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Magia e feitiçaria: o

apogeu da caça às bruxas


Yllan de Mattos
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• A história de João e Maria e a construção histórica do estereótipo


da feiticeira.

• A natureza cruel torna os contos infantis do século XVIII tão


comoventes, uma vez que o mundo mágico da época moderna
aproximava-se da vida cotidiana.

• Foi no final do século XVIII que as bruxas deixaram de ser


perseguidas e passaram para as páginas impressas dos contos de
fadas.
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “A bruxaria e as práticas mágicas pertencem a um mundo de


racionalidade, distinto do nosso. Na Época Moderna (séculos XV-XVIII),
elas forneciam explicações para os acontecimentos, sobretudo para os
infortúnios, que se relacionam com a influência dos poderes
sobrenaturais na vida cotidiana. As pessoas acreditavam que Deus, os
santos, os demônios e seus agentes travavam uma luta constante pelo
domínio da Terra. Acreditava-se que uma doença, uma impotência
sexual, a morte do gado ou de uma criança saudável, a perda de
colheitas, a mudança brusca do tempo, enfim, eram obras de bruxas. Na
verdade, neste embate entre bem e mal, luz e trevas, a bruxaria
configurava o outro lado da Igreja cristã, sua adversária oculta.” (p. 41)
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “As práticas mágicas remontam a várias tradições culturais, desde


a mitologia grega até a germânica: Circe, filha da deusa Hécate,
criava filtros que transformavam homens em porcos; Medeia e
Canídia fabricavam venenos contra diversos homens; Diana vagava
à noite com várias feiticeiras; Strigae saia pela noite à procura de
uma criança sozinha, para rasgar-lhe o ventre, voltando a ser uma
velha inofensiva quando raiava o sol; Holda cavalgava nos ventos
com os espíritos mortos, recompensando ou punindo
camponeses... os exemplos são vastíssimos!” (p. 44)
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “Contudo, o cristianismo reclamou para si o monopólio do ‘poder


mágico’, ao conferir poder somente às práticas atreladas à fé, à graça e
ao milagre. No final da Idade Média, sobretudo após o IV Concílio de
Latrão (1215), que legislou sobre a heresia, configurou-se um corte ante
as práticas mágicas: elas passaram a ser demonizadas e, por isso,
perseguidas.” (p. 44-45)

• “Existe um consenso entre os estudiosos sobre as distinções entre bruxas


e feiticeiras: enquanto esta última agia individualmente, com objetivos
tanto maléficos (infortúnios) quanto benéficos (cura), como a produção
poções para fins amorosos, a primeira era integrante de uma seita
demoníaca e serva do Diabo; portanto, participava de um culto coletivo
ao Príncipe das Trevas.[...]” (p. 45)
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “Portanto, para a maior parte dos historiadores, a bruxaria foi o


resultado combinado de alucinações e imposições, criadas pelos
eruditos durante os interrogatórios e as pregações à cultura
popular. Em uma luta simbólica, a Igreja conseguiu demonizar e
criar bruxas onde jamais existiram nas manifestações dos
camponeses. Inúmeros tratados e manuais passaram a identificar e
orientar o crime de bruxaria. Um dos textos mais usados à caça às
bruxas foi o Martelo das bruxas, um verdadeiro best-seller sobre
bruxaria ou, como quis ironicamente Jules Michelet, o ‘livro de
bolso dos inquisidores’ – devido ao aperfeiçoamento da tipografia
e seu tamanho: in octavo.” (p. 46)
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• O caso dos benandanti, ou andarilhos do bem, na região de Friuli,


na Itália, que, por terem nascido envolvidos na membrana
aminiótica, estariam predestinados a combater o mal.

• A Igreja Católica atribuiria aos benandanti a alcunha de


“adoradores do diabo”, parte de um estereótipo do sabá,
construído a partir da busca de monopólio que a Igreja desejava
no combate às bruxas.
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “A caça às bruxas, segundo acreditam alguns historiadores, foi responsável pela


queima de cerca de 20 mil pessoas durante quase três séculos, alcançando o
apogeu entre os anos de 1560 e 1630. [...]” (p. 54)

• “Caça às bruxas, estabelecimento da Inquisição e centralização do Estado são


fenômenos históricos que mantêm profunda relação entre si. O manto do medo
dos malefícios conjugou sexualidade, exclusão social e poder diabólico para
criar o estereótipo da bruxa. Contudo, a cristalização da bruxaria como inimiga
(imaginária) social só foi possível por conta do crescimento das instituições
políticas seculares – o Estado – que rivalizavam com o poder espiritual – o
papado. À medida que se fortalecia e garantia certa independência ante o
papado, o Estado Moderno criou inimigos que transcendiam este mundo. Os
tratados contra a bruxaria, a partir de 1430, tomam outra configuração:
perseguem-se não mais hereges individuais, mas grupos organizados, ‘seitas’ de
feiticeiros. É a invenção do que mais tarde passou a se chamar sabá.” (p. 56)
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “Ao exorcizar as bruxas e seus demônios, os europeus criavam um novo modelo


político que, pautado nas formas jurídicas, procurava vigiar a sociedade e
unificar as punições. Assim, ao mesmo tempo em que os magistrados criavam as
condições para as perseguições às bruxas, o Estado Moderno consolidava-se e
legitimava-se ao passo que as caçava. As perseguições varreram praticamente
toda a Europa em paralelo com a produção e divulgação dos tratados dos
demonólogos e com a centralização do Estado: não sem razão é o juiz secular
que irá julgar os casos de feitiçaria. A Inquisição moderna, por sua vez, em
Portugal e Espanha, ficou subordinada ao poder real, conferindo-lhe, pelo
menos em teoria, a decisão em última instância na fórmula da sentença:
‘relaxado ao braço secular’ (ou seja: deixado pela Inquisição a cabo da justiça
laica, que sempre condenava o réu). Porém, assim como mataram feiticeiras em
regiões europeias que não conheceram a ação inquisitorial, perseguiram-nas em
países onde esteve ausente a centralização do poder monárquico, como os
cantões suíços e os principados alemães.” (p. 57)
MATTOS, Yllan de. Magia e feitiçaria: o apogeu da caça às bruxas.
In: MATTOS, Yllan de et. al. (Org.). História Moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. p. 35-77.

• “Os teóricos dos primeiros séculos da Época Moderna acreditaram que o


que motivara a bruxaria fora a influência e o empenho do Diabo para a
construção de uma ‘contra-igreja’ na Terra. [...]” (p. 60)

• A crença na onipresença do diabo tornava o “medo” um dos principais


elementos na construção da sociedade europeia.

• A bruxaria pertencia à racionalidade da época moderna em questão,


deixando de ser apenas com o Iluminismo, quando será colocada na
perspectiva de superstição.

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