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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

DEFESA DE TESE
Noivado e ritos pré-nupciais: um estudo sobre
significados, experiências e as codificações de uma
unidade cultural

BRENO RODRIGO DE OLIVEIRA ALENCAR


Orientadora: Profa. Dra. Carmem Izabel Rodrigues
TEMA

Imagem 1 – Representação do pedido de casamento.


Fonte: http://blog.casasaopaulojoias.com.br/cenas-de-pedido-de-casamento/
DECOMPOSIÇÃO DO TEMA

RITOS PRÉ-NUPCIAIS

PREPARAÇÃO/PLANEJAMENTO

“FICAR” - NAMORO
COABITAÇÃO - CASAMENTO (relacionamento)

NOIVADO = EXPERIÊNCIA NUPCIAL


INTERESSE PELO TEMA
DISSERTAÇÃO (ALENCAR, 2011)

CAPÍTULO 5: “A CADA ESCOLHA UMA


RENÚNCIA”

Tópico: “No curso de noivos: um sacrifício”.


PROBLEMAS CENTRAIS
• Lugar comum do noivado e dos ritos pré-nupciais
no imaginário popular e na literatura
antropológica;
• Mudanças nas configurações familiares;
• As teses da extinção, plasticidade e
maleabilidade;
• Ampliação da receita gerada pela “indústria do
casamento”.
CASAR AINDA É UM PROJETO?
Tabela 1 – Distribuição percentual e variação da população por status conjugal nos países selecionados, por período (1970-2010).
Valores relativos.
Período
Status conjugal/ 1970-1971 1980-1985 1990-1999 2000-2005 2009-2010 Variação (1970-2010)
País
Solteiros
Brasil 27,9 29,6 33,2 39,0 44,2 +49,06
França 23,3 26,1 37,3 39,6 42,2 +67,66
Estados unidos 19,0 21,5 29,1 30,8 33,7 +63,76
Reino unido 22,3 23,6 28,0 27,9 39,7 +66,41
Casados
Brasil 59,6 59,4 55,4 50,3 43,4 -29,99
França 67,2 63,4 51,5 48,8 45,9 -35,61
Estados unidos 68,5 63,0 54,4 52,6 50,9 -28,22
Reino unido 70,2 66,9 60,0 59,5 47,2 -36,52
Separados/Divorciados
Brasil 3,3 3,0 4,1 4,1 6,4 +83,67
França 2,5 4,2 6,6 7,2 7,7 +141,18
Estados unidos 5,7 9,4 10,2 11,1 11,6 +86,75
Reino unido 1,3 3,7 6,5 8,0 9,3 +299,62
Fonte: United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division, 2013. (Adaptado).
Gráfico 1 – Fonte: https://www.economist.com/graphic-detail/2014/02/14/when-the-embers-grow-cold
Gráfico 3 – Fonte: https://www.economist.com/graphic-detail/2014/02/14/when-the-embers-grow-cold
OBJETIVO CENTRAL
Compreender o lugar do noivado e dos ritos pré-
nupciais na teoria antropológica e, como
desdobramento disso, identificar e analisar seus
significados e práticas no mundo contemporâneo
– mais precisamente o contexto sociocultural
brasileiro – através da entrevista com noivos e
noivas pertencentes à camadas médias urbanas
e a pesquisa de campo em feiras de noivas e
cursos de preparação para o casamento.
RECORTE CONCEITUAL: UNIDADE CULTURAL
Por unidade cultural Schneider entende
qualquer coisa ou fenômeno que seja
definida e distinguida culturalmente como
entidade e cuja existência varia em suas
formas e significados ao longo do tempo.
Sua incorporação como categoria de
análise em minha tese procura
demonstrar que as categorias utilizadas
para nomear o objeto de pesquisa são,
antes de tudo, constructos culturais e,
portanto, merecem ser estranhadas,
decompostas e interpretadas.
Imagem 2 – Capa original da primeira edição
RECORTE TEÓRICO:
a)

Fluxograma 1:
“linhagens” dos
estudos rituais
RECORTE TEÓRICO:
b)

1. Situar o noivado no âmbito do parentesco, demonstrando que


o que está em curso durante sua ritualização é a negociação
em torno dos significados que suas práticas produzem no
conjunto das relações que cercam o processo de aliança.
2. A partir da revisão da literatura etnográfica podem ser
distinguidos três tipos de ritos pré-nupciais:
a) Pelo rapto ou roubo da noiva;
b) Por acordos familiares (forma arranjada); e
c) Por livre iniciativa dos interessados (forma livre).
DIVISÃO DA TESE
PARTE I – NOIVADO E SOCIEDADE

CAPÍTULO 1 - DA EXTINÇÃO À PLASTICIDADE: A INVENÇÃO


DO NOIVADO COMO UNIDADE CULTURAL
Noivado e moralidade
Plasticidade ritual
Maleabilidade histórica
Parentesco e ritos nupciais
DIVISÃO DA TESE
PARTE I – NOIVADO E SOCIEDADE
CAPÍTULO 2 - TRADIÇÃO E ATUALIDADE DOS RITOS PRÉ-NUPCIAIS
As transformações dos ritos nupciais brasileiros
Individualismo e suas implicações
Honra, promessa e reputação
Uma nova tradição?
Mudanças demográficas: o casamento individualizado

Ritual e inspiração: o noivado no imaginário contemporâneo


Pedido de casamento e redes sociais
Sonho e desencanto: o mercado do casamento na imprensa
Cinema e imaginário nupcial
Quadro 1 - “Modelo Tradicional” do noivado (Thales de Azevedo, 1978; 1986)

1. Relacionamento baseado em etapas, rígido formalismo e tempo delimitado;


2. A idade para o relacionamento e o casamento adequa-se a cada um dos sexos, predominando a expectativa
pela união de uma mulher mais jovem com um homem mais velho;
3. É necessária a compatibilidade de condições sociais entre os parceiros e seus familiares;

4. A circularidade social e sexual dos homens é mais tolerada do que em relação às mulheres;

5. Namoro e noivado estabelecem atitudes e comportamentos correspondentes;

6. A aparência dos ascendentes influencia na escolha do parceiro;

7. O pedido de casamento é feito pelo noivo ou mediado por seus parentes;


8. Recai sobre a mulher o desempenho de um papel passivo e a responsabilidade pela preservação da honra e
reputação conjugal e familiar;
9. Parentes e vizinhos exercem função moralizadora controlando o comportamento e as práticas individuais;
10. A escolha do cônjuge deve ser dirigida à pretendentes de boa reputação e valorizados no “mercado
matrimonial”;
11. Valorização e reconhecimento do casamento religioso como única forma legítima de entrada na
conjugalidade
PEDIDO DE CASAMENTO NAS REDES SOCIAIS

Imagem 3 – Pedido de casamento realizado por Liam Cooper a Amy Smith (junho/2015). Fonte: Youtube.com,
canal do próprio autor. Link para acesso: https://www.youtube.com/watch?v=X2IR30bmQJA
PEDIDO DE CASAMENTO NAS REDES SOCIAIS

Imagem 4 – Noivo He Zi comemora em frente a noiva, Quin Kai, o aceite de seu pedido de casamento durante cerimônia de premiação dos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (agosto/2016). Fonte: BBC, Brasil. Link para a matéria: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37088837
Quadro 2 – Dados dos filmes com conteúdo sobre o noivado listados pelos cinco principais sites que
tratam da preparação do casamento mais acessados da internet.

Orçamento (em Bilheteria


Título do Filme Ano Gênero milhões de (em milhões de Nacionalidade
dólares) dólares)
Noivas em guerra 2009 Comédia romântica 30 115 Estados Unidos
Recém-casados 2003 Comédia romântica 18 101 Estados Unidos
A sogra 2005 Comédia romântica 43 154 Estados Unidos /Alemanha
O pai da noiva 1991 Comédia 20 89 Estados Unidos
Casamento grego 2002 Comédia 5 368 Canadá/ Estados Unidos
O casamento dos meus sonhos 2001 Comédia romântica 35 94 Estados Unidos
A família da noiva 2005 Comédia 35 101 Estados Unidos /Alemanha
Vestida para casar 2008 Comédia romântica 30 160 Estados Unidos
Sex and the city: o filme 2008 Comédia 65 415 Estados Unidos
Missão madrinha de casamento 2011 Comédia 32 287 Estados Unidos /Inglaterra
O casamento do meu melhor amigo 1997 Comédia romântica 38 299 Estados Unidos
Mamma Mia 2008 Comédia romântica 52 615 Estados Unidos /Alemanha/Inglaterra
O casamento de Rachel 2009 Drama 12 17 Estados Unidos
O casamento de Muriel 1994 Comédia 9 57 Austrália/França
O casamento do meu ex 2010 Comédia romântica/Drama 4 123 Estados Unidos
A proposta 2009 Comédia romântica 40 317 Estados Unidos
Licença para casar 2007 Comédia 35 70 Estados Unidos
O melhor amigo da noiva 2008 Comédia romântica 40 105 Estados Unidos /Inglaterra
DIVISÃO DA TESE
PARTE II – A EXPERIÊNCIA NUPCIAL
CAPÍTULO 3 - E O NOIVADO, COMO VAI? AS ESTRATÉGIAS
DE INTERLOCUÇÃO COM OS SUJEITOS
Estabelecendo recortes
Aperfeiçoando as técnicas de aproximação
No meio do caminho... as contingências
Recrutando os interlocutores
DIVISÃO DA TESE
PARTE II – A EXPERIÊNCIA NUPCIAL

CAPÍTULO 4 - O SUJEITO RITUAL


Identidade e estilo de vida
Gênero: diferenças e negociações
“Deu certo”: química e afinidade
Sentimentos e significados
DIVISÃO DA TESE
PARTE II – A EXPERIÊNCIA NUPCIAL
CAPÍTULO 5 - “LEVANDO A SÉRIO”: OS SIGNIFICADOS DA
RITUALIZAÇÃO NUPCIAL
Pedido e consentimento
O empatar

Os significados do casamento
Casar, no civil ou no religioso?
Casamento como evento: entre bênçãos e custos

Casamento como relacionamento: valor, intuição e o “teste drive”


DIVISÃO DA TESE
PARTE II – A EXPERIÊNCIA NUPCIAL

CAPÍTULO 6 - “FAZENDO TUDO CERTINHO”: FAMÍLIA,


MORADIA E REPRODUÇÃO SOCIAL
Família e significados
Modelos de relacionamento conjugal
O valor da intimidade
“Quem casa quer...”
DIVISÃO DA TESE
PARTE III – COMO AS INSTITUIÇÕES AGEM

CAPÍTULO 7 – A INDÚSTRIA DO CASAMENTO


Semana de Noivas
Casando, 2015
Conversa entre noivas
O “sonho” e a “bênção”

Imagem 5 - “O sagrado”. Manequim trajando vestido de noiva assinado pela estilista


Dilu Fiuza de Mello e portando coroa com véu e missal durante em desfile realizado na
feira de noivas “Casando”. Belém, 20/08/2015. (Fonte: Arquivo do autor).
O imaginário do casamento

Imagem 6 – Capa da Revista Noivas Piauienses. Edição n. 8,


outubro de 2018. Fonte: site Noivas Piauienses
Conversa entre noivas

Vídeo 1: Desfile de lingerie. Feira “Conversa entre noivas” (20/0/2016).


Fonte: arquivo pessoal
DIVISÃO DA TESE
PARTE III – COMO AS INSTITUIÇÕES AGEM

CAPÍTULO 8 - O NOIVADO E O SAGRADO: ETNOGRAFIA EM


PASTORAIS FAMILIARES
Antecedentes pessoais e os resultados de uma pesquisa exploratória
As pastorais familiares ou “Como me tornei um nativo”
Trindade, Belém

Fátima, Teresina

Estrutura, conduta e controle: as relações no interior das pastorais familiares


DIVISÃO DA TESE
PARTE III – COMO AS INSTITUIÇÕES AGEM
CAPÍTULO 9 - CURSOS DE NOIVOS E A CODIFICAÇÃO DA IDENTIDADE
CONJUGAL CATÓLICA
Palestras e testemunhos: o sentido da preparação
No curso de noivos
A codificação da conjugalidade
Casamento e amor conjugal
Sexualidade e divisão dos papeis
Família e religiosidade
O significado do sacramento
A hierofania nupcial
Hierofania nupcial

Imagem 7 – Pedido de casamento durante dinâmica com os noivos (302º Encontro, 26.09.2015).
(Fonte: Arquivo pessoal)
Hierofania nupcial

Imagem 8 – Noivos de posse das rosas recebendo instruções antes de iniciar atividade “namoro a
dois”. Encontro de Preparação para o Matrimônio, Paróquia de Fátima (25/08/2016).
CONCLUSÃO: a) A TRANSFORMAÇÃO DOS RITOS NUPCIAIS
Quadro 3 – Comparação do modelo de noivado apontado por Thales de Azevedo e o observado durante a
pesquisa

“Modelo Tradicional” (T. Azevedo) Práticas observadas ao longo da pesquisa

1. Relacionamento baseado em etapas, rígido Presença de etapas, porém com menor formalismo e tempo de relacionamento
formalismo e tempo delimitado; mais elástico e íntimo: “teste drive”.

2. A idade para o relacionamento e o casamento adequa-


se a cada um dos sexos, predominando a expectativa Menor diferença de idade entre homens e mulheres. Ausência de expectativa
pela união de uma mulher mais jovem com um homem pela diferença de idade com vantagem para o homem;
mais velho;

3. É necessária a compatibilidade de posições e


condições econômicas entre os parceiros e seus Substituída pela compatibilidade de “projetos”.
familiares;
4. A circularidade social e sexual dos homens é mais
Ainda presente, porém com maior tolerância quanto às experiências sexuais
tolerada do que em relação às mulheres. Valorização da
anteriores das mulheres;
virgindade feminina;
5. Namoro e noivado estabelecem atitudes e
O namoro é um relacionamento mais flexível. Apenas o noivado estabelece
comportamentos correspondentes com a performance
atitudes e comportamentos correspondentes com a performance conjugal;
conjugal;
CONCLUSÃO: a) A TRANSFORMAÇÃO DOS RITOS NUPCIAIS
Quadro 3 – Comparação do modelo de noivado apontado por Thales de Azevedo e o observado durante
a pesquisa (cont.)
“Modelo Tradicional” (T. Azevedo) Práticas observadas ao longo da pesquisa
6. A aparência dos ascendentes influencia na
Ausente;
escolha do parceiro;
7. O pedido de casamento é feito pelo homem; Predomina o pedido de casamento realizado pelo homem
8. Recai sobre a mulher o desempenho de um
Os papeis são divididos, mas as assimetrias históricas ainda
papel passivo e a responsabilidade pela
são acionadas para marcar posições; a performance feminina,
preservação da honra e reputação conjugal e
contudo, é influenciada pela vigilância de ser “empatada”;
familiar;
Embora presente, a influência dos parentes tem pouca ou
9. Parentes e vizinhos exercem função
nenhuma eficácia. Os noivos, por outro lado, se baseiam em
moralizadora controlando o comportamento e as
modelos (negativo, positivo, intuitivo) de relacionamento
práticas individuais;
conjugal extraídos do ambiente doméstico;
10. A escolha do cônjuge deve ser dirigida à
pretendentes de boa reputação e valorizados no Predomina a escolha baseada em sentimentos: “química”;
“mercado matrimonial”;
11. Valorização e reconhecimento do casamento Reconhecimento do casamento civil e da união consensual
religioso como única forma legítima de entrada na como formas de entrada na conjugalidade. Ampliação das
conjugalidade expectativas (“sonho”) e das despesas com o ritual religioso.
CONCLUSÃO: b) A TESE
• O noivado, em sua forma livre, é o ritual responsável por definir o
tipo de aliança presente em camadas médias urbanas.
• O mesmo corresponde, em virtude disso, a um tipo de
relacionamento em que o casal torna público e notório, seja por
meio da exibição pública de um anel no dedo anelar da mão
direita, seja adotando comportamentos característicos, a intenção
de estabelecer ente si um vínculo duradouro e socialmente
reconhecido. Intercala-se, assim, entre o namoro, quando
conveniência e as condições materiais favorecem um pedido ou
anúncio de casamento seguido de consentimento, e a coabitação,
podendo esta transição ser ou não solenizada através de uma
cerimônia de casamento civil ou religiosa. Por fim, sua ritualização
é mediada por instituições, cujos interesses se desdobram entre
disciplinar significados e práticas e garantir um relacionamento
conjugal duradouro.
Obrigado!

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