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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO FISCAL

Claudio Pene
Noções Gerais:

1. Conceito de Direito Fiscal


2. Teória Geral dos Impostos
3. Relação Jurídica Fiscal
4. Procedimento Tributário
5. Garantias do Sujeito Passivo
6. Infracções Fiscais
1. Noção de Direito Fiscal:
Actividade Financeira do Estado

Direito Financeiro
 das receitas
 das despesas
 da administração ou gestão financeira
Patrimoniais Direito patrimonial
Créditicias Direito do Crédito Público
Tributárias Direito Tributário
receitas coactivas bilaterais e unilaterais do Estado e
outros entes públicos
Direito Fiscal

receitas coactivas unilaterais (impostos)

 Alguns países autonomizam dentro do


Direito Financeiro o Direito Tributário (direito
dos tributos unilaterais e bilaterais)

 Outros países autonomizam dentro do


Direito Financeiro o Direito Fiscal (direito dos
tributos unilaterais - impostos)
2. Teória Geral dos Impostos:

Conceito de Imposto:
Prestação (patrimonial, unilateral, definitiva, coactiva e sem
carácter de sanção) realizada por pessoas com capacidade
contributiva a favor de entidades públicas, para realização
das suas funções.

Distinção entre o Imposto e outras Figuras:

As taxas são prestações avaliáveis em dinheiro, exigidas por


uma entidade pública, como contrapartida pela utilização de
um bem de domínio público, ou de um serviço público, ou
pela remoção de um limite jurídico à actividade dos
particulares.
Impostos Taxas
carácter unilateral carácter bilateral
capacidade contributiva proporcionalidade taxa/contraprestação taxa/custo
nexo de correspectividade econ. entre taxa e a contraprestação

princ. da legalidade legalidade mais ténue, flexível

Art. 127 nº 2 e art. 179 nº2 al. a) da CRM / art. 4 nº 1 lei nº 2/2006, de 22 de
Março
• Multa, coima, confisco e indeminização – têm
carácter de sanção.
• Empréstimos – não são prestações definitivas.
• Preço – tem carácter sinalagmático
• Licenças (integram-se na categoria das taxas pela
remoção de um obstáculo jurídico) – têm carácter
sinalagmático
• Emolumentos e propinas (integram-se na categoria
das taxas pela prestação de um serviço público) –
têm carácter sinalagmático
Fases do Imposto:

 Lançamento
• Consiste na determinação do sujeito passivo e da base tributável.
• Em regra a base tributável é determinada pelo metódo de avaliação directa (detrminação do rendimento
real ou valor real dos bens), baseando-se em declarações e documentos apresentados pelo sujeito
passivo – art. 88 e 89
• Nalguns casos admite-se a determinação por metódos indirectos (com base em todos elementos que a
AT disponha) – art. 88, 91, 92 e 93
 Liquidação
• Consiste no apuramento do montante de imposto a pagar – art. 78
• Pode ser efectuada pela AT ou pelo Sujeito passivo com base a declaração apresentada por este ou
informações disponíveis
• Deve ser notificada ao sujeito passivo no prazo de 5 anos a contar do início do ano cívil seguinte àquele
em que tiver ocorrido o facto gerador – art. 86

 Cobrança
• Voluntária
• Coerciva

• Prazo de Prescrição da dívida tributária – 10 anos (art. 48)

Claudio Pene
3. Relação Jurídica Fiscal e Obrigaçao de Imposto:

RJF = Direitos e Deveres do Suj. Activo + Direitos e Deveres do Suj.


Passivo

Suj. Activo Suj. Passivo

OBRIGAÇÃO DE PAGAR IMPOSTO + OBRIGAÇÕES OU DEVERES


TRIBUTÁRIOS ACESSÓRIOS + REEMBOLSOS + JUROS

A obrigação de imposto núcleo central da RJF

Cfr. Art. 39 da lei nº 2/2006, de 22 de Março

Constituição da RJF Preenchimento dos pressupostos da lei


Obrigações declarativas Obrigações contabilísticas Outras Obrig. acessórias
• Apresentar declaração de •Possuir contab. • Cooperação com a AT
inicio, alteração ou Organizada • Repercutir o imposto
cessação da actividade • Manter dossier fiscal • etc.
• Apresentar declaração • Proceder lançamentos
periódica de rendimentos cronologicamente
• Declaração de Informação • Ter documentos de
Contabilística e Fiscal suporte das operações
• Declaração mensal • Emitir factura ou
relativa a operações documento equivalente
efectuadas • Possuir regime
• etc. simplificado de
escrituração
• etc.

Claudio Pene
Especificidades da RJF e da Obrigação de
Imposto:
- Obrigação ex lege (conteúdo definido por lei)

- Irrenunciável ou indisponibilidade (não se pode renunciar aos


direitos tributários, conceder moratórias ou perdões, salvo quando
legalmente autorizado)

- Garantias Especiais do credor de imposto (previlégio creditório


sobre bens do devedor, direito de constituição de penhor ou
hipoteca legal, direito de retenção de mercadorias sujeitas a acção
fiscal ou aduaneira)

Cfr. Arts. 39, 41, 148, 161 e 179 da lei nº 2/2006, de 22 de Março
Sujeitos da RJF:

a) Sujeito Activo pers. tributária activa / titular do direito de


exigir prestações tributárias (directamente ou por via de representante).

O legislador é livre na concessão de pers. trib. activa? Pode atribuir


pers.trib. activa a entidades que não prossigam fins de interesse
público?

Art. 13 da lei nº 2/2006, de 22 de Março


Art. 8 nº1 da lei nº 15/2002, de 26 de Junho

Claudio Pene
Sujeitos da RJF:
b) Sujeito Passivo – aquele que esta obrigado a
realizar prestações tributárias (p.ex. pagar
imposto, reter imposto, entregar declaração,
prestar informações, etc)

Representação:
Menores, interditos e inabilitados – pais, tutores e curadores
(art. 16 / 122, 123, 138, 139, 152 e 154 CC)
Pessoas colectivas – representantes estatutários,
administradores ou por quem estes indicarem (art. 18)
Não residentes c rendimentos ou bens em Moç – devem
designar um representante (art. 17)
c) Contribuinte:
É um sujeito passivo obrigado a suportar o impostos e
outros encargos legais associados.
 Contribuinte de direito
 Contribuinte de facto

d) Substituto:
É um sujeito passivo que, por força da lei, esta obrigado
a reter o imposto devido pelo contribuinte
(substituído) e proceder a entrega ao tesouro em
nome e por conta do contribuinte.
Cumpre prestações tributárias no lugar do
contribuinte.
e) Responsável:
É um sujeito passivo a quem é exigido o pagto de uma
dívida de outrém, que não foi atempadamente paga.
 Responsabilidade subsidiária (é a regra)
 Responsabilidade solidária

Alguns Casos de Responsabilidade Solidária:

(1) responsabilidade dos representantes legais e por procuração –


art. 23
(3) responsabilidade do substituto po quantias não retidas e o dever
de retenção tenha carácter definitivo – art. 26 nº 3
(4) responsabilidade do substituído por quantias retidas e não
entregues, quando este tenha conhecimento desse facto e não
informou a administração – art. 27 nº 2
(5) responsabilidade solidária entre as pessoas que exercem funções de
administração de sociedades de responsabilidade limitada, cooperativas e
empresas públicas, pelas dívidas trib. destas nos casos de infracção trib.
cometidas pelas pessoas colectivas, quando não realizem actos nec. da
sua compet. p cumprimento das obrigações, consintam no
incumprimento ou adoptem acordos que tornem possíveis as infracções
(também aplicável aos membros de órgão de fiscalização, se a infracção
resultar de incumprimento doloso das suas funções de fiscalização) – art.
29

Administradores:
Sociedades de Carlos
Respons. Frank
Limitada António

Claudio Pene
(6) responsabilidade das pessoas que exercem funções de administração de
sociedades de responsabilidade limitada, cooperativas e empresas públicas
no caso de não retenção ou entrega de tributo – art. 29 nº 4

(7) responsabilidade dos sócios de sociedades de responsabilidade


ilimitada – art. 30

Sociedade de Sócios da
Resp Ilimitada Sociedade

(8) responsabilidade das pessoas que actuam como membros de órgão de


pessoa colectiva ou como representantes legais de outrém ou por
procuração em caso de comparticipação em infracção tributária – art. 32

(9) Responsabilidade dos gestores de bens ou direitos de não residentes sem


estabelecimento estável, que não sejam representantes tributários – art. 34
Transmissão da Obrigação Tributária:

Insusceptibilidade de transmissão inter vivos

 Admissibilidade da transmissão mortis causa, excepto tratando-se de


legatários (?)
O herdeiro que aceita a herança é considerado suj. passivo
A responsabilidade do herdeiro limita-se às forças da herança

Cfr. Art. 41 da lei nº 2/2006, de 22 de Março

 Sub-rogação nos direitos da AT (ter decorrido o prazo pagto voluntário / ter


requerido a subrogação / ter interesse legitimo ou autorização do devedor)

Cfr. Art. 43 nº 2, 153 e 154 da lei nº 2/2006, de 22 de Março

Responsabilidade por infracção – extingue-se c a morte do infractor (art.


190, al. b)
4. Procedimento Tributário:

Sucessão ordenada de actos e formalidades da AT dirigidos a formação da


sua vontade ou execução da mesma (lançamento, liquidação, cobrança,
acções preparatórias e complementares de fiscalização, reclamação,
revisão, recurso hierárquico...)

Forma -----escrita (regra geral)-----oral (art. 59 nº 2 e 128 nº 5)


Prazos ----20 dias (mero expediente), 30 dias (que não sejam de mero
expediente), salvo disposição legal em contrário (art. 60), sob pena de
presunção de indeferimento.

Actos do procedimento tributário que interfiram c direitos ou interesses


legalmente protegidos, devem ser fundamentados e notificados ao
sujeito passivo ou seu representante legal (art. 53)
Claudio Pene
Fiscalização Tributária:

Algumas características do sistema fiscal:


• Tributação do rendimento real
• Relevância da situação pessoal e familiar
• Autoliquidação, etc

Tornam a fiscalização num instrumento extremamente importante


de controlo com vista a verificação das realidades tributárias,
do cumprimento das obrigações tributárias e a prevenção das
infracções tributárias.

Dec. nº 19/2005, de 22 de Junho – Aprova o Reg. de Fisc. Tributária


(RPFT)
Procedimento de Fiscalização Tributária
Princípios:

• Verdade material – AT adopta oficiosamente todas medidas


necessárias a descoberta da verdade material
• Proporcionalidade – as acções devem ser adequadas e
proporcionais aos objectivos da fiscalização
• Contraditório – que se materializa no direito à audição da entidade
fiscalizada antes de elaborado relatório final
• Cooperação – AT, suj. passivos e demais, estão obrigados a um
dever mútuo de cooperação
• Não Impugnação autónoma – o procedimento de fisc. trib. tem
carácter meramente preparatório e acessório dos actos tributários,
por isso não pode ser impugnado de forma unitária

Cfr. Arts. 4 a 9 do RPFT


Tipos de Fiscalização:

Quanto ao local onde se realiza Interna / Externa


Quanto ao âmbito Geral ou Polivalente / Parcial ou
Univalente
Quanto a extensão pode englobar um ou mais períodos de
tributação

Só pode haver mais de um procedimento externo de fiscalização


respeitante ao mesmo suj. passivo, imposto e período de
tributação mediante decisão fundamentada (art. 53 nº 3 da lei nº
15/2002, de 26 de Junho)
O início da fiscalização externa deve ser comunicado por carta-
aviso c antecedência mínima de 2 dias (art. 44)

Prazo de início – até ao termo do prazo de caducidade (art. 32 do


RPFT/art. 86 da lei nº 2/2006, de 22 de Março)
Infracção verificada no decurso da fiscalização

Elaboração do auto de notícia. Aplicação da respectiva


penalidade

O fiscalizado pode beneficiar da redução da multa, desde que


apresente pedido de redução ou regularize a sua situação
tributária, fazendo-se referência de tal facto no relatório final
(arts. 52 e 56 nº 3 do RPFT e arts. 16 e 21 do RGIT)

Suj. Passivo pode apresentar recurso contencioso (art. 171 nº 2 al.


h) da lei nº 2/2006, de 22 de Março / art. 23 nº 1 al. e) da lei nº
2/2004, de 21 de Janeiro)

Fiscalização a pedido do suj. passivo ou terceiro (art. 12 nº 2) (?)


5. Garantias do Sujeito Passivo:

Garantias não Impugnatórias (não litígiosas):


 direito à informação sobre a sua concreta situação tributária e a
informações vinculativas (alínea d) do artigo 50 e artigo 101);
 direito à esclarecimento acerca da interpretação das leis tributária e do
modo mais cómodo e seguro de as cumprir (alínea c) do artigo 50 e artigo
99 e 100);
 direito à notificação e fundamentação dos actos do procedimento
tributário que interfiram com direitos ou interesses legalmente protegidos
(artigo 53);
 direito à audição prévia (artigo 58);
 direito à caducidade da liquidação (artigo 86);
 direito a prescrição da dívida tributária (artigo 48);
 direito ao reembolso de prestações indevidas (artigo 167);
 direito à juros indemnizatórios (artigo 170).
Garantias Impugnatórias Administrativas (Graciosas):

• O controle do acto é solicitado junto da própria administração

- Reclamação, Revisão e Recurso Hierárquico

Legitimidade – Administração tributária / sujeitos passivos


(tratando-se de responsável subsidiário só tem legitimidade se a
execução reverter contra sí ou quando é requerida providência
cautelar de garantia dos créditos tributários)

Claudio Pene
- Reclamação Graciosa:

Visa anulação de actos da AT, por iniciativa do Sujeito passivo ou


interessado, dirigido ao serviço que aprovou o acto.

Fundamentos qq ilegalidade (1) errónea qualificação e


quantificação de rend., lucros, valores patrimoniais, (2) incompetência,
(2) vício de fundamentação, (3) preterição de outras formalidades....
(art. 126 e 127) efeito suspensivo só c garantia (art. 129 e 161 nº 4)
Nulidade e Inexistência não podem ser objecto de recl. graciosa

Só podem ser declarados em recurso hierárquico ou contencioso (art. 125 nº 4 / art. 126)

Prazos -----60 dias (geral)-----1 ano (preterição de formalidades


legais) – art. 128

Claudio Pene
- Revisão dos Actos de Liquidação:

Revisão do acto de liquidação (ou autoliquidação) por iniciativa


da entidade que praticou ou por ordem do superior hierárquico
(art. 134)
Fundamento errado apuramento da situação trib. do suj. passivo
novos elementos não considerados na
liquidação (revisão a favor da AT)
Erro imputável aos serviços (revisão a favor
do suj. Passivo)

Prazo ----- dentro do prazo de caducidade (art. 134 nº 4 / art. 86)

Claudio Pene
Revisão da Fixação da Matéria Tributável por Métodos Indirectos:

Revisão do acto de fixação da matéria tributável por iniciativa da


entidade que praticou o acto ou por iniciativa do particular (art.
135)

Quando em face de elementos novos se


verifique ter havido prejuízo p o Estado ou para o suj.
passivo

Prazo---- 3 anos posteriores a fixação da matéria tributável (art.


135 nº 1)

Claudio Pene
- Recurso Hierárquico:

• Dirige-se ao superior hierárquico do autor do acto

Fundamentos indeferimento da reclamação graciosa; decisão de


revisão dos actos de liquidação ou de fixação da matéria tributável
por métodos indirectos
Efeito suspensivo mediante garantia (art. 138 nº 2 / 129 e 161 nº 4)

Prazo de Interposição ---- 90 dias a contar da data do indeferimento


(?) ou da notificação do acto (art. 139)
Prazo de decisão------ 60 dias a contar da data de entrega (art. 140)

Recurso hierárquico de decisões de membros do Governo?


Princípio do duplo grau de decisão?
Claudio Pene
Garantias Impugnatórias Judiciais (Contenciosas):

• O controle do acto é solicitado junto de órgãos judiciais

Apenas de actos definitivos? Só depois de esgotadas as vias


graciosas?

V. arts. 62, 69, 70 e 253 nº 3 (CRM), 51, 52, 171 (lei nº 2/2006, de 22
de Março), 7 (lei nº 2/2004, de 21 de Janeiro)
126 nº 2, 129 nº 7, 137 (lei nº 2/2006, de 22 de Março)

Claudio Pene
6. Infracções Tributárias:
Direito Penal Fiscal – normas cuja função é de qualificar certos
comportamentos dos sujeitos passivos como infracções e de
estabelecer as correspondentes sanções.

Transgressões (infracções trib. formais) – puníveis c multa / coima


Arts. 23 e ss RGIT, aprovado pelo Dec. nº 46/2002, de 26 de Dezembro

p.ex. falta de entrega da prestação tributária, falta de entrega de declarações.

Crimes (infracções trib. materiais) – puniveis c penas de prisão e de


multa
Arts. 199 e ss da lei nº 2/2006, de 22 de Março

p.ex. fraude fiscal, abuso de confiança fiscal

Aplicável apenas às pessoas singulares


Penas Acessórias:
Trata-se de sanções que podem ser aplicadas juntamente c as
sanções principais

Aplicáveis às infracções tributárias graves – arts. 12 e 15 RGIT

Aplicáveis aos crimes fiscais – art. 194 da lei nº 2/2006, de 22 de


Março

Claudio Pene
Competência para Aplicação das Penas:

Nas Transgressões – autoridades administrativas

Da decisão de aplicação da multa o sujeito passivo pode impugnar


no tribunal fiscal de 1ª instância (art. 171 nº 2 al. h) da lei nº 2/2006,
de 22 de Março / art. 23 nº 1 al. e) da lei nº 2/2004, de 21 de Janeiro)

Nos Crimes – tribunais (art. 223 nºs. 4 e 6 CRM)


Mediante exercício da acção penal pelo MP

Concurso de infracções entre transgressão e crime punibilidade a


título de crime + sanções acessórias p a transgressão
competência tribunal judicial
OBRIGADO

Cláudio Pene

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