepatismo que se revela nas letras, – o que tudo
não degenera em delírio; porque o exterior do país é risonho, as montanhas reduzidas e poéticas
e não colossais e fantásticas como as da Índia, por exemplo. Seja dada a palavra a um
especialista: “Os habitantes dos climas equatoriais experimentam desde o nascer os efeitos do
calor. Experimentam-nos sem interrupção até a morte; sua organização, composta de elementos
de uma hereditariedade especial, é a expressão mais verdadeira e completa do poder desse
agente; ela carrega o selo da ação solar como todos os produtos da natureza que a cerca. O
calor exalta os órgãos da periferia e determina um movimento centrífugo: exageração habitual
das funções exteriores, relaxamento das funções centrais, tal o ritmo dos indígenas da zona
tórrida. O calor árido contrai, encrespa, irrita seus tecidos cutâneos; o calor úmido os distende
pelo suor e muitas vezes pelas erupções; num caso e noutro, os fluidos são levados para debaixo
da pele, que perde a cor e adquire um alto grau de sensibilidade; os órgãos que simpatizam
diretamente com a pele recebem um igual impulso, especialmente os sentidos e o aparelho
genital. A sobreexcitação cutânea tem como conseqüência a depressão vital das mucosas; as
forças digestivas languescem; a elaboração do quilo é incompleta; o sangue, fornecido além
disso por uma alimentação pouco substancial, fica seroso e pouco estimulante; levado aos
pulmões, cuja atividade está diminuída, não se arterializa tão completamente como nos climas
frios, onde a respiração é mais enérgica.
 É a descrição mais ou menos exata do Brasil. Temos uma população mórbida, de vida
curta, achacada e pesa-rosa em sua mor parte. E que relação tem isto com a literatura
brasileira? Toda. É o que explica a precocidade de nossos talentos, sua extenuação
pronta, a facilidade que temos em aprender e a superficialidade de nossas faculdades
inventivas. O trabalho intelectual é no Brasil um martírio; por isso pouco produzimos;
cedo nos cansamos, envelhecemos e morremos depressa. A nação precisa mais de um
regímen dietético acertado e caprichoso do que mesmo de um bom regímen político.
O brasileiro é um ser desequilibrado, ferido nas fontes da vida; mais apto para queixarse
do que para inventar, mais contemplativo do que pensador; mais lirista, mais amigo de
sonhos e palavras retumbantes do que de idéias científicas e demonstradas. Não temos
filosofia, nem ciência, nem a grande poesia impessoal dos grandes gênios europeus.
Temos o palavreado da carolice, a mística ridícula do beatério enfermo e fanático, de
um lado, e de outro, os devaneios fúteis da impiedade impertinente e fácil; na poesia, o
lirismo subjetivista, mórbido, inconsistente, vaporoso, nulo.p18
Euclides da Cunha “Os Sertões” 1902

 Narra a tragédia de Canudos em conflito com seu espirito republicano.


 A terra forma o homem que está mais adaptado para a luta.
 Teoria da disputa e determinismo geográfico
 O sertanejo é fruto do isolamento
 Conflito da civilização litorâneas com o sertão isolado
 Estamos condenados à civilização
O sertanejo é, antes de tudo, um forte.
Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro
lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das
organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade
típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de
membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá
um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou
parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre
um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória
retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os
meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o
isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo
tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés,
sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no
andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Manoel Bonfim
1905 América Latina, males de origem
 Médico alagoano influenciado pelas ideias socialistas
 Tese do parasitismo sobre a colônia como explicação para o atraso das
instituições
 Mérito de ter sido o primeiro a afastar as teses racistas para explicação
social, embora se mantenha preso na perspectiva organicista.
 Crítica ao conservadorismo
 A relação entre metrópole e colônia é uma relação parasitária.
 Relações de dominação entre classes e nações forma uma rede de
parasitismo social. “Uma teoria biológica da mais valia”- Roberto Ventura e
Flora Sussekind
 Das qualidades a nós transmitidas, a mais sensível e mais interessante– por ser a mais funesta – é
um conservantismo, não se pode dizer obstinado, por ser, em grande parte, inconsciente, mas
que se pode chamar propriamente – um conservantismo essencial, mais afetivo que intelectual.
Em teoria, os homens das classes dirigentes aceitam e proclamam, como boa, a maior parte das
ideias gerais, comuns, de progresso; mas, nem sabem relacionar essas ideias e princípios gerais
com as necessidades próprias de cada época e com as circunstâncias especiais de cada país,
nem sabem fazer essa aplicação, nem são capazes, quando ela se impõe por si mesma, do
menor esforço para adaptar-se a uma conduta diversa. Não suportam que as coisas mudem em
torno deles. Adotam as ideias, aceitam as palavras, mas não podem aclimatar-se às coisas que
essas palavras designam. É este fundo de conservantismo afetivo que traz aos homens das classes
dirigentes a preocupação, comum a todos, qualquer que seja o seu programa, quaisquer que
sejam as suas ideias: o conservar ou conquistar a aquiescência dessa classe dos retardatários de
ofício – indivíduos que não compreendem, sequer, que as sociedades sofrem uma evolução
constante.
 Na prática, todos esses homens das classes dirigentes são escravos passivos da tradição e da
rotina; são ativos apenas para opor-se a qualquer inovação efetiva, a qualquer transformação
real, progressista. Dir-se-ia medo ou preguiça; conservam, porque têm a impressão de que assim
estão no caminho mais seguro para evitar o imprevisto e criar o menos possível de dificuldades no
momento. Vivem – eles e o país que dirigem – uma vida de adiamentos e vãos expedientes. Para
todos, o ideal é dizerem-se conservadores. Há políticos ousados... de ideias, radicais, e até
revolucionários; mas, obedecendo a uma necessidade íntima da organização afetiva, acham
sempre o meio de explicar que não querem ser mais que conservadores. E de fato é o que eles
são.
Oliveira Viana
Populações meridionais no Brasil 1920

 Perspectiva política
 Tese dos dois brasis
 Os latifúndios são pequenos repúblicas que impediam a formação de uma
republica nacional. A lei é determinada e aplicada pelo patriarca.
 Influência do evolucionismo e da ideia de superioridade racial.
 Arianismo
 Explica alguns traços institucionais na vida brasileira pela diferença da
capacidade dos grupos colonizadores.
 O latifúndio cria um antiurbanismo nocivo à vida pública
Problemas do latifúndio e o espírito de
clã
 “De um modo geral, contemplando em conjunto a nossa vasta sociedade
rural, o traço mais impressionante a fixar, e que nos fere mais de pronto a
retina, é a desmedida amplitude territorial dos domínios agrícolas e pastoris (...)
Essa excessiva latitude dos domínios rurais é, em parte, imposta pela natureza
das culturas. O pastoreio, a lavoura de cana e a lavoura de café exigem, para
serem eficientes, 120 grandes extensões de terrenos” (...) “Dispersos e isolados
na sua desmedida enormidade territorial, os domínios fazendeiros são forçados
a viver por si mesmos, de si mesmos e para si mesmos”
 O regime de clã, como base da nossa organização social, é um fato inevitável
entre nós, como se vê, dada a inexistência, ou a insuficiência de instituições
sociais tutelares e a extrema miserabilidade de nossas classes inferiores (...). O
espírito de clã torna-se assim um dos atributos mais característicos das nossas
classes populares (...). O nosso homem do povo, o nosso campônio é
essencialmente o homem de clã, o homem da caravana, o homem que
procura um chefe [...]
Porque os pensadores sociais se
preocuparam tanto com a questão étnico
racial para explicar as mazelas do Brasil?
 Justamente quanto a Europa buscava se explicar como grupo ou nação,
chegavam ao Brasil teses racialistas.
 Pensar em termos de raça era ir contra a ideia de cidadania, já que
cidadania pressupõe escolhas ativas, enquanto a ideia determinista de
raça pressupõe o individuo como reificação dos atributos da raça.
Gilberto Freyre

 Inaugura a fase dos intérpretes do Brasil


 Ensaios com influências literárias
 Antropologia e psicologia
 Autonomia da esfera social sobre outros fatores determinantes
Década de 1930/40

 “revolução de 1930” busca pela realidade brasileira


 Consolidação das conquistas modernistas
 Criação da USP (1934)
 Chegada das missões estrangeiras –
 Levi-Strauss- Antropologia estruturalista
 Roger Bastide – Estudos sobre religiões de matriz afro, etnografia e
psicanálise
 Donald Piersons – Estudos étnicos raciais sobre influência da escola de
Chicago
1950

 Superação de uma mentalidade literária


 Iniciação de uma articulação científica
 Temas: Teoria geral (Guerreiro Ramos e Floresta Fernandes )
 grupos indígenas- influências do funcionalismo
 grupos afro-americanos- Tales de Azevedo, Roger Bastide e Florestan
Fernandes, Oracy Nogueira
 sociedades rústicas e rurais- Antônio Candido, Os parceiros do Rio Bonito
e urbanização

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