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FILOSOFIA, 2º Ano do Ensino Médio

O Conhecimento: Apreensão e Expressão da Realidade

O que é, afinal, conhecer?

• Conhecer é representar, cuidadosamente, o que é


exterior à mente.
• No processo de conhecimento, dois elementos são
indispensáveis: O Sujeito e o Objeto.
• O sujeito é o elemento que conhece e o objeto é o
elemento conhecido.
• Sujeito: Nossa consciência, nossa mente.
• Objeto: A realidade, o mundo e os fenômenos (e a
nossa própria consciência, quando nós refletimos).
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O Conhecimento: Apreensão e Expressão da Realidade

Possibilidades do conhecimento na modernidade


Empirismo e Racionalismo

•Empirismo
É a forma de conhecer que valoriza nossas
percepções sensoriais.

•Racionalismo
Somente a razão humana, trabalhando com
os princípios lógicos, pode atingir o
conhecimento verdadeiro.
E
A
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D
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experiência sensorial. Depende, portanto, em última


instância, de, pelo menos, um dos nossos cinco sentidos.
Para o empirista, todo o conhecimento está baseado na

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Shankbone / GNU Free Documentation License (C) David
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3.0 Unported
Para o racionalista, a verdade só pode ser
conhecida mediante o trabalho lógico da mente,
independentemente das percepções sensoriais.
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CARACTERÍSTICAS DO EMPIRISMO

• A verdade está na percepção dos sentidos;


• Não existem ideias inatas, isto é, toda ideia foi
adquirida pela percepção sensorial.

“ Suponhamos, portanto, que a mente seja uma folha


em branco, desprovida de caratceres, sem qualquer
ideia. De que modo receberá as ideias? (...)
Respondo: da experiência. É este o fundamento de
todos os nossos conhecimentos; daí extraem a sua
origem primeira.”
(Ensaio sobre o entendimento humano, Livro II, Cap. 1, sec. 19)
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CARACTERÍSTICAS DO RACIONALISMO

• A razão humana é o único instrumento capaz de


conhecer a verdade;
• Os princípios lógicos fundamentais são inatos, ou seja,
não dependem da experiência sensorial;
• A experiência sensorial é uma fonte permanente de
erros;
• Ao nascermos, trazemos em nossa inteligência alguns
princípios racionais e ideias verdadeiras.
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“De sorte que, após ter pensado bastante nisso e de


ter examinado cuidadosamente todas as coisas,
cumpre enfim concluir e ter por constante que essa
proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente
verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a
concebo em meu espírito.”

(Regras para direção do Espírito)


René Descartes
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A QUESTÃO DO INATISMO

Percebemos que o princípio do racionalismo é a


teoria do inatismo, ou seja, a crença de que, ao
nascermos, já trazemos conosco algumas ideias. Por
outro lado, o empirismo fundamenta-se na crença
de que nossa mente nasce vazia e somente no
contato com o mundo, por meio dos nossos
sentidos, é que iremos construir as ideias.
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Você acredita na existência de algum


conhecimento inato?

?
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Platão acredita que sim!


Esse importante filósofo grego
nasceu em Atenas, provavelmente
em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. É
considerado um dos principais
pensadores gregos, pois influenciou
profundamente a filosofia ocidental.
Ele defendia a existência de ideias
inatas na matemática, como
veremos no trecho de uma de suas
obras, a seguir:

Imagem: Unknown Author / Public Domain


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Platão defende a existência de ideias inatas em várias de


suas obras, mas as passagens mais conhecidas se encontram
nos diálogos: Mênon e República.
Vejamos:
No Mênon, Sócrates dialoga com um escravo analfabeto.
Fazendo-lhe perguntas certas na hora certa, o filósofo
consegue que o jovem escravo demonstre sozinho um difícil
teorema de geometria. As verdades matemáticas vão surgindo
no espírito do escravo à medida que Sócrates vai fazendo as
perguntas.
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Como isso seria possível, indaga Platão, se o escravo não houvesse nascido com a razão e com
os princípios da racionalidade?

Você já passou
por uma situação
parecida com a
do tal escravo?
Imagem: Lilyu / WTFPL 2.0
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Além de acreditar nas ideias inatas, Platão


também afirmava que não podíamos confiar nos
sentidos, já que eles estão sujeitos a erros e a
falsas opiniões. Para exemplificar sua tese,
Platão cria o famoso “Mito da caverna”.

Vejamos o que nos diz o mito da caverna:


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O Mito da caverna

Imaginemos um muro bem alto separando o mundo


externo e uma caverna. Na caverna, existe uma fresta por
onde passa um feixe de luz exterior. No interior da
caverna, permanecem seres humanos que nasceram e
cresceram ali. Ficam de costas para a entrada,
acorrentados, sem poder mover-se, forçados a olhar
somente a parede do fundo da caverna, onde são
projetadas sombras de outros homens. Desse modo, os
prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna
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O Mito da caverna

Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e,


aos poucos, vá se movendo e avance na direção do muro e
o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos que
encontre e saia da caverna, descobrindo não apenas que as
sombras eram feitas por homens como eles e, mais além,
todo o mundo e a natureza. Caso ele decida voltar à
caverna para revelar aos seus antigos companheiros a
situação extremamente enganosa em que se encontram,
correrá, segundo Platão, sérios riscos - desde o simples ser
ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles,
que o tomaram por louco e inventor de mentiras.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna
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Alegoria da caverna

Imagem: Jan Saenredam / Public Domain


Animação disponível no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=Rft3s0bGi78&feature=related
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O que eu vejo é a realidade ou uma


cópia imperfeita dela?

Imagem: Mats Halldin / GNU Free


Documentation License
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Interpretando o mito da caverna


• O que é a caverna?
- O mundo de aparências em que vivemos.
• O que são as sombras projetadas no fundo?
- As coisas que percebemos.
• O que são os grilhões e as correntes?
- Nossos preconceitos e opiniões..............
• Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna?
- O filósofo.
• O que é o mundo fora da caverna?
- A realidade.
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RENÉ DESCARTES ( 1596 -1650)


Outro filósofo que também
defende a tese do inatismo é
o francês René Descartes.
Segundo ele, em sua obra:
“Discurso do método”
existem três tipos de ideias:
Ideias Adventícias, Ideias
Fictícias e Ideias Inatas.

Vejamos cada uma delas!


Imagem: Frans Hals / Frans Hals
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1. Ideias adventícias
São aquelas vindas de fora, que se originam de nossa sensação e
percepção. Para Descartes, esse tipo de ideia, são, de um lado,
ideias da qualidade sensorial: cor, odor, som, textura, tamanho,
paladar, mas, por outro, também, são as opiniões formuladas
com base nessas ideias, geralmente enganosas, ou falsas.

EXEMPLO:

Ao olhar para o céu, meu sentido da visão me diz que o sol


se move de leste para oeste, mas, ao estudar astronomia,
vejo que tal opinião é falsa, pois, na verdade, a terra é que
gira e o sol se mantém parado.
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Imagem: 663highland / GNU Free Documentation License


Se você nunca tivesse estudado nas aulas de ciência e de
geografia, sobre o movimento de rotação da terra,
provavelmente confiaria em sua visão e acreditaria que o sol se
move entre o amanhecer e o entardecer.
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Você acha que os sentidos podem


realmente enganar?
A ilusão da grelha* de Hermann
foi observada por Ludimar Hermann
em 1870. Quando se olha um
desenho com quadrados negros
sobre um fundo branco, tem-se a
impressão de que surgem manchas
"fantasmas" nas intersecções das
linhas. As manchas desaparecem
quando se observa diretamente a
intersecção.
Imagem: en:User:Famousdog / Public Domain
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Qual é VERDADEIRA imagem apresentada? Você vê


uma jovem ou uma senhora de perfil?

Imagem: William Ely Hill / Public Domain


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2.Ideias fictícias: São aquelas que criamos em nossa fantasia e imaginação


por meio de um processo de composição, formando seres inexistentes,
como fadas, duendes, sereias... São as fabulações da arte, da literatura,
do mito, da superstição. Essas ideias nunca são verdadeiras, pois não
correspondem a nada que exista realmente e sabemos que foram
inventadas por nós mesmos, quando já recebemos prontas de outros que
as inventaram.

3. Ideias Inatas: São aquelas que não poderiam vir de nossa experiência
sensorial, porque não há objetos sensoriais ou sensíveis para elas, nem
poderiam vir de nossa fantasia, pois não tivemos experiência sensorial
para compô-las na nossa memória.
EXEMPLO:

A ideia de infinito é uma ideia inata, pois não temos


nenhuma experiência sensorial da infinitude.
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Para Descartes, é possível


conhecer a verdade?

A resposta é sim!
Mas para isso o conhecimento

Nevit Dilmen / GNU Free Documentation License


deve passar por um rígido
processo metódico que começa
com a... DÚVIDA

Imagem:
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A DÚVIDA...
“Desde os meus primeiros anos de vida, aceitei
como verdadeira uma quantidade de falsos
conceitos, e o que construí depois, sobre princípios
tão inseguros, só poderia ser muito duvidoso e
incerto; de modo que se fazia necessário que eu
decidisse seriamente me desfazer de todas as
opiniões recebidas até então e recomeçar a partir
dos alicerces, se quisesse instituir algo de sólido e
permanente nas ciências...(...)
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A DÚVIDA...
(...) E mais ainda, assim como eu penso às vezes
que os outros se enganam até nas coisas que
acreditam saber com a maior certeza, pode ser que
ele tenha querido que eu me enganasse sempre
que somo dois e três, ou quando enumero os lados
do quadrado, ou quando considero coisas algo
ainda mais fácil que essas, se é que se pode
imaginá-las.(...)
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A DÚVIDA...
(...) Permanecerei obstinadamente preso a esse
pensamento; e se por tal meio não estiver em meu
poder alcançar o conhecimento de qualquer verdade, ao
menos estará em meu poder suspender o meu juízo. Eis
porque procurarei cuidadosamente não aceitar
nenhuma falsidade, e prepararei tão bem o meu espírito
contra as astúcias desse grande enganador, que, por
mais poderoso e astuto que seja, jamais poderá me
impor coisa alguma.(...)” (Meditações Metafísicas)
René Descartes
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ÚNICA VERDADE LIVRE DE DÚVIDAS SEGUNDO


DESCARTES
Meus pensamentos existem!
Se meus pensamentos existem, eu existo!
Portanto: Penso, logo existo!

Para Descartes, a existência do pensamento é mais certa


que a sua existência corporal, já que é preciso pensar
para ter a certeza de que existe o corpo pensante!
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PENSO EXISTO

Vamos filosofar...

Se a consciência antecede o corpo, seria


essa a origem das ideias inatas defendidas
pelos racionalistas?
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A solução de Kant para o dilema


Racionalismo X Empirismo

Kant (1724-1804) foi um


filósofo prussiano, considerado
como o último grande filósofo
dos princípios da era moderna,
indiscutivelmente um dos
pensadores mais influentes,
afirma que todo conhecimento
começa com a experiência, mas
que a experiência sozinha não
nos dá o conhecimento.
Imagem: Unknown Author / Public Domain
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Principais ideias de Kant:


• É preciso um trabalho do sujeito para organizar os
dados da experiência;
• Antes da experiência sensorial, existem na mente
humana certas estruturas que possibilitam o
conhecimento;
• Portanto, a experiência fornece a matéria do
conhecimento e a razão organiza essa matéria de
acordo com estruturas existentes a priori, daí o termo
apriorismo para a teoria kantiana.
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Para não concluir...

Certa vez, um cosmonauta e um neurologista russos


discutiam sobre religião. O neurologista era cristão, e o
cosmonauta não. “Já estive várias vezes no espaço”,
gabou-se o cosmonauta, “e nunca vi nem Deus, nem
anjos”. “E eu já operei muitos cérebros inteligentes”,
respondeu o neurologista, “e também nunca vi um
pensamento”.

O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Letras, 1995

E você? Só acredita no que vê?


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• BIBLIOGRAFIA:

Chauí, Marilena
Iniciação a filosofia: Ensino Médio, Volume único- São Paulo – Ática -2010.

Aranha, Maria Lúcia de Arruda


Filosofando: Introdução a filosofia – 4. ed. São Paulo –Moderna.

Gaardner, Jostein
O mundo de Sofia, Cia. das Letras, 1995.

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