6. MUDANÇA
SINTÁTICA
Thomas Daniel Finbow
Depar tamento de Linguística (FFLCH/USP)
1. A REANÁLISE DAS ESTRUTURAS
SINTÁTICAS SUPERFICIAIS:AS CÓPULAS
Em comum com o que vimos na aula sobre mudança
morfológica, a REANÁLISE e talvez o mais comum dos
caminhos da mudança sintática.
Examinaremos primeiro a criação de uma partícula gramatical
especial chamada a CÓPULA.
As cópulas geralmente servem para conectar dois elementos
dentro de uma oração, tipicamente dois sintagmas nominais.
Em português, como em muitas línguas indo-europeias, a cópula é o
verbo ser.
• Paris É a capital da França. Maria É médica. As árvores SÃO verdes.
Eu SOU alto.
• No entanto, em muitas línguas não existem verbos copulares e a simples
justaposição serve para expressar a mesma relação de equivalência, por
exemplo:
• Turco: Ali büyük (lit., Ali grande) “Ali é grande”.
• Tupi: Kunumĩ i nem (lit., “menino ele fedorento”) “O menino é fedorento”
2 .O DESENVOLVIMENTO DE CÓPULAS: MANDARIM
O mandarim moderno:
• Hūa shì hóng. (lit., Flor shì vermelha.) “A flor é vermelho”.
• Nà shì cāochăng. (lit., Esse shì pátio de recreio.) “Esse é o pátio de recreio”.
O chinês antigo (até o séc. III a.C):
• Inicialmente, não havia uma cópula.
• Wáng-Tái wù zhĕ yĕ. (lit., Wang-Tai pessoa excelente [Part. decl.]).“Wang-Tai [é] uma
pessoa excelente”.
• Naquela época, shì era um pronome demonstrativo que significava “este” ou “isto”.
• Zi yù shì rì kū. (lit., Confúcio em este dia chorou.) “Confúcio chorou neste dia”.
• O demonstrativo shì aparecia com frequência em orações coordenadas para
expressar “isto”.
• Qīan lĭ ér jiàn wáng, shì wŏ suŏ yù yĕ.
• (lit., Mil milhas então ver rei, isto eu [part. nom.] desejo [part. decl.].
• “[Viajar] mil milhas para ver o rei, isto é o que eu desejo”.
• O PROCESSO DE REANÁLISE SINTÁTICA:
• (1) X shì Y = “X. Isto [é] Y” → reinterpretado como → (2) “X shì Y” = X cópula Y (“X é Y”).
O processo de reinterpretação funcional de shì foi facilitado pelo fato de
que, até o séc. VI, d.C., shì desapareceu do chinês clássico como um
pronome demonstrativo. Isso deixou apenas os casos de shì que
decorriam das circunstâncias em que shì tinham a função duplicada de
demonstrativo e/ou cópula e assim conduziu a concretizar a sua
transformação sintática.
3. O DESENVOLVIMENTO DE CÓPULAS: HEBRAICO
No tempo presente, o hebraico bíblico não tinha nenhuma cópula, mas
hoje essa língua apresenta uma cópula, a saber, hu.
• As regras que determinam a aparência da cópula no hebraico moderno são
complexas. Ela é obrigatória nalguns contextos, é facultativo noutros situações e
ela está proibido em mais outras!
• David hu ha-ganav. (lit., Davi CÓPULA o-ladrão.) “Davi é o ladrão”.
• Moše hu student. (lit., Moše CÓPULA estudante.) .“Moše é estudante”.
• As origens desta cópula hu no hebraico moderno são claras: a cópula se formou a
partir da reanálise do pronome masculino da terceira pessoa do singular, hu “ele”,
que ainda desempenha essa mesma função no hebraico moderno.
• Hu ohev et-Rivka. (lit., Ele ama [acus.]-Rivka.) “Ele ama a Rivka”.
• O PROCESSO DE REANÁLISE SINTÁTICA:
• “Moshe, ele estudante”. → “Moshe é estudante”.
A prova de que hu é uma cópula genuína no hebraico moderno são
frases como a seguinte:
• Ani hu há-student še-Moše diber itxa alava.
• (Eu CÓPULA o_estudante que Moše falou contigo sobre_ele.)
• “Eu sou o estudante de quem Moše te falou”.
No exemplo acima, o sujeito é a primeira pessoa do singular e, portanto,
nesse contexto, hu não pode ser interpretado como “ele” (3ª pess. masc.
sing.).
4. CRIAÇÃO DE UMA CÓPULA EM MOJAVE
O mojave (uma língua indígena da família yunan da
América do Norte) apresenta uma cópula, ido-, p.
ex .,
• John kʷaθʔideː-č ido-pč. João médico-č ser-[Tempo].
“John é médico”.
• Nessa frase, a cópula é verbal e exibe um marcador de
tempo como qualquer outro verbo e, assim, não parece que
haja nada que valha a pena comentar.
• No entanto, em determinadas circunstâncias, as orações
copulativas em mojave apresentam uma característica
curiosa, p. ex., John-č Mary iyuː-pč. João-[Subj.] Mary ver-[Tempo].
“João viu a Maria”.
• Aquele sufixo –č que vemos em John e na cópula
tipicamente indica o SUJEITO.
• Contudo, na frase John kʷaθʔideː-č ido-pč, esse mesmo
sufixo não aparece no sujeito, mas marca o
COMPLEMENTO, ou seja, kʷaθʔideː-č “médico”.
5. {–ido} E {–č} EM MOJAVE
Munro (1977) investigou o
Existem duas surgimento da cópula em mojave.
perguntas a que é Ela fez as seguintes observações:
preciso responder:
• O sufixo –č só aparece nos sujeitos
• (1) Por que o sufixo –č de ORAÇÕES PRINCIPAIS;
aparece de modo atípico • Esse sufixo não ocorre nos sujeitos
no sintagma nominal do no maioria dos tipos de ORAÇÕES
SUBORDINADAS, p. ex.:
complemento?
• ʔ-nakut ʔava uːčoː-lʸ ʔ-navay-k.
• (2) Será que a palavra • (lit., Meu-pai casa fazer-em eu-
John, e as outras que morar-[TEMPO]).
podem ocorrer nesta Ou seja, “Eu moro na casa que
meu pai construiu”.
posição sintática
• ʔ-nakut “meu pai” não leva o sufixo
originalmente não eram o –č porque essa sintagma é o sujeito
sujeito da oração principal de uma oração subordinada (neste
nas sentenças do tipo que caso específico, trata-se de um
estamos investigando? oração relativa).
6. A CÓPULA MOJAVE (cont.)
A análise de Munro (1977) se focou na
ESTRUTURA CONSTITUINTE das
orações em questão:
• Originalmente, o mojave não tinha uma
cópula, mas havia um verbo existencial ido-
“ser assim”, “existir”, “ser o caso”.
• Portanto, originalmente, a frase John
kʷaθʔideː-č ido-pč, exibia a seguinte
estrutura sintática bi-clausular:
• Oração principal – idopč = “é_o_caso”.
• Oração subordinada – John kʷaθʔideː =
“João [é] médico”.
• A oração subordinada consta como o
sujeito da oração principal e, portanto, é a
oração inteira que recebe o sufixo
marcador para o sujeito –č.
• [João médico]–č existe.
• ([Que] João [é] médico]) é_o_caso.
7. REANÁLISE SINTÁTICA NO MOJAVE
MODERNO
Munro (1977) informa que Esses falantes mais jovens
atualmente alguns falantes de mojave reanalisaram a
jovens de mojave estrutura biclausular
apresentam orações tradicional como se fosse
uma ÚNICA oração em que
copulares da seguinte o primeiro sintagma
estrutura: nominal é percebido como
• John–č kʷaθʔideː ido-pč. o sujeito e, portanto, recebe
• João-[Subj.] médico ser- o sufixo –č, marcador do
[Tempo]. “João é médico”. sujeito.
O que poderia estar Esta reanálise poderia
acontecendo entre esses estar ocorrendo sob a
jovens em termos da influência o inglês que é,
análise sintática desse tipo como sabemos, uma língua
com um verbo copular, to
de sentenças? be.
8. A REANÁLISE SINTÁTICA:
O PRETÉRITO PERFEITO GERMÂNICO E NEOLATINO
A reanálise não é apenas um processo que cria cópulas. É um fenômeno penetrante na mudança
sintática.
O PRETÉRITO PERFEITO:
• NAS LÍNGUAS NEOLATINAS:
• Francês: J’ai chanté. Il a chanté. Il avais chanté. Il avait chanté.
• Espanhol: (Yo) he cantado. (Él) ha cantado. (Él) había cantado. (Él) había cantado.
• Italiano: (Io) ho cantato. (Egli) ha cantato. (Io) avevo cantato. (Egli) avava cantato.
• *Português: (Eu) tenho cantado. (Ele) tem cantado. (Eu) tinha cantado. (Ele) tinha cantado.
• (Ptg., fml / arc.) (Eu) Hei cantado. (Ele) há cantado. (Eu) havia cantado. (Ele) havia cantado.
• NAS LÍNGUAS GERMÂNICAS:
• Inglês: I have sung. He had sung. I had sung. He had sung.
• Alemão: Ich habe gesungen. Er hat gesungen. Ich hatte gesungen. Er hatte gesungen.
• Holandês: Ik heb gezongen. Hje heeft gezongen. Ik had gezongen. Hje had gezongen.
• Sueco: Jag har sjungit. Han har sjungit. Jag hade sjungit. Han hade sjungit.
• Dinamarquês: Jeg har sunget. Han har sunget. Jeg havde sunget Han havde sunget.
A estrutura do sintagma verbal nessas línguas:
• VERBO AUXILIAR “ter” ~ “haver” + PARTICÍPIO.
• Fr., J’ai mangé. Ital., (Io) ho mangiato. Esp., (Yo) he comido. Ingl., I have eaten. Al., Ich habe gegessen.
• VERBO AUXILIAR “ser” + PARTICÍPIO: Je suis arrivé. Io sono arrivato. Ich bin angekommen.
• Nalgumas línguas neolatinas o verbo ser desempenhava esta função auxiliar no pretérito perfeito, mas isso
desapareceu nas línguas modernas: Esp. ant., (Yo) soy ido. Ingl. ant., He is come.
9. A REANÁLISE SINTÁTICA:
O PRETÉRITO PERFEITO NAS LÍNGUAS GERMÂNICAS
No inglês moderno, o verbo to have desempenha duas funções
primárias:
• (1) Esse verbo serve como verbo auxiliar do pretérito perfeito + particípio, p. ex.,
• She has studied in Paris. (“Ela estudou em Paris”).
• I have finished my dinner. (“Eu terminei o jantar”).
• (2) Também, to have é um verbo léxico (verbo pleno) que significa “possuir”, “ter”,
p. ex.,
• I have a copy of her new book. (“Eu tenho uma cópia do seu novo livro”.).
• She has blue eyes. (“Ela tem os olhos azuis”).
No entanto, o inglês tem uma outra construção que também exibe o
verbo to have como verbo auxiliar e um particípio, como em (1), mas
esta segunda construção apresenta uma ordem de palavras distinta:
• Trata-se de uma estrutura com significado EXISTENCIAL:
• I have a couple of ribs broken. (“Eu estou com/tenho umas costelas quebradas”).
• She has a daughter trapped on the island. (“Ela está com/tem uma filha presa na
ilha”).
• Nesses últimos exemplos da terceira construção, não há nenhuma sugestão de
que fosse eu mesmo que quebrei as minhas próprias costelas ou que fosse ela
mesma que prendeu a própria filha na ilha.
10. O PRETÉRITO PERFEITO GERMÂNICO
O inglês antigo exibia uma construção igual ao uso existencial moderno:
• Ic hæbbe þone fisc gefangenne. “Eu tenho o peixe pescado” (lit., “eu tenho o peixe [e ele está]
pescado”).
• Ic hæfde hine gebundenne. “Eu o tenho amarrado” (lit., “eu o tenho [e ele está] amarrado”).
Reparem como o particípio concorda em gênero, número e caso com o
complemento. Assim, está claro que o verbo principal é hæbban
“ ter ” / ” haver ” , ” possuir ” porque os particípios concordam com os sintagmas
nominais do objeto direto e, portanto, os particípios são adjetivais; eles modificam
os SN OD.
Dentro de pouco tempo, contudo, a concordância desapareceu entre o particípio e o
complemento direto: Ic hæfde hit gebunden. (“Eu o tenho amarrado”).
Adicionalmente, apareceram frases com a mesma ordem de constituintes, mas nas
quais uma leitura com um sentido existencial não era possível:
• Þin geleafa hæfð ðe gehæled. “Tua fé te curou.” (A fé, que é inanimada, não pode “ter” uma
pessoa e a comida, estando consumida, não pode ser “tida”. Portanto, sabemos não estar
diante de frases existenciais.
• Ac hie hæfdon þa ... hiora mete genotudne. “Mas então eles tinham consumido sua comida”.
Nessas sentenças acima, o verbo hæbban agora está sendo interpretado como um
verbo auxiliar que indica o tempo, o modo, o número e a pessoa do verbo léxico (o
verbo principal) que é representado pelo particípio. Daí, o rearranjo da ordem dos
constituintes da frase que passa a posicionar o verbo auxiliar junto ao verbo léxico,
já que eles constituem agora um único sintagma verbal.
11. O REI QUE GOSTAVA DE PÊRAS
(A REANÁLISE SINTÁTICA DO VERBO TO LIKE)
• “Nessa província eles possuem muito capital [que está / que eles têm]
investido”.
Em termos da sintaxe, habēre era um verbo transitivo
bivalente:
• O predicado precisa de DOIS argumentos, um sujeito e um
complemento direto.
17. GRAMATICALIZAÇÃO DE habere
No entanto, habēre não era um verbo transitivo canônico,
porque não envolvia o conceito de AGÊNCIA (oagente faz algo a
um paciente ou a um tema), p. ex.,
• A Maria beija o Paulo.
• [agente]_a Maria + [ato]_beija + [paciente]_o Paulo.
• O Lucas come uma banana.
• [agente]_o Lucas + [ato]_come + [paciente]_uma banana.
O predicado bivalente típico (verbo transitivo) exibe a seguinte
estrutura argumentacional : AGENTE+PACIENTE, p. ex., O cachorro
rói o osso.
A estrutura argumentativa do verbo habēre = LOCATIVO +
TEMA, ou seja, indica-se a localização do item possuído, p. ex.,
• O Fred tem uma casa grande. A Luísa tem o cabelo
ruivo.
• Locativo Predicado Tema. Locativo Predicado Tema.
• Cf., Há um prédio nesta rua. Tem uma árvore no jardim da casa.
• (há < habet [3ª pess. pres. do sing. do indic. ativo]
18. GRAMATICALIZANDO HABERE (CONT.)
O sujeito em orações como In ea prōvĭncĭa pĕcūnĭās magnās
cŏllŏcātās habent não é um agente. Portanto, não há um agente
específico para o particípio transitivo cŏllŏcātās do verbo collocāre
(“pôr”, “colocar”, “investir”).
Assim, não é difícil imaginar-se como a ordem original em (1) poderia
ser reinterpretada como um caso da estrutura (2):
• (1) (“Eles”) habent [pecunias magnas (...?) collocatas]
• LOC. PRED. TEMA [AGENTE?] PART. ADJETIVAL.
• (2) (“Eles”) habent collocat(-as)] [pecunias magnas]
• AGENTE VB AUX. VB PRINC. TEMA.
No exemplo (1), a frase exibe a seguinte estrutura:
• Eles possuem muito capital [que alguém investiu / que foi investido].
Esse particípio é de origem adjetival.
Sabemos disso pela concordância por gênero (feminino)
número (plural) e caso (acusativo) com o objeto que é
modificado.
19. O VERBO AUXILIAR HABERE
No entanto, no latim tardio surgiram construções como ‘...
uti ... matematicam notam... habeat ’ (Vitrúvio, De
architectura, 1.i.8), que significa “ ... para que tenha
conhecimento da matemática”.
Na sentença acima está evidente que o sujeito do particípio
do verbo noscō “conhecer” só pode ser o mesmo do que o
sujeito do verbo habeō:
• ... Uti matematicam notam habeat.
• Para que matemática-[acus. sg.] conhecido-[acus. sg.] haber-[3ª sg. pres.
subj. (haja)]
O verbo habere aparece primeiro como verbo auxiliar com
os verbos transitivos, especialmente com os em que o
auxiliar e o particípio têm que ter o mesmo sujeito, p. ex.,
cognoscō “conhecer”, comperiō “aprender”, “descobrir”.
20. CRESCIMENTO DO USO DE HABERE
No hebraico bíblico antigo havia dois grupos de formas verbais, o imperfeito (V-S-O) que
era utilizado para a maioria das funções e a forma chamada de perfeito (S-V-O), que era a
forma marcada e que aparecia apenas nalgumas circunstâncias especiais.
• Va-yiqraʔ ʔelohim la-yabaša ʔerec. (e-chamava (imperf.) Deus a_o_seco “terra”)
LATIM CLÁSSICO:
• Amāre: am-ā-bō, am-ā-bis, am-ā-bit, am-ā-bimus, am-ā-bitis, am-ā-bunt.
• Monēre: mon-ē-bō, mon-ē-bis, mon-ē-bit, mon-ē-bimus, mon-ē-bitis, mon-ē-bunt.
• Regere: reg-am, reg-ēs, reg-et, reg-ēmus, reg-ētis, reg-ent.
• Audīre: aud-i-am, aud-i-ēs, aud-i-et, aud-i-ēmus, aud-i-ētis, aud-i-ent.
LATIM TARDIO:
• Cantāre + volō, vīs, vult, volumus, vultis, volunt (velle “querer”, “desejar”).
• Cantāre + debeō, debēs, debet, debēmus, debētis, debent (debēre “dever”).
• Cantāre + habeō, habēs, habet, habēmus, habētis, habent (habēre “ter [que]”).
AS LÍNGUAS NEOLATINAS:
• Fr., chanter: chanter + -ai, -as, -a, -ons, -ez, -ont. (J’ai, tu as, il a, nous avons, vous avez, ils ont.)
• Esp., cantar: cantar + -é, -ás, -á, -emos, -eis, -án. (he, has, ha, habemos, habeis, han.)
• Ptg., cantar: cantar + -ei, -ás, -á, -emos, -eis, -ão. (hei, hás, há, havemos, haveis, hão.)
• Ital., cantare: cant- + -erò, -erai, -erà, -eremo, -erete, -eranno. (ho, hai, ha, abbiano, avete, hanno.)
EXCEÇÕES: Romeno: voi cînta (< volō cantāre). Sardo: deppo kantare
(<debeō cantāre).
INOVAÇÕES: Fr., je vais chanter; esp., voy a cantar; ptg., vou cantar.
31. GRAMATICALIZAÇÃO INTERSENTENCIAL:
OS COMPLEMENTIZADORES GERMÂNICOS
LÍNGUAS V - O LÍNGUAS O - V
1. O verbo precede o objeto. 1. O verbo segue o objeto.
2. O verbo auxiliar precede o verbo principal. 2. O verbo auxiliar segue o verbo principal.
3. O adjetivo segue o substantivo. 3. O adjetivo precede o substantivo.
4. O genitivo segue o substantivo. 4. O genitivo precede o substantivo.
5. A oração relativa segue o antecedente. 5. A oração relativa precede o antecedente.
6. Preposições. 6. Pós-posições.
7. Ausência de marcação de casos. 7. Presença de marcação de casos.
8. O adjetivo comparativo precede o padrão. 8. O adjetivo comparativo segue o padrão.
34. EXEMPLOS DE HARMONIA TIPOLÓGICA
Português (SVO). Japonês (SOV).
O verbo precede o objeto: O verbo segue o objeto:
• João viu o cachorro. • Tarō-ga inu-o mita.
• Taro cachorro viu.
Verbo auxiliar precede o verbo
principal: O adjetivo precede o substantivo:
• Tarō-ga takai inu-o mita.
• Maria tem visto o gato. • Taro grande cachorro viu.
O adjetivo segue o substantivo: No genitivo, o possuidor precede o possuído:
• João viu o cachorro grande. • Tarō-ga kinjo-no hito-no inu-o mita.
No genitivo, o possuidor segue o • Taro vizinhança-do homem-do cachorro viu.
possuído: A oração relativa precede seu “antecedente”:
• João viu o cachorro do seu vizinho. • Tarō-ga niku-o tabeta inu-o mita.
• Taro carne comeu cachorro viu.
A oração relativa segue o antecedente:
Há posposições:
• João viu o cachorro que comeu a carne. • Tarō-ga mado yori inu-o mita.
Há preposições: • Taro janela-da cachorro viu.
• João viu o cachorro da janela. Há marcadores morfológicas de caso:
Não há casos morfológicos explícitos: • Tarō-ga mado yori kinjo-no hito-no inu-o mita.
• Taro janela-da vizinhança-do homem-do cachorro
• João viu o cachorro do seu vizinho da viu.
janela. O grau comparativo segue a base:
O grau comparativo precede a base: • Inu-ga neko yori takai.
• O cachorro é maior do que o gato. • Cachorro gato maior do [que]
35. AS MUDANÇAS DE TIPOLOGIA
Inglês (SVO) não respeita o princípio 3 da tipologia de Greenberg, p. ex.,
• The big house. X **The house big,
Também, o inglês viola a tendência 4:
• John’s book. X The capital of France.
O basco é uma língua quase padrão OV, mas não segue a tendência 3.
O farsi (persa moderno) é quase uma língua VO modelo, mas não
respeita o princípio 1.
O hebraico passou de ser uma língua VSO (com predomínio do modo
imperfeito) para ser uma língua SVO (com predomínio do modo perfeito),
mas a pesar da mudança na localização do sujeito, a língua continua
sendo VO.
O que é interessante é que só raramente achamos uma língua que
troque apenas UM aspecto da sua tipologia:
• Se uma língua sofrer alterações em um ou dois dos elementos listados no slide
anterior, em geral, essa língua passaria por mudanças correspondentes em todos
ou, pelo menos, na maioria daqueles característicos.
36. DE S-O-V A S-V-O:
O PROTOGERMÂNICO
O germânico antigo do noroeste europeu está atestado no corpus
rúnico que foi constituído entre o séc. III e o séc. VII d.C.:
• Ek Hlewagastiz Holtijaz horna tawido.
• (eu Hlew. Hol. corno fiz). “Eu, Hlewagastiz Holtijaz fez [este] corno”.
• [me]z Woduride staina þrijoz dohtriz dalidun.
• (me_DAT Wod._DAT pedra três filhas fizeram).
• “Para mim, Wod., três filhas fizeram [esta] pedra”.
• Ek Wiwaz after Woduride witada-hlaiban worahto.
• (eu Wi. depois Wod._DAT guarda-pão fabricou).
• “Eu, Wi., fabricou [isto] para Wod. [o] guardião (< “guarda-pão”)”.