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Curso de Linguística Histórica (FFL 0443)

2.º Semestre de 2014

6. MUDANÇA
SINTÁTICA
Thomas Daniel Finbow
Depar tamento de Linguística (FFLCH/USP)
1. A REANÁLISE DAS ESTRUTURAS
SINTÁTICAS SUPERFICIAIS:AS CÓPULAS
Em comum com o que vimos na aula sobre mudança
morfológica, a REANÁLISE e talvez o mais comum dos
caminhos da mudança sintática.
Examinaremos primeiro a criação de uma partícula gramatical
especial chamada a CÓPULA.
As cópulas geralmente servem para conectar dois elementos
dentro de uma oração, tipicamente dois sintagmas nominais.
Em português, como em muitas línguas indo-europeias, a cópula é o
verbo ser.
• Paris É a capital da França. Maria É médica. As árvores SÃO verdes.
Eu SOU alto.
• No entanto, em muitas línguas não existem verbos copulares e a simples
justaposição serve para expressar a mesma relação de equivalência, por
exemplo:
• Turco: Ali büyük (lit., Ali grande) “Ali é grande”.
• Tupi: Kunumĩ i nem (lit., “menino ele fedorento”) “O menino é fedorento”
2 .O DESENVOLVIMENTO DE CÓPULAS: MANDARIM
O mandarim moderno:
• Hūa shì hóng. (lit., Flor shì vermelha.) “A flor é vermelho”.
• Nà shì cāochăng. (lit., Esse shì pátio de recreio.) “Esse é o pátio de recreio”.
O chinês antigo (até o séc. III a.C):
• Inicialmente, não havia uma cópula.
• Wáng-Tái wù zhĕ yĕ. (lit., Wang-Tai pessoa excelente [Part. decl.]).“Wang-Tai [é] uma
pessoa excelente”.
• Naquela época, shì era um pronome demonstrativo que significava “este” ou “isto”.
• Zi yù shì rì kū. (lit., Confúcio em este dia chorou.) “Confúcio chorou neste dia”.
• O demonstrativo shì aparecia com frequência em orações coordenadas para
expressar “isto”.
• Qīan lĭ ér jiàn wáng, shì wŏ suŏ yù yĕ.
• (lit., Mil milhas então ver rei, isto eu [part. nom.] desejo [part. decl.].
• “[Viajar] mil milhas para ver o rei, isto é o que eu desejo”.
• O PROCESSO DE REANÁLISE SINTÁTICA:
• (1) X shì Y = “X. Isto [é] Y” → reinterpretado como → (2) “X shì Y” = X cópula Y (“X é Y”).
O processo de reinterpretação funcional de shì foi facilitado pelo fato de
que, até o séc. VI, d.C., shì desapareceu do chinês clássico como um
pronome demonstrativo. Isso deixou apenas os casos de shì que
decorriam das circunstâncias em que shì tinham a função duplicada de
demonstrativo e/ou cópula e assim conduziu a concretizar a sua
transformação sintática.
3. O DESENVOLVIMENTO DE CÓPULAS: HEBRAICO
No tempo presente, o hebraico bíblico não tinha nenhuma cópula, mas
hoje essa língua apresenta uma cópula, a saber, hu.
• As regras que determinam a aparência da cópula no hebraico moderno são
complexas. Ela é obrigatória nalguns contextos, é facultativo noutros situações e
ela está proibido em mais outras!
• David hu ha-ganav. (lit., Davi CÓPULA o-ladrão.) “Davi é o ladrão”.
• Moše hu student. (lit., Moše CÓPULA estudante.) .“Moše é estudante”.
• As origens desta cópula hu no hebraico moderno são claras: a cópula se formou a
partir da reanálise do pronome masculino da terceira pessoa do singular, hu “ele”,
que ainda desempenha essa mesma função no hebraico moderno.
• Hu ohev et-Rivka. (lit., Ele ama [acus.]-Rivka.) “Ele ama a Rivka”.
• O PROCESSO DE REANÁLISE SINTÁTICA:
• “Moshe, ele estudante”. → “Moshe é estudante”.
A prova de que hu é uma cópula genuína no hebraico moderno são
frases como a seguinte:
• Ani hu há-student še-Moše diber itxa alava.
• (Eu CÓPULA o_estudante que Moše falou contigo sobre_ele.)
• “Eu sou o estudante de quem Moše te falou”.
No exemplo acima, o sujeito é a primeira pessoa do singular e, portanto,
nesse contexto, hu não pode ser interpretado como “ele” (3ª pess. masc.
sing.).
4. CRIAÇÃO DE UMA CÓPULA EM MOJAVE
O mojave (uma língua indígena da família yunan da
América do Norte) apresenta uma cópula, ido-, p.
ex .,
• John kʷaθʔideː-č ido-pč. João médico-č ser-[Tempo].
“John é médico”.
• Nessa frase, a cópula é verbal e exibe um marcador de
tempo como qualquer outro verbo e, assim, não parece que
haja nada que valha a pena comentar.
• No entanto, em determinadas circunstâncias, as orações
copulativas em mojave apresentam uma característica
curiosa, p. ex., John-č Mary iyuː-pč. João-[Subj.] Mary ver-[Tempo].
“João viu a Maria”.
• Aquele sufixo –č que vemos em John e na cópula
tipicamente indica o SUJEITO.
• Contudo, na frase John kʷaθʔideː-č ido-pč, esse mesmo
sufixo não aparece no sujeito, mas marca o
COMPLEMENTO, ou seja, kʷaθʔideː-č “médico”.
5. {–ido} E {–č} EM MOJAVE
Munro (1977) investigou o
Existem duas surgimento da cópula em mojave.
perguntas a que é Ela fez as seguintes observações:
preciso responder:
• O sufixo –č só aparece nos sujeitos
• (1) Por que o sufixo –č de ORAÇÕES PRINCIPAIS;
aparece de modo atípico • Esse sufixo não ocorre nos sujeitos
no sintagma nominal do no maioria dos tipos de ORAÇÕES
SUBORDINADAS, p. ex.:
complemento?
• ʔ-nakut ʔava uːčoː-lʸ ʔ-navay-k.
• (2) Será que a palavra • (lit., Meu-pai casa fazer-em eu-
John, e as outras que morar-[TEMPO]).
podem ocorrer nesta Ou seja, “Eu moro na casa que
meu pai construiu”.
posição sintática
• ʔ-nakut “meu pai” não leva o sufixo
originalmente não eram o –č porque essa sintagma é o sujeito
sujeito da oração principal de uma oração subordinada (neste
nas sentenças do tipo que caso específico, trata-se de um
estamos investigando? oração relativa).
6. A CÓPULA MOJAVE (cont.)
A análise de Munro (1977) se focou na
ESTRUTURA CONSTITUINTE das
orações em questão:
• Originalmente, o mojave não tinha uma
cópula, mas havia um verbo existencial ido-
“ser assim”, “existir”, “ser o caso”.
• Portanto, originalmente, a frase John
kʷaθʔideː-č ido-pč, exibia a seguinte
estrutura sintática bi-clausular:
• Oração principal – idopč = “é_o_caso”.
• Oração subordinada – John kʷaθʔideː =
“João [é] médico”.
• A oração subordinada consta como o
sujeito da oração principal e, portanto, é a
oração inteira que recebe o sufixo
marcador para o sujeito –č.
• [João médico]–č existe.
• ([Que] João [é] médico]) é_o_caso.
7. REANÁLISE SINTÁTICA NO MOJAVE
MODERNO
Munro (1977) informa que Esses falantes mais jovens
atualmente alguns falantes de mojave reanalisaram a
jovens de mojave estrutura biclausular
apresentam orações tradicional como se fosse
uma ÚNICA oração em que
copulares da seguinte o primeiro sintagma
estrutura: nominal é percebido como
• John–č kʷaθʔideː ido-pč. o sujeito e, portanto, recebe
• João-[Subj.] médico ser- o sufixo –č, marcador do
[Tempo]. “João é médico”. sujeito.
O que poderia estar Esta reanálise poderia
acontecendo entre esses estar ocorrendo sob a
jovens em termos da influência o inglês que é,
análise sintática desse tipo como sabemos, uma língua
com um verbo copular, to
de sentenças? be.
8. A REANÁLISE SINTÁTICA:
O PRETÉRITO PERFEITO GERMÂNICO E NEOLATINO
A reanálise não é apenas um processo que cria cópulas. É um fenômeno penetrante na mudança
sintática.

O PRETÉRITO PERFEITO:
• NAS LÍNGUAS NEOLATINAS:
• Francês: J’ai chanté. Il a chanté. Il avais chanté. Il avait chanté.
• Espanhol: (Yo) he cantado. (Él) ha cantado. (Él) había cantado. (Él) había cantado.
• Italiano: (Io) ho cantato. (Egli) ha cantato. (Io) avevo cantato. (Egli) avava cantato.
• *Português: (Eu) tenho cantado. (Ele) tem cantado. (Eu) tinha cantado. (Ele) tinha cantado.
• (Ptg., fml / arc.) (Eu) Hei cantado. (Ele) há cantado. (Eu) havia cantado. (Ele) havia cantado.
• NAS LÍNGUAS GERMÂNICAS:
• Inglês: I have sung. He had sung. I had sung. He had sung.
• Alemão: Ich habe gesungen. Er hat gesungen. Ich hatte gesungen. Er hatte gesungen.
• Holandês: Ik heb gezongen. Hje heeft gezongen. Ik had gezongen. Hje had gezongen.
• Sueco: Jag har sjungit. Han har sjungit. Jag hade sjungit. Han hade sjungit.
• Dinamarquês: Jeg har sunget. Han har sunget. Jeg havde sunget Han havde sunget.
A estrutura do sintagma verbal nessas línguas:
• VERBO AUXILIAR “ter” ~ “haver” + PARTICÍPIO.
• Fr., J’ai mangé. Ital., (Io) ho mangiato. Esp., (Yo) he comido. Ingl., I have eaten. Al., Ich habe gegessen.
• VERBO AUXILIAR “ser” + PARTICÍPIO: Je suis arrivé. Io sono arrivato. Ich bin angekommen.
• Nalgumas línguas neolatinas o verbo ser desempenhava esta função auxiliar no pretérito perfeito, mas isso
desapareceu nas línguas modernas: Esp. ant., (Yo) soy ido. Ingl. ant., He is come.
9. A REANÁLISE SINTÁTICA:
O PRETÉRITO PERFEITO NAS LÍNGUAS GERMÂNICAS
No inglês moderno, o verbo to have desempenha duas funções
primárias:
• (1) Esse verbo serve como verbo auxiliar do pretérito perfeito + particípio, p. ex.,
• She has studied in Paris. (“Ela estudou em Paris”).
• I have finished my dinner. (“Eu terminei o jantar”).
• (2) Também, to have é um verbo léxico (verbo pleno) que significa “possuir”, “ter”,
p. ex.,
• I have a copy of her new book. (“Eu tenho uma cópia do seu novo livro”.).
• She has blue eyes. (“Ela tem os olhos azuis”).
No entanto, o inglês tem uma outra construção que também exibe o
verbo to have como verbo auxiliar e um particípio, como em (1), mas
esta segunda construção apresenta uma ordem de palavras distinta:
• Trata-se de uma estrutura com significado EXISTENCIAL:
• I have a couple of ribs broken. (“Eu estou com/tenho umas costelas quebradas”).
• She has a daughter trapped on the island. (“Ela está com/tem uma filha presa na
ilha”).
• Nesses últimos exemplos da terceira construção, não há nenhuma sugestão de
que fosse eu mesmo que quebrei as minhas próprias costelas ou que fosse ela
mesma que prendeu a própria filha na ilha.
10. O PRETÉRITO PERFEITO GERMÂNICO
O inglês antigo exibia uma construção igual ao uso existencial moderno:
• Ic hæbbe þone fisc gefangenne. “Eu tenho o peixe pescado” (lit., “eu tenho o peixe [e ele está]
pescado”).
• Ic hæfde hine gebundenne. “Eu o tenho amarrado” (lit., “eu o tenho [e ele está] amarrado”).
Reparem como o particípio concorda em gênero, número e caso com o
complemento. Assim, está claro que o verbo principal é hæbban
“ ter ” / ” haver ” , ” possuir ” porque os particípios concordam com os sintagmas
nominais do objeto direto e, portanto, os particípios são adjetivais; eles modificam
os SN OD.
Dentro de pouco tempo, contudo, a concordância desapareceu entre o particípio e o
complemento direto: Ic hæfde hit gebunden. (“Eu o tenho amarrado”).
Adicionalmente, apareceram frases com a mesma ordem de constituintes, mas nas
quais uma leitura com um sentido existencial não era possível:
• Þin geleafa hæfð ðe gehæled. “Tua fé te curou.” (A fé, que é inanimada, não pode “ter” uma
pessoa e a comida, estando consumida, não pode ser “tida”. Portanto, sabemos não estar
diante de frases existenciais.
• Ac hie hæfdon þa ... hiora mete genotudne. “Mas então eles tinham consumido sua comida”.
Nessas sentenças acima, o verbo hæbban agora está sendo interpretado como um
verbo auxiliar que indica o tempo, o modo, o número e a pessoa do verbo léxico (o
verbo principal) que é representado pelo particípio. Daí, o rearranjo da ordem dos
constituintes da frase que passa a posicionar o verbo auxiliar junto ao verbo léxico,
já que eles constituem agora um único sintagma verbal.
11. O REI QUE GOSTAVA DE PÊRAS
(A REANÁLISE SINTÁTICA DO VERBO TO LIKE)

As vezes, uma reanálise pode ser favorecida pela ausência ou pela


perda de marcadores morfológicas explícitas que seriam
inconsistentes com a análise nova.
• Inglês antigo: Lician “gostar (de)”
• sujeito = SN nominativo (A coisa de que se gosta).
• objeto = SN dativo (Quem ou o que gosta de algo)
O inglês antigo exibia uma ordem sintagmática não-marcada de
SVO. Assim, anteciparíamos uma oração com a ordem sintática
**Peran licoden þam cynge. (“As pêras gostavam ao rei”, “As pêras
eram_gostosas ao rei” ), ou seja, “O rei gostava de pêras”.
• Porém, diferentemente a maioria das frases no ingl. ant., a ordenação normal
de orações que continham lician era OVS. Isso talvez por uma tendência
quase universal nas línguas humanas de colocar os SN que refiram a seres
animados em primeiro lugar nas orações:
• Þam cynge licoden peran. (lit., Ao rei gostavam pêras) “O rei gostava de pêras”,
cf. esp. mod., Al rey le gustaban las peras.).
12. O REI E SUAS PÊRAS DURANTE A
IDADE MÉDIA
Durante a Idade Média, o inglês perdeu muitas desinências
gramaticais, incluídas as do caso dativo. Então, no ingl.
méd., a mesma sentença ficou assim:
• Þe king liceden peares.
• Agora, apenas a concordância de número no verbo indica que o sujeito
é peares e não þe king.
Finalmente, os marcadores do plural foram elididos do
verbo: The king liked pears.
• A partir desse momento, não havia mais indicação alguma de que “the
king” não fosse o sujeito gramatical, dada a ordem sintática canônica
SVO e a ausência de marcadores flexionais explícitos ao contrário.
• Por conseguinte, to like foi reanalisado:
• Passou de ser um verbo intransitivo que regia um complemento dativo
• Tornou-se um verbo transitivo canônico.
• Em inglês moderno, dizemos hoje: He liked pears (**Him liked pears) e
The king likes pears (**The king like pears).
13. OS VERBOS AUXILIARES
PERFECTIVOS ROMÂNICOS: ESSE
O pretérito latino era sintético e não distinguia por meios
morfológicos entre o passado pontual e o passado perfeito.
• Fēcī – hice. I did. Ich machte. (je fis). feci. fiz.
• ... he hecho. I have done. Ich habe gemacht. j’ai fait. ho fatto.
[tenho feito]
No latim clássico, existia uma classe de verbos chamados de
“depoentes” que apresentavam a morfologia da voz passiva, mas o
significado da voz ativa –
• Proficiscor. “Eu saio”. Profectus sum. “Eu sai”.
• Observem que o tempo pretérito dos verbos depoentes e dos verbos
transitivos na voz passiva é ANALÍTICO no latim clássico:
• Laudor. “Eu sou louvado”. Laudatus sum. “Eu fui louvado”.
• Notem também a ambiguidade entre o tempo pretérito e a voz passiva nestes
verbos depoentes:
• Hortor. “Eu exorto”.
• Hortatus sum. “Eu exortei” ou “eu fui exortado” (lit., “exortado sou”).
14. A EXTENSÃO DE ESSE COMO AUXILIAR

Os verbos depoentes A construção analítica do


transitivos pretérito dos verbos
desapareceram no latim depoentes intransitivos foi
tardio, deixando apenas estendida por analogia a
os verbos depoentes outros verbos que não
intransitivos, p. ex., eram depoentes
originalmente, mas que
• proficiscor “eu sai”, compartilhavam a sintaxe
• morior “eu morro”, e/ou o significado
• nascor “eu naci”, parecidos com verbos
• progredior “eu progrido, depoentes, p. ex.,
• ingredior “eu ingresso”. • Profectus sum. “eu saí”. →
Esse fato vai se revelar Ven(u)tus sum. “eu sou vindo”,
significante... “eu vim”.
15. A GRAMATICALIZAÇÃO DE ESSE COMO
AUXILIAR PERFECTIVO
Essas classes de verbos compartilham uma estrutura
sintática MONOVALENTE (há apenas um argumento) e
esse é um sujeito que é um PACIENTE, ou seja, a ação ou
evento emana ou cerne o sujeito que não é um “agente”.
• Proficiscor. – Verbo depoente intransitivo: monovalente e argumento
sujeito paciente.
• Vēnio. – Verbo intransitivo canônico: monovalente e argumento
sujeito paciente.
• A semelhança da semântica e na estrutura sintática dos argumentos
conduz a semelhança formal entre esses verbos (analogia), ou seja, a
extensão de esse “ser” como o verbo auxiliar do aspecto perfectivo:
• Profectus sum. → Ven(u)tus sum. > je suis venu. (Io) sono venuto.
[(yo) soy venido].
Esses verbos são conhecidos como verbos INACUSATIVOS.
• Tais verbos expressam mudanças no espaço (ir, vir, chegar, etc.) ou mudanças
de estado (nascer, morrer, engordar, envelhecer, emagrecer, etc.).
16. GRAMATICALIZAÇÃO DOS AUXILIARES
PERFECTIVOS ROMÂNICOS: HABERE
No latim clássico, habēre era um verbo que
significa “possuir”:
• Pĕcūnĭās magnās habent. “Capital grande [eles]-possuem”. “Eles
têm muito capital”.
• In ea prōvĭncĭa pĕcūnĭās magnās cŏllŏcātās habent. (Cícero)
• [SINT. ADV. em essa província [SINT. NOM. capital grande [PART. investido] [SINT.
V. possuem].

• “Nessa província eles possuem muito capital [que está / que eles têm]
investido”.
Em termos da sintaxe, habēre era um verbo transitivo
bivalente:
• O predicado precisa de DOIS argumentos, um sujeito e um
complemento direto.
17. GRAMATICALIZAÇÃO DE habere
No entanto, habēre não era um verbo transitivo canônico,
porque não envolvia o conceito de AGÊNCIA (oagente faz algo a
um paciente ou a um tema), p. ex.,
• A Maria beija o Paulo.
• [agente]_a Maria + [ato]_beija + [paciente]_o Paulo.
• O Lucas come uma banana.
• [agente]_o Lucas + [ato]_come + [paciente]_uma banana.
O predicado bivalente típico (verbo transitivo) exibe a seguinte
estrutura argumentacional : AGENTE+PACIENTE, p. ex., O cachorro
rói o osso.
A estrutura argumentativa do verbo habēre = LOCATIVO +
TEMA, ou seja, indica-se a localização do item possuído, p. ex.,
• O Fred tem uma casa grande. A Luísa tem o cabelo
ruivo.
• Locativo Predicado Tema. Locativo Predicado Tema.
• Cf., Há um prédio nesta rua. Tem uma árvore no jardim da casa.
• (há < habet [3ª pess. pres. do sing. do indic. ativo]
18. GRAMATICALIZANDO HABERE (CONT.)
O sujeito em orações como In ea prōvĭncĭa pĕcūnĭās magnās
cŏllŏcātās habent não é um agente. Portanto, não há um agente
específico para o particípio transitivo cŏllŏcātās do verbo collocāre
(“pôr”, “colocar”, “investir”).
Assim, não é difícil imaginar-se como a ordem original em (1) poderia
ser reinterpretada como um caso da estrutura (2):
• (1) (“Eles”) habent [pecunias magnas (...?) collocatas]
• LOC. PRED. TEMA [AGENTE?] PART. ADJETIVAL.
• (2) (“Eles”) habent collocat(-as)] [pecunias magnas]
• AGENTE VB AUX. VB PRINC. TEMA.
No exemplo (1), a frase exibe a seguinte estrutura:
• Eles possuem muito capital [que alguém investiu / que foi investido].
Esse particípio é de origem adjetival.
Sabemos disso pela concordância por gênero (feminino)
número (plural) e caso (acusativo) com o objeto que é
modificado.
19. O VERBO AUXILIAR HABERE
No entanto, no latim tardio surgiram construções como ‘...
uti ... matematicam notam... habeat ’ (Vitrúvio, De
architectura, 1.i.8), que significa “ ... para que tenha
conhecimento da matemática”.
Na sentença acima está evidente que o sujeito do particípio
do verbo noscō “conhecer” só pode ser o mesmo do que o
sujeito do verbo habeō:
• ... Uti matematicam notam habeat.
• Para que matemática-[acus. sg.] conhecido-[acus. sg.] haber-[3ª sg. pres.
subj. (haja)]
O verbo habere aparece primeiro como verbo auxiliar com
os verbos transitivos, especialmente com os em que o
auxiliar e o particípio têm que ter o mesmo sujeito, p. ex.,
cognoscō “conhecer”, comperiō “aprender”, “descobrir”.
20. CRESCIMENTO DO USO DE HABERE

Daí, esse uso de habere como verbo auxiliar foi


ampliado para abranger alguns verbos
intransitivos.
Possivelmente, o processo de expansão tenha se
iniciado com aqueles verbos intransitivos que
podem ser utilizados também como transitivos,
p. ex., cognoscĕre e comperīre, que também
pertencem a esse grupo.
• Hoc cognitum habeō (lit.“eu tenho isso conhecido”)
• > Cognitum habeō “conheci”
• > esp., (Lo) he conocido; fr., Je l’ai connu,
21. A SINTAXE DOS VERBOS AUXILIARES
Nesse processo de GRAMATICALIZAÇÃO, o predicado habere
perde a subcategorização sintática original (locativo + tema) ao
longo da sua passagem de um verbo principal para um verbo
auxiliar que serve para indicar as categorias gramaticais do
verbo principal (verbo léxico) o qual é refletido no particípio e
cuja subcategorização passa a prevalecer.
• Habēre (Vb. Princ.: Agente, Tema) + Particípio adjetival. →
• Habēre (Vb. Aux.: Temp., Núm., Pess., Modo) + Particípio verbal (que
indica o Vb. Princ.).
• Assim, podemos acompanhar a difusão da reanálise pela expansão da
falta a concordância entre o particípio e o objeto direto.
Posteriormente, em muitas línguas neolatinas, o auxiliar
descendido de habēre passa a aparecer com verbo
intransitivos como “dormir” (p. ex., esp., he dormido, fr., j’ai
dormi, ital., ho dormito.), que só manifestam construções
monovalentes.
22. MARCADORES DE GRAMATICALIZAÇÃO
NOS VERBOS AUXILIARES ROMÂNICOS
Nas línguas neolatinas modernas, constatamos uma distinção entre o uso do verbo
“haver” quanto verbo auxiliar gramaticalizado e seu uso como verbo léxico com
sentido pleno pela presença ou ausência de concordância entre o particípio que o
acompanhe.
• Ital. e fr., Verbo avere/avoir como auxiliar do perfeito e para expressar a posse
• (Io) preparai la cena.
• (Io) ho preparato la cena. (Sem concordância = verbo auxiliar + particípio do verbo
lexical.)
• (Io) ho la cena preparata. (Concordância = verbo “habere” léxico + particípio adjetival.)
• Je préparai les repas.
• J’ai préparé les repas. (Sem concordância com o objeto.)
• J ’ ai les repas préparés. (Particípio adjetival concorda em número e gênero com o
objeto.)
• Esp., (Verbo haber como auxiliar perfectivo e o verbo tener para expressar a posse):
• Comi una manzana.
• He comido una manzana (sem concordância de número ou gênero com o objeto.).
• Tengo la cena preparada. / Tengo preparada la cena. (Há concordância.)
• Ptg., (Verbo ter para expressar tempo presente do perfeito habitual e a posse):
• Preparei a sobremesa.
• Tenho preparado as sobremesas (ultimamente / a tarde inteira).
• Tenho as sobremesas preparadas.
23. PRETÉRITO PERFEITO PERIFRÁSTICO
ROMÂNICO: RESUMO
O tempo pretérito (“perfeito”) latino (laudavi, feci, etc.) desempenhava duas funções,
uma temporal – ele expressava a categoria temporal “pretérito” (que refere a situações
completamente passadas) – e outra modal – ele expressava a categoria aspecto-
temporal “ perfeito presente ” (representa eventos no passado recente que têm
importância atual).
A colocação possessiva habere + Fr. Nom. + Part. Adj. se oferece como candidato apto
para re-interpretação como uma estrutura que expressa o sentido “presente perfeito”.
• Uma vez que a re-análise for feito, há a possibilidade de distinguir entre as duas funções:
• Presente do perfeito: perfeito “perifrástico” X Pretérito: pretérito “sintético”.
HABERE:
• (1) A expressão possessiva: <Locativo Tema> “(Ellos) tienen (han) dinero invertido”.
• (2) O pretérito perfeito (a): Auxiliar + Particípio de verbo transitivo <Agente Tema>
“(Ellos) han invertido dinero”.
• (3) O presente do perfeito (b): Auxiliar + Particípio de verbo intransitivo <Agente>
“(Ellos) han sabido”.
ESSE:
• (1.1) Auxiliar do pretérito dos verbos depoentes – <Paciente> ou <Agente Tema> -
• Profectus sum. “Eu sai/peguei a estrada” / Hortatus sum Caesarem. “Eu exortei o César”.
• (1.2) Auxiliar do pretérito do passivo – <Paciente> - Laudatus sum. “Eu fui louvado”.
• (2.1) Auxiliar com verbos inacusativos (e os depoentes inacusativos) – <Paciente>
• Venutus sum. “Vim” (“eu sou venido”)
• (2.2)Auxiliar + voz passiva – <Paciente> - Laudatus sum. “Eu sou louvado”.
24. EXPANSÃO DE HABERE COMO AUXILIAR
DO PRETÉRITO PERFEITO
Português, espanhol, romeno Catalão Francês Italiano
Passivo esse esse esse esse
Inacusativo habere / tenere habere esse / habere esse
Reflexivo habere / tenere esse / habere esse esse
Inergativo habere / tenere habere habere habere
Transitivo habere / tenere habere habere habere

Os verbos INTRANSITIVOS podem ser divididos em dois subgrupos:


• OS VERBOS INACUSATIVOS: O sujeito não é um AGENTE, mas é um PACIENTE ou
um TEMA. A atividade do verbo é sofrida pelo sujeito ou concerne o sujeito, assim, de
certa forma, o sujeito de um verbo inacusativo parece o objeto de um verbo transitivo.
• Movimento direcionado: ir, vir, sair, entrar, subir, descer, etc.
• Mudança de estado: nascer, morrer, envelhecer, crescer, engordar, corar, etc.
• Continuação de estado: ficar, permanecer, restar, sobreviver, etc.
• Estado / existência: ser, durar, existir, estar sentado, etc.
• Acontecimento: acontecer, suceder.
• OS VERBOS INERGATIVOS: O sujeito é a origem da atividade, não há objeto direto e
o sujeito é AGENTE, p.ex., correr, brincar, dançar, pular, nadar, dirigir andar, etc.
25. MUDANÇAS DE MARCAÇÃO
As línguas tipicamente dispõem de várias construções alternativas para
distinguir entre a expressão de sentidos considerados como mais
“ normais ” (mais comuns, maior frequência de ocorrência) e para
expressar os sentidos menos comuns.
• Em português, a ordem sintática normal (não-marcada) é S-V-O:
• Não posso recomendar este livro.
• Porém, podemos explorar outras possibilidades de ordenar os sintagmas nas
sentenças. Por exemplo, se queremos contrastar um livro com outros, podemos
explorar a topicalização e dizer:
• Este livro, eu não posso recomendar (..., mas eu posso recomendar esses outros
livros).

Se, por algum motivo, os falantes de português começassem a utilizar a


segunda ordem – O-S-V – com mais frequência, consequentemente,
reduziriam a ocorrência da estrutura S-V-O, e teríamos um caso de
mudança na MARCAÇÃO em termos da ordem sintática básica das
orações.
Isso é precisamente o que aconteceu ao longo da história do hebraico
bíblico.
26. EVOLUÇÃO SINTÁTICA EM ORAÇÕES
PRINCIPAIS NO HEBRAICO BÍBLICO
(Givón, 1977)

No hebraico bíblico antigo havia dois grupos de formas verbais, o imperfeito (V-S-O) que
era utilizado para a maioria das funções e a forma chamada de perfeito (S-V-O), que era a
forma marcada e que aparecia apenas nalgumas circunstâncias especiais.
• Va-yiqraʔ ʔelohim la-yabaša ʔerec. (e-chamava (imperf.) Deus a_o_seco “terra”)

• “E Deus chamava a parte seca ‘terra’”.


•Ve-ha-ʔadam yadaʻ ʔet hava ʔišto. (e-o-homem conheceu (perf.) [Acus.]_Eva esposa-sua)
•“E Adão conheceu sua esposa, Eva”.

LIVRO DA BÍBLIA V-S S-V TOTAL % S-V


Gênese 169 25 194 12,9
Reis II 174 53 227 23,2
Éster 99 36 135 26,7
Lamentações 36 36 72 50,0
Eclesiásticos 11 41 52 79,0
Cântico de Salomão 2 26 28 92,0
27. VERBOS EM SÉRIE:
A PARTÍCULA bă MARCADOR DO OBJETO
O chinês mandarim é uma língua de ordem sintática
canônica S-V-O, p. ex.,
• Wŏ dă Zhāng-sān le. (Eu bater Zhang-san ASP completado). “Eu bati no
Zhang-san”.
Entretanto, há uma outra construção com a ordem S-O-V e
uma preposição bă que marca o objeto, p. ex.,
• Wŏ bă Zhāng-sān dă le. (“Eu OBJ_Zhang-san bater ASP) “Eu bati no
Zhang-san”.
O mandarim antigo não tinha a construção S-O-V, mas
havia um verbo bă que queria dizer “pegar”, “agarrar” ou
“segurar”, p. ex.,
• Shī jù rén shì yīn bă jiàn kàn. (Poema do séc. IX)
• (poema sentença nenhum homem apreciar, devo pegar espada ver).
• “Já que ninguém aprecia a poesia, eu devo pegar a espada para
contemplá-la”.
28. REANÁLISE DE VERBOS EM SÉRIE
Destarte, podemos interpretar o sentido original da
oração Wŏ bă Zhāng-sān dă le (“Eu OBJ_Zhang-san
bater_ASP), que atualmente quer dizer “Eu bati no
Zhang-san ” , como uma sentença coordenada que
continha duas frases:
• Wŏ bă Zhāng-sān dă le. (“Eu peguei Zhang-san [e] eu bati [nele]”).
Em conjunção com a mudança de marcação na ordem
sintática de SVO para SOV houve também uma
reanálise:
• O primeiro verbo “pegar” sofreu uma “diluição” semântica e
acabou sendo reinterpretado como uma partícula gramatical que
marca a palavra seguinte como o complemento do verbo; o
segundo verbo foi reinterpretado como o principal (e único) verbo
na oração simples.
• Zhāng-sān bă Lī-si pīping le. (Zhang-san OBJ Li-si criticar ASP)
• “Zhang-san criticou Li-si”.
29. GRAMATICALIZAÇÃO:
ASPECTO PROGRESSIVO INGLÊS

Inglês moderno padrão,


• Sentido básico [aspecto progressivo]:
• I am going home (“eu estou indo para casa [agora]” & “Eu pretendo ir para casa.”).
• + complemento de intenção:
• I am going to meet Mrs Pumphrey.
• = [I] [am going] [to visit Mrs Pumphrey]; cf., [I] [am going] [home].
• “Eu estou indo para visitar Sra. Pumphrey [agora]” / “Eu vou (pretendo) visitar a Sra.
Pumphrey”.
Os falantes começaram a analisar orações desse tipo como expressões
da intenção de fazer algo no futuro próximo, de forma que foi possível
dizer algo como: I am going to buy a new carriage (“Eu vou comprar uma
carruagem nova”) quando o falante estava sentado em casa, sem a menor
intenção de sair.
• I am going to buy a new car. (“Eu vou comprar um carro novo”.)
• Estrutura antiga: [I] [am going] [to buy a new car].
• Estrutura nova – intenção de ação futura: [I] [am] [going to] [buy a new car] > “I’m
gonna buy a new car”.
• A estrutura antiga ainda existe para expressar movimento simultâneo ou
imediatamente posterior à fala:
• I’m going to the beach. (“Vou à praia”) [asp. progr. pres.]. **I’m gonna the beach.
30. A GRAMATICALIZAÇÃO:
O TEMPO FUTURO ROMÂNICO

LATIM CLÁSSICO:
• Amāre: am-ā-bō, am-ā-bis, am-ā-bit, am-ā-bimus, am-ā-bitis, am-ā-bunt.
• Monēre: mon-ē-bō, mon-ē-bis, mon-ē-bit, mon-ē-bimus, mon-ē-bitis, mon-ē-bunt.
• Regere: reg-am, reg-ēs, reg-et, reg-ēmus, reg-ētis, reg-ent.
• Audīre: aud-i-am, aud-i-ēs, aud-i-et, aud-i-ēmus, aud-i-ētis, aud-i-ent.
LATIM TARDIO:
• Cantāre + volō, vīs, vult, volumus, vultis, volunt (velle “querer”, “desejar”).
• Cantāre + debeō, debēs, debet, debēmus, debētis, debent (debēre “dever”).
• Cantāre + habeō, habēs, habet, habēmus, habētis, habent (habēre “ter [que]”).
AS LÍNGUAS NEOLATINAS:
• Fr., chanter: chanter + -ai, -as, -a, -ons, -ez, -ont. (J’ai, tu as, il a, nous avons, vous avez, ils ont.)
• Esp., cantar: cantar + -é, -ás, -á, -emos, -eis, -án. (he, has, ha, habemos, habeis, han.)
• Ptg., cantar: cantar + -ei, -ás, -á, -emos, -eis, -ão. (hei, hás, há, havemos, haveis, hão.)
• Ital., cantare: cant- + -erò, -erai, -erà, -eremo, -erete, -eranno. (ho, hai, ha, abbiano, avete, hanno.)
EXCEÇÕES: Romeno: voi cînta (< volō cantāre). Sardo: deppo kantare
(<debeō cantāre).
INOVAÇÕES: Fr., je vais chanter; esp., voy a cantar; ptg., vou cantar.
31. GRAMATICALIZAÇÃO INTERSENTENCIAL:
OS COMPLEMENTIZADORES GERMÂNICOS

A gramaticalização pode combinar duas orações consecutivas em uma,


como podemos ver nestes exemplos de cláusulas complementares em
várias línguas germânicas:
• Inglês: I believe that she will take the job. (“Acredito que ela vai aceitar o trabalho”.)
• Alemão: Ich verstehe, daß Sie nicht kommen. (“Eu entendo que o senhor não vem”.)
• Holandês: Ik weet dat hij veel vrienden heeft. (“Eu sei que ele tem muitos amigos”.)
• Sueco: Jag trodde, att hans sista stund var kommen. (“Eu achava que sua última hora tinha
chegado”.)
A partícula complementizador parece o atual adjetivo demonstrativo
(exceto em sueco):
• that X that.
• daß X der (m.s.) / das (n.s.) / die (f.s., pl.).
• dat X die (c.s.) / dat (n.s.) / die (pl.).
• att X den (c.s.) / det (n.s.) / de (pl.).
Duas orações principais coordenadas > Uma oração principal + uma
oração subordinada:
She will marry him. I believe that. ~ I believe that. She will marry him.
> I believe that she will marry him. “Eu acredito que ela vai casar com ele”.
32. GREENBERG E A TIPOLOGIA
O linguista norte-americano Joseph Greenberg, propôs numa palestra em 1963 que
a maioria das línguas tipicamente exibem uma ordem básica de palavras, uma
ordem sintática não-marcada.
• Em português, este arranjo é SUJEITO – VERBO – OBJETO, p. ex.,
• Os turcos amam o gamão.
• Outras ordens são marcadas ou impossíveis, p. ex.,
• O gamão, os turcos amam. O gamão amam os turcos.
• Amam os turcos o gamão. Amam o gamão os turcos.
Se pressupormos que a ordem sintática fundamental se expressa melhor pelo
posicionamento relativo do sujeito, objeto e verbo, haveria SEIS ordens básicas:
• S–O–V: Provavelmente a ordem básica mais comum, p. ex., japonês, turco, basco, quéchua,
latim, ...
• S–V–O: Inglês, português, alemão, finlandês a maioria das línguas europeias indo-
europeias e não-indo-europeias) e muitas línguas africanas, p. ex., o suaíli,...
• V–S–O: Galês, irlandês (línguas celtas), o árabe clássico, algumas línguas do Pacífico e o
hebraico bíblico antigo, ....
As outras três ordens básicas são consideravelmente mais raras e durante algum
tempo os linguistas suspeitavam que elas poderiam ser impossíveis. Porém, hoje,
todas foram atestadas:
• V – O –S: Malgaxe (do Madagascar).
• O – V – S: Hixkaryana (língua indígena amazônica).
• O – S – V: Apurinã (língua indígena amazônica).
(E o jedi Yoda em Guerra das Galáxias, aliás.)
33. A HARMONIA TIPOLÓGICA
Greenberg afirmou que havia outras características gramaticais que se
modelavam segundo as três ordens típicas e que SOV exibia precisamente a
ordem oposta das línguas VSO.
As línguas SVO são menos regulares, embora elas sejam em geral mais
parecidas às línguas VSO.
Portanto, Greenberg simplificou sua tipologia em duas ordens: línguas VO e
OV: Japonês é uma língua OV quase perfeita e o francês é uma língua VO
quase perfeita.

LÍNGUAS V - O LÍNGUAS O - V
1. O verbo precede o objeto. 1. O verbo segue o objeto.
2. O verbo auxiliar precede o verbo principal. 2. O verbo auxiliar segue o verbo principal.
3. O adjetivo segue o substantivo. 3. O adjetivo precede o substantivo.
4. O genitivo segue o substantivo. 4. O genitivo precede o substantivo.
5. A oração relativa segue o antecedente. 5. A oração relativa precede o antecedente.
6. Preposições. 6. Pós-posições.
7. Ausência de marcação de casos. 7. Presença de marcação de casos.
8. O adjetivo comparativo precede o padrão. 8. O adjetivo comparativo segue o padrão.
34. EXEMPLOS DE HARMONIA TIPOLÓGICA
Português (SVO). Japonês (SOV).
O verbo precede o objeto: O verbo segue o objeto:
• João viu o cachorro. • Tarō-ga inu-o mita.
• Taro cachorro viu.
Verbo auxiliar precede o verbo
principal: O adjetivo precede o substantivo:
• Tarō-ga takai inu-o mita.
• Maria tem visto o gato. • Taro grande cachorro viu.
O adjetivo segue o substantivo: No genitivo, o possuidor precede o possuído:
• João viu o cachorro grande. • Tarō-ga kinjo-no hito-no inu-o mita.
No genitivo, o possuidor segue o • Taro vizinhança-do homem-do cachorro viu.
possuído: A oração relativa precede seu “antecedente”:
• João viu o cachorro do seu vizinho. • Tarō-ga niku-o tabeta inu-o mita.
• Taro carne comeu cachorro viu.
A oração relativa segue o antecedente:
Há posposições:
• João viu o cachorro que comeu a carne. • Tarō-ga mado yori inu-o mita.
Há preposições: • Taro janela-da cachorro viu.
• João viu o cachorro da janela. Há marcadores morfológicas de caso:
Não há casos morfológicos explícitos: • Tarō-ga mado yori kinjo-no hito-no inu-o mita.
• Taro janela-da vizinhança-do homem-do cachorro
• João viu o cachorro do seu vizinho da viu.
janela. O grau comparativo segue a base:
O grau comparativo precede a base: • Inu-ga neko yori takai.
• O cachorro é maior do que o gato. • Cachorro gato maior do [que]
35. AS MUDANÇAS DE TIPOLOGIA
Inglês (SVO) não respeita o princípio 3 da tipologia de Greenberg, p. ex.,
• The big house. X **The house big,
Também, o inglês viola a tendência 4:
• John’s book. X The capital of France.
O basco é uma língua quase padrão OV, mas não segue a tendência 3.
O farsi (persa moderno) é quase uma língua VO modelo, mas não
respeita o princípio 1.
O hebraico passou de ser uma língua VSO (com predomínio do modo
imperfeito) para ser uma língua SVO (com predomínio do modo perfeito),
mas a pesar da mudança na localização do sujeito, a língua continua
sendo VO.
O que é interessante é que só raramente achamos uma língua que
troque apenas UM aspecto da sua tipologia:
• Se uma língua sofrer alterações em um ou dois dos elementos listados no slide
anterior, em geral, essa língua passaria por mudanças correspondentes em todos
ou, pelo menos, na maioria daqueles característicos.
36. DE S-O-V A S-V-O:
O PROTOGERMÂNICO
O germânico antigo do noroeste europeu está atestado no corpus
rúnico que foi constituído entre o séc. III e o séc. VII d.C.:
• Ek Hlewagastiz Holtijaz horna tawido.
• (eu Hlew. Hol. corno fiz). “Eu, Hlewagastiz Holtijaz fez [este] corno”.
• [me]z Woduride staina þrijoz dohtriz dalidun.
• (me_DAT Wod._DAT pedra três filhas fizeram).
• “Para mim, Wod., três filhas fizeram [esta] pedra”.
• Ek Wiwaz after Woduride witada-hlaiban worahto.
• (eu Wi. depois Wod._DAT guarda-pão fabricou).
• “Eu, Wi., fabricou [isto] para Wod. [o] guardião (< “guarda-pão”)”.

O germânico do noroeste ainda era de tipo OV, mas não era


totalmente harmonioso:
• Havia preposições e não posposições;
• Os adjetivos seguiam os substantivos;
• Os genitivos podiam seguir ou preceder os substantivos, dependendo do tipo
de substantivo.
• Uma proporção reduzida (menos que 20%) das orações manifestam SVO.
37. DE S-O-V A S-V-O:
INGLÊS ANTIGO AO INGLÊS MODERNO

Inglês antigo (séc. VIII d.C.):


• S-O-V: Æðred me ah Eanred mec agrof.
• (Æðred me pertencer; Eanred me entalhar).
• “Eu pertenço a Æðred; Eanred me entalhou”.

Pouco depois, constata-se que a ordem OV se torna menos frequente e a


ordem VO fica favorecida.
Dentro de poucas séculos, a ordem OV desapareceu por completo.
Curiosamente, o sistema flexional para marcar os casos, tão típico das
línguas OV, sumiu também, deixando o inglês moderno uma língua VO sem
casos morfológicos, exceto em algumas relíquias que persistem nos
pronomes,
• p. ex., I X me, he X him, she X her, etc.

É estranho que os adjetivos, que seguiam os substantivos modificados,


tenham passado a preceder os substantivos.
O posicionamento dos adjetivos já era atípica na fase OV (pós-
posicionados), e continua sendo atípica (preposicionados).
38. À DERIVA ENTRE S-V-O A S-O-V:
O CHINÊS (LI & THOMPSON,1974)
O chinês arcaico (1º milênio a.C.): uma língua do tipo VO, exceto nos SN:
• Adjetivos, genitivos e orações relativas PRECEDIAM o substantivo nuclear (como
eles ainda fazem no chinês moderno).
A partir dos primeiros séculos depois de Cristo, algumas mudanças
começavam a desestabilizar os padrões OV na língua arcaica:
• V + PP → PP + V (hoje, a ordem antiga está restrita a circunstâncias especiais).
• VO em orações transitivas → bă + O + V.
• O passivo: S + V + “por” AG → S + “por” AG + V.
• Alguns substantivos → posposições → gramaticalizaram-se em sufixos casuais.
(No chinês moderno ainda há preposições).
• Substantivos e verbos compostos, que eram muito raros no chinês arcaico, agora
são muito comuns no mandarim moderno. (Existe uma teoria de que as
composições são típicas das línguas OV).
• O chinês desenvolveu uma classe de sufixos verbais para indicar o aspecto verbal
(há evidência de que tais sufixos são típicos das línguas OV).
39. A DERIVA LINGUÍSTICA
O CHINÊS “Vagueando” PELAS ORDENS SINTÁTICAS

Portanto, o chinês moderno ainda não é uma língua


totalmente OV, mas exibe muito mais característicos OV
do que seu antecessor arcaico, em que os traços OV
eram restritos ao sintagma nominal.

É interessante observar como uma série de mudanças


aparentemente não-relacionadas que compreendem uma
variedade de formas e construções, parecem trabalhar
juntos com o efeito total de impulsionar a língua inteira
de um tipo harmônico VO para um tipo OV.

Este é um fenômeno que se chama deriva (< ingl., drift).


40. A ERGATIVIDADE VERSUS A
ACUSATIVIDADE
O português, como a maioria das línguas do mundo, é um
idioma ACUSATIVO. Na marcação morfossintática constatamos
que:
• Os sujeitos dos verbos intransitivos e os sujeitos de verbos transitivos
são tratados de forma idêntica em termos do seu tratamento gramatical,
• Os objetos diretos de verbos transitivos, (naturalmente!) são tratados de
forma diferente:
• (Verbo intransitivo) Ela sorriu.
• (Verbo transitivo) Ela me viu. X Eu a vi. (NB Eu vi ela!).
No entanto, isso não é a única maneira de organizar as relações
sintáticas.
Existe um outro grupo importante de línguas (as línguas
ERGATIVAS) que exibem um padrão de marcação
morfossintática totalmente distinto.
41. AS LÍNGUAS ERGATIVAS
Diferentemente do que se constata entre as línguas
acusativas, nas línguas ergativas deparamos com o
seguinte padrão de marcação morfossintática:
• Os sujeitos de verbos intransitivos e os objetos diretos de verbos
transitivos são tratados da mesma forma gramatical, e
• Os sujeitos de verbos transitivos constituem uma classe aparte.

O basco é um exemplo clássico de uma língua ergativa:


• O sufixo –k aparece nos sujeitos de verbos transitivos [o caso ergativo].
• Os sujeitos de verbos intransitivos e os objetos diretos de verbos
transitivos exibem um sufixo nulo [o caso absolutivo].
• Verbo intransitivo: Gizona heldu zen. (“O homem chegou”.).
• Verbo transitivo: Gizonak neska ikusi zuen. (“O homem viu a menina”.)
• Verbo transitivo: Neskak gizona ikusi zuen. (“A menina viu o homem”.)
42. ERGATIVIDADE CINDIDA
Algumas línguas exibem características ergativas apenas em algumas
circunstâncias morfossintáticas. Esse fenômeno é denominado a
ergativdade “cindida”, porque apenas alguns “setores” são ergativas,
enquanto outras (geralmente a maioria) são de regência
nominativo/acusativa; ou seja, a regência está dividida entre os dois
tipos:
• Um dos mais comuns divisões é que as formas ergativas surgem no aspecto
perfectivo ou no tempo passado e morfologia acusativa aparece noutros contextos
gramaticais.
O pastó (língua indo-iraniana falada no Afeganistão):
• Tempo presente:
• Ze de winem. (1.sg._NOM 3.sg._OBL ver_1 sg.) “Eu o vejo”.
• Day maa wini. (3.sg._NOM 1.sg._OBL ver_3 sg.) “Ele me vê”.
• Te maa winee. (2.sg._NOM 1.sg._OBL ver_2 sg.) “Tu me vês”.
• Tempo passado:
• Maa day wulid. (1.sg._OBL 3.sg._NOM ver_3 sg.) “Eu o vi”.
• Taa ze wulidem. (2.sg._OBL 1.sg._NOM ver_1 sg.) “Tu me viste”.
Observem o tratamento diferente entre os dois tempos:
• Presente – sujeito no caso sujeito (NOM) e o verbo concorda com ele e o
complemento direto aparece no caso oblíquo (OBL).
• Passado – o complemento direto é no caso sujeito (NOM) e o verbo concorda
com ele, enquanto o sujeito recebe a marcação do caso oblíquo.
43. ORIGENS DA ERGATIVIDADE
CINDIDA 1: A VOZ PASSIVA
Estruturas com regência ergativas como as em pastó podem ser
derivadas a partir de construções PASSIVAS, p. ex.,
• Maa day wulid. “Eu o vi”. (1.sg._OBL 3.sg._NOM ver_3 sg. pret.).
• Originalmente: “ele foi visto por mim”, i.e., “por mim + ele + foi_visto”.
Isso explica por que day “ele” está no caso NOM (era o sujeito) e
também por que o verbo concorda com day e não com maa.
Também, isso explica porque maa “eu” não aparece no caso sujeito
(originalmente era um sintagma nominal oblíquo de agentividade).
Mas isso não explica por que as construções ergativas exibem uma
tendência a surgirem no tempo passado ou no aspecto perfectivo.
Afortunadamente, as línguas indo-iranianas têm uma longa história
documentada, algo que falta na maioria das línguas ergativas no
mundo. Assim, podemos estudar o desenvolvimento desta
ergatividade cindida ao longo de alguns milênios.
44. o surgimento da ERGATIVIDADE
cindida em línguas indo-arianas
No sânscrito, o antecessor das línguas indianas setentrionais, como
o hindu e o bengalês, a maioria das quais exibem ergatividade
cindida, havia uma construção aparentemente passiva que, de fato,
como a teoria prediz, aparecia no tempo pretérito, p. ex.:
• Presente: rāmaḥ sītām pṛccati.
• “Rama pergunta à Sita”.
• (Rama_NOM Sita_ACU perguntar_3 sg.)
• Passado: rāmeṇa sītā pṛṣṭā.
• (Rama_OBL Sita_NOM foi_perguntada.)
• (lit.) “Por Rama a Sita foi perguntada”.
• Rama perguntou à Sita.
Os passivos do tipo acima se tornaram mais frequentes (houve uma
mudança do grau de marcação) e acabaram substituindo a voz ativa,
pelo menos no pretérito.
A seguir, houve uma reanálise em que a forma passiva antiga foi
interpretada como a voz ativa (ficou tão comum que não contrastava
com nada), embora as concordâncias morfológicas continuassem
iguais, produzindo as estruturas ergativas no tempo pretérito e
aspecto perfectivo que constatamos hoje.
45. POR QUE QUERÍAMOS DIZER
ALGO NA VOZ PASSIVA?
MOTIVAÇÕES EVENTUAIS:
• A cortesia – A voz passiva é mais indireta e, com frequência, é mais impessoal.
• O braço do João foi quebrado. X A Júlia quebrou o braço do João.
• Na cultura malgaxe, por exemplo, as asseverações diretas são tipicamente
consideradas como socialmente inapropriadas e as construções na voz passiva são
muito mais frequentes.

Mas, a voz passiva é a única origem da ergatividade?


• Tais construções se vêm restritas ao aspecto perfectivo com tanta frequência que seria
legítimo perguntar-se se as estruturas ergativas podem ser derivadas diretamente de
sequências com significado perfectivos e, de fato, isso aparece ser o caso:
O pretérito perfeito germânico e românico:
• J’ai le déjeuner préparé. Tengo la cena preparada,
• I have a window broken. Tenho/estou com uma janela quebrada (asseverativo) →
• J’ai déjeuné. I have broken a window.
• He preparada la cena. (Tenho quebrado janelas) (pretérito perfeito).

Parece existir um caminho de gramaticalização que segue a seguinte ordem:


• possessivo → asseverativo → perfectivo.
•Esse caminho pode levar à ergatividade cindida também ...
46. ERGATIVIDADE A PARTIR DE
EXISTENCIAIS E AFIRMATIVAS
A construção afirmativa era originalmente possessiva, essencialmente idêntico a
“eu tenho um cachorro”.
Nas línguas germânicas e neolatinas esta construção não resultou na ergatividade,
porque essas línguas empregam o verbo transitivo habere/habban para expressar
a posse. No entanto, ...
Muitas línguas não possuem um verbo transitivo <para expressar a posse, p. ex.,
• Galês: Y mae gardd gennyf i. (PARTÍC. + é + jardim + comigo) “Eu tenho um jardim”.
• Russo: U menja kniga. (a + 1.sg._OBL + livro) “Eu tenho um livro”.
• Lat. arc.: Est mihi liber. (É 1.sg._DAT + livro) “Eu tenho um livro”.
• Fijiano: Saa ti’a vei au e dua a pua’a. (ASP + ser_a + a + mim + 3 sg + um + ART + porco.)
• “Um porco é a mim” / “Eu tenho um porco”.

Observem que o possuído está no caso sujeito e rege a concordância verbal; o


possuidor está num caso oblíquo. E se uma língua assim derivar uma construção
asseverativa da sua colocação possessiva e, mais tarde, um perfectivo?
47. ERGATIVIDADE MORFOLÓGICA
E ERGATIVIDADE SINTÁTICA
Se uma construção ergativa for derivada em termos históricos de uma
estrutura possessiva ou passiva, há de passar por uma fase em que o que
terminar sendo o complemento direto tinha que ser, na realidade, o sujeito da
sentença.
Portanto, esperaríamos encontrar línguas que exibem não só ergatividade
morfológica, como no basco, mas também ergatividade sintática, ou seja,
línguas em que os SN que aparecem ser os complementos diretos imitam os
sujeitos.
Um idioma assim é o DYIRBAL (língua aborígine da Austrália):
• (1)(Intrans.) Balan guda buŋa-n.
Art.def.II_ABS cachorro_ABS descer_PRET.
“O cachorro desceu [o declive]”.
• (2)(Intrans.) Bayi yara buŋa-n.
Art.def.I_ABS homem_ABS descer_PRET.
“O homem desceu [o declive]”.
• (3)(Trans.) Balan guda baŋgul yara-ŋgu bura-n.
Art.def.II_ABS cachorro def.art.I_ERG homem_ERG ver_PRET.
“O homem viu o cachorro”.
48. ERGATIVIDADE SINTÁTICA em DYIRBAL
Em português, língua de sintaxe acusativa, Em dyirbal, ao contrário do que
são as frases (2) e (3), com seus sujeitos acabamos de ver para o
intransitivos e transitivos, que podem português, as frases que se
combinar-se com facilidade: combinam com mais facilidade
• O homem desceu [o declive] e (ele) viu o são (1) e (3):
cachorro.
• Balan guda buŋan baŋgul yara-
• [Sujeito + Verbo intrans.] E [(Sujeito nulo) + ŋgu bura-n.
Verbo trans. + Compl. dir.].
• “O cachorro desceu [o declive] e
As frases (1) e (2) não podem ser (*) foi visto pelo homem”.)
combinadas da mesma maneira direta • *bayi yara buŋan balan guda
(coordenação): buran. “ O homem desceu [o
declive] e (*) viu o cachorro”.
• O cachorro desceu [o declive] e o homem viu (*)
[= pronome nulo]. Nas línguas sintaticamente
• [Sujeito + Verbo intrans.] E [sujeito + verbo trans. ergativas, parece que a
+ compl. dir. nulo]. mudança no grau de marcação
Para combinar as frase (1) e (2) em já aconteceu, mas a reanálise
português, é preciso adaptar a estrutura da subsequente ainda não foi
frase: realizada.
• O cachorro desceu [o declive] e o homem o viu /
viu ele. (pronome explícito de objeto).
• O cachorro desceu [o declive] e ele foi visto
pelo homem. (voz passiva).
49. MUDANÇA SINTÁTICA:
RESTRUTURAção DA GRAMÁTICA MENTAL
Os verbos auxiliares modais ingleses (tempo presente –
tempo pretérito):
• Can – could, will – would, shall – should. may – might.
Em inglês antigo, os verbos antecessores dos modais
eram verbos essencialmente típicos.
• Esses verbos são “ pretéritos-presentes ” , ou seja, as formas do
presente parecem as formas do tempo pretérito de outros verbos, ou
seja, não havia a desinência –s, –th da 3ª pessoa do singular:
• She smokes French cigarettes. (“Ela fuma cigarros franceses”).
• She wants to buy a car. (“Ela quer comprar um carro”).
• *She cans speak italian. (“Ela fala/sabe falar italiano”), cf., alemão: Ich
kann deutsch.
50.
UM LUGAR PARA CHAMAR DE SEU
Esses verbos premodais começaram a sofrer
processos de gramaticalização:
• (1) Os premodais perderam a sua capacidade de governar
complementos diretos:
• I can music → *I can music. Cf., alem. mod., Ich kann Müsik.
• (2) Os verbos pretéritos-presentes que não exibiam tendências a
tornar-se modais, p. ex., witan “saber” e þurfan “precisar”, cf., alem.
wissen e durfen, desapareceram aos poucos, deixando os verbos pré-
modais isolados tipologicamente.
• (3) As formas pretéritas dos modais perderam o significado passado e
ficaram separados do tempo presente de forma que, p. ex., would e
could, não eram sentidos como relacionados com will e can, mas como
formas apartes, avulsas.
• (4) O marcador do infinitivo, to, não aderiu às formas radicais dos pré-
modais e seus complementos: *She can to speak italian (“Ela sabe falar
italiano”).

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