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Não vale a pena recolocar a discussão pró ou contra a
gramática, mas é preciso distinguir seu papel do papel da
escola — que é ensinar língua padrão, isto é, criar condições
para seu uso efetivo. É perfeitamente possível aprender uma
língua sem conhecer os termos técnicos com os quais ela é
analisada.
saber uma língua é uma coisa e saber analisá-la é outra. Que
saber usar suas regras é uma coisa e saber explicitamente
quais são as regras é outra.
A proposta ao ensino de língua, portanto, é o abandono da
metodologia que leva a expor um conceito teórico ou uma
regra, ilustrar com alguns exemplos, propor exercícios de
fixação e avaliar numa prova sua memorização. A proposta
é a inversão desse caminho tradicional – teoria–exemplo–
exercício –, de modo que o trabalho comece da prática para
chegar à teoria, vá do concreto para o abstrato, parta do
que é conhecido pelo aluno para depois lhe apresentar o
desafio do desconhecido. Esse caminho, cuja base
epistemológica é a teoria sócio-interacionista de Vygotsky,
parece mais de acordo com os procedimentos intuitivos de
busca de compreensão do mundo e, por isso, com maiores
chances de se revelar eficiente, produtivo e prazeroso na
escola.
BRONCKART (1999), quando se refere ao eixo gramatical do
ensino, propõe que se possibilite ao aluno observar e analisar
conjuntos de frases previamente selecionados para daí inferir e
formular conceitos e regras do sistema da língua, referentes,
por exemplo à constituição de sintagmas e frases, à conjugação
verbal. Essa proposta aponta na mesma direção do tratamento
considerado adequado pelos PCNs
Especificamente quanto à reflexão sobre a linguagem, os PCNs
de Língua Portuguesa (p. 78) advertem que “a criação de
contextos efetivos de uso da linguagem é condição necessária,
porém não suficiente, sobretudo no que se refere ao domínio
pleno da modalidade escrita”; recomendam “a realização tanto
de atividades epilinguísticas, que envolvem manifestações de
um trabalho sobre a língua e suas propriedades, como de
atividades metalinguísticas, que envolvam o trabalho de
observação, descrição e categorização, por meio do qual se
constroem explicações para os fenômenos linguísticos das
práticas discursivas”;
Atualizações
Nossas gramáticas normativas atuais são herança de uma
tradição clássica grecoromana, cuja norma se baseia numa
concepção de língua homogênea, tida como um padrão
abstrato que existe independente dos indivíduos que a
falam. As regras gramaticais são rígidas e fixadas a partir
de textos escritos literários de alguns escritores
portugueses e brasileiros, constituindo, segundo Lyons
(1979), o “erro clássico” da tradição gramatical. As edições
mais modernas das chamadas gramáticas pedagógicas,
embora atualizem os exemplos utilizando textos variados
da literatura e da mídia brasileira, seguem, em geral, o
padrão prescritivo das gramáticas mais clássicas.
Que efeitos essa concepção de língua e de gramática pode provocar?
Acreditamos que o efeito mais avassalador seja a reprodução do
modelo sociocultural dominante que enfatiza as desigualdades
sociais, tratando as diferenças como deficiências
o fato de que a língua é historicamente situada e heterogênea, isto é,
está sujeita a variações e mudanças no espaço e no tempo. Em outras
palavras, o sistema linguístico não é homogêneo, mas é constituído
de regras variáveis (ao lado de regras categóricas), que atuam em
todos os níveis linguísticos: fonológico, morfológico, sintático,
lexical e discursivo