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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS


Espaço vital: um conceito geográfico a serviço da guerra

Alex Honório Lima

Orientador: Prof. Dr. Daniel Monteiro Huertas


Objetivos:

I. Examinar a obra do geógrafo alemão Friedrich Ratzel, mais


especificamente o conceito de espaço vital.

II. Verificar as influências exercidas por esse conceito no embate


político-ideológico ocorrido durante a Guerra Fria.

III.Identificar o uso do termo espaço vital num mundo pós-Guerra Fria,


onde vigora o unilateralismo liderado pelos Estados Unidos,
compreendendo o período que se estende da Primeira Guerra do
Golfo até os ataques de 11 de setembro.
Metodologia

• Pesquisa qualitativa para a interpretação de fenômenos estudados, relação de


causa e efeito para explicação dos fenômenos. A utilização do conceito de
espaço vital para entender os conflitos mundial em três períodos da história.

• Levantamento bibliográfico em diversas áreas do conhecimento

• Abordagem dedutiva, partindo-se, portanto, da observação e análise do conceito


de espaço vital criado no século XIX e sua eventual relação com os conflitos
pós-Segunda Guerra Mundial.
Pressupostos teóricos

• Geografia política: as relações da política com o espaço geográfico, nas quais


despontam o estudo do território (seu tamanho e formato, sua expansão ou
retração, sua localização absoluta e relativa), das fronteiras com a sua tipologia,
das cidades-capitais (sua localização no território nacional, sua importância), da
política geográfica ou territorial, da circulação pelo território, da importância do
“solo” [território] na constituição e na evolução dos Estados.

• Relações homem/meio. As condições naturais são uma base, mas o


desenvolvimento depende capacidade de transformar as potencialidades do
território.
• Geopolítica : Relação entre espaço e poder que caracterizava o mundo em
escala global.

• Dessa situação política do mundo, surge a vertente da geografia política


aplicada às estratégias de domínio e de guerra: a geopolítica - produto do
contexto mundial na virada do século XX.
Resultados

• A ciência geográfica teve grande importância para a legitimação do expansionismo do Estado alemão,
bem como a influência de sua visão organicista da terra no tocante ao conceito de espaço vital. A
sistematização da ciência geográfica e de seus conceitos puderam ser oportunamente empregadas
no uso de estratégias territoriais por indivíduos ou pelo próprio Estado (no caso alemão).

• O nascimento da geografia política como matéria acadêmica articulou-se com a conjuntura política
europeia no século XIX lastreadas nas ideias de expansão territorial entre os Estados nacionais

• Dentre os autores que contribuíram de forma profícua e significativa à unificação e no alicerce para a
formação de uma política estatal mais forte e expansionista destaca-se o alemão Friedrich Ratzel
(1844-1904).

• Influenciado pelas ideias positivistas e o pelo ideário da Unificação Alemã, Ratzel, tinha como objetivo
entender e compreender a dispersão, a organização e o desenvolvimento das sociedades, acreditando
que o Estado seria o fator preponderante de sua análise – uma pequena equação de três fatores em
que a relação sociedade e solo constituiria, num último momento, o Estado. É a partir dessa análise ou
equação que surge o conceito de espaço vital.
• O geógrafo avaliava que a unificação alemã foi mal concluída sob os auspícios
de Bismark e que levaria a um Estado forte, porém, fragmentado tanto do ponto
de vista social como do ponto de vista do arranjo político-territorial.

• A Alemanha, através de Bismarck impôs a política da realpolitik, isto é, no


sistema internacional, grande parte das nações exploram seu poder potencial
em virtude do seu interesse nacional, de maneira incisiva e inexorável

• A fim de promover uma política mais idealista de expansão e poder mundial, a


realpolitik foi suprimida para a entrada da weltpolitik. Assim, direcionando a
Alemanha para uma política externa mais agressiva, voltada ao expansionismo
e pelo não equilíbrio de poder na Europa.

• Como consequência da formação de alianças, a busca por recursos e a corrida


armamentista, em 28 de julho de 1914 eclode a Primeira Grande Guerra, cuja
batalha fugia dos padrões de guerra, do século XIX
• No início de 1919, o Tratado de Paz de Versalhes foi divulgado ao governo
alemão. Como parte do tratado, a Alemanha perderia vastos territórios: a região
de Alsácia-Lorena retornaria à França; a Prússia Ocidental, a Alta Silésia e Posen
passariam para a Polônia; Danzig se tornaria cidade livre administrada pela
recém-criada Liga das Nações

• Um fator significante para esse período intelectual de Weimar foi a criação da


Zeischrift für Geopolitik (Revista de Geopolítica) em 1924, empreitada que contou
com a colaboração de diversos autores, e entre eles o seu principal expoente,
Haushofer

• Havia um crescimento nas discussões em torno do conceito de espaço vital


(Lebensraum ) e, nele, a geopolítica assumia um papel preponderante, tornando-
se a pedra angular da ideologia do partido nacional socialista. É nesse período,
também, que verificamos um crescimento na produção da geografia política,
refletindo as características da época com notáveis publicações
• Assim, Hitler conclui que a aquisição de novos territórios para alocar o excesso
de contingente populacional seria uma vantagem futura para o povo alemão,
devido à compensação de alimento que ocorreria entre a produção e o consumo,
tornando a alimentação de seu povo mais independente das nações estrangeiras

• Em sua obra, Ratzel ressalva que perdas territoriais de um determinado povo o


levariam sem dúvida o princípio de sua decadência futura. Tal lógica teve grande
influência sobre as formulações de Hitler, o que acreditava que os nacionais-
socialistas teriam que ir mais longe quanto ao direito ao solo, pois, segundo o
ex-ditador, um grande povo, sem possibilidades de aumento territorial, parece
destinado ao desaparecimento.

• Entretanto, para entender melhor o nascimento dessa nova ordem mundial, é


importante lembrar os estudos da Geografia Política e da geopolítica subjacentes
ao final da Segunda Grande Guerra. Durantes esse período, a geopolítica
ingressou em uma crise dos seus pressupostos básicos, isto é, em uma etapa de
esgotamento, questionamentos e limites de suas teorias fundamentai
• A chamada “geopolítica instrumental”, anterior à Segunda Guerra, foi reavivada e
ganhou status científico e acadêmico à Geografia Política, independentemente da
política dos Estados, com diversos autores

• É nesse sentido que a Nova Ordem Bipolar no pós-guerra perpassa pelos estudos
da Geografia Política e da geopolítica, pois “...deixou de ser exorcizada e foi
reincorporada na análise geográfico-política, seja de forma crítica (para alguns) ou
de forma entusiástica e com frequência acrítica (para outros)”

• É perceptível que a questão do espaço territorial no período da Guerra Fria ainda


é um ponto nefrálgico nas relações entre os países. Grande parte destas e dos
interesses dos Estados nacionais se manifestam no contexto da Geografia
Política por meios políticos, econômicos, sociais, ideológicos, recursos naturais,
assumindo como pano de fundo a questão do espaço geográfico
• Enquanto as armas nucleares estratégicas fossem o principal elemento da defesa
e de dissuasão da Europa, o objetivo basilar da política europeia seria
prioritariamente o psicológico: obrigar os Estados Unidos a tratarem a Europa
como uma extensão do seu território no caso de uma emergência

• Portanto, a luta nas interações entre as políticas de poder e meio geográfico não
deixou de ser fundamental ao poder dos Estados, apenas atuava em outros
padrões e conjunturas

• Brzezinski constrói sua linha de pensamento sob fortes influências da geopolítica


clássica anglo-saxônica, sobretudo nos conceitos de Mackinder e Spykman,
adaptados à realidade da Guerra Fria, compreendendo que a distribuição de
poder político, militar e econômico teve maior abrangência na Eurásia e que os
americanos deveriam pautar suas estratégias na região
• Conforme aponta em The Grand Chessboard, a Eurásia tem sido o centro do
poder mundial há cerca de 500 anos. Essa região possui a maior massa
continental do planeta, logo

• Claude Raffestin destaca a importância de os recursos naturais para um país


pleitear a condição de potência. A oferta destes recursos é uma das variáveis
centrais, pois possibilita ao Estado prover sua matriz material armamentista

• O grande debate sobre a nova ordem mundial recém-nascida, em plena crise


do Golfo Pérsico, era manter as posições militares dos Estados Unidos no
Oriente Médio e em outras partes do globo, dando a este o fio condutor para a
sua dominação mundial unilateral, tendo poder suficiente para dissuadir
qualquer desafiante no comando do palco mundial.
• O grande debate sobre a nova ordem mundial recém-nascida, em plena crise
do Golfo Pérsico, era manter as posições militares dos Estados Unidos no
Oriente Médio e em outras partes do globo, dando a este o fio condutor para a
sua dominação mundial unilateral, tendo poder suficiente para dissuadir
qualquer desafiante no comando do palco mundial.

• A geopolítica, após a Guerra Fria, ganham um caráter que vai além da questão
militar, levando-se em conta aspectos de conflitos econômicos, sociais,
culturais e a da mídia com a indústria cultural. Isto posto, a política externa
norte-americana de caráter imperialista, levou a desdobramentos políticos e
culturais que reafirmam sua hegemonia no sistema internacional.

• O paradoxo que Nye coloca se torna presente na medida em que este mesmo
jogador que pode ameaçar o poder americano é um importante parceiro, seja
econômico ou político dos Estados Unidos; assim, o mesmo jogador que
reforça seu poder, e mantém relações de poder com os Estados Unidos, é o
jogador que poder vir a ser uma potencial ameaça ao poder americano
• Verifica-se no atual contexto de globalização que o Estado prescinde da
necessidade de garantir, por si só, o fornecimento de recursos internamente. Na
verdade, é por intermédio de uma estrutura econômica e comercial em rede que
agora consegue assegurar a continuidade do fluxo de recursos, responsáveis
por fomentar a capacidade produtiva e a integridade territorial

• Numa tentativa de consolidação de seus interesses e hegemonia, os Estados


Unidos passaram a exercer um maior controle sobre a política mundial, sendo
regulamentada, a partir da década de 1970

• Em virtude de tais acontecimentos, a política externa americana alinhada com o


PNAC ganha novos desdobramentos e “legitimidade” no cenário global, pois, a
atmosfera pós-11 de setembro no interior dos Estados Unidos serviu, então,
como forma de tornar mais aceitável politicamente a ação militar unilateral do
país
• Segundo Harvey (2004), tanto a primeira como a segunda Guerra do Golfo
teriam se originado por motivos outros que não somente o petróleo. Para o
autor, o petróleo pertence ao Iraque e, portanto, seria muito difícil o controle de
seus poços por qualquer empresa norte-americana. O que estaria em jogo, na
verdade, seria uma motivação mais ampla para justificar a invasão ao Iraque

• Tal fluxo petrolífero garantiria aos Estados Unidos, portanto, um certo espaço
vital, talvez não nos mesmos moldes da concepção ratzeliana de espaços
fronteiriços contínuos, mas abrangendo regiões afastadas que dariam
continuidade ao modo de reprodução capitalista e à satisfação as necessidades
da sociedade americana, contanto que tais regiões estejam seguras e estáveis

• O que antes necessariamente se buscava dentro do próprio território, em


termos de recursos naturais (eis o motivo da necessidade de um espaço
contínuo fronteiriço maior para sanar as necessidades daquela determinada
sociedade), hoje, na era da globalização, se busca em outros territórios.
• A despeito disso, a real condição dos estoques e reservas mundiais de petróleo
permanece tão imprecisa quanto antigamente, fato que, para Harvey (2004),
sugere a justificativa da presença militar perpétua dos EUA na região. “A
justificativa primordial é o estado crônico de insegurança. A interrupção do
fornecimento de petróleo teria graves consequências negativas para o
capitalismo global

• Pelo exposto, é possível concluir que as fontes do poder norte-americano


estariam na capacidade de obter a posse de certos recursos. Por isso é comum
“simplificar a definição de poder como a posse de quantidades relativamente
grandes de elementos tais como população, território, recursos naturais, vigor
econômico, força militar e estabilidade política” (NYE, 2002, p. 30).

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