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DIREITO CIVIL BRASILEIRO

[PARTE GERAL]
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR

DESTRINCHANDO O “DIREITO CIVIL


CONTEMPORÂNEO”

[Que todos tenham um ÓTIMO SEMESTRE]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITO CIVIL BRASILEIRO
[PARTE GERAL]
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR

 METODOLOGIA:

* Bibliografia

* Aulas

* Avaliações
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DIREITO CIVIL - TEORIA GERAL
DIREITO CIVIL E ORDENAMENTO JURÍDICO
Prof. Enéas Corrêa de Figueiredo Júnior

LIVRO I - DAS PESSOAS


TÍTULO I - DAS PESSOAS NATURAIS
CAPÍTULO I - DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
[art. 1º ao art. 10]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Introdução
• A pessoa humana - PESSOA NATURAL: distinção em
relação às pessoas jurídicas [ex. sociedades,
associações, fundações]
• CF - Art. 1º, III [dignidade da pessoa humana]
• CC - “Art. 1º. Toda pessoa é capaz de direitos e
deveres na ordem civil”.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Das Pessoas e dos Bens
• CC - “Art. 1º. Toda pessoa é capaz de direitos e
deveres na ordem civil”.

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Das Pessoas
PESSOA NATURAL OU FÍSICA: é o ser humano,
sujeito das relações jurídicas, com aptidão para
adquirir direitos e contrair obrigações. (Art. 1 do
CC)

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PESSOA NATURAL OU FISICA

• Como se dá o início da Personalidade


jurídica de uma pessoa natural?

• O que é Nascituro? Tem os seus direitos


resguardados?

• Tem alguma(s) Teoria(s) que explica(m) o


início da personalidade jurídica de uma
pessoa natural?

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


PERSONALIDADE JURÍDICA
• Conceito: Aptidão genérica para se titular direitos e contrair obrigações na ordem jurídica
(órbita do direito). É a qualidade para ser sujeito de direitos. A pessoa física é sujeito de
direitos, dotado de personalidade jurídica.

• Pessoa física ou natural: Em que momento a PF adquire personalidade jurídica? Segundo o


art. 2º CC, a partir do nascimento com vida (significa funcionamento do aparelho
cardiorrespiratório). À luz do princípio da dignidade da pessoa humana, o sistema brasileiro,
afastando-se do art. do art. 30, CC Espanhol, para efeito de aquisição de personalidade
jurídica, não exige tempo mínimo de sobrevida, nem forma humana

• DIREITOS DO NASCITURO: nascituro é o ente concebido, mas ainda não nascido, com vida
intrauterina; teorias explicativas:

• A Teoria Natalista (examinador tradicional, conservador, ênfase na primeira parte do art. 2º,
CC) sustenta que somente a partir do nascimento com vida se adquire a personalidade, de
modo que o nascituro não possui personalidade. O Nascituro não é sujeito direito, gozando
apenas de mera expectativa. (Vicente Ráo, Silvio Rodrigues, Silvio Venosa, Eduardo Espínola;
concepção predominante no direito brasileiro).

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PERSONALIDADE JURÍDICA
• Já a Teoria Concepcionista, baseada no CC francês, defende que a
aquisição da personalidade se dá com a concepção. Seria considerado
pessoa, inclusive para efeitos patrimoniais, desde a concepção
(Teixeira de Freitas, Clóvis Bevilácqua, Limongi França, Silmara Juny
Chinelato “tutela civil do nascituro”).

• Hipóteses legais de tutela do nascituro:


• Titular de direitos personalíssimos (direito à vida, proteção pré-natal).
• Pode receber doação, legado ou herança.
• Pode lhe ser nomeado curador para defesa de direitos.
• Tipificação do crime de aborto.
• Direito a exame de DNA para reconhecimento de paternidade
(decorrência da proteção dos direitos da personalidade).

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PERSONALIDADE JURÍDICA
• Nascituro Não é pessoa. Mas é
sujeito de direito, pois o art. 2º do
CC brasileiro estabelece que “a lei
põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro”. [Paulo Lôbo.
Direito Civil 1 - Parte Geral . Editora
Saraiva].
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
Teoria Natalista:

A personalidade jurídica é adquirida


apenas com o nascimento com vida.
Teoria mais tradicional, que afirma
que o nascituro seria titular de
direito eventual.

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Teoria Concepcionista:
Retrata que a personalidade civil da
pessoa natural já existe no nascituro,
sem necessidade do preenchimento
de nenhum outro requisito (como o
nascimento com vida, por exemplo).
Desse modo, a personalidade jurídica
da pessoa natural é adquirida desde a
concepção.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Qual a Teoria adotada pelo Código
Civil Brasileiro?
• “Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe
a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

• Tutela os interesses do nascituro: não tem aptidão genérica para ser titular de direitos e
obrigações; mas tem alguns de seus interesses protegidos [ex. doação ao nascituro, art.
542; direito a alimentos gravídicos, Lei n. 11.804/2008].

• “Ao estipular como marco inicial da personalidade o nascimento com vida, o direito civil
brasileiro filia-se à corrente natalista. [...] O que ocorre em relação ao nascituro é a
proteção objetiva pela ordem jurídica de interesses futuros e eventuais que poderão vir
a se converter em direitos no momento do nascimento com vida do seu
titular”.[Schreiber, 2019]

• Concepcionista, apesar de haver divergências quanto a isso, o entendimento


majoritário é que a personalidade jurídica de acordo com o CC inicia-se com a
concepção (REsp 1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 –
STJ)

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Raciocinado... FIUZA [2016]
“O fato de se determinar se uma criança nasceu morta, ou se deu ainda que
seja leve inspirada de ar atmosférico, pode ser de suma importância para a
determinação da linha sucessória”.
• CASO PRÁTICO.

• “Imaginemos A e B, marido e mulher. Durante a gravidez de A, B vem a


falecer. Seu herdeiro natural e necessário seria seu filho, ainda no ventre.
Como ainda está para nascer, considera-se nascituro, não possuindo
personalidade. Sua situação, seus eventuais direitos são, porém,
preservados. Não por ser pessoa, mas por ser pessoa em potencial.
Dessarte, a herança de seu pai só será atribuída aos herdeiros após o
nascimento do nascituro. Nascendo este, ainda que tenha dado só uma
leve inspirada de ar, terá vivido e, portanto, adquirido personalidade. Sua
será a herança, que transmitirá à sua herdeira, a saber, sua mãe. Mas se
nascer sem vida, a herança de B será atribuída a seus descendentes, uma
vez que seu filho não adquiriu personalidade, nada havendo herdado”.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


REsp 1415727/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014

DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO.


DPVAT. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. ART. 2º DO CÓDIGO
CIVIL DE 2002. EXEGESE SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE ACENTUA A CONDIÇÃO DE
PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA. PERECIMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. ART. 3º, INCISO I,
DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA.
1. A despeito da literalidade do art. 2º do Código Civil - que condiciona a aquisição de personalidade
jurídica ao nascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel
vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de pessoa, de personalidade jurídica e de
titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei.
2. Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a
condição de pessoa, titular de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código
Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do
Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se-lhe atendimento pré-natal (art.
8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos
gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008); no direito
penal a condição de pessoa viva do nascituro - embora não nascida - é afirmada sem a menor
cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título referente a
"crimes contra a pessoa" e especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" - tutela da vida
humana em formação, a chamada vida intrauterina (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal,
volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal.
8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 658).
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
REsp 1415727/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014

3. As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro - natalista e da personalidade


condicional - fincam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de
1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava,
essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso
não mais se sustenta. Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos
não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa - como a honra, o nome, imagem,
integridade moral e psíquica, entre outros.
4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há
de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o
direito à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou
mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido
também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os
demais.
5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com
base no que dispõe o art. 3º da Lei n. 6.194/1974. Se o preceito legal garante
indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao
comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do
nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina.
6. Recurso especial provido.
(REsp 1415727/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014)

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


AgRg no AgRg no AREsp 150.297/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/02/2013, DJe 07/05/2013

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


DANOS MATERIAIS E MORAIS. NASCITURO. PERDA DO PAI.
1.- Não há falar em omissão, contradição ou obscuridade no acórdão recorrido, que
apreciou todas as questões que lhe foram submetidas de forma fundamentada, ainda
que de modo contrário aos interesses da Recorrente.
2.- "O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a
circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum"
(REsp 399.028/SP, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 15.4.2002).
3.- "A jurisprudência desta Corte é disposta no sentido de que o benefício
previdenciário é diverso e independente da indenização por danos materiais ou
morais, porquanto, ambos têm origens distintas.
Este, pelo direito comum; aquele, assegurado pela Previdência; A indenização por ato
ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima
receba" (AgRg no AgRg no REsp 1.292.983/AL, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe
7.3.2012).
4.- "Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de
capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão,
independentemente da situação financeira do demandado" (Súmula 313/STJ).
5.- "A apreciação do quantitativo em que autor e réu saíram vencidos na demanda,
bem como a verificação da existência de sucumbência mínima ou recíproca,
encontram inequívoco óbice PROF.
na Súmula 7/STJ,
ENÉAS CORRÊA por revolver
DE FIGUEIREDO JR matéria eminentemente
fática" (AgRg nos EDcl no REsp 757.825/RS, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJe 2.4.2009).
PROTEÇÃO JURÍDICA DOS EMBRIÕES – PROCEDIMENTOS DE
FERTILIZAÇÃO IN VITRO

• Embriões – somente se tornam nascituros no momento em que


são implantados no útero materno [Schreiber, 2019]

• Aborto de fetos anencefálicos [ADPF 54]: STF – 8X2 – A


interrupção da gravidez de fetos anencefálicos não configura
crime de aborto no Brasil.
• O chamado direito de não nascer [possibilidade de
ressarcimento por dano de nascimento indesejado]: Corte de
Cassação francesa – acordão n. 457 – “affaire Perruche” -
interrupção da gravidez – feto infectado por vírus da rubéola. Lei
n. 303-2002 – ninguém pode reclamar por danos pelo fato de
seu nascimento – erro médico.
• https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/20271/20271.PDF
[consultado em 4/2/19].

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


- O chamado direito de não nascer –
* “Dilemas de Direito Civil-constitucional” [Maria Celina
BODIN de Moraes]

• “No Brasil, a existência de um direito de não nascer é


controvertida. Como já se esclareceu, em nosso
ordenamento, a aptidão para ser titular de direitos
(personalidade) início no nascimento com vida. Não se
pode, conduto, afastar aprioristicamente a possibilidade de
ressarcimento do dano causado pela imperícia médica que
provoca a perda da chance de ter uma vida desprovida de
necessidades especiais”. [SCHEREIBER, 2019]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RACIOCINANDO... PERSONALIDADE.

• Teoria intermediária: a teoria da personalidade formal ou


condicional, afirma que o nascituro é dotado de
personalidade em face de direitos extrapatrimoniais, de
maneira que os efeitos patrimoniais só seriam observados a
partir do nascimento com vida.

• CAP. I [PERSONALIDADE JURÍDICA CIVIL – PATRIMONIAL]


» [NATALISTA – ART. 2, CC]

• CAP. II [DIREITOS DA PERSONALIDADE – EXISTENCIAL]


» [CONCEPCIONISTA]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RACIOCINANDO... PERSONALIDADE... PABLO STOLZE...

• QUAL A TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL? o CC adotou a natalista,


embora existam dispositivos que tratem o nascituro como pessoa.
• Aparentemente, o legislador, por ser mais prática, teria adotado a teoria
natalista todavia, demonstrando a inequívoca influência concepcionista.
• Situações onde o nascituro é considerado pessoa: Lei 11804/2008,
consagrou os alimentos gravídicos, reforçando a tese já esposada pela
jurisprudência.
• O STJ (REsp 931556/RS e 399028/SP) já reconheceu ao nascituro direito a
reparação por dano moral (lesão a direito da personalidade). Indicação
de que a teoria concepcionista ganha terreno.
• Natimorto: nascido morto; Não confundir nascituro com natimorto (que
também é merecedor de tutela jurídica). Este tem direitos da
personalidade, tais como o de ser sepultado, direito a um nome,
imagem... (Enunciado 01 da Jornada de Estudos de Direito Civil).
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
RACIOCINANDO... PERSONALIDADE... SUPERIOR TRIBUNA DE
JUSTIÇA – STJ

• Pela literalidade do código é a Teoria Natalista, mas a doutrina majoritária e o STJ adota a
Concepcionalista (Informativo 547/2014)

"Assim, o ordenamento jurídico como um todo (e não apenas o CC) alinhou-se mais à teoria
concepcionista – para a qual a personalidade jurídica se inicia com a concepção, muito embora
alguns direitos só possam ser plenamente exercitáveis com o nascimento, haja vista que o
nascituro é pessoa e, portanto, sujeito de direitos – para a construção da situação jurídica do
nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea. Além
disso, apesar de existir concepção mais restritiva sobre os direitos do nascituro, amparada pelas
teorias natalista e da personalidade condicional, atualmente há de se reconhecer a titularidade
de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante, uma vez
que, garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao
nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é
direito pressuposto a todos os demais. Portanto, o aborto causado pelo acidente de trânsito
subsume-se ao comando normativo do art. 3ºda Lei 6.194/1974, haja vista que outra coisa não
ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina”. REsp
1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


PERSONALIDADE CIVIL
“Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;
mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

• Personalidade em sentido subjetivo: é a aptidão


genérica para ser titular de direitos e obrigações
[pessoas naturais ou pessoas jurídicas].

• Personalidade em sentido objetivo: tributos


próprios e exclusivos da pessoa humana [ex.
direito à imagem, à honra - CC arts. 11 a 21]

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ELEMENTOS DA PERSONALIDADE:

1. CAPACIDADE – DE DIREITO
• CAPACIDADE [medida da personalidade]
• A capacidade civil é classificada em capacidade
de direito e capacidade de exercício. A
capacidade de direito, também denominada
capacidade jurídica, é a investidura de aptidão
para adquirir e transmitir direitos e para sujeição
a deveres jurídicos. [Paulo Lôbo. Direito Civil 1 -
Parte Geral . Editora Saraiva]
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ELEMENTOS DA PERSONALIDADE:

1. CAPACIDADE – DE FATO

• De fato: Capacidade (aptidão) de, pessoalmente, exercitar


direitos, praticar atos na vida civil.

• Ausente capacidade de fato, ocorre a incapacidade, que


pode ser absoluta [representados] ou relativa [assistidos]

• Capacidade plena: fato e direito [junção de ambas].

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


INCAPACIDADE
“Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os
menores de 16 (dezesseis) anos.”
**Suprimento da incapacidade: representados

• Incapacidade: significa falta de capacidade para praticar


determinados atos, pode ser absoluta (art. 3º) ou relativa (art.
4º).
• ABSOLUTAMENTE INCAPAZES –artigo 3 do CC/2002: - São
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da
vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

• OBS: O ROL ESTABELECIDO NO ART 3 DO CC FORA


REVOGADO PELA LEI Nº 13.146, DE 2015 - INSTITUI A LEI
BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
[ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – ARTIGO 123]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RELATIVAMENTE INCAPAZES [ART. 4, CC]
**Suprimento da incapacidade: assistência

• DOS RELATIVAMENTE INCAPAZES: rol do artigo 4º do CC:

I. os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;


II. os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III. aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade;
IV. os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por


legislação especial.
* A capacidade dos índios não é mais regulada pelo CC,
mas pelo estatuto do índio [LEI N. 6001/76].

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


PROF. ENÉAS CORRÊA DE
FIGUEIREDO JR
PROF. ENÉAS CORRÊA DE
FIGUEIREDO JR
PROF. ENÉAS CORRÊA DE
FIGUEIREDO JR
Incapacidade absoluta x Incapacidade relativa

• Absolutamente: representados – nulo os


atos praticados sem representação.

• Relativamente: assistidos – sob pena de


anulabilidade do ato [art. 171, I, CC]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Releitura das incapacidades - Raciocinando...
“dignidade da pessoa humana”...
• “Aprisionar a pessoa humana – sem considerar sua vicissitudes –
em categorias estanques coloca dificuldades e empecilhos ao
livre desenvolvimento da personalidade, tolhe sua
personalidade, além de limitar sua potencialidade, o que
contraria todas a principiologia constitucional, tornando-se
prisão institucionalizada”. [Ana Carolina Brochado – Integridade
psíquica e capacidade de exercício].
• “Quem não tem plenas condições de gerir sozinho seu
patrimônio não será necessariamente inapto para realizar
escolhas existências”. [SCHREIBER]
• Proteção à dignidade da pessoa humana: garantia da
autodeterminação da pessoa natural.
• O regime das incapacidades priva o sujeito do direito de livre
consentimento, na medida em que o condiciona à assistência ou
à representação.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Hora da revisão...

RAIMUNDO completou 17 anos de idade em janeiro de 2010. Em março de 2010


colou grau em curso de ensino médio. Em julho de 2010 contraiu matrimônio
com Josefina. Em setembro de 2010, foi aprovado em concurso público e iniciou
o exercício do emprego público efetivo. Por fim, em novembro de 2010,
estabeleceu-se no comércio, abrindo um restaurante.

Assinale a alternativa que indica o momento em que se deu cessação da


incapacidade civil de RAIMUNDO.

a) No momento em que iniciou o exercício de emprego público efetivo.


b) No momento em que colou grau em curso de ensino médio.
c) No momento em que contraiu matrimônio.
d) No momento em que se estabeleceu no comércio, abrindo um restaurante.
e) Nenhuma das situações anteriores, pois só haverá cessação da incapacidade civil
quando completar 18 anos de idade.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Hora da revisão...

• Com base nas disposições do Código Civil, assinale a opção correta


a respeito da capacidade civil.

• a) Os pródigos, devido sua condição são considerados


absolutamente incapazes.
• b) O indivíduo que não consegue exprimir sua vontade é
considerado absolutamente incapaz.
• c) Indivíduos que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida
civil são considerados absolutamente incapazes.
• d) Somente os menores de dezesseis anos de idade são
considerados absolutamente incapazes pelo Código Civil.
• e) começa a partir dos 21 anos de idade.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


Como se finda a incapacidade?

• EMANCIPAÇÃO – ARTIGO 5º CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO – Aquisição da


capacidade civil antes da idade legal.

• Art. 5°- Cessará, para os menores, a incapacidade:


I. Voluntária: pela concessão dos pais, ou de um deles na falta de outro,
mediante instrumento público, independentemente de homologação
judicial; Judicial: sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos [modalidades voluntária e judicial];
LEGAL:
I. pelo casamento;
II. pelo exercício de emprego público efetivo;
III. pela colação de grau em curso de ensino superior;
IV. pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos
completos tenha economia própria.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


ATENÇÃO! Raciocinando a matéria...
Proibição de casamento de menores de 16 vai à sanção
Fonte: https://www12.senado.leg.br/jornal/edicoes/2019/02/20/jornal.pdf

• O Senado aprovou ontem projeto que proíbe o casamento de menores de 16 anos. Da ex-deputada Laura
Carneiro, a proposta se baseou em estudo que coloca o Brasil como o quarto país no mundo com maior
número de casamentos infantis registrados. De acordo com o levantamento, 3 milhões de brasileiras
afirmaram ter se casado antes de completar 18 anos, sendo que 877 mil com até 15 anos. O projeto
manteve a permissão para que jovens de 16 e 17 anos se casem desde que autorizados pelos pais ou
responsáveis. A proposta segue para sanção.
• O Senado aprovou ontem o projeto que proíbe o casamento de menores de 16 anos. Da ex-deputada
Laura Carneiro, o PLC 56/2018 já havia sido aprovado pela Câmara em 2018 e seguirá para sanção
presidencial.
• Estudo de 2015 da ONG Promundo, usado para embasar o projeto, classificou o Brasil como o quarto país
com maior número de registros de casamentos infantis no mundo. De acordo com o levantamento, 3
milhões de brasileiras afirmaram ter se casado antes de completar 18 anos, marco da maioridade para
atos da vida civil.
• Eliziane Gama (PPS-MA) lembrou que milhares de jovens, principalmente mulheres, param de estudar
quando se casam. — Os dados mostram que 877 mil mulheres brasileiras se casaram com até 15 anos nos
últimos anos.
• Essas jovens, que se casam tão cedo, engravidam cedo e não mais estudam — afirmou a senadora.
Roberto Rocha (PSDB-MA) afirmou que nas Regiões Norte e Nordeste não é raro o casamento ou a união
de jovens menores de 16 anos. — Uma criança, um jovem de 15 anos não pode beber, não pode dirigir,
não pode votar. Então, é lógico que não pode se casar — disse o senador.

• A senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que ficou mantida a permissão, que já consta do Código Civil
(Lei 10.406, de 2002), para que pais ou responsáveis autorizem a união de jovens com 16 e 17 anos. —
Embora esse projeto proíba em qualquer caso casamento de jovens menores de 16 anos, ele faz a ressalva
já existente no Código Civil, que permite excepcionalmente quando o homem ou a mulher tenham 16
anos, desde que haja autorização de ambos os pais ou seus representantes legais. Isso vai ao encontro da
determinação da ONU. A partir de agora, a regra é que meninos e meninas, jovens com até 16 anos não
possam se casar. PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
LEI Nº 13.811, DE 12 DE MARÇO DE 2019.

• Confere nova redação ao art. 1.520 da Lei nº 10.406,


de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para suprimir
as exceções legais permissivas do casamento infantil.

Art. 1º O art. 1.520 da Lei nº 10.406, de 10 de


janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com
a seguinte redação:
“Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso,
o casamento de quem não atingiu a idade núbil,
observado o disposto no art. 1.517 deste Código.”
(NR)
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JURISPRUDÊNCIA - RESPONSABILIDADE CIVIL: Emancipação voluntária,
diversamente da operada por força de lei, não exclui a responsabilidade civil
dos pais pelos atos praticados por seus filhos menores. [AgRg n.
1.239.557/RJ]

• VOTO:
• “Por fim, no que concerne à responsabilidade dos pais pelo evento
danoso, observo que a emancipação voluntária, diversamente da operada
por força de lei, não exclui a responsabilidade civil dos pais pelos atos
praticados por seus filhos menores.
• A propósito do tema, transcrevo excerto do voto do Ministro
Eduardo Ribeiro no REsp. 122.573-PR:
• A doutrina dominante não placita o entendimento acolhido pelo egrégio
Tribunal a quo. Costuma-se tratar de modo diferente as hipóteses,
consoante a causa da emancipação. Assim, Caio Mario:
• "Em caso de emancipação do filho, cabe distinguir-se: se é a legal, advinda
por exemplo do casamento, os pais estão liberados; mas a emancipação
voluntária não os exonera, porque um ato de vontade não elimina a
responsabilidade que provém da lei" (Responsabilidade Civil - 4ª ed -
Forense - p91⁄2).
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
JURISPRUDÊNCIA - RESPONSABILIDADE CIVIL: Emancipação voluntária,
diversamente da operada por força de lei, não exclui a responsabilidade civil
dos pais pelos atos praticados por seus filhos menores. [AgRg n.
1.239.557/RJ]
• A meu ver, correta essa posição. Tratando-se de atos ilícitos, a emancipação, ao
menos a que decorra da vontade dos pais, não terá as mesmas consequencias que
dela advêm quando se cuide da prática de atos com efeitos jurídicos queridos.
A responsabilidade dos pais decorre especialmente do poder de direção que, para
os fins de exame, não é afetado. É possível mesmo ter-se a emancipação como ato
menos refletido; não necessariamente fraudulento. Observo que a emancipação ,
por si, não afasta a possibilidade de responsabilizar os pais, o que não exclui
possa isso derivar de outras causas que venham a ser apuradas"
• Responsabilidade civil. Pais. Menor emancipado. A emancipação por outorga dos
pais não exclui, por si só, a responsabilidade decorrente de atos ilícitos do filho.
• (REsp 122.573⁄PR, Rel. Ministro EDUARDO RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, DJ de
18.12.1998)”

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


• A emancipação faz cessar a incapacidade,
mas não antecipa a maioridade, ou seja,
continuam incidindo sobre o emancipado
as regras cujo suporte fático seja
especificamente sua idade, e não sua
capacidade [SCHREIBER]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
LEI N. 13.146/2015

• Convenção Internacional das Nações Unidas sobre Direitos


das Pessoas com Deficiência
• 25% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA – 46 milhões [2016]
• 15% DA POPULAÇÃO MUNDIAL – um bilhão [2016]

• Motivação personalista: maior autonomia às pessoas com


deficiência.

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FIM DA PERSONALIDADE [ART. 6o, CC]
“Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva”.

• Morte da pessoa natural: morte encefálica [morte cerebral].

• Eutanásia [em grego, boa morte]: debate polarizado [crime de homicídio


privilegiado [CP, art. 121, § 1o ] x ausência de norma expressa

• Princípio do consentimento informado: ex. vítima de câncer opta em


fazer tratamento – ainda que a decisão conduza à morte, não se tem, a
rigor, eutanásia [SCHREIBER]
• Ortotanásia [eutanásia passiva]: vontade consciente e informada do
paciente dever ser atendida [ex. paciente em estado terminal, solicita a
suspensão do procedimento médico]

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FIM DA PERSONALIDADE [ART. 6o, CC]
“Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto
aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”.

• E quando o paciente solicita a atuação do direta do médico para


a obtenção do resultado letal? Ou seja: sem a atuação do
médico a morte não ocorreria.

• Testamento biológico [testamento vital]: pessoa manifesta,


antecipadamente, sua recusa a certos tratamentos médicos.
[autonomia da vida privada e dignidade da pessoa humana]

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FIM DA PERSONALIDADE [ART. 6o, CC]
“Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva”.

• Conselho Federal de Medicina [CFM] Resolução 1.995/2012 [diretivas


antecipadas da vontade]: “art. 1. Definir diretivas antecipadas da vontade
como conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo
paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no
momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e
autonomamente, sua vontade”.

• Testamento biológico: informal e revogável a qualquer momento –


novidades terapêuticas relevantes.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


MORTE CIVIL X MORTE PRESUMIDA [ART. 7o, CC]

• O direito brasileiro não admite a morte civil: privação da personalidade


de pessoa ainda viva, a título de punição [prática entre os romanos]
• Morte presumida: admitida no Brasil [art. 7, CC]
• (i) for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida
• (ii) pessoa desaparecida em campanha militar ou feita prisioneira não for
encontrada até dois anos após o término da guerra.

• A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser


requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento.

• Propósito: facilitar a vida dos familiares [ex. celebração de novo


casamento; sucessão dos bens do desaparecido].

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


COMORIÊNCIA [ART. 8o, CC]
“Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
presumir-se-ão simultaneamente mortos”.

• Presunção de morte simultânea de pessoas reciprocamente herdeiras.


• A regra da comoriência [morte simultânea] impede que se dê a sucessão
entre os comorientes [evitar resultados diversificados sobre herdeiros
sobreviventes]
• Ex: casos de acidentes aéreos; outras catástrofes que vitimam membros
da mesma família [barragens em MG].

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


AUSÊNCIA [ARTS. 22 a 25, CC]

• Presunção de morte: não presença + falta de notícias + decisão judicial =


ausência.
• Forte conotação patrimonial – quando o ausente não deixado representante
para administrar os seus bens e negócios

• STJ: viés personalista [RESP N. 1.016.023/DF]


• “A comprovação da propriedade não é condição sine que non para a
declaração de ausência”, de modo que, “ se o ausente deixa interessados em
condições de sucedê-los, em direitos e obrigações, ainda que os bens por ele
deixados sejam, a princípio, não arrecadáveis, há viabilidade de se utilizar o
procedimento que objetiva a declaração de ausência”.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


FASES DA AUSÊNCIA

• (a). Curadoria dos bens do ausente [arts. 22 a 25, CC]

 Nomeia-se curador para administrar os bens do ausente

 Propósito da curadoria: gestão de bens [cura rei] e não da pessoa do


ausente [declaração de ausente]

• (b)sucessão provisória do ausente [arts. 26 a 36, Cc]


 Herdeiros deverão prestar garantias suficientes

• (c) sucessão definitiva dos ausente [arts. 37 a 39, CC]

 Passados 10 anos do trânsito em julgado da sentença da sucessão


provisória
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EFEITOS EXISTENCIAIS DA AUSÊNCIA
Regra: Forte conotação patrimonial [bens do ausente]

 Filhos menores [art. 1.728, I, CC]: pais declarados ausentes sejam postos
sob tutela

 Extinção da sociedade conjugal [art. 1571, § 1º]

• “Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


• [...]
• § 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou
pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto
ao ausente”.

• “No sistema atual, portanto, a abertura da sucessão definitiva opera, de


pleno direito, o fim do matrimônio. Entretanto, como tal abertura leva
mais de dez anos para ocorrer, a via do divórcio, hoje ampla e
incondicionada, permanece como caminho mais útil para o cônjuge do
ausente”. [SCHREIBER]
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
RETORNO DO AUSENTE OU DESAPARECIDO [art. 39, CC]
Sucessão definitiva do ausente: não é irreversível

 Retornando nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva:

• Tem direito: receber seus bens no estado em que se encontrem ou


equivalente em dinheiro.

 Caso não retorne nos dez anos seguintes – e nenhum interessado


promover a sucessão definitiva: bens arrecadados – Município, Distrito
Federal, União [art. 39, parágrafo único]

 “Embora não restitua o patrimônio, o retorno do ausente afasta a


presunção de morte, restaurando todos os direitos da pessoa natural. O
mesmo raciocínio se aplica às hipóteses do art. 7, já que a morte
presumida não consiste em punição ou estado inexorável, mas mero
artifício técnico-jurídico voltado a facilitar a vida civil dos familiares e a
gestão do patrimônio do desaparecido. Seu retorno afasta imediatamente
a presunção de morte”. [SCHREIBER, 2018]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
 Contexto histórico:

Segunda metade do Século XIX - expressão


concebida por Jusnaturalistas Franceses e Alemães
Brasil – CF – segunda metade do Século XX –
conexão com a dignidade da pessoa humana
Direitos inerentes do homem – preexistentes ao seu
reconhecimento por parte do Estado
Essenciais à condição humana, direitos sem os
quais todos os outros direitos subjetivos perderiam
qualquer interesse para o indivíduo, ao ponto de se
chegar a dizer que, se não existissem, a pessoa não
seria mais pessoa. [SCHREIBER, 2018]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
A dignidade da pessoa humana [Art. 1o, III, CF]

 Assegurar proteção à condição humana, em seu múltiplos


aspectos e manifestações, tomando a pessoa “sempre
como um fim e nunca como um meio”.

 Contrário à dignidade humana: tudo aquilo que puder


reduzir a pessoa [o sujeito de direitos] à condição de objeto.
[Maria Celina Bodin de Moraes - Danos à pessoa humana
– uma leitura civil-constitucional dos danos morais]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
A dignidade da pessoa humana [Art. 1o, III, CF]
 Características dos direitos da personalidade:
a) extrapatrimonialidade: proteger a condição
humana, não suscetíveis de avaliação econômica.
b) caráter absoluto: impõe a toda coletividade [erga
omnes] – reconhecido a todas as pessoas
c) não taxatividade [elasticidade]: ausência de
previsão no CC, não impede a tutela [ex. integridade
psíquica, identidade pessoal]
d) intransmissíveis e irrenunciáveis [art. 11, CC]: não
podem ser transmitidos a outrem – interesse do
titular – indissociável – “titularidade orgânica”.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
 “Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os
direitos da personalidade são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
limitação voluntária”.

 Discussão: Autolimitação aos direitos da personalidade:


“não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária”
 Enunciado 4 – I Jornada de Direito Civil: “O exercício dos
direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária,
desde que não seja permanente nem geral”.
 Ex.: contratos de licenciamento de uso de imagem
celebrados por artistas e atletas [Reality Shows, BBB]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
 Direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra;
direito à imagem e direito à privacidade.
 Rol não taxativo: ex. direito à identidade pessoal.

 Direito ao próprio corpo [art. 13, CC]: “Art. 13. Salvo por
exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da
integridade física, ou contrariar os bons costumes.
• Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido
para fins de transplante, na forma estabelecida em lei
especial”.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO AO PRÓPRIO CORPO [ARTS. 13 e 14, CC]


• “Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
• Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial”.

Vedado: diminuição física permanente.


Partes destacadas do corpo humano [ex. fio de
cabelo, saliva, sêmen]: código genético – protegidos?
Discussão: STF, Reclamação 2040/DF [caso da cantora
mexicana Gloria Trevi].
Discussão: exigência médica – como ficam: cirurgias
plásticas puramente embelezadoras e os tratamentos
estéticos definitivos. As cirurgias de transgenitalização
[Resolução CFM n. 1.955/2010 e n. 1.652/2002].

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


EMENTA: - Reclamação. Reclamante submetida ao processo de Extradição n.º
783, à disposição do STF. 2. Coleta de material biológico da placenta, com
propósito de se fazer exame de DNA, para averigüação de paternidade do
nascituro, embora a oposição da extraditanda. 3. Invocação dos incisos X e XLIX
do art. 5º, da CF/88. 4. Ofício do Secretário de Saúde do DF sobre comunicação
do Juiz Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do DF ao Diretor do Hospital
Regional da Asa Norte - HRAN, autorizando a coleta e entrega de placenta para
fins de exame de DNA e fornecimento de cópia do prontuário médico da
parturiente. 5. Extraditanda à disposição desta Corte, nos termos da Lei n.º
6.815/80. Competência do STF, para processar e julgar eventual pedido de
autorização de coleta e exame de material genético, para os fins pretendidos
pela Polícia Federal. 6. Decisão do Juiz Federal da 10ª Vara do Distrito Federal, no
ponto em que autoriza a entrega da placenta, para fins de realização de exame
de DNA, suspensa, em parte, na liminar concedida na Reclamação. Mantida a
determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte, quanto à realização
da coleta da placenta do filho da extraditanda. Suspenso também o despacho do
Juiz Federal da 10ª Vara, na parte relativa ao fornecimento de cópia integral do
prontuário médico da parturiente. 7. Bens jurídicos constitucionais como
"moralidade administrativa", "persecução penal pública" e "segurança
pública" que se acrescem, - como bens da comunidade, na expressão de
Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem assim direito à
honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da extraditanda,
nas dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria instituição,
em confronto com o alegado direito da reclamante à intimidade e a preservar a
identidade do pai de seu filho. 8. Pedido conhecido como reclamação e julgado
procedente para avocar o julgamento do pleito do Ministério Público Federal,
feito perante o Juízo Federal da 10ª Vara do Distrito Federal. 9. Mérito do pedido
do Ministério Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para
autorizar a realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização
da placenta recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de entrega à
Polícia Federal PROF.
do "prontuário
ENÉAS CORRÊA DEmédico"
FIGUEIREDOda
JR reclamante. (Rcl 2040 QO,
Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2002, DJ
 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO AO PRÓPRIO CORPO [ARTS. 13 e 14, CC]

Discussão [SCHREIBER, 2018]: caso de Roberta


Jamilly – saliva coletada em guimbas de cigarros
fumados na delegacia foi utilizada para realizar,
contra a sua vontade, exame de DNA, que
atestou a ausência de vínculo biológico entre
ela e a sua mãe de criação, acusada também do
sequestro do menino Pedrinho. Invasão de
privacidade?
 “Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir
a prova que se pretendia obter com o exame”.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
A dignidade da pessoa humana [Art. 1o, III, CF]

 Discussão de caso: “O lançamento de anão” [SCHREIBER]


 Cidadão francês com nanismo: seu ofício consistia em ser lançado
por clientes de bares e lanchonetes.
 A competição ficou conhecida como lancer de nain [lançamento de
anão].
 Prefeito proibiu a atividade. Apelou ao Conselho de Estado
Francês. Vedou a prática por considerar afronta à dignidade
humana. Cidadão recorreu ao Comitê de Direitos Humanos das
Nações Unidas. Violava a sua dignidade de exercer uma profissão,
sua liberdade, privacidade e ato discriminatório contra os
portadores de nanismo.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


DIREITOS DA PERSONALIDADE
[art. 11 a art. 21, CC]
A dignidade da pessoa humana [Art. 1o, III, CF]

 O Comitê considerou que a diferenciação, no caso, não configurava


discriminação, já que decorria da razão física de “os anões serem as
únicas pessoas aptas a serem lançadas por outras”. Concluiu, ainda,
que o banimento da atividade fora baseado em critérios objetivos e
razoáveis, inexistindo violação aos direitos humanos.
 “A solução não é, naturalmente, imune a controvérsias. A dignidade
humana não consiste em um conceito de aplicação matemática. A
própria percepção do que é ou não é essencial ao ser humano varia
conforme a cultura e a história de cada povo, e também de acordo
com as concepções de vida de cada indivíduo”. [SCHREIBER, 2018]

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO AO NOME [ARTS. 16 a 19, CC] – espaço de autonomia existencial da pessoa


humana X imposição do destino.

• “Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome”.

 Direito-Dever: tem que ter um nome.


 Flexibilização da Lei de Registros Públicos [Lei n.
6.015/1973]: novas hipóteses de alteração do nome [Lei n.
9.708/1998 – substituição do prenome por apelidos públicos
e notórios – Xuxa, Lula] ; Lei n. 11.924/2009 – enteado(a)
adotar nome de família do padrasto ou madrasta – Chamada
Lei Clodovil].
 Discussão: transexuais – alterar nome e sexo no registro civil –
sem a realização de cirurgia de transgenitalização – STF ADI n.
4.275 – STF RE n. 670.422 – STJ REsp n. 1.626.739/RS] -
Doutrina: Luiz Edson Fachin, “O corpo do registro no registro
do corpo; mudança de nome e sexo sem cirurgia de
redesignação”, Revista Brasileira de Direito Civil, v. 1, 2014.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO
CONSTITUCIONAL E REGISTRAL. PESSOA TRANSGÊNERO.
ALTERAÇÃO DO PRENOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL.
POSSIBILIDADE. DIREITO AO NOME, AO RECONHECIMENTO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA, À LIBERDADE PESSOAL, À HONRA E À
DIGNIDADE. INEXIGIBILIDADE DE CIRURGIA DE
TRANSGENITALIZAÇÃO OU DA REALIZAÇÃO DE TRATAMENTOS
HORMONAIS OU PATOLOGIZANTES. 1. O direito à igualdade sem
discriminações abrange a identidade ou expressão de gênero. 2. A
identidade de gênero é manifestação da própria personalidade da
pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado apenas o papel de
reconhecê-la, nunca de constituí-la. 3. A pessoa transgênero que
comprove sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi
designada ao nascer por autoidentificação firmada em declaração
escrita desta sua vontade dispõe do direito fundamental subjetivo à
alteração do prenome e da classificação de gênero no registro civil
pela via administrativa ou judicial, independentemente de
procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema
relativo ao direito fundamental ao livre desenvolvimento da
personalidade. 4. Ação direta julgada procedente. (ADI 4275,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 01/03/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-045 DIVULG 06-03-2019 PUBLIC 07-03-2019)

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. REGISTRO CIVIL. ALTERAÇÃO DO
SEXO. TRANSEXUAL NÃO TRANSGENITALIZADO. CABIMENTO.
PRECEDENTES DO STF E DO STJ.
1. Controvérsia acerca da possibilidade de se autorizar a alteração
do registro civil para mudança do sexo civil de masculino para
feminino no caso de transexual que não se submeteu a cirurgia de
redesignação genital.
2. Possibilidade de alteração do prenome na hipótese de exposição
da pessoa a situações ridículas (art. art. 59, p. u., da Lei dos
Registros Públicos).
3. Ocorrência de exposição ao ridículo quando se mantém a
referência ao sexo masculino, embora o prenome já tenha sido
alterado para o feminino em razão da transexualidade.
4. Possibilidade de alteração do sexo civil nessa hipótese.
5. Precedentes do STF e do STJ.
6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(REsp 1561933/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe 23/04/2018)

*** ver: (REsp 1626739/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,


QUARTA TURMA, julgado em 09/05/2017, DJe 01/08/2017)

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


• O Decreto n. 8.727/2016 prevê o reconhecimento do
nome social, designação pela qual a pessoa travesti ou
transexual se identifica e é socialmente reconhecida, no
âmbito da administração pública federal direta, autárquica
e fundacional, sem alteração do registro civil.
• A pessoa travesti ou transexual poderá requerer, a qualquer
tempo, a inclusão de seu nome social em documentos
oficiais e nos registros dos sistemas de informação, de
cadastros, de programas, de serviços, de fichas, de
formulários, de prontuários e congêneres dos órgãos e das
entidades da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional.
• Em 22-3-2018, o TSE decidiu que os travestis e transexuais
poderão solicitar à Justiça Eleitoral a emissão do título de
eleitor com seu respectivo nome social, acompanhando o
nome civil, devendo o cadastro eleitoral manter as
informações dos dois nomes.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• O STF passou a admitir a multiparentalidade,


consolidando seu entendimento, como Tema 622 de
repercussão geral, em decisão plenária tomada em
22-9-2016, tendo como caso paradigma o RE
898.060, com a seguinte tese geral: a paternidade
socioafetiva, declarada ou não em registro público,
não impede o reconhecimento do vínculo de filiação
concomitante baseado na origem biológica, com os
efeitos jurídicos próprios.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• Como consequência, a pessoa pode ter


contemplados em seu registro civil, além dos
pais registrais, os pais biológicos e vice-versa,
com iguais efeitos jurídicos da relação
paterno-filial, sem necessidade de
cancelamento do registro anterior da
parentalidade socioafetiva em prol da
parentalidade biológica, como ocorria
anteriormente.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• Ementa: Recurso Extraordinário. Repercussão Geral reconhecida. Direito Civil e Constitucional. Conflito entre paternidades
socioafetiva e biológica. Paradigma do casamento. Superação pela Constituição de 1988. Eixo central do Direito de Família:
deslocamento para o plano constitucional. Sobreprincípio da dignidade humana (art. 1º, III, da CRFB). Superação de óbices
legais ao pleno desenvolvimento das famílias. Direito à busca da felicidade. Princípio constitucional implícito. Indivíduo
como centro do ordenamento jurídico-político. Impossibilidade de redução das realidades familiares a modelos pré-
concebidos. Atipicidade constitucional do conceito de entidades familiares. União estável (art. 226, § 3º, CRFB) e família
monoparental (art. 226, § 4º, CRFB).Vedação à discriminação e hierarquização entre espécies de filiação (art. 227, § 6º,
CRFB). Parentalidade presuntiva, biológica ou afetiva. Necessidade de tutela jurídica ampla. Multiplicidade de vínculos
parentais. Reconhecimento concomitante. Possibilidade. Pluriparentalidade. Princípio da paternidade responsável (art.
226, § 7º, CRFB). Recurso a que se nega provimento. Fixação de tese para aplicação a casos semelhantes. 1. O
prequestionamento revela-se autorizado quando as instâncias inferiores abordam a matéria jurídica invocada no Recurso
Extraordinário na fundamentação do julgado recorrido, tanto mais que a Súmula n. 279 desta Egrégia Corte indica que o
apelo extremo deve ser apreciado à luz das assertivas fáticas estabelecidas na origem. 2. A família, à luz dos preceitos
constitucionais introduzidos pela Carta de 1988, apartou-se definitivamente da vetusta distinção entre filhos legítimos,
legitimados e ilegítimos que informava o sistema do Código Civil de 1916, cujo paradigma em matéria de filiação, por
adotar presunção baseada na centralidade do casamento, desconsiderava tanto o critério biológico quanto o afetivo. 3. A
família, objeto do deslocamento do eixo central de seu regramento normativo para o plano constitucional, reclama a
reformulação do tratamento jurídico dos vínculos parentais à luz do sobreprincípio da dignidade humana (art. 1º, III, da
CRFB) e da busca da felicidade. 4. A dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral, capaz
de determinar-se e desenvolver-se em liberdade, de modo que a eleição individual dos próprios objetivos de vida tem
preferência absoluta em relação a eventuais formulações legais definidoras de modelos preconcebidos, destinados a
resultados eleitos a priori pelo legislador. Jurisprudência do Tribunal Constitucional alemão (BVerfGE 45, 187). de
hierarquia entre elas (art. 227, § 6º).

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• 5. A superação de óbices legais ao pleno desenvolvimento das famílias construídas pelas


relações afetivas interpessoais dos próprios indivíduos é corolário do sobreprincípio da
dignidade humana. 6. O direito à busca da felicidade, implícito ao art. 1º, III, da Constituição,
ao tempo que eleva o indivíduo à centralidade do ordenamento jurídico-político, reconhece
as suas capacidades de autodeterminação, autossuficiência e liberdade de escolha dos
próprios objetivos, proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadãos para
a persecução das vontades particulares. Precedentes da Suprema Corte dos Estados Unidos
da América e deste Egrégio Supremo Tribunal Federal: RE 477.554-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, DJe de 26/08/2011; ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 14/10/2011. 7. O
indivíduo jamais pode ser reduzido a mero instrumento de consecução das vontades dos
governantes, por isso que o direito à busca da felicidade protege o ser humano em face de
tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-concebidos
pela lei. 8. A Constituição de 1988, em caráter meramente exemplificativo, reconhece como
legítimos modelos de família independentes do casamento, como a união estável (art. 226, §
3º) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, cognominada
“família monoparental” (art. 226, § 4º), além de enfatizar que espécies de filiação
dissociadas do matrimônio entre os pais merecem equivalente tutela diante da lei, sendo
vedada discriminação e, portanto, qualquer tipo de hierarquia entre elas (art. 227, § 6º).

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RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• 9. As uniões estáveis homoafetivas, consideradas pela jurisprudência desta Corte como entidade familiar, conduziram à
imperiosidade da interpretação não-reducionista do conceito de família como instituição que também se forma por vias
distintas do casamento civil (ADI nº. 4277, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011). 10. A
compreensão jurídica cosmopolita das famílias exige a ampliação da tutela normativa a todas as formas pelas quais a
parentalidade pode se manifestar, a saber: (i) pela presunção decorrente do casamento ou outras hipóteses legais, (ii) pela
descendência biológica ou (iii) pela afetividade. 11. A evolução científica responsável pela popularização do exame de DNA
conduziu ao reforço de importância do critério biológico, tanto para fins de filiação quanto para concretizar o direito
fundamental à busca da identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser. 12. A
afetividade enquanto critério, por sua vez, gozava de aplicação por doutrina e jurisprudência desde o Código Civil de 1916
para evitar situações de extrema injustiça, reconhecendo-se a posse do estado de filho, e consequentemente o vínculo
parental, em favor daquele utilizasse o nome da família (nominatio), fosse tratado como filho pelo pai (tractatio) e gozasse
do reconhecimento da sua condição de descendente pela comunidade (reputatio). 13. A paternidade responsável,
enunciada expressamente no art. 226, § 7º, da Constituição, na perspectiva da dignidade humana e da busca pela felicidade,
impõe o acolhimento, no espectro legal, tanto dos vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os envolvidos,
quanto daqueles originados da ascendência biológica, sem que seja necessário decidir entre um ou outro vínculo quando o
melhor interesse do descendente for o reconhecimento jurídico de ambos. 14. A pluriparentalidade, no Direito Comparado,
pode ser exemplificada pelo conceito de “dupla paternidade” (dual paternity), construído pela Suprema Corte do Estado da
Louisiana, EUA, desde a década de 1980 para atender, ao mesmo tempo, ao melhor interesse da criança e ao direito do
genitor à declaração da paternidade. Doutrina. 15. Os arranjos familiares alheios à regulação estatal, por omissão, não
podem restar ao desabrigo da proteção a situações de pluriparentalidade, por isso que merecem tutela jurídica
concomitante, para todos os fins de direito, os vínculos parentais de origem afetiva e biológica, a fim de prover a mais
completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos, ante os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art.
1º, III) e da paternidade responsável (art. 226, § 7º). 16. Recurso Extraordinário a que se nega provimento, fixando-se a
seguinte tese jurídica para aplicação a casos semelhantes: “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro
público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos
jurídicos próprios”. (RE 898060, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 21/09/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-187
PROF. ENÉAS DIVULG
CORRÊA DE23-08-2017
FIGUEIREDO PUBLIC
JR 24-08-2017)
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• O sobrenome não é totalmente imutável no direito brasileiro.


Com o casamento, por exemplo, “qualquer dos nubentes,
querendo, pode acrescer ao seu o sobrenome do outro” (CC,
art. 1.565). O direito de acrescer não significa proibição de
suprimir, como decidiu o STJ: “Desde que não haja prejuízo à
ancestralidade, nem à sociedade, é possível a supressão de
um patronímico, pelo casamento, pois o nome civil é direito
de personalidade” (REsp 662.799). O erro de fácil constatação
pode ser corrigido mediante pedido ao oficial do registro
público (Lei n. 12.100/2009).
• No casamento, o cônjuge pode adotar livremente o
sobrenome do outro. Esse direito não se esgota com o
casamento, podendo ser exercido depois dele, durante a
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convivência conjugal, como decidiu o STJ (REsp 910.094).
RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• O filho de criação pode acrescentar ao seu


sobrenome o da família que o criou. Assim
decidiu o STJ [REsp 605.708], em favor de
mulher que alegou que, não obstante ser filha
biológica de um casal, viveu desde os
primeiros dias de vida em companhia de outro
casal, que considerava como seus pais
verdadeiros, aos quais desejava prestar essa
homenagem.
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RACIOCINANDO...DIREITO AO NOME...

• A jurisprudência do STJ [REsp 1393195/MG] tem admitido a alteração do


nome (tanto o prenome quanto o sobrenome) mesmo após o decurso do
prazo de um ano, contado da maioridade civil, quando houver motivo
justo ou relevante.
• “RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO - ACRÉSCIMO DE PATRONÍMICO MATERNO - INSTÂNCIAS
ORDINÁRIAS QUE INDEFERIRAM O PEDIDO PORQUANTO DEFICIENTE A MOTIVAÇÃO DELINEADA NA INICIAL - INSURGÊNCIA
DA AUTORA. Hipótese: Discussão acerca da possibilidade de retificação do sobrenome, depois de atingida a maioridade,
para acrescentar matronímico que não fora transmitido à filha, mas por ela adotado como sobrenome durante o tempo
em que esteve casada.
• 1. O direito ao nome insere-se no campo dos direitos da personalidade, derivados do princípio fundamental da dignidade
humana. Sob o aspecto público, exige-se o assento do nome e atribui-se imutabilidade relativa ao registro. Sob o aspecto
privado, tem-se o direito à identidade e à transmissão do sobrenome aos descendentes. 2. O princípio da imutabilidade, que
rege o registro do nome, não é absoluto, uma vez que o ordenamento pátrio contempla diversas hipóteses de retificação e
alteração tanto para o prenome quanto para o sobrenome. A alteração do sobrenome exige a manutenção dos apelidos de
família. 3. Na hipótese, verificam-se os requisitos de excepcionalidade e motivação, além das formalidades processuais
exigidas para o acréscimo de apelido ao sobrenome. 3.1 Não consta do registro de nascimento da recorrente o sobrenome do
pai e não há clareza quanto aos apelidos avoengos paternos, embora esteja claro o sobrenome materno e o apelido avoengo
materno. 3.2 O apelido a ser acrescido foi utilizado pela recorrente durante a constância de seu casamento. 3.3 Higidez do
procedimento verificada, constatada a apresentação de certidões negativas, citação de terceiros interessados e participação
do Ministério Público no feito. 4. Retificação no registro que respeita a estirpe familiar e reflete a realidade da autora.
Precedentes. 5. Recurso provido para determinar a retificação do assento de nascimento da recorrente.” [REsp 1393195/MG,
Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 27/09/2016, DJe 07/11/2016]

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• REsp 66.643 - admitiu-se a exclusão do nome do pai e


sua substituição pelo nome da mãe, em virtude de
abandono paterno.
• REsp 538.187 - decidiu favoravelmente à mudança de
Maria Raimunda para Maria Isabela, porque o primeiro
era motivo de deboches e humilhações e pelo segundo
era conhecida no meio familiar, social e profissional.
• REsp 66.643 - permitiu-se a exclusão do sobrenome
paterno, porque o requerente sentia-se exposto ao
ridículo por portar nome de pessoa que nunca conheceu
ou viu.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
“Essas decisões fazem prevalecer o princípio da dignidade da
pessoa humana e o direito ao livre desenvolvimento da
personalidade, sobre o princípio da segurança jurídica, a que
serve a imutabilidade do nome”. [PAULO LOBO]
• REsp 220.059 - permitiu-se a inclusão do sobrenome do padrasto ao da
requerente, sob o fundamento de ter sido ela criada por ele, que sempre
se apresentava como seu pai.
• REsp 213.682 - permitiu-se a supressão do prenome Francisca da
requerente, porque sempre foi conhecida e se apresentou como Fátima.
• REsp 605.708 - admitiu-se que uma jovem de dezoito anos pudesse
acrescentar ao seu nome os sobrenomes do casal que a criou desde a
infância, que ela considerava como seus verdadeiros pais.
• REsp 1.123.141 - admitiu-se a retificação do nome da mãe nos registros de
nascimento dos filhos pois, após o divórcio, voltou a usar o nome de
solteira.
• REsp 1.304.718 - autorizou-se a exclusão dos sobrenomes paternos do
nome civil de um rapaz que fora abandonado pelo pai na infância e ainda
se permitiu o acréscimo do sobrenome da avó materna.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
REsp 1138103/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 06/09/2011, DJe 29/09/2011.

• “DIREITO CIVIL. REGISTRO PUBLICO. NOME CIVIL. RETIFICAÇÃO DO PATRONÍMICO. ERRO DE


GRAFIA. PRETENSÃO DE OBTENÇÃO DE DUPLA CIDADANIA. POSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE DA
PRESENÇA EM JUÍZO DE TODOS OS INTEGRANTES DA FAMÍLIA.
• 1. A regra da inalterabilidade relativa do nome civil preconiza que o nome (prenome e
sobrenome), estabelecido por ocasião do nascimento, reveste-se de definitividade, admitindo-se
sua modificação, excepcionalmente, nas hipóteses expressamente previstas em lei ou
reconhecidas como excepcionais por decisão judicial (art. 57, Lei 6.015/75), exigindo-se, para
tanto, justo motivo e ausência de prejuízo a terceiros.
• 2. No caso em apreço, o justo motivo revela-se presente na necessidade de suprimento de
incorreções na grafia do patronímico para a obtenção da cidadania italiana, sendo certo que o
direito à dupla cidadania pelo jus sanguinis tem sede constitucional (art. 12, § 4º, II, "a", da
Constituição da República).
• 3. A ausência de prejuízo a terceiro advém do provimento do pedido dos recorridos - tanto pelo
magistrado singular quanto pelo tribunal estadual -, sem que fosse feita menção à existência de
qualquer restrição. Reexame vedado pela Súmula 7 do STJ.
• 4. Desnecessária a inclusão de todos os componentes do tronco familiar no pólo ativo da ação, uma
vez que, sendo, via de regra, um procedimento de jurisdição voluntária, no qual não há lide nem
partes, mas tão somente interessados, incabível falar-se em litisconsórcio necessário, máxime no
pólo ativo, em que sabidamente o litisconsórcio sempre se dá na forma facultativa. 5. Recurso
especial não provido.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO à PRIVACIDADE [ART. 21, CC]


• “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma”. (Vide ADIN 4815).

 Transcendam a mera proteção negativa – não intromissão na


vida privada, não obtenção de dados.
 Proteção positiva – verificação da autenticidade das
informações, sua correção, seu seguro armazenamento,
utilização limitada à finalidade específica, avaliação não
discriminatória.
 Discussão: a vida cotidiana revela a violação sistemática da
privacidade – ex. o passageiro compelido a permitir a
inspeção de sua bagagem de mão pelo raio X de um aeroporto
– ex. direito à privacidade na internet, diante de controle
biométricos para uso de serviços e ingresso em edifícios
públicos e privados – a proteção de dados pessoais sensíveis
ex. saúde] – Câmara dos Depurados: PL 4060/2012, PL
5276/2016 – Senado Federal: PLS 330/2013.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
ADI 4815, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016)
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 20 E 21 DA LEI
N. 10.406/2002 (CÓDIGO CIVIL). PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA
REJEITADA. REQUISITOS LEGAIS OBSERVADOS. MÉRITO: APARENTE
CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, DE INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E CULTURAL, INDEPENDENTE DE
CENSURA OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV; 220, §§ 1º E
2º) E INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E
IMAGEM DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA
PONDERAÇÃO PARA INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL.
PROIBIÇÃO DE CENSURA (ESTATAL OU PARTICULAR). GARANTIA
CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE DIREITO DE RESPOSTA. AÇÃO
DIRETA JULGADA PROCEDENTE PARA DAR INTERPRETAÇÃO CONFORME À
CONSTITUIÇÃO AOS ARTS. 20 E 21 DO CÓDIGO CIVIL, SEM REDUÇÃO DE
TEXTO. 1. A Associação Nacional dos Editores de Livros - Anel congrega a
classe dos editores, considerados, para fins estatutários, a pessoa natural ou
jurídica à qual se atribui o direito de reprodução de obra literária, artística
ou científica, podendo publicá-la e divulgá-la. A correlação entre o conteúdo
da norma impugnada e os objetivos da Autora preenche o requisito de
pertinência temática e a presença de seus associados em nove Estados da
Federação comprova sua representação nacional, nos termos da
jurisprudência deste Supremo Tribunal. Preliminar de ilegitimidade ativa
rejeitada.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
2. O objeto da presente ação restringe-se à interpretação dos arts. 20
e 21 do Código Civil relativas à divulgação de escritos, à transmissão
da palavra, à produção, publicação, exposição ou utilização da imagem
de pessoa biografada. 3. A Constituição do Brasil proíbe qualquer
censura. O exercício do direito à liberdade de expressão não pode ser
cerceada pelo Estado ou por particular. 4. O direito de informação,
constitucionalmente garantido, contém a liberdade de informar, de se
informar e de ser informado. O primeiro refere-se à formação da
opinião pública, considerado cada qual dos cidadãos que pode receber
livremente dados sobre assuntos de interesse da coletividade e sobre
as pessoas cujas ações, público-estatais ou público-sociais, interferem
em sua esfera do acervo do direito de saber, de aprender sobre temas
relacionados a suas legítimas cogitações. 5. Biografia é história. A vida
não se desenvolve apenas a partir da soleira da porta de casa. 6.
Autorização prévia para biografia constitui censura prévia particular. O
recolhimento de obras é censura judicial, a substituir a administrativa.
O risco é próprio do viver. Erros corrigem-se segundo o direito, não se
coartando liberdades conquistadas. A reparação de danos e o direito de
resposta devem ser exercidos nos termos da lei.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


7. A liberdade é constitucionalmente garantida, não se podendo anular
por outra norma constitucional (inc. IV do art. 60), menos ainda por
norma de hierarquia inferior (lei civil), ainda que sob o argumento de
se estar a resguardar e proteger outro direito constitucionalmente
assegurado, qual seja, o da inviolabilidade do direito à intimidade, à
privacidade, à honra e à imagem. 8. Para a coexistência das normas
constitucionais dos incs. IV, IX e X do art. 5º, há de se acolher o
balanceamento de direitos, conjugando-se o direito às liberdades com a
inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem da
pessoa biografada e daqueles que pretendem elaborar as biografias. 9.
Ação direta julgada procedente para dar interpretação conforme à
Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto,
para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de
pensamento e de sua expressão, de criação artística, produção
científica, declarar inexigível autorização de pessoa biografada
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo
também desnecessária autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas ou
ausentes).

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO à PRIVACIDADE [ART. 21, CC]


• “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma”. (Vide ADIN 4815).

 Discussão – DIREITO AO ESQUECIMENTO


O nome ‘direito ao esquecimento’ induz em erro:
não se trata de apagar o passado, reescrever a
história – “proprietários do passado”? [Schreiber].
Evitar que a pessoa humana seja descrita e
percebida a partir de informações do passado –
incompatível com a sua identidade atual. E a rede
mundial de computadores?
STJ – um direito de não ser lembrado contra sua
vontade – RESP n. 1.334.097/RJ.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO à PRIVACIDADE [ART. 21, CC]


• “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma”. (Vide ADIN 4815).

 STJ – um direito de não ser lembrado contra sua vontade – RESP n.


1.334.097/RJ.
 “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE
IMPRENSA VS. DIREITOS DA PERSONALIDADE. LITÍGIO DE SOLUÇÃO
TRANSVERSAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
 DOCUMENTÁRIO EXIBIDO EM REDE NACIONAL. LINHA DIRETA-
JUSTIÇA.SEQUÊNCIA DE HOMICÍDIOS CONHECIDA COMO CHACINA
DA CANDELÁRIA. REPORTAGEM QUE REACENDE O TEMA TREZE
ANOS DEPOIS DO FATO. VEICULAÇÃO INCONSENTIDA DE NOME E
IMAGEM DE INDICIADO NOS CRIMES. ABSOLVIÇÃO POSTERIOR POR
NEGATIVA DE AUTORIA. DIREITO AO ESQUECIMENTO DOS
CONDENADOS QUE CUMPRIRAM PENA E DOS ABSOLVIDOS.
ACOLHIMENTO. DECORRÊNCIA DA PROTEÇÃO LEGAL E
CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DAS
LIMITAÇÕES POSITIVADAS À ATIVIDADE INFORMATIVA. PRESUNÇÃO
LEGAL E CONSTITUCIONAL DE RESSOCIALIZAÇÃO DA PESSOA.
PONDERAÇÃO DE VALORES. PRECEDENTES DE DIREITO COMPARADO.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 3. No caso, o julgamento restringe-se a analisar a adequação do


direito ao esquecimento ao ordenamento jurídico brasileiro,
especificamente para o caso de publicações na mídia televisiva,
porquanto o mesmo debate ganha contornos bem diferenciados
quando transposto para internet, que desafia soluções de índole
técnica, com atenção, por exemplo, para a possibilidade de
compartilhamento de informações e circulação internacional do
conteúdo, o que pode tangenciar temas sensíveis, como a soberania
dos Estados-nações.
 4. Um dos danos colaterais da "modernidade líquida" tem sido a
progressiva eliminação da "divisão, antes sacrossanta, entre as
esferas do 'privado' e do 'público' no que se refere à vida humana",
de modo que, na atual sociedade da hiperinformação, parecem
evidentes os "riscos terminais à privacidade e à autonomia
individual, emanados da ampla abertura da arena pública aos
interesses privados [e também o inverso], e sua gradual mas
incessante transformação numa espécie de teatro de variedades
dedicado à diversão ligeira" (BAUMAN, Zygmunt. Danos colaterais:
desigualdades sociais numa era global. Tradução de Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, pp. 111-113). Diante dessas
preocupantes constatações, o momento é de novas e necessárias
reflexões, das quais podem mesmo advir novos direitos ou novas
perspectivasPROF.
sobreENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
velhos direitos revisitados.
 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 Exegese dos arts. 11, 20 e 21 do Código Civil de 2002. Aplicação da


filosofia kantiana, base da teoria da dignidade da pessoa humana,
segundo a qual o ser humano tem um valor em si que supera o das
"coisas humanas".
 Por isso, nesses casos, o reconhecimento do "direito ao
esquecimento" pode significar um corretivo - tardio, mas possível -
das vicissitudes do passado, seja de inquéritos policiais ou processos
judiciais pirotécnicos e injustos, seja da exploração populista da
mídia.
 13. Nesse passo, o Direito estabiliza o passado e confere
previsibilidade ao futuro por institutos bem conhecidos de todos:
prescrição, decadência, perdão, anistia, irretroatividade da lei,
respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada,
prazo máximo para que o nome de inadimplentes figure em
cadastros restritivos de crédito, reabilitação penal e o direito ao
sigilo quanto à folha de antecedentes daqueles que já cumpriram
pena (art. 93 do Código Penal, art. 748 do Código de Processo Penal
e art. 202 da Lei de Execuções Penais). Doutrina e precedentes.

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 16. Com efeito, o reconhecimento do direito ao esquecimento dos


condenados que cumpriram integralmente a pena e, sobretudo, dos
que foram absolvidos em processo criminal, além de sinalizar uma
evolução cultural da sociedade, confere concretude a um
ordenamento jurídico que, entre a memória - que é a conexão do
presente com o passado - e a esperança - que é o vínculo do futuro
com o presente -, fez clara opção pela segunda. E é por essa ótica
que o direito ao esquecimento revela sua maior nobreza, pois
afirma-se, na verdade, como um direito à esperança, em absoluta
sintonia com a presunção legal e constitucional de regenerabilidade
da pessoa humana.
 17. Ressalvam-se do direito ao esquecimento os fatos genuinamente
históricos - historicidade essa que deve ser analisada em concreto -,
cujo interesse público e social deve sobreviver à passagem do tempo,
desde que a narrativa desvinculada dos envolvidos se fizer
impraticável.
 [...]
 (REsp 1334097/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 10/09/2013)

PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR


 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO à PRIVACIDADE [ART. 21, CC]


• “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma”. (Vide ADIN 4815).

 Correntes doutrinárias: DIREITO AO ESQUECIMENTO X


DIREITO À INFORMAÇÃO.
(i) pró-informação: não existe um direito ao
esquecimento, não há previsão na legislação
brasileira;
(ii) pró-esquecimento: expressão do direito da pessoa
humana à intimidade e à privacidade; não pode
haver “penas perpétuas” por meio da mídia e da
rede mundial de computadores.
(iii) Intermediária: não há hierarquia entre liberdade
de informação e privacidade, ambos são direitos
fundamentais, método de ponderação [menor
sacrifício para cada um dos interesses] – posição
mais adequada [SCHREIBER, 2018].
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO à PRIVACIDADE [ART. 21, CC]


• “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma”. (Vide ADIN 4815).

 STF – RE n. 1.010.606/RJ: aguardando julgamento – questões


polêmicas – indexação de resultados por motores de busca da
internet; a tutela post mortem do direito à imagem.
Decorrente do RESP n. 1.335.153/RJ [caso ‘Isa Cury’].
Audiência Pública no STF [interessante].

 Internet: Anderson Schreiber – “As três correntes do direito


ao esquecimento”; “Nossa ordem jurídica não admite
proprietários de passado” [Conjur 12/7/17].

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 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 DIREITO À IMAGEM, HONRA, BOA FAMA, RESPEITABILIDADE


[ART. 20, CC]
• “Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra,
ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais”. (Vide ADIN 4815)

Evitar a exposição ao desprezo público, ainda


quando não há intenção difamatória [art. 17,CC] .
Honra subjetiva: percepção que a pessoa tem de si
mesma.
Honra objetiva: percepção da sociedade tem do
indivíduo.
STJ – Súmula 227: indenização dano moral pessoa
jurídica.
PROF. ENÉAS CORRÊA DE FIGUEIREDO JR
 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

DIREITO À IMAGEM, HONRA, BOA FAMA,


RESPEITABILIDADE [ART. 20, CC]

Direito à imagem conjuntamente com a honra:


autonomia [doutrina e jurisprudência].
Discussão: A questão das biografias – STF – ADI
n. 4.815/DF – Cantor Roberto Carlos, Mané
Garrincha [STJ, RESP n. 521.697/RJ], Lampião
[TJSE – Ap. Civ. 201200213096 – vedação
constitucional à censura]
Discussão: Direito de sátira - REsp n.
736.015/RJ – comunicação explicitamente
satírico.

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 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 Instrumentos de tutela da personalidade [ART. 12, CC]


• “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
• Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau”.

Proteção integral que se deve dispensar à dignidade


humana: proteger a pessoa humana – promover a
sua dignidade.
Súmula 403, STJ: “Independe de prova do prejuízo a
indenização pela publicação não autorizada de
imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais”.
Tutela post mortem da personalidade:
• Legitimidade dos herdeiros

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 Direitos da personalidade no Código Civil
[direito ao próprio corpo; direito ao nome; direito à honra; direito à imagem e direito à privacidade]

 Instrumentos de tutela da personalidade [ART. 12, CC]


• “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
• Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau”.

Tutela post mortem da personalidade:


Proteção máxima aos atributos essenciais à
condição humana.
• Cessar a lesão ou ameaça aos direitos da personalidade do morto.
• Personalidade em sentido objetivo: conjunto de atributos da pessoa
humana.
• Sentido subjetivo: art. 6, CC, aptidão para adquirir direitos e obrigações
extinto.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
 Conceito: “Pessoa jurídica é o ente a que a ordem jurídica
atribui personalidade distinta daquela de seus membros ou
instituidores, sendo o termo personalidade ai compreendido
na sua acepção de aptidão para ser titular de direitos e
obrigações”. [SCHREIBER, 2018]

• Distinção entre o seu patrimônio e dos patrimônios de seus


integrantes: em regra não respondem [exceção: desconsideração
da personalidade jurídica].
• Terminologia: pessoas jurídicas, morais, fictícias ou coletiva.
• Teorias das natureza jurídica: teoria da ficção legal [SAVIGNY];
teoria realista [doutrina atual].
• “O reconhecimento das pessoas jurídicas como uma realidade
corresponde ‘à fase máxima de evolução do Estado Liberal e da
afirmação do individualismo interessado em reduzir o poder do
Estado”. [Paulo Lobo, 2019]

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Personificação do ente coletivo:
coloca a pessoa jurídica ao lado da
pessoa natural [ART. 52, CC].

• “Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no


que couber, a proteção dos direitos da
personalidade”.
• STJ – Súmula 227: indenização dano
moral pessoa jurídica.
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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Crítica: Gustavo Tepedino – “A Pessoa
Jurídica e os direitos da personalidade”.
“O intérprete deve estar atento para a
diversidade de princípios e valores que inspiram
a pessoa física e a pessoa jurídica, e para que
esta, como comunidade intermediária
constitucionalmente privilegiada, seja
merecedora de tutela jurídica apenas e tão
somente como um instrumento (privilegiado)
para a realização social das pessoas, que, em
seu âmbito de ação, é capaz de congregar”.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Função social da empresa: atividade econômica
organizada e principal vetor de produção de riquezas
no capitalismo contemporâneo – interesses
socialmente relevantes de toda a coletividade.

Valor social da livre-iniciativa, a dignidade humana, a


solidariedade social e a função social da propriedade.

• Constituição da República [art. 173, § 1o, I]: função social


da empresa pública, da sociedade de economia mista e
de suas subsidiárias.
• Lei das Sociedades por Ações [arts. 154 e 116, parágrafo
único]: função social da empresa pública, da sociedade de
economia

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Classificação [art. 40, CC]
“Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno
ou externo, e de direito privado”.

• a) Direito público: interno ou externo


• b) Direito privado

Direito Público - Espécies [art. 41, CC]


• Direito público interno:
• I - a União;
• II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
• III - os Municípios;
• IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
• V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Responsabilidade Civil – atos dos agentes – pessoas
jurídicas direito público interno [ATENÇÃO!]

“Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno


são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes
que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado direito regressivo contra os causadores do
dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo”.
Constituição da República [art. 37, § 6o, I]:
 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
 § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa”.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS

Espécies [art. 43, CC]


 “Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os
Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas
pelo direito internacional público”.

• Direito público externo: Estados estrangeiros


e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Pessoas Jurídicas de Direito privado [art. 44,
CC]

Existência legal [“nascimento”]: inscrição do


ato constitutivo no respectivo registro [Art. 45]

 “Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


» I - as associações;
» II - as sociedades;
» III - as fundações.
» IV - as organizações religiosas;
» V - os partidos políticos.
» VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada”.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
As Associações [art. 44, CC]

• “Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


• I - as associações;
• II - as sociedades;
• III - as fundações.
• IV - as organizações religiosas;
• V - os partidos políticos.
• VI - as empresas individuais de responsabilidade
limitada.
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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
AS ASSOCIAÇÕES [arts. 53 a 61].

• “Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem


para fins não econômicos.
• Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos”.

• Constituição da República [Art. 5o, XVII e XX]: DIREITO FUNDAMENTAL


[LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO]

• Admite-se que associações desenvolvam atividades de caráter


econômico, mas não haja finalidade lucrativa – produzir lucros e
reparti-los entre os associados [Scheiber]

• Propósito lucrativo: características das sociedades [art. 981, CC]

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
 INÍCIO E EXTINÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES.

• Início das Associações: Constitui por meio do seu estatuto [art. 54,CC]
• Constituição da República [Art. 5o, XVII e XVIII]

• Extinção das Associações: art. 61, CC; art. 5o, XIX, CF

• Discussão: Exclusão de associados por justa causa [art. 57, CC] – RE n. 201.819/RJ –
União Brasileira de Compositores – sem oportunidade de se defender – direitos
fundamentais dos associados – nulidade procedimento de exclusão.

• Discussão: Jurisprudências – rever decisões de associações eivadas de ilegalidade – EX.


TJRJ – RAC n. 9064345-12.2006.8.26.0000 – alteração da qualidade de associado por
força do casamento – ninguém pode ser compelido a associar-se contra a sua vontade.

• Associados em categorias com vantagens especiais: art. 55,CC

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
 DAS FUNDAÇÕES.

• Conceito: “A fundação é espécie de pessoa jurídica que se forma pela afetação de


determinados bens a certos fins preestabelecidos pelo seu instituidor”. [SCHREIBER, 2018] –
“Fundação é patrimônio destinado a um fim, consistindo em uma pessoa jurídica de tipo
especial, pois não se forma pela associação de pessoas físicas, nem é obra de um conjunto
de vontades, mas de uma só”. [Orlando Gomes, 2008].

• Objetivos da fundação [artigo 62, Parágrafo Único, CC]: assistência social, cultura, defesa e
conservação do patrimônio histórico e artístico, educação, saúde, segurança alimentar e
nutricional, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável; pesquisa científica etc.

• Início das Fundações: Escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres [art.
62,CC] – manifestação do Ministério Público [art. 764, I, CPC] – estatuto levado a registro
[art. 45, CC] – inicia a existência legal da fundação como pessoa jurídica.

• Extinção das Fundações: art. 69, CC; art. 765, CPC.

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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA [ART. 50, CC]

• Conceito: “Permitir o salto sobre a pessoa jurídica para alcançar diretamente o


patrimônio de seus sócios ou administradores. É chamada de disregard doctrine,
ou ainda de lifting the corporate veil, que consiste precisamente nisto: erguer o
véu da pessoa jurídica para atingir quem estiver por trás”. [SCHREIBER, 2018]

• CC: “Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa
jurídica”.

• CPC, arts. 133 a 137 [Do Incidente de desconsideração da Personalidade Jurídica];


Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao
processo de competência dos juizados especiais.
• CDC, art. 28: primeira norma relevante a versar sobre o tema em nossa
experiência legislativa [SCHREIBER, 2018]
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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA [ART. 50,
CC]

• CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – NOVA MODALIDADE DE INTERVENÇÃO DE


TERCEIROS.

• “Este incidente vem assegurar o pleno respeito ao contraditório e ao


devido processo legal no diz respeito à desconsideração da personalidade
jurídica. É que sem a realização desse incidente o que se via era a
apreensão de bens de sócios (ou a sociedade, no caso da desconsideração
inversa) sem que fossem chamados a participar, em contraditório, do
processo de formação da decisão que define sua responsabilidade
patrimonial, o que contraria frontalmente o modelo constitucional de
processo brasileiro, já que admite a produção de uma decisão que afeta
diretamente os interesses de alguém sem que lhe seja assegurada a
possibilidade de participar com influência na formação do aludido
pronunciamento judicial”. [[Alexandre Freitas Câmara, O Novo Processo
Civil Brasileiro, 2015].
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 DAS PESSOAS JURÍDICAS
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA [ART.
50, CC]

• STJ: RESP n. 1.537.890/RJ; RESP N. 1.106.072/MS; 1.111.153/RJ;

• Registra-se: desconsideração tem sido aplicada também às


Associações [TJRJ, RAI n. 0065522-52.2012.8.19.0000].

• Discussão: desconsideração “inversa” da personalidade jurídica –


alcançar bens do sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou
desviar bens pessoais, com prejuízos a terceiros – Enunciado n. 283, da
IV Jornada de Direito Civil.
• [REsp 1236916/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 22/10/2013, DJe 28/10/2013]”.

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REsp 1236916/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 22/10/2013, DJe 28/10/2013.
• “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA
DA PERSONALIDADE JURÍDICA. POSSIBILIDADE. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE.
LEGITIMIDADE ATIVA. COMPANHEIRO LESADO PELA CONDUTA DO SÓCIO. ARTIGO ANALISADO: 50 DO CC/02.

• 1. Ação de dissolução de união estável ajuizada em 14.12.2009, da qual foi


extraído o presente recurso especial, concluso ao Gabinete em
08.11.2011.
• 2. Discute-se se a regra contida no art. 50 do CC/02 autoriza a
desconsideração inversa da personalidade jurídica e se o sócio da
sociedade empresária pode requerer a desconsideração da personalidade
jurídica desta.
• 3. A desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se
pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade para,
contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade
propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de
modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio
controlador.
• 4. É possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica sempre
que o cônjuge ou companheiro empresário valer-se de pessoa jurídica
por ele controlada, ou de interposta pessoa física, a fim de subtrair do
outro cônjuge ou companheiro direitos oriundos da sociedade afetiva.
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• 5. Alterar o decidido no acórdão recorrido, quanto à ocorrência de
 DAS PESSOAS JURÍDICAS
ENTES NÃO PERSONALIZADOS
[DESPERSONALIZADOS]

• Direito Contemporâneo: entidades às quais não


reserva a condição de pessoa, física ou jurídica
[Schreiber, 2018]
• Exemplos [doutrina]: condomínio, espólio, massa
falida.
• Nascituros e ainda não concebidos? CC, art. 2,
art. 1.799, I.

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LEITURA COMPLEMENTAR – DISCUSSÃO EM
SALA [PRÓXIMA AULA]

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