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Transtorno Conversivo

Paciente apoiada por


Babinski, durante aula
prática de Charcot
Caso
• Uma jovem chega ao pronto-socorro desacordada,
trazida pelo namorado numa cadeira de rodas. Um
cirurgião faz o primeiro atendimento e, após um exame
rápido e algumas perguntas, logo passa o caso a um
residente da clínica médica, dizendo: ‘tem uma moça
ali, em Glasgow 15 (pontuação máxima para o nível de
consciência), que eu acho que é pra vocês, deve ser
piti”.
• O médico prescreve, então, um diazepam via oral. Em
cerca de meia hora ela se recupera totalmente e sai
andando em bom estado geral. A recepcionista do PS
comenta com o residente: ‘ficou boa rápido a moça,
não é?’ (com certo riso sarcástico).
“Piti”
• O termo “piti” vem de “pitiatismo”, designado
por Joseph Babinski (1857-1932) como
distúrbios secundários da histeria
rigorosamente subordinados aos ditos
primários. De acordo com Babinski, o sujeito
então é capaz de provocar um exagero nos
sintomas através da sugestão.
“Freud e as Neuroses”
• A investigação da etiologia das neuroses por
Freud revelou a capacidade que nossa mente tem
para produzir sintomas físicos em nosso corpo.
• O então jovem médico observou que os sintomas
somáticos das pacientes histéricas − como
parestesias, formigamentos, visão turva e
vertigem, entre outros − poderiam surgir a partir
de um mecanismo psíquico que chamou de
conversão, processo no qual uma ideia
incompatível com os valores do indivíduo seria
recalcada por meio de um mecanismo de defesa
operado inconscientemente.
CLASSIFICAÇÃO NA CID 10
F44 - Transtornos dissociativos [e de conversão]

• Os transtornos dissociativos e os de conversão se


caracterizam por uma perda parcial ou completa
das funções normais de integração das
lembranças, da consciência, da identidade e das
sensações imediatas, e do controle dos
movimentos corporais. Os diferentes tipos de
transtornos dissociativos tendem a desaparecer
após algumas semanas ou meses, em particular
quando sua ocorrência se associou a um
acontecimento traumático.
CLASSIFICAÇÃO NO DSM-5
Transtorno de Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados

Transtorno Conversivo
(Transtorno de Sintomas Neurológicos Funcionais)
Critérios Diagnósticos
A. Um ou mais sintomas de função motora ou sensorial alterada.
B. Achados físicos evidenciam incompatibilidade entre o sintoma e
as condições médicas ou neurológicas encontradas.
C. O sintoma ou déficit não é mais bem explicado por outro
transtorno mental ou médico.
D. O sintoma ou déficit causa sofrimento clinicamente significativo
ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras
áreas importantes da vida do indivíduo ou requer avaliação médica
Desenvolvimento e Curso
• O transtorno pode se manifestar em qualquer
momento da vida. O surgimento de ataques não
epiléticos atinge seu pico na terceira década de vida, e
sintomas motores têm seu pico de início
na quarta década.
• Os sintomas podem ser transitórios ou persistentes.
• O prognóstico pode ser melhor em crianças pequenas
do que em adolescentes e adultos.
• O transtorno conversivo é 2 a 3 vezes mais comum em
pessoas do sexo feminino
Fatores de Risco e Prognóstico
• Temperamentais. Traços de personalidade mal-adaptativa
estão comumente associados ao transtorno conversivo.
• Ambientais. Pode haver história de abuso e negligência na
infância. Eventos estressantes de vida estão com frequência,
mas nem sempre, presentes.
• Genéticos e fisiológicos. A presença de doença neurológica
que cause sintomas similares é um fator de risco (p. ex.,
convulsões não epiléticas são mais comuns em pacientes que
também têm epilepsia).
• Modificadores do curso. A duração breve dos sintomas e a
aceitação do diagnóstico são fatores prognósticos positivos.
Traços de personalidade mal-adaptativa, a presença de
doença física comórbida e a obtenção de benefícios com a
incapacidade podem ser fatores prognósticos negativos.
Diagnóstico Diferencial
• Doença neurológica. O principal diagnóstico
diferencial é uma doença neurológica que possa
explicar melhor os sintomas. Após uma avaliação
neurológica completa, raramente será encontrada
uma causa neurológica patológica inesperada
durante o acompanhamento. Entretanto,
pode ser preciso reavaliar o paciente caso os
sintomas pareçam estar progredindo. O transtorno
conversivo pode coexistir com doença neurológica.
Avaliação do paciente
• Em um contexto de emergência, muitas vezes a equipe de
atendimento pré-hospitalar não tem condições de realizar um
diagnóstico diferencial entre
essas situações e doenças orgânicas.

• Por isso, o paciente costuma ser encaminhado à emergência


com hipóteses diagnósticas de acidente vascular cerebral
(AVC) ou outras doenças neurológicas graves. Após avaliação e
descarte de condições desse tipo, geralmente é cogitada uma
causa psiquiátrica para os sintomas.

• A avaliação pode ser bastante difícil, especialmente naqueles


indivíduos que recusam com convicção a possibilidade de
uma origem emocional para seus sintomas e que não aceitam
sequer uma avaliação psiquiátrica.
Avaliação do paciente
• A atitude do paciente é classicamente descrita como la
belle indifférence, ou seja, há relativo distanciamento da
preocupação que tais sintomas despertariam na maioria dos
indivíduos. Na avaliação do paciente, é preciso atentar para a
possível coocorrência de doenças médicas gerais com
transtornos conversivos.
Manejo
• A primeira medida no manejo de pacientes com transtornos
conversivos é explicar-lhes, de forma clara e coerente, a natureza
psicogênica de seus sintomas, deixando claro que ele/ela não está
“inventando um sintoma” ou produzindo-o voluntariamente. Para
muitos, o apoio e o reasseguramento são suficientes para a
resolução do quadro.
• Em geral, exames normais favorecem a aceitação do diagnóstico e
a ideia de uma origem emocional para os sintomas.
• Existem poucos tratamentos com base em evidências para esses
indivíduos.
• Psicoterapia de apoio ou cognitivo-comportamental pode auxiliar
no manejo do estresse e de sintomas depressivos e de ansiedade.
• Antidepressivos e ansiolíticos são úteis no manejo sintomático.
• A hipnose pode ser utilizada no contexto da psicoterapia.
• Fisioterapia e terapia ocupacional são úteis para manter a função
das partes do corpo que foram afetadas enquanto o paciente se
recupera.

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