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Produção de Textos e

Gêneros Textuais

Profa. Dra. Carla Salati Almeida Ghirello-Pires


 “Escrever é, como falar, uma atividade de
interação, de intercambio verbal. Por isso é
que não tem sentido escrever quando não se
está procurando agir com o outro, trocar com
alguém alguma informação, alguma idéia,
dizer-lhe algo, sob algum pretexto. Não tem
sentido o vazio de uma escrita sem
destinatário, sem alguém do outro lado da
linha, sem uma intenção particular”
 Irandé Antunes
 Tal como falar, escrever é uma atividade
necessariamente textual. Ninguém fala ou escreve
por meio de palavras ou frases justapostas
aleatoriamente, desconectadas, soltas sem unidade.
O que vale dizer: só nos comunicamos através de
textos. Sejam eles orais ou escritos. Sejam eles
grandes médios ou pequenos. Tenham muitas,
poucas, ou uma palavra apenas. Assim, a
competência comunicativa, aquela que nos distingue
como seres verbalmente atuantes, inclui
necessariamente a competência para formular e
entender textos orais e escritos.
 Escrever é uma atividade tematicamente orientada.
Ou seja, em um texto, há uma idéia central, um
tópico, um tema global que se pretende
desenvolver. Um ponto de chegada, para o qual
cada segmento vai-se orientando. Assim como
acontece numa caminhada. Não importa se estamos
dissertando, contando uma história, fazendo um
relatório, uma carta, ou a descrição de um aparelho.
Não importa. Há sempre um ponto em vista. E
perdê-lo significa romper com a unidade temática e
comprometer a relevância comunicativa da interação
• Escrever é uma atividade intencionalmente definida
para se obter determinado fim, para cumprir
determinado objetivo. Na verdade nenhum dizer é
simplesmente um dizer.
• Escrever é uma atividade que envolve além de
especificidades linguísticas, outras, pragmáticas.
• Ou seja, se escrever constitui uma atividade
interativa, contextualmente situada e
funcionalmente definida, é natural que cada texto
seja marcado por pelas condições particulares de
cada situação.
Mas afinal o que é um texto?

 Pode-se definir texto ou discurso como


ocorrência linguística falada ou escrita de
qualquer extensão dotada de unidade
sociocomunicativa semântica e formal.
 São elementos desse processo as
peculiaridades de cada ato comunicativo tais
como: a intenção do produtor, o jogo de
imagem que cada interlocutor faz de si e do
outro, e tantas outros aspectos.
Costa Val

 Desse modo o que é pertinente numa situação


pode não o ser em outra.
 O contexto sociocultural em que se insere o
discurso também constitui elemento
condicionante de seu sentido, na produção e na
recepção, na medida em que delimita os
conhecimentos partilhados pelos interlocutores,
inclusive quanto às regras sociais da interação
comunicativa (uma certa “etiqueta”
sociocomunicativa, que determina a variação de
registros, de tom de voz, de postura, etc.)
O que é textualidade?

 Chamamos de textualidade ao conjunto de


características que fazem com que um texto
seja um texto, e não apenas uma sequência de
frases.
 Beuagrande e Dressler (1983) apontam sete
fatores responsáveis pela textualidade de um
discurso: a coerência e a coesão, a
intencionalidade, a aceitabilidade, a
situacionalidade , a informatividade e a
intertextualidade.
Coerência e coesão

 Coerência e fator fundamental da textualidade


porque é responsável pelo sentido do texto.
Envolve não só os aspectos lógicos e
semânticos, mas também cognitivos na medida
em que depende do partilhar de conhecimentos
entre os interlocutores
 O texto não significa exclusivamente por si
mesmo, seu sentido é construído não só pelo
não só pelo produtor, mas também pelo
recebedor, que precisa deter os elementos
necessários à sua interpretação.
 Assim a coerência do texto deriva de sua
lógica interna, resultante dos significados
que sua rede de conceitos e relações põe
em jogo, mas também da compatibilidade
entre essa rede conceitual – o mundo textual
– e o conhecimento de mundo de quem
processa o discurso.
Coesão

 A coesão é a manifestação linguística da


coerência; advém da maneira como os
conceitos e relações são expressos na
superfície textual.
 Responsável pela unidade formal do texto,
constrói-se através de mecanismos
gramaticais e lexicais como: pronomes,
artigos, elipse, substituição, associação e
outros
O Show
O cartaz O estádio
O desejo A multidão
A expectativa
O pai
O dinheiro A musica
O ingresso A vibração
A participação
O dia
A preparação O fim
A expectativa A volta
O vazio
O show

 Sexta-feira Raul viu um cartaz anunciando um show de


Milton Nascimento para a próxima terça-feira, dia 04/09,
às 21h, no Ginásio do Uberlândia Tênis Clube. Por ser fã
do cantor, ficou com muita vontade de assistir à
apresentação. Chegando em casa, falou com o pai que
lhe deu o dinheiro para comprar o ingresso. Na terça-
feira, dia do show, Raul preparou-se, escolhendo uma
roupa com que ficasse mais à vontade durante o evento.
Foi pata o UTC com um grupo de amigos. Lá havia uma
multidão em grande expectativa aguardando o inicio do
espetáculo...
 “No rádio toca um rock. O rock é um ritmo moderno.
O coração também tem ritmo . Ele é um músculo
oco composto de duas aurículas e dois ventrículos”.

 No exemplo acima a presença de recursos


coesivos interfrasais não é suficiente para
garantir textualidade à sequencia, já que ela
não funciona como um todo significativo
coerente.
Intencionalidade

 A intencionalidade concerne ao empenho do


produtor em construir um discurso coerente,
coeso e capaz de satisfazer os objetivos que
te em mente numa determinada situação
comunicativa. A meta pode ser informar,
impressionar, alarmar, convencer, pedir,
ofender, etc., e é ela que vai orientar a
confecção do texto.
Aceitabilidade

 Concerne à expectativa do recebedor de que


o conjunto de ocorrências com que se
defronta seja um texto coerente, coeso, util e
relevante, capaz de levá-lo a adquirir
conhecimentos ou a cooperar com os
objetivos do produtor.
Situacionalidade

 A situacionalidade diz respeito aos elementos


responsáveis pela pertinência e relevância do
texto quanto ao contexto em que ocorre. É a
adequação do texto à situação
sociocomunicativa.
 O contexto pode definir o sentido do discurso e,
normalmente, orienta tanto a produção quanto a
recepção. Em determinadas circunstancias um
texto menos coeso e aparentemente menos
claro pode ser mais adequado.
Informatividade

 Um texto com um bom nível de informação precisa


ter dados suficientes. Isso significa que o texto tem
que apresentar todas as informações necessárias
para que seja compreendido com o sentido que o
produtor pretende.
 Não é possível nem desejável que o discurso
explicite todas as informações necessárias ao seu
processamento, mas é necessário que ele deixe
inequívocos todos os dados necessários à sua
compreensão aos quais o recebedor não conseguirá
chegar sozinho.
Intertextualidade

 Concerne aos fatores que que fazem a


utilização de um texto dependente do
conhecimento de outros textos.
 De fato “um discurso não vem ao mundo numa
inocente solitude, mas constrói-se através de
um já-dito em relação ao qual ele toma posição”
 Inúmeros textos só fazem sentido quando
entendidos em relação a outros textos, que
funcionam como seu contexto.
Sobre Peixes e Linguagem
Marcos Bagno

 Me ocorre frequentemente a idéia de que nós nos


relacionamos com a linguagem assim como os peixes se
relacionam com a água. Fora da água, o peixe não existe, toda
a sua natureza, seu desenho, seu organismo, seu modo de
ser estão indissociavelmente vinculados à água...
Não existimos fora da linguagem, não conseguimos imaginar o
que é não ter linguagem, nosso acesso à realidade é mediado
por ela de tal forma tão absoluta que podemos que podemos
dizer que para nós a realidade não existe , o que existe é a
tradução que dela nos faz a linguagem implantada em nós de
forma tão intrínseca e essencial quanto nossas células e nosso
código genético. Ser humano é ser linguagem.
 À concepção de texto aqui apresentada,
subjaz o postulado básico de que, o sentido
não está no texto mas se constrói a partir
dele, no curso de uma interação.
Fatores de Textualidade

 A partir da década de 60 surgiram vários estudos


que têm contribuído para se entender os fatores que
estão envolvidos na produção de sentido daquilo
que é falado ou escrito.
 Os autores afirmam que, apesar de os fatores
centrados no texto constituírem os critérios mais
evidentes de textualidade, não são por si suficientes
para estabelecerem limites entre textos e não
textos.
Fatores Estruturais

 Koch e Travaglia (1989) apresentam um


panorama das idéias que têm predominado
sobre a coerência textual, e, em seguida,
apontam como fator básico da textualidade a
coerência que é vista como um princípio de
interpretabilidade que é estabelecida na
dependência de multiplicidade de fatores.
Atividade

 Internet: ponte ou muro entre as pessoas?


Maura Coradin Pandolfo

A internet é um grande passo rumo aos avanços


tecnológicos do século XXI.
Ela é cada vez mais utilizada nos quatro cantos do
mundo por pessoas que têm a intenção de se informar,
manter contato com os semelhantes e facilitar sua vida.
Para isso utilizam-se e-mails, blogs, chats, msn, sites de
relacionamento entre outros meios de aproximação
online.
Muitos indivíduos já se conheceram pela internet:
amigos, profissionais e estudantes com interesses
em comum, e até mesmo casais. Mas até que ponto
essa comunicação virtual é válida? Ela estreita os
laços afetivos ou os extingue?
É evidente que o uso da internet....
Fatores Estruturais

 Superestruturas são esquemas cognitivos


aos quais os textos se adaptam. O
conhecimento delas desempenha uma
função importante tanto na produção da
leitura como na produção da escrita de
textos.
 Tipo textual designa uma espécie de
construção teórica (em geral uma sequência
subjacente aos textos) definida pela
natureza linguística de sua composição
(aspectos lexicais, sintáticos, tempos
verbais, relações, lógicas, estilo). O tipo
caracteriza-se muito mais como sequências
linguísticas do que como textos
materializados.
 As tipologias textuais são ferramentas
essenciais a serviço dos gêneros textuais e
seu domínio é fundamental no trabalho com
leitura e produção de textos.
Tipologia textual

 Em geral os tipos textuais abrangem


algumas categorias e podem se adaptar aos
seguintes cognitivos interdependentes:
 Narração
 Descrição
 Argumentação
 Explicativa
 Injunção
 Em contraposição aos tipos, os gêneros são
entidades empíricas em situações
comunicativas e se expressam em
designações diversas. Alguns exemplos de
gêneros textuais seriam: telefonema, sermão,
carta comercial, romance bilhete, reportagem,
aula expositiva, nota jornalística, bula de
remédio, receita culinária, lista de compras,
piada, carta eletrônica, e assim por diante.
 A narração se caracteriza por relatar
situações, fatos e acontecimentos, reais ou
imaginários.
 Normalmente os acontecimentos narrados
seguem uma ordem cronológica. Portanto na
narração há anterioridade e posterioridade.
Superestrutura Narrativa

As categorias esquemáticas da narração são:


 A) cenário, exposição, orientação ou situação, onde são
apresentados os personagens e lugar em que acontecem os
fatos;
 B) complicação que é o início da trama propriamente dita;
 C) resolução ou desfecho, o desenrolar da trama até o fim ;
 D) avaliação ou moral, reflexões finais.
Destas categoria a única obrigatória é a complicação, as outras
podem faltar ou estarem diluídas.
 Era uma tarde chuvosa de julho. A temperatura estava
perto de zero grau. O caçador deu alguns passos na
direção de uma moita de capim seco e alto, no campo,
perto de um riacho. Escondeu-se ali e ficou camuflado.
Ajoelhou-se apoiado só no joelho direito, pôs a
espingarda em posição de tiro, olho na mira e esperou
pacientemente que uma grande lebre do altiplano fosse
beber no riacho abaixo. Passados alguns minutos, o
animal se aproximou, dando pequeno pulos, mas
desconfiada e arisca, iniciou a fuga. Nesse momento,
ouviu um tiro. O animal atingido, correu alguns metros,
cambaleante e caiu morto, com a cabeça estraçalhada.
Superestrutura Descritiva

A superestrutura descritiva tem como característica a


representação de uma imagem, mediante o uso da
língua. Para que isso aconteça, torna-se necessário
que o locutor indique os aspectos caracterizadores
do “objeto” ser descrito, ou seja, os pormenores
individualizantes desse objeto, o que requer um
exercício de seleção de quem descreve
 Não se trata de enumerar uma série de elementos ,
mas de captar os traços capazes de transmitir uma
impressão autêntica.
 Ou seja, a descrição consiste na exposição
das propriedades, qualidades e
características do objetos, ambientes, ações
ou estados.
 Ela possibilita ao leitor a visualização do
objeto apresentado, que passa a ser
concebido mentalmente, a partir de um
processo linear de observação.
Texto descritivo

 Fui criada, e até hoje moro, numa casa


simples mas de cômodos bem amplos e
confortáveis. Um jardim colorido e aromático.
Beija-flores por aqui não faltam. Tenho duas
filhas. Ana, uma menina alta desengonçada,
mas de um brilho especial nos olhos muito
pretos. Virginia, uma menina muito magra,
gestos e rosto delicados, tem uma cabeleira
tão ruiva que poderia ser confundida com
uma dessas atrizes do cinema americano...
Superestrutura Argumentativa

 Uma argumentação propriamente dita requer


a defesa ou a refutação de um ponto de vista
relativo a uma idéia polêmica. Não há o que
argumentar sobre uma idéia tida como
consensualmente verdadeira.
 A defesa ou a refutação desse ponto de vista
polêmico deve ser realizada por meio de
argumentos e não de “achismos”.
 Os primeiros são provas evidentes, os
segundos são palavras vazias.
 Provas evidentes são chamadas a certezas
construídas pela apresentação dos fatos ou
pelo raciocínio. São evidências: fatos,
exemplos, ilustrações, dados estatísticos e
testemunhos.
 A tipologia dissertativa tem o propósito de
construir uma opinião de modo progressivo.
Para isso o enunciador vale-se de uma
argumentação coerente e consistente: expõe
fatos, reflete a respeito de uma questão, tece
explicações, apresenta justificativas, avalia
conceitua e exemplifica.
 O Papel da Televisão na Vida dos Jovens
 A televisão tem uma grande influência na formação pessoal e
social das crianças e dos jovens. Funciona como um estímulo
que condiciona os comportamentos, positiva ou
negativamente.A televisão difunde programas educativos
edificantes, tais como o ZigZag, os documentários sobre
Historia, Ciências, informação sobre a atualidade, divulgação
de novos produtos…Todavia, a televisão exerce também uma
influência negativa, ao exibir modelos, cujas características são
inatingíveis pelas crianças e jovens em geral. As suas
qualidades físicas são amplificadas, os defeitos
esbatidos,criando-se a imagem do herói / heroína perfeitos.
 Esta construção produz sentimentos de
insatisfação do eu e de menosprezo pelo outro.
A violência é outro aspecto negativo da
televisão, em geral. As crianças/jovens tendem
a imitar os comportamentos violentos dos
heróis, o que pode colocarem risco a vida dos
mesmos. O mesmo acontece com o
visionamento de cenas de sexo. As crianças
formam uma imagem destorcida da sua
sexualidade,potenciando a pratica precoce de
sexo e suscitando distúrbios afetivos.
Tipologia Explicativa

 A explicação utiliza e sistematiza


informações já existentes e possibilita ao
leitor compreender melhor tais informações,
a partir de uma investigação.
 Veja o exemplo: Sabe-se que a gordura
trans causa prejuízos à saúde. O que é
gordura trans?
 Segundo Vilela e Koch, a organização do
texto explicativo nasce da pergunta que se
põe a um determinado problema: qual é o
problema? Como e por que surgiu o
problema.
 Questiona-se sobre o que é obscuro; depois
vem a explicação e, em seguida a
compreensão.
Tipologia Injuntiva

 A injunção, segundo Travaglia, tem por


finalidade incitar à realização de uma
situação, requerendo-a ou desejando-a,
ensinando, ou não, como realizá-la.
 Constitui-se sobretudo no discurso do fazer
e do acontecer. Para o autor, na injunção, a
informação se refere a algo a ser feito ou a
como deve ser feito. Cabe ao interlocutor
fazer aquilo que se solicita ou se determina.
 A tipologia injuntiva está presente em
gêneros como as receitas, os manuais e as
instruções de uso e montagem, os textos de
orientação e os textos doutinários
Exemplo:
.

 Minhas receitas preferidas. Bolo de Banana.


Caramelize uma forma com açúcar, corte 10
bananas no sentido do comprimento,
coloque-as na forma, bata 4 ovos com uma
xícara de leite, duas de farinha de trigo e
uma colher de fermento. Despeje a massa na
forma, polvilhe (a gosto) com canela e açúcar
e leve ao forno pré-aquecido em 180ºC. Deixe

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