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O
imaginário da República no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
O autor, no primeiro parágrafo da introdução desta
obra, situa suas preocupações sobre a
implantação da República, objeto de pesquisa
anterior. Naquela pesquisa, notou a nula
participação popular em sua proclamação e a
derrota dos esforços de participação nos anos
posteriores.
Como resultado dessas conclusões, algumas
indagações novas surgiram sobre quais teriam sido
os caminhos usados para legitimação desse novo
regime.
Indagações do autor
• Em face a esse entendimento, as reflexões
de Carvalho voltam-se para esclarecer quais
foram os mecanismos usados para sua
legitimidade pontuando algumas questões.
• 1) A República teria se consolidado apenas
com o arranjo oligárquico?
• 2) – Não teria havido tentativas de
legitimação, se não perante a totalidade da
população, pelo menos diante dos setores
politicamente mobilizados?
• 3)- Em caso positivo, qual teria sido esse
esforço, quais as armas utilizadas e qual o
Ideologia e organização do poder
• Carvalho passa a esclarecer os fundamentos
teóricos que balizam situações dessa natureza.
Afirma que o instrumento clássico de legitimação
dos regimes políticos no mundo moderno é a
ideologia, a justificação racional da organização
do poder.
• No final do século XIX, havia no Brasil, pelo
menos três correntes políticas que disputavam a
definição da natureza do novo regime: o
liberalismo à americana, o jacobinismo à francesa
e o positivismo. Essas correntes combateram
entre si, intensamente, até a vitória da primeira
delas.
Os modelos ideológicos de organização da
República
• As justificativas ideológicas (discursivas) supunham
modelos de República, modelos de organização da
sociedade, que traziam embutidos aspectos utópicos e
visionários.
• . No caso do jacobinismo – traziam embutidos a
idealização da democracia clássica (Grecia e Esparta), a
utopia da democracia direta, do governo por meio da
participação direta de todos os cidadãos, inspirada em
Rousseau.
• . Já no liberalismo – a utopia era outra, a de uma sociedade
composta por indivíduos autônomos, cujos interesses
eram compatibilizados pela mão invisível do mercado.
Nessa versão cabia ao governo intervir o menos possível
na vida dos cidadãos.
• . O Positivismo – possuía elementos utópicos mais
evidentes – A República: idade de ouro em que os seres
humanos se realizariam plenamente no seio de uma
humanidade mitificada.
Ideologias republicanas > fechadas no
mundo das elites
• (p. 10) Como discurso, as ideologias republicanas
permaneciam enclausuradas no fechado círculo
das elites educadas, embora, por seus elementos
utópicos acabavam defendendo, cada uma a sua
maneira, o envolvimento popular na vida política.
• O interesse do autor é verificar como ocorre o
extravasamento das visões de República para o
mundo extra- elite ou as tentativas desse
extravasamento, que segundo ele não pode ser
apenas pelo discurso, devido ao baixo nível de
educação formal da população. Teria que ser feito
mediante sinais mais universais, de leitura mais
fácil, como as imagens, as alegorias, os símbolos,
os mitos, usados em outras experiências,
notadamente na revolução Francesa.
Batalha de símbolos, alegorias e mitos >
estravazamento dos ideais republicanos
• Os jacobinos e os positivistas faziam uso de tais
instrumentos (inspirados na revolução francesa).
Entre nós, também ocorreu essa batalha de
símbolos e alegorias, como parte integrante das
batalhas ideológicas e políticas em torno da
imagem do novo regime, cuja finalidade era atingir
o imaginário popular para recriá-lo dentro dos
valores republicanos.
• A elaboração de um imaginário é parte integrante
da legitimação de qualquer regime político. É por
meio de um imaginário que se pode atingir a
cabeça, mas de modo especial o coração, isto é,
as aspirações, os medos e as esperanças de um
povo.
capítulo 1 – Utopias republicanas
Homenagem da
Revista Illustrada.
Pereira Neto,
Revista Illustrada,
16/11/1889
Representações da República
• Até o final do século, jornais e revistas não se afastaram
do modelo estabelecido pela Revista IIlustrada. Os
pintores, excetuando o positivista Décio Vilares,
praticamente ignoraram o simbolismo feminino na
representação do novo regime. Também apresentaram a
dupla representação: seguindo o modelo clássico
(guerreira) e, também, sentada “transmitindo a impressão
de tranqüilidade, força e segurança”.
• Na caricatura > também houve deslocamento dessas
figuras guerreira ou conciliadora, para outra >
representada por uma mulher corrompida, gasta e
envelhecida.
• Os caricaturistas usaram a figura feminina para
ridicularizar a República. A virgem ou a mulher heróica
dos republicanos era facilmente transformada em mulher
da vida, em prostituta. Isso aconteceu na França e também
no Brasil. A diferença é que no Brasil essa representação
foi a dominante, sendo usada por aqueles que inicialmente
tinham apoiado o novo regime.
Representações da República
• Pergunta Carvalho: Por que o fracasso da representação
positiva da República como mulher? Para o autor, a
busca de explicação poderá vir de várias direções. Mas o
centro talvez esteja na falta de uma “comunidade de
imaginação”, de uma “comunidade de sentido” porque
qualquer imaginário precisa criar raízes em evidências
reais para legitimar-se. Nesse caso, a precária participação
da mulher brasileira nesse processo, diferentemente do
que ocorreu na França, que reforçou essa representação,
como forma de compensar a negação de seus direitos.
Conclui que a batalha pela alegoria feminina terminou em
derrota republicana. Mais ainda, em derrota do cívico
perante o religioso pelo papel que Nossa Senhora
Aparecida passou a ter na República.
Capítulo 5 - Bandeira e Hino: o peso da
tradição
• Na leitura de Carvalho também houve batalha em
torno da simbologia republicana em relação ao
hino e à bandeira. A luta pelo mito de origem, pela
figura do herói, pela alegoria feminina era parte
importante no novo regime > todos eram lutas não
conclusivas diferentemente do hino e da bandeira.
De adoção e uso obrigatórios > esses dois
símbolos tinham que ser definidos por legislação,
com data certa.
• A batalha por esses dois símbolos > foi intensa e
rápida. A bandeira > a vitória foi da facção
positivista e se deveu ao fato de o novo símbolo
incorporar elementos da tradição imperial.
O Hino > vitória do povo
• Para o autor havia intenção por parte das
autoridades de criar um novo hino para a
República, uma vez que até ali o que se tocava
era a marselhesa. A tentativa porém, não foi
adiante pela repercussão, em solenidade
pública, quando foi tocado o velho hino
aplaudido de forma emocionada pelos
presentes. Daí por diante, chegou-se a
conclusão que o hino de Francisco Manuel da
Silva receberia letra nova (cuja autoria foi de
Osório Duque Estrada), pois a letra original já
estava em desuso (p. 127).
Considerações finais
• Para José Murilo de Carvalho > “FALHARAM os esforços das
correntes republicanas que tentaram expandir a legitimidade do
novo regime para além da corrente (liberal) vitoriosa. Não
foram capazes de criar um imaginário popular republicano. Nos
aspectos em que tiveram êxito, este se deveu a compromissos
com a tradição imperial ou com valores religiosos.
• Observa que não é por acaso que o debate mais vivo gira
ainda hoje em torno do mito de origem e das utopias
republicanas .
• A falta de uma identidade republicana e a persistente
emergência de visões conflitantes ajudam também a
compreender o êxito da figura de herói personificada em
Tiradentes. O herói republicano por excelência é ambíguo,
multifacetado, esquartejado (...)”.
Considerações finais
• Tiradentes “consegue se manter como herói
republicano por conseguir absorver todas
essas fraturas, sem perder a identidade. A seu
lado, apesar dos desafios que surgem das
novas correntes religiosas, talvez seja a
imagem da Aparecida a que melhor dar um
sentido de comunhão nacional a vastos setores
da população. Um sentido que, na ausência de
um civismo republicano, só poderia vir de fora
do domínio da política”(...) (p. 141-142).
• CALENDÁRIO REPUBLICANO DE FESTAS
GOVERNO PROVISÓRIO – NACIONAIS
Repúblicas dos Estados • Em 14/jan1890 foram decretadas as festas
Unidos do Brasil nacionais:
•A Constituinte foi • 1º de janeiro > comemoração da
instalada em 15 de fraternidade universal;
novembro /1890 > • 21 de abril > comemoração dos precursores
Presidente da da Independência brasileira, resumidos em
Tiradentes;
Constituinte > Prudente
de Morais • 03 de maio > comemoração da descoberta
do Brasil;
•Em 24 de
• 13 de maio > comemoração da fraternidade
fevereiro/1891 > a dos brasileiros;
Constituinte promulgou
• 14 de julho > comemoração da república...
a nova Constituição;
• 7 de setembro> comemoração da
• Em 25/fev/1891 > o independência do Brasil;
Congresso elegeu o
• 12 /outubro > descoberta da América;
Marechal Deodoro da
• 02 /11 > comemoração geral dos mortos;
Fonseca, derrotando
Prudente de Morais. • 15 /novembro> comemoração da Pátria
brasileira.
GOVERNO (PROVISÓRIO) – 1. Presidente – Marechal Deodoro da
Repúblicas dos Estados Fonseca
Unidos do Brasil
2. Ministro do Exterior – Quintino
•Divisão dos poderes: Bocaiuva (RJ)
Executivo, Legislativo e 3. Ministro do Interior – Aristides Lobo
Judiciário > (Alagoano)
•Legislatura > três anos 4. Ministro da Fazenda – Rui Barbosa
• Congresso Nacional > (Bahia)
Câmara (Casa da 5. Ministro da Justiça – Campos Sales
representação popular) > (SP)
1 deputado para cada 70 6. Ministro da Agricultura – Demétrio
mil habitantes. Ribeiro (gaucho)
• Senado Federal (Casa
7. Ministro da Marinha – Eduardo
dos Estados/ Casa da
Federação)> 3 sena- Wandenkolk
dores por Estado > 8. Ministro da Guerra- Benjamin
mandato de 9 anos; Constant