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AS PNEUMOCONIOSES

Dr. David Miranda


Médico do Trabalho
Introdução

O sistema respiratório constitui interface


importante entre o organismo e o meio-
ambiente, em especial com o ar
atmosférico e seus constituintes, gases,
aerossóis, etc
Fatores que influenciam os
efeitos da exposição aos agentes:

 Propriedades físico-químicas
 Herança genética
 Doenças pré-existentes
 Hábitos de vida (tabagismo)
Anatomia e Fisiologia do Sistema
Respiratório
Anatomia e Fisiologia do Sistema
Respiratório
Anatomia e Fisiologia do Sistema
Respiratório
Vigilância
 Reconhecimento das atividades e locais
onde haja substâncias químicas, agentes
físicos, biológicos e outros fatores de risco
 Identificação dos problemas
 Proposição de medidas de controle
 Educação e informação
Vigilância
Confirmado o diagnóstico:
 Avaliar necessidade de afastamento
 Emitir CAT
 Acompanhamento e registro do caso
 Realizar busca ativa
 Inspeção na empresa ou ambiente de trabalho
 Adoção de medidas de proteção e controle
Medidas de Proteção e Controle
 Substituição por tecnologias menos
arriscadas
 Isolamento do agente ou enclausuramento
do processo
 Medidas de higiene e segurança
(ventilação, exaustão, controle de
vazamentos e incidentes, manutenção
preventiva e corretiva e acompanhamento)
Medidas de Proteção e Controle
 Monitoramento ambiental
 Manutenção das condições de trabalho
adequadas
 Redução do tempo e do número de
expostos
 Fornecimento de EPI
Diagnóstico das Doenças
Respiratórias
 História Clínica: sintomas respiratórios, sinais
clínicos, exames complementares,
estabelecimento da relação temporal entre o
evento e as exposições do trabalhador e história
clínica ocupacional
 Informações epidemiológicas
 Perfil profissiográfico do trabalhador e de
avaliação ambiental na empresa
 Investigação complementar
Diagnóstico das Doenças
Respiratórias
EXAMES COMPLEMENTARES
 Radiografia de Tórax
 Provas de função pulmonar (espirometria)
 Broncoscopia com lavado bronco-alveolar
 Biópsia
 Testes cutâneos, gasometria, hemograma
Diagnóstico das Doenças
Respiratórias

O R-X DE TÓRAX
No caso de pneumoconioses, deve seguir o
Padrão para Classificação Internacional das
Radiografias de Pneumoconioses da OIT
(versão 1980):
Diagnóstico das Doenças
Respiratórias
Valorizar sintomas como tosse, dispnéia,
sibilância, produção de escarro, hemoptise,
acompanhados ou não da avaliação
objetiva da função pulmonar

Se possível, complementar o R-X com a TC


de tórax
Conceito
Doenças causadas pela inalação de aerossóis
sólidos e à consequente reação tecidual do
parênquima pulmonar.

As principais: silicose, asbestose e


pneumoconiose dos trabalhadores de
carvão.
Epidemiologia
 Silicose: principal pneumoconiose no
Brasil, mais prevalente em MG devido a
mineração subterrânea de ouro, seguida da
indústria cerâmica, fundições, atividades
industriais mistas e artesanais (cavação
manual de poços e jateamento de areia)
Epidemiologia
 Pneumoconiose dos Trabalhadores de
Carvão: 2a mais prevalente do Brasil, mais
comum na Região Sul (RS e SC)
 Asbestose: dados escassos no Brasil devido
ao longo período de latência e a falta de
dados sobre uso de asbesto tipo anfibólio.
SILICOSE
Silicose
DEFINIÇÃO
Pneumoconiose caracterizada pela deposição
de poeiras no pulmão, com reação tissular
decorrente causada pela inalação de sílica
livre (quartzo, SiO2 cristalizada).

GRUPO I DE SCHILLING
Silicose – Propriedades da Sílica
 Na natureza, existem 3 formas de sílica
livre: quartzo, cristobalita e trimidita.
 A mais comum é o QUARTZO.
 Em combinação com outros cátions,
formam-se os SILICATOS
 A sílica livre é extremamente tóxica para
os macrófagos alveolares
Silicose – Fatores de Risco
 Concentração total da poeira respirável
 Dimensão das partículas (menores que
10micra, em especial entre 2 e 5micra)
 Composição mineralógica da poeira (acima
de 7,5% de quartzo)
 Tempo de exposição
Silicose – Atividades Envolvidas
 Indústria extrativa mineral: mineração
subterrânea e de superfície
 Beneficiamento de minerais: corte de
pedras, britagem, moagem e lapidação
 Indústria de transformação: cerâmicas,
fundições que utilizam areia no processo,
vidros
Silicose – Atividades Envolvidas

 Abrasivos: marmorarias, corte e polimento


de granito, cosméticos
 Atividades mistas: protéticos, cavadores de
poços, artistas plásticos, jateadores de areia
Silicose – Quadro Clínico
SILICOSE AGUDA
 Forma rara
 Jateadores de areia e moagem de quartzo
 Aparece nos 5 primeiros anos após
exposição
 Sobrevida de 1 ano
Silicose – Quadro Clínico
SILICOSE SUB-AGUDA
 Cavadores de poços
 Alterações radiológicas de rápida evolução
(nódulos que evoluem para grandes
opacidades)
 Sintomas respiratórios precoces e
limitantes
 Aparece entre 5 e 10 anos após exposição
Silicose – Quadro Clínico
SILICOSE CRÔNICA
 Mais comum de todas
 Trabalhadores da indústria cerâmica
 Aparece após 10 anos de exposição
 R-X: nódulos que evoluem para grandes
opacidades (fibrose colágena)
 Sintomas já na fase tardia (dispnéia aos esforços)
 Exame físico sem alterações
Silicose – Quadro Clínico
SINTOMATOLOGIA
 Inicialmente assintomática
 Dispnéia aos esforços e astenia
 Dispnéia aos mínimos esforços e em
repouso
 Cor pulmonale (insuficiência cardíaca
direita)
Silicose – Quadro Clínico

Tuberculose pulmonar deve ser suspeitada


caso haja rápida evolução (maior
incidência de TB na silicose):

TB + SILICOSE = SÍLICOTUBERCULOSE
Silicose – Quadro Clínico

Em caso de nódulos reumatóides, pensar em


Síndrome de Caplan

NÓDULOS REUMATÓIDES + SILICOSE


= SÍNDROME DE CAPLAN
Silicose - Diagnóstico
 História clínica,
ocupacional e por
radiografia de tórax
 R-X: opacidades
regulares em lobos
superiores, também
podendo ser vistas em
lobos médio e inferior,
evoluindo para grandes
opacidades
Silicose - Diagnóstico

 TC de tórax: sem valor diagnóstico precoce


 Espirometria: para estabelecer
incapacidade e para seguimento evolutivo
 Biópsia: situações especiais
Silicose - Tratamento

NÃO HÁ TRATAMENTO !
Interromper o tabagismo
Tratar caso haja TB
Transplante pulmonar
Silicose – Prevenção
MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL
 Substituição de perfuração a seco por processos
úmidos
 Perfeita ventilação após detonações antes do
reinício dos trabalhos e ventilação adequada
durante o trabalho em áreas confinadas
 Rotatividade e turnos de trabalho reduzidos
 Controle da poeira em níveis abaixo dos
permitidos
Silicose - Prevenção
MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL
 Fornecimento de EPI em complemento às
medidas coletivas
 Vestuário adequado, com limpeza e guarda na
própria empresa
 Troca de vestuário no mínimo 2 vezes por
semana
 Higiene pessoal (banho após jornada e refeitórios
adequados)
Silicose - Prevenção
MÁSCARAS RESPIRATÓRIAS
 Usadas como medida
temporária em emergências ou
quando as medidas coletivas
forem insuficientes
 Treinamento dos trabalhadores
para uso
 Devem ser de qualidade e
adequadas às exposições, com
filtros químicos ou de poeira
específicos para cada
substância, devendo ser
substituídos conforme dados do
fabricante.
Silicose – Limites de Tolerância
NR-15
LT (poeira respirável) =
8 / % de quartzo + 2 (em mg/m³)

LT (poeira total) =
24 / % de quartzo + 3 (em mg/m³)
PNEUMOCONIOSE DOS
TRABALHADORES DE
CARVÃO - PTC
PTC
DEFINIÇÃO
Doença profissional causada pela inalação de
poeiras de carvão mineral, com deposição
dessa poeira nos alvéolos e com reação
tissular pela sua presença.

GRUPO I DE SCHILLING
PTC – Propriedades do Carvão
Existem 2 tipos de carvão mineral:
 ANTRACITOSO: maior quantia de poeira
 BETUMINOSO: menor quantia de poeira,
existente na Região Sul do Brasil (RS e SC)
Porém, no Brasil, o carvão betuminoso contém
grande quantidade de SÍLICA como
contaminante da rocha !
NÃO CONFUNDIR CARVÃO MINERAL COM
CARVÃO VEGETAL !!!
PTC – Fatores de Risco
 Concentração de poeira no ar
 Tipo de carvão
 Presença de sílica
 Tempo de exposição
 Suscetibilidade individual: mineiros com
mesma exposição podem ter reações
diferentes.
PTC – Quadro Clínico
 Doença crônica e irreversível
 Desde forma simples (lenta e oligossintomática)
até forma complicada (fibrose macicça
progressiva com letalidade aumentada)
 Pode haver associação com silicose e síndrome de
Caplan
 Sintoma predominante: dispnéia aos esforços
(fases avançadas)
PTC - Diagnóstico
 História clínica e ocupacional e radiografia de
tórax
 R-X: opacidades regulares disseminadas iniciadas
em terço superior e se disseminando
progressivamente (aspecto nodular difuso)
 TC: não tem valor na fase precoce
 Espirometria: declínio anormal da função
pulmonar, devendo ser feito em mineiros e ex-
mineiros e revela grau de incapacidade
PTC - Tratamento

NÃO HÁ TRATAMENTO !
Interromper tabagismo
Tratar outras intercorrências
PTC - Prevenção
MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL
 Substituição de perfuração a seco por processos
úmidos
 Perfeita ventilação após detonações antes do
reinício dos trabalhos e ventilação adequada
durante o trabalho em áreas confinadas
 Rotatividade e turnos de trabalho reduzidos
 Controle da poeira em níveis abaixo dos
permitidos
PTC - Prevenção
MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL
 Fornecimento de EPI em complemento às
medidas coletivas
 Vestuário adequado, com limpeza e guarda na
própria empresa
 Troca de vestuário no mínimo 2 vezes por
semana
 Higiene pessoal (banho após jornada e refeitórios
adequados)
PTC - Prevenção
MÁSCARAS RESPIRATÓRIAS
 Usadas como medida temporária em emergências
ou quando as medidas coletivas forem
insuficientes
 Treinamento dos trabalhadores para uso
 Devem ser de qualidade e adequadas às
exposições, com filtros químicos ou de poeira
específicos para cada substância, devendo ser
substituídos conforme dados do fabricante.
ASBESTOSE
Asbestose
DEFINIÇÃO
Pneumoconiose causada pela inalação de
fibras de asbesto (ou amianto)

GRUPO I DE SCHILLING
Asbestose – Propriedades do
Amianto
Asbesto ou amianto é um mineral fibroso encontrado
em mais de 30 variedades, das quais apenas 6 têm
interesse comercial.

AGENTE CARCINOGÊNICO CONFIRMADO –


GRUPO A1

Forma fibrosa dos silicatos minerais pertencente ao


grupo das rochas metamórficas.
Asbestose – Propriedades do
Amianto
Existem 2 tipos de amianto:
 SERPENTINAS: crisótila (asbesto branco),
representa 95% do amianto consumido no mundo
e são menos nocivos à saúde
 ANFIBÓLIOS: fibras retas, duras e pontiagudas,
com efeito nocivo à saúde. São a actinolita,
amosita (asbesto marron), antofilita , crocidolita
(asbesto azul) e tremolita
Asbestose – Propriedades do
Amianto
 Todos os tipos de asbesto são associados a asbestose
e ao Ca broncogênico, porém as mesoteliomas são
mais associados aos anfibólios
 A crisótila possui menor menor biopersistência
pulmonar devido a maior digestão pelas defesas
pulmonares
 NR-15: proíbe uso de anfibólios desde 1991
 O Brasil está entre os cinco maiores produtores
mundiais de amianto, que é utilizado em sua
esmagadora maioria na indústria de cimento-amianto
ou fibrocimento (telhas, caixas d'água etc).
Asbestose – Quadro Clínico

 Dispnéia de esforço, crepitações nas bases


pulmonares e baqueteamento digital em
faes tardias
 Espessamento pleural: quadro mais
prevalente
 Tempo de Latência: superior a 10 anos
Asbestose – Quadro Clínico

ASSOCIAÇÃO COM CÂNCER DE PULMÃO E


MESOTELIOMAS DE PLEURA E DE
PERITÔNIO, DEVENDO SER
OBRIGATORIAMENTE PESQUISADOS !!!
Asbestose - Diagnóstico
 História clínico-
ocupacional e radiografia
de tórax
 R-X: pequenas
opacidades irregulares
em bases, disseminando-
se em seguida, sendo que
20% dos R-X podem ser
normais
 TC: útil na detecção
precoce e mais sensível
ao RX
 Espirometria: alterada
em função da fibrose
Asbestose - Tratamento

NÃO HÁ TRATAMENTO !
Suspender tabagismo
Afastamento imediato da função
Asbestose - Prevenção
CONVENÇÃO OIT No. 139/1974
 Substituir substâncias/agentes cancerígenos por
não-cancerígenos
 Redução do número e do tempo de expostos e os
níveis de exposição
 Medidas de proteção
 Registro
 Informação dos riscos
 Exames médicos de avaliação
Asbestose - Prevenção
MEDIDAS DE PROTEÇÃO
 Enclausuramento/isolamento do
processo/setor
 Umidificação dos processos
 Normas de higiene e segurança (ventilação
exaustora local e geral)
 Monitoração das concentrações de fibras
no ar
Asbestose - Prevenção
MEDIDAS DE PROTEÇÃO
 Limpeza a úmido ou com água ou por
sucção antes das atividades
 Limpeza geral dos ambientes e facilidades
de higiene pessoal
 Fornecimento de EPI complementando
medidas coletivas
Asbestose - Prevenção
MÁSCARAS RESPIRATÓRIAS
 Usadas como medida temporária em emergências
ou quando as medidas coletivas forem
insuficientes
 Treinamento dos trabalhadores para uso
 Devem ser de qualidade e adequadas às
exposições, com filtros químicos ou de poeira
específicos para cada substância, devendo ser
substituídos conforme dados do fabricante
Asbestose – Limites de
Tolerância
OSHA
Limite de Exposição Permitido (PEL)
0,1 fibra/cm³ (para TODAS as fibras de
asbesto maiores que 5micra)
NIOSH
Limite de Exposição Recomendado (REL)
0,1 fibra/cm³ (para TODAS as fibras de
asbesto maiores que 5micra)
Asbestose – Limites de
Tolerância
BRASIL (NR-15)
Limite de Tolerância (LT)
2 fibras/cm³ (somente crisólita)
PROÍBE USO DE ANFIBÓLIOS !
Ainda se discute no Brasil o uso da
crisotila na indústria de fibro-cimento.
Asbestose – Limites de
Tolerância
LEI FEDERAL 9055/95
 Proíbe extração, industrialização, utilização e
comercialização de variedades de anfibólios, a
pulverização de todas as fibras e a venda a granel
de fibras em pó
 Define que as empresas que utilizem amianto
crisótila devem enviar listagem completa dos
empregados ao SUS
 O transporte desse material deve seguir a norma
de transporte de produtos perigosos.

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