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Gestão do Stress Profissional

Carina Ferraz
Objetivos da UFCD

•Identificar o conceito de stress, causas, consequências negativas do


mesmo.

•Identificar as técnicas preventivas, de controlo e gestão de stress


profissional.

•Caracterizar o conceito de emoção.

Carina Ferraz
Conceito de stress
Na década de 60, após diversos estudos retiraram-se dois pressupostos que servem de
base no entendimento sobre o stress:

1 - não há nenhuma situação que, por si só, possa ser reconhecida como
geradora (indutora) de stress;

2 - o fator decisivo que leva um indivíduo a sentir-se ou não em stress depende


da avaliação que faz da situação (circunstância).

Desta forma, podemos definir o stress como:

 uma tensão física ou psicológica fora do habitual, que provoca um estado


ansioso no organismo (Vaz Serra, 2007).

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O stress no trabalho é prejudicial?
O stress no trabalho define-se, segundo Ross como a:

“interacção das condições de trabalho com características do trabalhador


de tal modo que as exigências que lhe são criadas ultrapassam a sua capacidade de
lidar com elas.”
Condições de
trabalho

Exigências do Características
trabalho individuais
Capacidade de lidar
com as diversas
sirtuações

É de salientar que nem todo o stress é prejudicial.

Em determinadas circunstâncias o stress é útil porque cria um impulso que faz o


indivíduo tomar decisões e resolver problemas, ajudando-o a melhorar o seu
funcionamento e a as suas aptidões/capacidades (Vaz Serra, 2007).

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Stress = desequilíbrio
O stress constitui uma das maiores causas de doenças relacionadas com o trabalho na
União Europeia e os seus sintomas traduzem um desequilíbrio individual e
organizacional.
O stress relacionado com o trabalho é um dos grandes problemas atuais, em particular
nos países mais desenvolvidos, onde o mundo do trabalho é caraterizado pela:

• necessidade de inovação constante,


• mudanças tecnológicas e organizativas
• e por uma crescente insegurança no trabalho.

Vários estudos têm demonstrado como a organização do trabalho está relacionada


com o stress no trabalho, a satisfação e motivação do trabalho.

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Stress relacionado com o trabalho
O stress relacionado com o trabalho pode ser definido como:

• um conjunto de reações emocionais, cognitivas, comportamentais, e


fisiológicas a aspetos adversos da organização e do ambiente de trabalho.

Nas últimas décadas, tem sido dada uma grande importância ao estudo do impacto das
condições de trabalho sobre o bem-estar psicológico e a saúde das pessoas.

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Modelo de causas e consequências do stress relacionado com o trabalho
(Fonte: Adaptado de Houtman, 2005)

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Fatores de risco - Emocionais,
Sociais, Organizacionais
Vários têm sido os estudos que tentam descrever as grandes classes de
acontecimentos que provocam o stress no ser humano.

Desta forma, segundo Vaz Serra (2007), podemos estabelecer classes indutoras
(fatores de risco) de stress numa perspectiva relativa à própria pessoa:

Acontecimentos traumáticos:
Correspondem a situações graves como, por exemplo:
• uma ameaça de morte,
• agressão,
• ser vítima de um incêndio,
• naufrágio ou
• tremor de terra de grande intensidade;

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Fatores de risco - Emocionais, Sociais,
Organizacionais
Acontecimentos significativos da vida:
simbolizam uma “martelada” que, de repente, ocorre na vida de uma pessoa.
Por exemplo:
• a separação ou divorcio,
• a saída de um filho de casa,
• morte de um cônjuge,
• perda de um emprego que considerava estável.

Situações crónicas indutores de stress: referem-se a problemas perturbadores


regulares/constantes no desempenho dos papéis e actividades diárias do indivíduo.
Por exemplo:
• ter frequentemente tarefas com prazos limite,
• ter demasiadas solicitações para cumprir ao mesmo tempo,
• ter conflitos frequentes com os cônjuges, familiares ou colegas de trabalho.

Como que um processo lento de envenenamento, em sentido figurado, que ocorre na


vida de um indivíduo.

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Fatores de risco - Emocionais, Sociais, Organizacionais

Micro indutores de stress: pequenos acontecimentos perturbadores do dia-a-dia que se


acumulam.
Por exemplo:
• andar diariamente de automóvel em zonas de muito transito, estar exposto ao fumo do
tabaco se é um não fumador,
• ter vizinhos que incomodam,
• realizar tarefas, nas quais, não nos sentimos à vontade.
O impacto depende muito da forma de reagir de cada pessoa.

Macro indutores de stress: dependem da organização e funcionamento do sistema.


Por exemplo:
• períodos económicos de recessão,
• uma prevalência grande de desemprego,
• dificuldades para uma dada industria ou encargos/impostos demasiado altos.

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Fatores de risco - Emocionais, Sociais, Organizacionais

Acontecimentos desejados que não ocorrem: representam um desejo, objectivo que


tarda em concretizar-se.
Por exemplo:
• tentativas de engravidar por anos a fio sem sucesso,
• promoção justa na carreira que não acontece,
• as pazes com um familiar que nunca mais surgem.

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Fatores de risco - Emocionais, Sociais,
Organizacionais
Traumas ocorridos no desenvolvimento Pessoal:
Os acontecimentos traumáticos que ocorrem na infância podem ter consequências
graves na vida adulta porque o ser humano é apanhado numa fase formativa, com fracas
defesas psicológicas e, por isso mesmo, bastante vulnerável.

Crianças que viveram em clima de violência ou negligência podem ter dificuldades de


vinculação com as outras pessoas.
Costumam apresentar perturbação na capacidade de autorregulação.

Esta incapacidade de autorregulação está associada ao consumo de drogas ilícitas,


estados de depressão e comportamentos impulsivos, podendo levar o indivíduo a sentir
os pequenos problemas como “casos que o esmagam” e ter a tendência a desenvolver
comportamentos autodestrutivos, como lesões provocadas a si mesmo, transtornos
alimentares e tentativas de suicídio.

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Potenciais fontes de stress
Na perspectiva de profissionais, Vives (1994) agrupa em cinco potenciais fontes de
stress:
Fatores ambientais diretamente relacionados com o trabalho:

 Condições físicas do local de trabalho;


 Estado dos clientes/pacientes ou o tipo de serviço prestado;
 Perigos físicos (contágio, produtos medicinais; população-alvo problemática)
 Exigência de formação;
 Escassos recursos materiais disponíveis.

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Potenciais fontes de stress
Fatores relacionais (entre a equipa):
 Más relações com superiores, colegas e subordinados;
 Receber ordens contraditórias;
 Falta de confiança e restrição da autonomia;
 Falta de informação/ muita informação confusa.

Fatores organizacionais e burocráticos:


 Má organização na distribuição de tarefas;
 Horários sobrecarregados;
 Aumento da responsabilidade;
 Falta de recompensas administrativas.

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Potenciais fontes de stress
Fatores profissionais inerentes ao desempenho de papéis:
 Noção de baixo nível de formação;
 Medo da morte/ permanente contacto com situações de perigo;
 Contacto com utentes agressivos e não colaborantes;
 Tarefas ingratas, repetitivas e pesadas;
 Ambições pessoais frustradas;
 Baixo salários.

Fatores relacionados com a exigência:


 Escassez de colaboradores;
 Solicitações para estar em vários locais ao mesmo tempo;
 Imposição de prazos por outras pessoas;
 Cumprir ordens por duas ou mais pessoas em simultâneo;
 Necessidades e exigências constantes e vindas de diversas direções.

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Sinais e Sintomas Os sintomas são alterações do
organismo apenas percebidas e relatadas
pela própria pessoa, não sendo possível a
outra pessoa diagnosticar (Vaz Serra,
Os sinais são alterações do organismo de 2007).
uma pessoa que podem ser percebidas
através do exame médico ou medidas em
exames.
Os sinais e sintomas de stress variam de pessoa para pessoa:
• As manifestações que poderão existir, têm a influência dos aspectos culturais, o
tipo de situação que desencadeia o stress,
• A personalidade do indivíduo,
• A manutenção ou esbatimento da situação,
• A sensação ou não de controlo,
• O organismo de cada ser humano que activa certos órgãos do corpo e não outros
(Vaz Serra, 2007).

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Alguns sinais e sintomas de stress
diferenciados pelas várias vertentes do ser
humano, segundo Rossi (2010):

Física:
 Aumento da pressão arterial;
 Palpitações, dores de cabeça, pescoço, ombros ou costas;
 Alteração do sono (insónias ou hipersónias);
 Alteração do peso (comer exageradamente ou falta de apetite);
 Indigestão e náuseas;
 Fadiga.

Cognitivo:
 Dificuldades de concentração;
 Problemas de memória;
 Confusão mental;
 Dificuldade em tomar decisões;
 Auto- conservação negativa.

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Alguns sinais e sintomas de stress
diferenciados pelas várias vertentes do ser
humano, segundo Rossi (2010):

Emocional:
 Alteração do humor; Comportamental:
 Irritabilidade;  Perda de interesse no trabalho e atividades
 Perda de controlo; sociais;
 Sensação de sufoco/incerteza;  Consumo de álcool, tabaco e drogas
 Desamparo; ilícitas;
 Ideação suicida;  Afastamento social (da família e amigos);
 Baixa autoestima;  Desinteresse sexual;
 Labilidade emocional.  Posição de conflito constante com os
Espiritual:outros.
 Descrença em questões de fé;
 Sensação de vazio;
 Dúvida;
 Sensação de desnorte.

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Consequências negativas do stress
O stress tem consequências consideráveis sobre o ser humano contribuindo para
deteriorar/arruinar a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

Os custos do stress só podem ser calculados por indicadores indiretos:


• mal-estar,
• nas incapacidades
• nas mortes prematuras que gera,
• na maneira como afeta o coração e outros órgãos importantes,
• nos transtornos físicos, psíquicos que provoca,
• no consumo de analgésicos, tranquilizantes, tabaco, drogas ilícitas e
bebidas alcoólicas.

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Consequências negativas do stress
No plano organizacional reflete-se:

Diretamente: Indiretamente:

No comportamento do indivíduo. No clima da


organização/entidade
Entre as características do trabalho Insatisfação com o despenho das
que podem ter consequências tarefas, na baixa adesão aos
negativas sobre o indivíduo, objectivos e propostas da entidade,
salientam-se a sobrecarga de trabalho, nos atrasos de produção, nos
a subcarga de trabalho, a pouca acidentes com maquinas, nas
autonomia de decisão, a existência de mudanças de emprego e nas
trabalhos por turnos e, condições reformas antecipadas (Vaz Serra,
físicas adversas. 2007).

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Consequências preocupantes que podem lesar o
bem-estar e a saúde (física e psíquica) do
indivíduo
Assim, o stress não é apenas um termo que se relaciona com alguma situação
incomodativa.
Quando é intenso, repetitivo e prolongado poderá ter consequências
preocupantes que podem lesar o bem-estar e a saúde (física e psíquica) do indivíduo.
Segundo Vaz Serra (2007), o stress excessivo torna-se prejudicial porque pode:

1. Evocar emoções negativas fortes que são perturbadoras;


2. Levar ao desenvolvimento ou agravamento de uma doença física e/ou
psíquica;
3. Ter influência negativa na família, trabalho e vida social;
4. Ocasionar maior número de acidentes de trabalho ou rodoviário;
5. Prejudicar os processos de tomada de decisão;
6. Ter efeitos negativos em aspetos de natureza económica;
7. Provocar alterações do sono, vida sexual, metabolismo, e sistema imunitário.
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Medidas preventivas VS situações de limite/stress
Rossi (2010) descreveu várias condições de prevenção necessárias para que não se atinga
situações de limite/stress.

Num plano organizacional temos:

Avaliação apropriada dos riscos: utilização de inquéritos e escalas de avaliação do


stress para avaliar o estado atual dos indivíduos/ trabalhadores e permitir medidas de
antecipação;
Planificação e ajustamento gradual: os objetivos a atingir, as tarefas a cumprir, as
responsabilidades, os recursos necessários devem ser planificados antes de início da
atividade/tarefa;

As medidas devem ter sempre como alvo o grupo de trabalho: as intervenções


devem ser sempre dirigidas a grupos de trabalho e apenas, se estritamente necessário, a
uma pessoa em particular;

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Medidas preventivas VS situações de limite/stress

Inclusão da opinião dos trabalhadores: a experiências dos trabalhadores nas


distintas atividades devem ser levadas em conta para identificar problemas e possíveis
soluções;

Intervenções efetuadas por profissionais especializados: os planos de prevenção


devem ser elaborados por profissionais competentes nas áreas da saúde (médicos,
enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais);

Gestão dos riscos pelas hierarquias superiores: compromisso dos quadros


superiores de colocar a gestão dos riscos como uma prioridade.

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Num plano mais pessoal/individual,
certas condutas poderão ter efeitos preventivos:
• Encontrar ideias construtivas para resolver um problema;
• Estabelecer prioridades, avaliar o que é inadiável e o que pode ser delegado;
• Comunicar aos superiores possíveis lacunas ou excessivo volume de trabalho.
• Apresentar propostas de melhoria;
• Identificar novas tarefas que possam ser atribuídas;
• Seguir as políticas vigentes na entidade;
• Defender a responsabilidade para projectar o trabalho;
• Em situação de assédio sexual, reportar imediatamente a situação para os superiores
hierárquicos;
• Pedir informações sobre inovações que serão implementadas;
• Aceitar e contribuir para uma avaliação de desempenho justa;
• Comprometimento em formação continua.

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Técnicas de controlo e gestão do stress
Existe um termo inglês que não tem tradução fácil para o português e que se designa por
coping = refere-se às estratégias para lidar com o stress (Vaz Serra, 2007).

As estratégias de coping correspondem às:

Respostas da pessoa que tem como finalidade diminuir a “carga” física, emocional e
psicológica ligada aos acontecimentos geradores de stress.

As estratégias para lidar com situações de stress podem ser centradas:


• no indivíduo, na diminuição das emoções sentidas ou, na busca de apoio social.

As estratégias de coping que levam à procura de informação e resolução do problema


têm efeitos benéficos sobre o funcionamento psicológico e, permitem:
• Reduzir a influência adversa das mudanças negativas e das situações de pressão que
reaparecem no tempo.
• As pessoas com tendência a usar estratégias de resolução de problemas têm menos
propensão do que as outras de ficaram deprimidas.

Carina Ferraz
Estratégias para lidar com o stress focadas no problema:
As estratégias focadas no problema procuram estabelecer um plano de ação e segui-lo até
eliminar o problema.

Os planos de ação evitam que um estado/sensação desagradável se prolongue e prejudique


o bem-estar e a saúde do ser humano.

Um plano de ação passa por desenvolver várias etapas intermédias até chegar à resolução
do problema.

Numa instituição, duas pessoas que trabalham num mesmo sector não
conseguem dialogar e chegar a entendimento sobre as tarefas e isso provoca um
estado de tensão constante.

Um plano de ação aconselhável?

Carina Ferraz
Um plano de ação aconselhável seria:

• 1º alguém tomar a iniciativa de querer resolver o problema;


• 2º recorrer a alguém que possa mediar um diálogo entre ambas as partes;
• 3º avaliar os pontos divergentes;
• 4º reunir com o mediador e o/a colega de trabalho; debater os pontos
divergentes e tentar encontrar soluções e medidas para que o trabalho possa
fluir.
As estratégias focadas na resolução do problema são as mais aconselhadas, pois,
permitem remover definitivamente as fontes de perturbação.

Carina Ferraz
Estratégias para ligar com o problema focadas na
emoção:
Quando o stress é sentido como mais grave, o foco é mais orientado para o controlo das
emoções.

Quando atingem uma intensidade grave são difíceis de tolerar e afetam as rotinas e
interferem largamente com o seu bem-estar.

Por vezes, tentamos fugir das situações que nos provavam demasiada tensão, fugimos de
forma real ou imaginada da situação desagradável em que vivemos.

Os mecanismos que reduzem os estados de tensão têm diferentes finalidades:


• Algumas são uteis, onde a pessoa apenas procura uma forma imediata para
reduzir as emoções desagraváveis, no entanto, ajuda uma análise posterior mais
objetiva.

Carina Ferraz
Mecanismos que reduzem os estados
de tensão de forma imediata:
• Ouvir musica, ver um filme;
• Praticar Ioga ou relaxamento;
• Fazer exercício físico;
• Distanciar-se do problema para vê-lo de uma forma/perspectiva
diferente;
• Comparar os problemas com outros potencialmente mais graves
(relativizar a situação);
• Canalizar a energias para outros objetivos
prioritários/importantes.

Carina Ferraz
Mecanismos que agravam os estados
de tensão
Na medida em que adiamos indeterminadamente a resolução do problema e
apenas adiamos a dor moral, tais medidas poderão ser:
• Ficar na cama durante dias seguidos;
• Pensar como que o problema não existisse;
• Consumir drogas ilícitas e automedicação;
• Beber ou comer em excesso.

Carina Ferraz
Estratégias para lidar com o stress focadas na
interação social:
Estes tipos de estratégias estão associadas à forma como lidamos e mantemos o
relacionamento com outras pessoas em situação de stress.

A pessoa que dá apoio manifesta uma relação empática:

• Se souber ter o dom para observar a situação na perspectiva/ ponto de vista de quem
o solicita, se souber evitar o juízo de valor e, compreender o que a pessoa diz em
linguagem verbal e não-verbal, tende a ser procurada, pelos outros, para ser um
apoio na resolução do problema e redução da sensação de stress.

• Aqueles que prestam cuidados a terceiros tendem a ser os mais compreensivos e


genuinamente empáticos e desenvolvem mais facilmente planos de ação para a
resolução dos problemas. A procura de apoio emocional tende a recair para alguém
com quem se possa desabafar, contar os problemas e encontrar compreensão.

Carina Ferraz
Como lidar com situações de agonia e
sofrimento
Se quisermos compreender o que é capaz de ameaçar ou lesar uma pessoa, teremos de
perceber a sua rede de preocupações.

Se quisermos perceber quais são as suas preocupações teremos de conhecer quais são as
crenças e valores da pessoa.

Os valores relacionam-se com aquilo que um indivíduo quer ou prefere e ligam-se aos
ideais ou objetivos que a pessoa pretende atingir;
As crenças dizem respeito ao que o indivíduo pensa de verdade quer goste ou não e
aprove ou não.

Os valores e crenças são gerados no seio da família, os primeiros influenciados pela


cultura e os segundos pela relação que existe entre os elementos da família (Vaz Serra,
2007).

Qualquer um destes conceitos pode levar a formas desajustadas de lidar com a


vida. Carina Ferraz
Como lidar com situações de agonia e sofrimento
(cont.)
A psicoterapia é um meio para a mudança e para o restabelecimento emocional.

Não podemos descurar a ajuda de profissionais quando deixamos de ser capazes de gerir
emocionalmente o que nos preocupa, nos bloqueia, nos retira o bem-estar
necessário para uma vida saudável.
Recorrer a técnicos especializados (psiquiatras, psicólogos) pode ser o caminho mais rápido
para a recuperação e evitamento de recaídas.
A forma como nos colocamos perante uma

poderá aumentar
situação ou diminuir o foco
desagradável de tensão, assim
como a dor ou
sofrimento.

Carina Ferraz
Associação VS Dissociação
Quando estamos associados (associação) numa dada situação, estamos no aqui e no
agora, absorvidos no presente, damos muita importâncias a sensações vividas,
assim, tendemos a aumentar o grau de agonia, de sofrimento pois estamos a viver a
situação na primeira pessoa.

Se conseguirmos distanciar-nos da situação (dissociação), no plano de pensamento, da


imaginação, podemos afastar das sensações corporais e vivemos a situação na terceira
pessoa.
Permite gerir, reduzir o grau de desconforto e sofrimento e
Dissociação distanciar-se de situações desagradáveis.

As técnicas de relaxamento e de indução de pensamento permitem adquirir e


desenvolver a capacidade de dissociação cognitiva (O’Connor, 2001).

Carina Ferraz
Como lidar com situações de agonia e sofrimento
O processo de luto (perda) poderá significar a morte de um familiar, amigo, ou pessoa ao
seu cuidado, mas também outro tipo de perdas, tais como: emprego, divórcio ou mudança
de residência; animais de estimação.
Existe uma sensação de desmoronamento, agonia e tristeza profunda.

Desde o momento da perda até ao total restabelecimento emocional será necessário passar
por várias etapas. Não poderemos passar para a etapa seguinte sem resolver completamente
anterior (Worden, 1991):

Ajustar-se ao Reposicionar em
Aceitar a realidade Elaborar a dor da ambiente diário termos emocionais
da perda perda sem presença da a pessoa que faleceu
pessoa e continuar a vida

Carina Ferraz
Descrição das etapas:
Aceitar a realidade da perda: A primeira tarefa é aceitar que a pessoa não voltará. Se
no seu íntimo não deixa a pessoa partir, pois assume nas suas vivências como se ela
estivesse presente no dia-a-dia criará resistências à aceitação natural. Desprender-se
da maioria dos objetos ou recordações e no discurso usar os verbos no passado “
ele/ela foi, esteve, gostava…” será um meio para a aceitação.

Elaborar a dor da perda: É necessário que a pessoa em luto passe e assuma a dor, não
deve evitar ou suprimir a dor da perda. Não elaborar a dor é não sentir e prolongar no
tempo o sentimento de agonia, sendo então fulcral uma terapia do luto.

Carina Ferraz
Descrição das etapas: (Cont.)
Ajustar-se ao ambiente diário sem presença da pessoa: A perda significa um vazio
criado, novos papéis a assumir, reajustar as tarefas do dia-a-dia de forma diferente, pois
quem estava já não está. Torna-se importante adaptar as novas rotinas e encontrar
motivação para os novos desafios/compromissos.

Reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar a vida:


Ninguém esquece as lembranças de alguém que teve grande significado na sua vida. O
importante não é esquecer mas sim recolocar a pessoa num “local emocional” adequado
para que se possa estar disponível para as novas experiencias/vivencias e continuar a viver
com motivação e interesse.

Carina Ferraz
Técnicas de autoproteção
As pressões diárias, na vida pessoal e profissional, a que a pessoa está sujeita envolvem
circunstâncias desagradáveis que podem torná-la vulnerável.

Modificar as vulnerabilidades pode diminuir o stress.

De seguida serão abordadas as modificações que permitem reduzir a vulnerabilidade da


pessoa (Vaz Serra, 2007):

Não se expor a situação de stress:


Para conservar a sua saúde e energia, não pode dizer sim a tudo quanto lhe pedem;
Delegar tarefas reduz o volume de situações potencialmente stressantes;
É útil utilizar os dias de férias, feriados e fins-de-semana para descansar e realizar
atividades que conceda satisfação pessoal.

Carina Ferraz
Técnicas de autoproteção
Aprender a resolver problemas:
A resolução adequada de um problema elimina, ou pelo menos modifica de forma
substancial a fonte de stress.
A resolução adequada dos diversos problemas passa por 4 etapas:

1) Definição e formulação:
reunir a maior quantidade de informação para o problema passar de vago a concreto,
seguidamente, estabelecer objetivos realistas de resolução;

2) Génese de soluções alternativas:


passa por criar o maior número possível de alternativas válidas;

3) Tomada de decisão:
tem como propósito avaliar as várias alternativas e escolher/aplicar/agir a que nos parece
mais indicada para resolver o problema/situação;

4) Implementação e verificação das soluções:


avaliação dos resultados após a ação realizada, ou seja perceber se foi eficaz.

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Técnicas de autoproteção
Pensar com lógica:
A avaliação dos acontecimentos nem sempre é realizada com lógica, é importante:

• Não sustentar o pensamento com crenças irracionais;


• Não atribuir arbitrariedade às causas das ocorrências;
• Não utilizar deduções preconceituosas ao comportamento de terceiros;
• Não criar expectativas sem fundamentos;
• Não discriminar inadequadamente as situações.

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Técnicas de autoproteção
Melhorar a autoestima:
Entre diversas mudanças necessárias para melhorar a autoestima, uma delas é
aprender a:
• compreender,
• aceitar,
• perdoar a si mesmo e aos outros.
• Outra consiste em criar objetivos de vida.

Modificar comportamentos:
As mudanças podem ser introduzidas percorrendo diversas etapas:
• Identificar sinais induzidos pelo stress;
• Identificar os estímulos que dão origem ao stress;
• Envolver-se em atividades relaxantes;
• Aprender a executar outras atividades para além do trabalho.

Carina Ferraz
Técnicas de autoproteção
Em contextos interpessoais (relação no trabalho, nos grupos, com pares sociais) ser
autoafirmativo permite: respeitar os direitos dos outros, ao mesmo tempo que se luta
pela defesa dos próprios direitos.

As aptidões de autoafirmação estão ligadas a duas grandes classes (Vaz Serra, 2007):

• Quando o próprio • Quando tem que tomar a


precisa responder à iniciativa em relação a outra
iniciativa de alguém pessoa.

• Há assinalar a importância de dizer não,


• Saber lidar com as críticas,
• Aceitar felicitações,
• Saber manter conversas e responder a solicitações para futuros
encontros/projetos

Carina Ferraz
Técnicas de autoproteção
Realizar críticas construtivas:
não impor pontos de vista. Serve para ajudar o próprio a criar perspectivas diferentes
sobre um dado problema;

Revelar preferências:
demostrar o que agrada ou não e mudar o assunto quando está desgastado ou a tornar-se
desagradável;

Capacidade para tomar iniciativa:


iniciar conversas, terminar interações indesejáveis, aprender a discordar, pedir favores,
impedir que lhe interrompam o que está a expor.

Quando é necessário fazer uma crítica deve-se: começar e terminar com uma
referência positiva à outra pessoa, exprimir o que sente em relação a determinada
situação, dirigir-se sobre os aspetos específicos do seu comportamento, solicitar
modificações concretas e, falar em voz neutra e não zangada.

Carina Ferraz
Técnicas de autoproteção
RELAXAMENTO

• Deriva da hipnose e
produz modificações Com o relaxamento consegue-se:
físicas e psíquicas.  a diminuição da atividade fisiológica do
indivíduo que é acompanhada de uma
• Atua determinando sensação de bem-estar.
uma resposta de
repouso. • Usualmente é utilizado como meio de controlo da
ansiedade.
• Prepara o organismo • Nas pessoas muito emotivas, predispostas a reagir de
para um estado de forma intensa perante um problema menor pode ajudá-
calma, inatividade do las a confrontar os acontecimentos de uma forma mais
comportamento e o controlada.
restauro das • Técnicas que trabalham as questões do relaxamento: o
modificações ioga, pilates, meditação transcendental,
existentes. relaxamento progressivo de Jacobson e hipnose
(Vaz Serra, 2007).

Carina Ferraz
As emoções
• A emoção é uma alteração intensa e passageira do ânimo, podendo ser agradável ou
penosa, que surge na sequência de uma certa comoção/agitação perturbação
somática/física corporal.

• Por outro lado, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, a
emoção desperta, em certa medida, um sentimento de agitação no indivíduo,
expectante perante aquilo em que participa ou determinada pela circunstância.
As emoções são reações psicofisiológicas, que representam modos eficazes de
adaptação face às mudanças ambientais, contextuais e/ou situacionais.

Em termos psicológicos, as No que diz respeito à fisiologia, as emoções


emoções alteram: organizam as respostas de muitos sistemas
a atenção e elevam o nível de biológicos, inclusive as expressões faciais, os
determinados músculos, a voz e o, sistema endócrino com
comportamentos na hierarquia vista a estabelecer um meio interno ótimo
de respostas do indivíduo. em prol de um comportamento mais efetivo.

Carina Ferraz
As emoções
As emoções permitem que uma pessoa estabeleça:
• a sua posição relativamente ao seu meio envolvente, sendo projetada para terceiros,
objetos, ações ou ideias.

• As emoções funcionam também como uma espécie de depósito de influências


inatas e aprendidas.

• Na ótica do psicólogo Jean Piaget, existem condutas emocionais que estão


relacionadas com os processos de construção de uma mente individual
inteligente.:

• Os processos de conhecimento do meio circundante são adquiridos através de


um processo de evolução individual da inteligência, que seleciona:
• estruturas internas relacionadas com a formação e as características
estruturais do cérebro e os elementos do sistema nervoso, e as liga às
perceções do meio.

• Deriva em processos mentais cada vez mais complexos, que envolvem


a epigénese das estruturas cognitivas.
Carina Ferraz
Características fisiológicas, cognitivas e
comportamentais das emoções

• As emoções são respostas neurológicas e fisiológicas a estímulos (externos e


internos), coordenados pelo próprio pensamento.

Os alicerces da vida emocional começam no cérebro e estendem-se ao sistema


imunológico.

Pesquisas feitas pelos neurocientistas Antonio Damásio e Joseph, indicam que a maioria
das emoções - como a raiva e o medo – têm origem bioquímica.

As pesquisas de Joseph sobre o funcionamento cerebral explicam, por exemplo, que:


• alguém seja capaz de detetar o perigo antes mesmo que uma situação de
ameaça aconteça. Isso significa que a reação bioquímica é anterior a emoção
(1998).

Carina Ferraz
Características fisiológicas, cognitivas e
comportamentais das emoções
O ser humano possui no seu cérebro uma estrutura chamada de sistema límbico,
responsável pelas emoções e sentimentos.

Sistema Límbico é o nome


dado às estruturas cerebrais que coordenam o comportamento emocional e os
impulsos motivacionais e é formado por diversas estruturas localizadas na base do
cérebro.
Automaticamente produzem repostas, ativando esses sistemas, e então temos um
estado, que são: as emoções e sentimentos manifestados.

O sistema límbico, quando recebe um estímulo, sensitivo (audição, paladar, visão,


olfato), envia essas “informações” para o tálamo e hipotálamo que elabora respostas aos
estímulos através do sistema endócrino e do sistema nervoso autónomo.

Carina Ferraz
Características fisiológicas, cognitivas e
comportamentais das emoções
De acordo com Ballone, os sentimentos e emoções, como amor, alegria, ódio,
pavor, ira, paixão e tristeza tem origem no Sistema Límbico.

Chama-se circuito de Papez a porção do Sistema Límbico relacionada:


• Às emoções e aos seus estereótipos comportamentais.

• E é responsável também pelos aspetos da identidade pessoal e por funções


ligadas à memória (2005).

As emoções são o resultado de estados fisiológicos desencadeados por estímulos


ou situações ambientais.

 Eles postulam/defendem que não choramos porque estamos tristes, mas ficamos
tristes porque choramos.

Carina Ferraz
Características fisiológicas, cognitivas e
comportamentais das emoções
 Uma pessoa sente medo porque o seu corpo respondeu com determinadas
reações fisiológicas a uma situação.

A percepção do estado do nosso próprio corpo: são simplesmente aquilo que


experimentamos quando esse estado se altera devido a acontecimentos do
meio ambiente (2009).

Perante uma situação de emergência, primeiro o homem reage e foge e é por fugir
que sente medo. De acordo com William James, o que diferencia as emoções é que
cada uma delas esta relacionada a perceção de transformações corporais.

James declarava que quando um indivíduo é afetado por um estímulo, sofre


alterações fisiológicas perturbadoras, como falta de ar, palpitações, angústia e etc.
O reconhecimento desses sintomas é que vai gerar emoção no indivíduo.

Carina Ferraz
Características fisiológicas, cognitivas e
comportamentais das emoções
A teoria de James-Lange recebeu críticas e de acordo a teoria de Bard, as emoções têm
origem:
• no cérebro, ocorrem ao mesmo tempo que as reações fisiológicas, mas não são
causadas por estas.

 Segundo essa Teoria, os estímulos emocionais têm efeitos independentes:


 Provocam o sentimento da emoção no cérebro bem como a expressão da
emoção no sistema nervoso autónomo e somático. Tanto a emoção como a
reação a um estímulo seriam simultâneos. Assim, numa situação de
perigo, o indivíduo perante um estímulo ameaçador sente primeiro medo
e depois tem a reação física, foge.

As teorias cognitivistas afirmam que os processos cognitivos, como as perceções,


recordações e aprendizagens, são fundamentais para se perceberem as emoções.
Uma situação provoca uma reação fisiológica e procuramos identificar a razão
(compreender) dessa excitação/reação fisiológica de modo a nomear a emoção que lhe
corresponde.

Carina Ferraz
Características fisiológicas, cognitivas e
comportamentais das emoções
A perspectiva Culturalista diz que as emoções são:
• Comportamentos apreendidos no processo de socialização.

• Cada cultura tem diferentes formas de exprimir as diferentes emoções.

• As emoções são uma construção social que exige aprendizagem e que, por isso,
dependem da cultura em que o indivíduo está inserido.

• O tipo de emoções que se manifesta em cada situação, a forma como são demonstradas,
e o conjunto de regras de cada cultura específica é própria em cada cultura e para cada
uma delas, há uma linguagem da emoção específica que é reconhecida por todos aqueles
que nela estão inseridos.

Segundo Casanova, para os partidários da abordagem culturalista, a emoção é um papel


social que aprendemos num certo tipo de sociedade, o que supõe que outras
pessoas criadas em outros lugares sentirão e expressarão emoções diferentes (2009).

Carina Ferraz
Estratégias de gestão das emoções
Dada a importância das emoções, mesmo as desagradáveis, o importante não é anulá-las
mas poder regulá-las.

Regulação Emocional
O importante ou desejável não é anular os nossos sentimentos
negativos ou deixar de ter sentimentos de todo, mas poder
regulá-los, de forma a sermos nós a controlá-los a eles e não eles a
controlar-nos a nós.

Mas o que é isto de regulação emocional?

• A regulação das emoções tem dois componentes:


 por um lado é importante regular a experiência emocional,
 por outro regular a expressão emocional.

• é importante permitirmo-nos aceder às nossas emoções, entrarmos em


contacto com elas, para as podermos simbolizar (dar-lhes um significado
coerente) e integrá-las na nossa visão de nós próprios (reconhecermos que elas
fazem parte de nós).
Carina Ferraz

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