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SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

Candida de Souza
HISTÓRICO
 Preocupação internacional com os direitos
da criança – Séc. XIX.
 Boston: regime de liberdade fiscalizada (1869)
 Chicago: primeiro Tribunal para Crianças

 Repúbica Brasileira
 Código Penal de 1890 – imputabilidade até 9
anos
 Justiça de Menores no Brasil (influência
internacional)
JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Aumento da criminalidade
 Necessidade de reforma do judiciário
 Modelo liberal de organização e administração pública
da justiça
 Compatível com as concepções mutantes de Direito e
Estado
 Equilíbrio entre os poderes
 Imparcialidade e neutralidade do judiciário
 Lei como fonte primária de regulação
 Estado como única fonte de Direito
 Papel do Juiz
JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Dispositivos jurídicos e instrumentos de
controle
 Tribunais de Menores

 Leis de proteção e assistência

 Reestruturação institucional (asilar e carcerária)

 Sistema de liberdade vigiada


JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Não havia discurso contrário à tendência

 Principais efeitos:
 Práticas inovadoras X antigos objetivos
 Proteção à sociedade e à criança
 Aliança Justiça-Assistência (auto-sustentação e
complementação de ações)
 Criminalização de um segmento da infância
 Dimensão monopolizadora de autoridade e
controle
JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Regulamentação da assistência e proteção aos
“menores”
“ Os tribunais para crianças edificam caracteres”

 Regular a situação da infância moralmente abandonada e


delinquente
 Classificação dos “menores” de acordo com o grau de perversão:
se abandonado ou delinquente, se vicioso, se portador de má
índole ou más tendências, se vagabundo, pervertido, libertino (ou
em perigo de o ser)
 Investigação da família (suspensão, perda e restituição do Pátrio
Poder
 Ação jurídico-social: Tribunal e Juiz; recolhimento; internação
JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Regulamentação da assistência e proteção aos
“menores”
 Internação: instituições de refúgio ou depósito, abrigos por
tempo indeterminado
 Para os moralmente abandonados: escolas de prevenção
ou preservação
 Para os delinquentes: Escola de Reforma

 Decreto 16.273/1923 – reorganiza a Justiça do DF,


incluindo o Juiz de Menores
 Decreto 16.300/1924 – Inspetoria de Higiene Infantil
 Decreto16.388/1924 – regulamento do Conselho de
Assistência e Proteção dos Menores
JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Código de Menores – 1927
 Consolidação das leis de assistência e proteção
aos menores

 Especificação detalhada das atribuições da


autonomia do Juiz

 Capítulo X: tom policial investigativo ao Código;


ampla liberdade da autoridade pública fiscalizar;
JUSTIÇA DE “MENORES” NO BRASIL
 Num período de formação do sentimento de nação,
porque o país optou por um caminho que jamais
conduziria a maioria de sua população ao almejado
grau de civilização que se aspirava?

 Formas de contenção extrema em detrimento de uma


educação de qualidade

 Conjuntura política: estrutura agrária X ascensão de


novos grupos

 Retrocesso educacional: educar o povo, porém


garantindo seus privilégios de elite: instruir e capacitar
para o trabalho, mantendo-o sob vigilância e controle
NOVA CONJUNTURA INTERNACIONAL
 Declaração de Genebra dos Direitos da Criança (1924)
 DUDH – 1948
 Criança é alvo de cuidados e atenções especiais
 Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959)
 direito à proteção especial;
 oportunidades e facilidades necessárias ao pleno
desenvolvimento saudável e harmonioso;
 benefícios relativos à seguridade social, incluindo-se a
adequada nutrição, moradia, recreação e serviços médicos;
 receber educação
 ser protegida contra todas as formas de negligência,
crueldade e exploração.

NOVA CONJUNTURA NACIONAL
 Serviço de Assistência ao Menor (SAM) – Governo
Vargas (1940);
 Recuperar adolescentes e proteger abandonados

 Política Nacional do Bem Estar do Menor -


FUNABEM e FEBEM`s (Lei 4513/64);
 Doutrina Correcional-Repressiva

 Código de Menores (1979);


 Doutrina da situação irregular
CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
 GT da ONU para a Convenção (1979)
 Aprovado em 1989 e aberta para ratificação em
1990
 Preâmbulo e parte substantiva – apresentados os
direitos da criança
 Duas outras partes: cumprimento e monitoramento
dos direitos da criança.
CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
 Princípios ético-filosóficos e jurídicos:
1. Não discriminação
2. Melhor interesse da criança
3. Direito à sobrevivência e ao desenvolvimento
4. Respeito à opinião da criança.

Ratificada por 193 países – 64 fizeram reservas e


declarações interpretativas aos seus artigos para
compatibilizar com a cultura, religião e legislação
do país.
CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
 Contexto da Guerra Fria

 Algumas polêmicas

 Idade mínima e máxima para a definição de


criança, proibição do aborto, participação em
conflitos armados
 Liberdade de escolha religiosa
 Princípio da não-discriminação: crianças
nacionais e estrangeiras (ilegais), adoção ou
inseminação.
CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
 Direitos humanos:
Econômicos e sociais (bloco soviético) X de
caráter civil e político (ocidente)

 Art. 12 da CDC: Os Estados Partes assegurarão à


criança, que for capaz de formar seus próprios pontos
de vista, o direitos de exprimir suas opiniões livremente
sobre todas as matérias atinentes À criança, levando-se
devidamente em conta essas opiniões em função da
idade e maturidade da criança. Para esse fim, à criança
será, em particular, dada a oportunidade de ser ouvida
em qualquer procedimento judicial ou administrativo que
lhe diga respeito, diretamente ou através de um
representante ou órgão apropriado, em conformidade
com as regras processuais do direito nacional.
CDC NO BRASIL
 Diferentes concepções de sujeito na CF88
 Sujeito de direitos X objeto da assistência, controle e
disciplinamento.

 Tensão entre proteção e autonomia


 Situar o debate no marco dos DH’s

 Intensa produção de leis como resposta imediata


aos problemas sociais
CDC NO BRASIL

 Constituição Federal (1988);


Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

 Estatuto da Criança e do Adolescente (1990);


Doutrina da Proteção Integral
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 Lei ordinária federal regulamentadora do
artigo 227 da CF/88 (8069/90);

 Doutrinas:
 Proteção Integral;
 Prioridade absoluta;
 Condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ECA

Parte Parte
Geral Especial
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Parte Geral

Direitos
Prevenção
Fundamentais

Produtos e
Autorizações
Serviços
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Parte
Especial

Crimes e
Medidas de Ato Conselho Acesso à Infrações
Proteção Infracional Tutelar Justiça Administrativ
as
SISTEMA SOCIOEDUCATIVO
 Regras Mínimas das Nações Unidas para a
Administração da Justiça da Infância e da
Juventude (Regras de Beijing - 1985)

 Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da


Delinqüência Juvenil (Diretrizes de Riad – 1988)

 Regras Mínimas para a Proteção dos Jovens


Privados de Liberdade (1990)
SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

 Título III do ECA – Da prática do ato infracional

 Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo


(2006) - Resolução 119/2006

 Lei nº 12.594/2012
SINASE
 O que é?

O SINASE é o conjunto ordenado de princípios,


regras e critérios, de caráter jurídico, político,
pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve
desde o processo de apuração de ato infracional até
a execução de medida socioeducativa. Esse sistema
nacional inclui os sistemas estaduais, distrital e
municipais, bem como todas as políticas, planos, e
programas específicos de atenção a esse público.
SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

 Medidas socioeducativas
 Advertência
 Obrigação de reparar o dano
 Prestação de serviço à comunidade
 Liberdade assistida
 Semiliberdade
 Internação em estabelecimento educacional
SINASE
 Princípios
1. Respeito aos direitos humanos

2. Responsabilidade solidária da Família, Sociedade


e Estado pela promoção e a defesa dos direitos de
crianças e adolescentes – artigos 227 da
Constituição Federal e 4º do ECA

3. Adolescente como pessoa em situação peculiar de


desenvolvimento, sujeito de direitos e
responsabilidades – artigos 227, § 3º, inciso V, da
CF; e 3º, 6º e 15º do ECA.
SINASE
4. Prioridade absoluta para a criança e o adolescente
– artigos 227 da Constituição Federal e 4º do ECA

5. Legalidade

6. Respeito ao devido processo legal – artigos 227, §


3º, inciso IV da Constituição Federal, 40 da
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da
Criança e 108, 110 e 111 do ECA e nos tratados
internacionais
SINASE
7. Excepcionalidade, brevidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento.

8. Incolumidade, integridade física e segurança


(artigos 124 e 125 do ECA)

9. Respeito à capacidade do adolescente de cumprir


a medida; às circunstâncias; à gravidade da infração
e às necessidades pedagógicas do adolescente na
escolha da medida, com preferência pelas que visem
ao fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários – artigos 100, 112 , § 1º, e 112, § 3º, do
ECA
SINASE
10. Incompletude institucional, caracterizada pela
utilização do máximo possível de serviços na
comunidade, responsabilizando as políticas setoriais
no atendimento aos adolescentes – artigo 86 do
ECA.

11. Garantia de atendimento especializado para


adolescentes com deficiência – artigo 227, parágrafo
único, inciso II , da Constituição Federal

12. Municipalização do atendimento – artigo 88,


inciso I do ECA
SINASE
13. Descentralização político-administrativa mediante
a criação e a manutenção de programas específicos
– artigos 204, inc. I, da Constituição Federal e 88,
inc. II, do ECA

14. Gestão democrática e participativa na formulação


das políticas e no controle das ações em todos os
níveis

15. Corresponsabilidade no financiamento do


atendimento às medidas socioeducativas

16. Mobilização da opinião pública no sentido da


indispensável participação dos diversos segmentos
da sociedade
COMPOSIÇÃO DO SINASE
SINASE
Dupla face da medida socioeducativa
(Sancionatório X Pedagógico)

 Política de Promoção X Política de Segurança


Pública

 Responsabilização – Profissionalização –
Educação
ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
DIRETRIZES PEDAGÓGICAS
1.Prevalência da ação socioeducativa sobre os
aspectos meramente sancionatórios;

2. Projeto pedagógico como ordenador de ação e


gestão do atendimento socioeducativo

3. Participação dos adolescentes na construção, no


monitoramento e na avaliação das ações
socioeducativas

4. Respeito à singularidade do adolescente, presença


educativa e exemplaridade como condições
necessárias na ação socioeducativa.
ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
DIRETRIZES PEDAGÓGICAS
5. Exigência e compreensão, enquanto elementos
primordiais de reconhecimento e respeito ao
adolescente durante o atendimento socioeducativo;

6. Diretividade no processo socioeducativo;

7. Disciplina como meio para a realização da ação


socioeducativa;
ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
DIRETRIZES PEDAGÓGICAS
10. Diversidade étnico-racial, de gênero e de
orientação sexual norteadora da prática pedagógica;

11. Família e comunidade participando ativamente da


experiência socioeducativa;

12. Formação continuada dos atores sociais


PARÂMETROS DE ATENDIMENTO
Eixos estratégicos:
 suporte institucional e pedagógico;
 diversidade étnico-racial, de gênero e de
orientação sexual;
 cultura, esporte e lazer;
 saúde;
 escola;
 profisionalização/ trabalho/previdência;
 família e comunidade;
 segurança
LEI DO SINASE
 Construção de planos decenais de atendimento
socioeducativo

 Responsabilização de gestores e entidades de


atendimento, com sanções previstas na lei de
improbidade administrativa

 Previsão de práticas restaurativas

 Obrigatoriedade do Plano Individual de


Atendimento para cada adolescente
FASES DO ATENDIMENTO
a) fase inicial de atendimento: período de acolhimento, de
reconhecimento e de elaboração por parte do adolescente
do processo de convivência individual e grupal

b) fase intermediária: período de compartilhamento em


que o adolescente apresenta avanços relacionados nas
metas consensuadas no PIA

c) fase conclusiva: período em que o adolescente


apresenta clareza e conscientização das metas
conquistadas

Obs: Carência de política de egressos.


PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO
Intervenções técnicas junto ao adolescente e sua
família, nas áreas:

a) Jurídica: situação processual e providências


necessárias;

b) Saúde: física e mental proposta;

c) Psicológica: (afetivo-sexual) dificuldades,


necessidades, potencialidades, avanços e
retrocessos;
PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO
d) Social: relações sociais, familiares e comunitárias,
aspectos dificultadores e facilitadores da inclusão
social; necessidades, avanços e retrocessos.

e)Pedagógica: estabelecem-se metas relativas à:


escolarização, profissionalização, cultura, lazer e
esporte, oficinas e autocuidado. Enfoca os
interesses, potencialidades, dificuldades,
necessidades, avanços e retrocessos. Registra as
alterações (avanços e retrocessos) que orientarão na
pactuação de novas metas.
REALIDADE ATUAL
90 mil adolescentes em meio aberto
23,1 mil adolescentes privados de liberdade no Brasil
(64% internação)

Se as orientações do ECA fossem cumpridas, em


2013, os adolescentes internos, privados de
liberdade no Brasil, seriam cerca de 3,2 mil.
• Homicídios (2,2 mil)
• Latrocínio (485)
• Estupro (288)
• Lesão corporal (237)
REALIDADE ATUAL
 São Paulo: 3/1000
 Acre: 2,6/1000

 Espirito Santo: 2,3/1000

 Distrito Federal: 2,0/1000

 Rio de Janeiro: 1,9/1000

 Recorte de gênero, classe e raça


ATUAÇÃO PROFISSIONAL
 Equipe interdisciplinar
 Psicólogo
 Assistente Social
 Pedagogo
 Advogado

 Até 20 adolescentes por profissional


 Internação: até 40 para cada dois profissionais

 Da sentença à liberação do adolescente


 Fluxo
 Relação com o judiciário
 Principais desafios
ATUAÇÃO PROFISSIONAL
 Elaboração do PIA

 Interdisciplinaridade

 Acompanhamento familiar

 Intersetorialidade

 Atividades coletivas

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