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DIREITO CIVIL II

TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS


(LIVRO III – CC/2002)

Profª. Me. Raíssa Varrasquim Pavon

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O QUE SÃO FATOS JURÍDICOS?

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1. CONCEITO
 Ciclo vital do direito: nasce, desenvolve-se e extingue-se.
 Essas fases ou momentos decorrem de fatos, denominados fatos jurídicos, pois
produzem efeitos jurídicos.
DECLARAÇÃO DA
FATO FATO JURÍDICO
NORMA JURÍDICA

“Fatos jurídicos seriam os acontecimentos, previstos em norma de direito, em razão dos


quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas”.
(Washington de Barros Monteiro)
 Para Savigny (Tratado de Direito Romano) os fatos jurídicos são: “os acontecimentos em
virtude dos quais as relações de direito nascem e se extinguem”.
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TODO ACONTECIMENTO É UM FATO JURÍDICO?

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 Todo fato, para ser considerado
jurídico, deve passar por um juízo de
valoração;

 Fato Jurídico em Sentido


Amplo: todo acontecimento da vida
que o ordenamento jurídico
considera relevante no campo do
direito.

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2. CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS EM
SENTIDO AMPLO
Ordinários
Fatos
naturais
Extraordinários

Fatos jurídicos Ato jurídico em


em sentido sentido estrito ou
amplo meramente lícito

Fatos humanos Lícitos


(atos jurídicos Negócio jurídico
em sentido
amplo) Ilícitos Ato – fato
jurídico

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2.1 Fatos naturais
A) Ordinários: nascimento e morte; maioridade; morte; decurso do tempo.
B) Extraordinários: se enquadram, em geral, na categoria do caso fortuito e
da força maior – Ex: desabamento de um edifício em razão de fortes chuvas;
incêndio de um casa provocado por um raio; naufrágio de uma embarcação
em virtude de maremoto.
 Todos estes acontecimentos provocam efeitos jurídicos, pois o
nascimento de alguém acarreta a personalidade jurídica, tornando-o sujeito
de direitos e obrigações; o incêndio ou o naufrágio ocasionam perda total ou
parcial da propriedade, e a morte das vítimas traz por consequência a
transmissão de seus bens a seus herdeiros.
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2.2 Fatos humanos
São ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos.
Se subdividem em:
A) Lícitos B) Ilícitos
- atos humanos a que a lei defere os - por serem praticados em desacordo
efeitos almejados pelo agente; com o prescrito no ordenamento
jurídico, embora repercutam na esfera
- praticados em conformidade com o do direito, produzem efeitos jurídicos
ordenamento jurídico, produzem involuntários, impostos por este
efeitos jurídicos voluntários, ou seja, mesmo ordenamento;
queridos pelo agente.
- criam deveres e obrigações;

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2.2.1 Atos lícitos
 atos humanos que a lei defere os efeitos almejados pelo agente. Produzem
efeitos jurídicos voluntários.
Os atos lícitos dividem-se em:
a) Negócio jurídico: Em regra é bilateral. Exige vontade qualificada. Permite a criação
de situações novas e a obtenção de múltiplos efeitos. A manifestação da vontade
tem finalidade negocial: criar, modificar ou extinguir direitos.
b) Ato jurídico em sentido estrito: reconhecimento de filho, tradição...o efeito da
manifestação da vontade está predeterminado em lei. A vontade é a simples
intenção (art. 185 CC), não se trata de vontade qualificada.
c) Ato – Fato Jurídico (Pontes de Miranda): o efeito do ato não é buscado pelo
agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei. Ex: Pessoa que acha,
casualmente um tesouro (art. 1264, CC)

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2.2.2 Atos Ilícitos
- São aqueles em desacordo com o ordenamento jurídico, produzem
efeitos jurídicos involuntários.
- Por isso, ao invés de direitos, criam deveres e obrigações.
- Ato ilícito é fonte de obrigação: de indenizar ou ressarcir o prejuízo
causado.
- Praticado com infração a um dever de conduta, por meio de ações ou
omissões culposas ou dolosas do agente, das quais resulta danos para
outrem – art. 186 e 927, CC).

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3. DO NEGÓCIO JURÍDICO
- No negócio jurídico, a manifestação da vontade tem finalidade negocial, que
abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos.

A) AQUISIÇÃO DE DIREITOS

A.1) Modos de aquisição – ocorre a aquisição de um direito com a sua incorporação


ao patrimônio e à personalidade do titular. Pode ser:

 Originária: se dá sem qualquer interferência do titular anterior. Ex: Ocupação de


coisa sem dono (art. 1.263, CC)

Derivada: decorre de transferência feita por outra pessoa. O direito é adquirido com
todas as qualidades ou defeitos do título anterior (ninguém pode transferir mais
direitos do que tem!). Relação entre sucessor e sucedido.

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 Gratuita: só adquirente auferem vantagem. Ex: sucessão hereditária;

 Onerosa: quando se exige do adquirente uma contraprestação, possibilitando a


ambos benefícios. Ex: Compra e venda, locação.

Quanto à sua extensão:

 Título singular: quando se adquire uma ou várias coisas determinadas, apenas


no que concerne aos direitos, como ocorre com o legatário, que lega coisa
individuada (sucessão causa mortis).

 Título universal: quando o adquirente sucede o seu antecessor na totalidade de


seus direitos ou numa quota ideal deles, tanto nos direitos como nas obrigações.
Ex: herdeiro.

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Finalidade
negocial

Aquisição

Quanto à quanto à s
Quanto à
incorporação ao vantagens
extensão
patrimônio patrimoniais

originária gratuita a título singular

a título
derivada onerosa
universal

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ESPÉCIES DE DIREITOS
 Direito atual: é o direito subjetivo já formado e incorporado ao patrimônio do
titular, podendo ser por ele exercido. Relaciona-se com o art. 6º, §2º, LINDB.

 Direito futuro: ainda não se constituiu

a. Deferido: quando a sua aquisição depende apenas do arbítrio do sujeito. Ex:


direito de propriedade – aquisição depende apenas no registro do título
aquisitivo.
b. Não deferido/Indeferido: sua consolidação se subordina a fatos ou condições.
Ex: casamento do donatário (art. 546, CC).

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 Expectativa de direito: fase preliminar, quando há apenas esperança ou possibilidade
de se adquirir um direito. Ex: filhos que sucedem os pais, quando estes falecerem ou a
situação do herdeiro testamentário que aguarda a abertura da sucessão, não gozando
de qualquer proteção jurídica;

 Direito eventual: ultrapassada a fase preliminar. É um direito concebido, mas ainda


pendente de concretização, a ser efetivada pelo próprio interessado. Ex: direito de
preferência, aceitação de proposta de compra e venda.

 Direito condicional: encontra-se em uma situação avançada, somente a eficácia


depende do implemento da condição estipulada, de um evento futuro e incerto. Ex:
um advogado oferece sociedade ao seu estagiário se ele se formar em direito, ficando
este com a possibilidade de adquirir aquele direito, se conseguir colar grau.

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3.1 Conservação/Defesa de direitos
Para resguardar ou conservar seus direitos, muitas vezes o titular necessita tomar
certas medidas preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais.

- Medidas de caráter preventivo: visam garantir e acautelar o direito contra futura


violação. Podem ser:

extrajudicial: asseguram o cumprimento de obrigação. Como as garantias reais


(hipoteca, alienação fiduciária) e pessoais (fiança).

Judicial: prevista no CPC. Ex: caução, busca e apreensão, notificação.

- Medidas de caráter repressivo: Visa restaurar direito violado. A pretensão é


deduzida em juízo por meio da ação. Cabe ao Poder Judiciário dirimir os conflitos de
interesse, salvo escolha das partes pela mediação e arbitragem. Art. 5º, XXXV, CF.
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OBS:
Defesa Privada ou autotutela: só é admitida em caráter excepcional. Prevista no art.
188, I e II, do CC/2002, que trata da legítima defesa, exercício regular de um direito e
estado de necessidade, bem como no art. 1.210, §1º, que trata da defesa da posse,
permitindo ao possuidor fazer uso da legítima defesa e do desforço imediato para
manter-se ou restituir-se na posse por sua própria força, contando que o faça logo e
não se exceda.

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Finalidade
negocial

Conservação do
direito

Medidas de Medidas de
caráter caráter
preventivo repressivo

visam restaurar
visam acautelar
o direito violado
o direito

Judicial
Judicial

Defesa privada
Extrajudicial
ou autotutela

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3.2 Modificação de direitos
- Os direitos subjetivos nem sempre conservam suas características iniciais e
permanecem inalterados durante sua existência. Podem sofrer alterações quanto ao
seu objeto, quanto à pessoa do sujeito ou ambos. A manifestação da vontade, com
finalidade negocial, pode ter estes objetivos.

 Objetiva: quando diz respeito ao seu objeto.

a. Qualitativa: conteúdo se converte em outra espécie, sem que aumentem ou


diminuam as faculdades do sujeito. Ex: credor que tem receber dinheiro e aceita
receber objeto diverso do mesmo valor, a titulo de dação em pagamento.
a. Quantitativa: o objeto aumento ou diminui no volume ou extensão, sem alterar a
qualidade do direito. Ex: proprietário de um terreno ribeirinho constata o
acréscimo nele havido em decorrência do fenômeno da aluvião.

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Subjetiva: quando concerne a pessoa do titular, permanecendo inalterada a
relação jurídica primitiva.

a) Direitos personalíssimos: não comportam modificação em seu sujeito,


extinguindo-se com a sua morte ou substituição (art. 11, CC/02). Ex: nome,
imagem

b) Se houver uma substituição por ato inter vivos ou mortis causa do sujeito
ativo ou passivo, subsistindo a relação jurídica. Ex: Desapropriação e
Alienação de bem imóvel/ Abertura da sucessão com a morte do de cujos
(herdeiros legítimos e testamentários)

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Finalidade
negocial

Modificação de
direitos

Objetiva Subjetiva

Quantitativa *Direitos
personalíssimos

inter vivos
Qualitativa

causa mortis

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3.3 Extinção de direitos
- perecimento do objeto, alienação, abandono, prescrição, decadência..
Causas de extinção:
a. Subjetivas: direito é personalíssimo e morre seu titular (Ex: morte do filho
extramatrimonial em caso de reconhecimento de paternidade quando a ação
ainda não foi iniciada. Art. 1.606, CC
b. Objetivas: perecimento do objeto sobre o qual recaem (Ex: cédulas monetárias
recolhidas que perdem seu valor econômico)
c. Vínculo jurídico: perecimento da pretensão ou do próprio direito, prescrição e
decadência.

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Finalidade
negocial

Extinção de
direitos

Vínculo
Objetiva Subjetiva
jurídico

Perecimento Morte do perecimento


do objeto titular da pretensão
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