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William Bouguereau
Uma noite, instigada pelas suas duas irmãs, que invejavam a sua sorte,
balançando entre a curiosidade, a dúvida, a desconfiança e o medo,
acendeu uma candeia para se certificar da aparência física do ser com
quem partilhava o leito.
Era afinal Eros — o deus do amor —, o mais belo de entre todos os
deuses. Mas como onde paira a desconfiança o amor não tem morada.
Eros abandonou-a e foi para junto da deusa Vénus.
Psique parte em busca da sua única paixão, procurando o favor dos
deuses. Mas nada consegue.
Até que se encontra com Vénus que pretende finalmente puni-la. Psique
aceita submeter-se às mais duras provações para recuperar o seu amor
perdido. Com a preciosa ajuda de determinados elementos da natureza.
Vénus, ao recebê-la no seu templo, não esconde a sua raiva. Afinal, por
aquela reles mortal, o seu filho desobedeceu às suas ordens. Ele estava a
recuperar da ferida causada por Psique. Como condição para o seu
perdão, a deusa impôs três tarefas que deveria realizar. Tarefas tão difíceis
que poderiam causar sua morte.
1ª Tarefa, deveria, antes do anoitecer, separar uma
grande quantidade de grãos misturados de trigo,
aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou
assustada diante de tanto trabalho, porém uma
formiga que estava próxima, ficou comovida com a
tristeza da jovem e convocou o seu exército a isolar
cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Vénus ordenou que fosse até as margens de um rio onde
ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada
ovelha. Psique estava prestes a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer
que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a
descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar a sua
lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos ovelhas.
A sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta
montanha e trazer para a deusa uma jarra
cheia de água escura que jorrava do seu cume.
Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava
um dragão que guardava a fonte. Ela foi
ajudada nessa tarefa por uma grande águia,
que voou baixo próximo da fonte e encheu a
jarra com a negra água.
Irada com o sucesso da jovem, a deusa planeou uma última, porém
fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a
Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria
guardar numa caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e
quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre
porém murmurou instruções de como entrar numa particular caverna
para alcançar o reino de Hades.
Ensinou-lhe ainda como enfrentar os diversos perigos da jornada, como
passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte
pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
- "Quando Perséfone te der a caixa com a sua beleza, toma o cuidado,
maior que todas as outras coisas, de não olhar para dentro da caixa, pois
a beleza dos deuses não cabe aos olhos mortais."
Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que
estava sentada imponente no seu trono e recebeu dela a caixa
com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade e
vaidade no seu regresso, abriu a caixa para espreitar. Ao
invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se
apossou.
Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique
e conseguiu colocar o sono novamente na caixa,
salvando-a. Lembrou-lhe novamente que a sua
curiosidade tinha sido a sua grande falta, mas que
agora podia apresentar-se à Vénus e cumprir a tarefa
final.
Eros foi ao encontro de Zeus e implorou-lhe que
tranquilizasse a ira de Vénus e ratificasse o seu
casamento com Psique. Atendendo o seu pedido, o
grande deus do Olimpo ordenou que Hermes
conduzisse a jovem à assembleia dos deuses. A ela foi
oferecida uma taça com a bebida dos deuses. Então
com toda a cerimónia, Eros casou-se com Psique, e no
devido tempo nasceu a sua filha, chamada Voluptuas
(Prazer).
Vénus já nada pôde fazer e, afinal, já não teria na Terra nenhuma
concorrente, porque Psique moraria com Eros no extraordinário e
longínquo mundo dos deuses.
Poema
A Princesa adormecida,
Conta a lenda que dormia
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida, Uma princesa encantada
E orna-lhe a fronte A quem só despertaria
esquecida,
Um infante, que viria
Verde, uma grinalda de hera.
De além do muro da estrada.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem, Ele tinha que, tentado,
Rompe o caminho fadado.
Vencer o mal e o bem,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém. Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
Antonio Canova
Mas cada um cumpre o Destino — E, inda tonto do que houvera,
Ela dormindo encantada, À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
Ele buscando-a sem tino
E vê que ele mesmo era
Pelo processo divino A Princesa que dormia.
Que faz existir a estrada.
Fernando Pessoa
François Gérard
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FIM