O documento resume a análise sociológica de Peter Berger sobre a religião e a construção social da realidade. Berger argumenta que a sociedade é construída pelo homem através de um processo dialético de exteriorização, objetivação e interiorização, no qual a religião desempenha um papel fundamental em legitimar a ordem social e fornecer sentido à realidade.
O documento resume a análise sociológica de Peter Berger sobre a religião e a construção social da realidade. Berger argumenta que a sociedade é construída pelo homem através de um processo dialético de exteriorização, objetivação e interiorização, no qual a religião desempenha um papel fundamental em legitimar a ordem social e fornecer sentido à realidade.
O documento resume a análise sociológica de Peter Berger sobre a religião e a construção social da realidade. Berger argumenta que a sociedade é construída pelo homem através de um processo dialético de exteriorização, objetivação e interiorização, no qual a religião desempenha um papel fundamental em legitimar a ordem social e fornecer sentido à realidade.
a obra destaca o processo dialético entre homem e sociedade, bem como o papel da religião como legitimadora da ordem social. Peter L. Berger nasceu em 17 de março de 1929, em Trieste, Itália, foi criado em Viena e emigrou para os Estados Unidos pouco depois da Segunda Guerra Mundial.
Berger é um teólogo e sociólogo norte-americano muito
conhecido por seu trabalho A construção social da realidade, escrito em 1966, em coautoria com Thomas Luckmann. Desde 1981 é professor de Sociologia e Teologia na Universidade de Boston, e desde 1985 é diretor do Instituto para o Estudo da Cultura Econômica, que ele transformou, há alguns anos, no Instituto sobre Cultura, Religião e Assuntos Mundiais. OPÇÃO DIALÉTICA
A religião ocupa um lugar destacado no
grande empreendimento que é a sociedade humana. A sociedade é um produto do homem. Pode-se também afirmar, no entanto, que o homem é um produto da sociedade. A sociedade existia antes que o indivíduo nascesse, e continuará a existir após a sua morte. O homem não pode existir independentemente da sociedade . RELIGIÃO COMO SENTIDO DA REALIDADE
Peter Berger desenvolve uma profunda reflexão sobre a
importância da religião como fornecedora de sentido da realidade. A realidade na concepção do autor é a representação do universo social. A sociedade é um construto humano, todavia, o homem é uma consequência dessa mesma sociedade, ou seja, é uma criatura da sua própria criação. Berger denomina esse processo como uma dialética dos fenômenos sociais. O homem, ao contrário do outros animais nasce inacabado. O seu acabamento somente ocorre em interação com o ambiente social. Nesse sentido, o homem é um mundo em construção, pois na medida em que se constrói como sujeito, constrói também a própria realidade . O PROCESSO DIALÉTICO
O processo dialético fundamental da
sociedade consiste em três momentos: a exteriorização - a contínua efusão do ser humano sobre o mundo; a objetivação - conquista por parte dos produtos dessa atividade; e, a interiorização - reapropriação dessa mesma realidade por parte dos homens, transformando-a novamente de estruturas do mundo objetivo em estruturas da consciência subjetiva. EXTERIORIZAÇÃO 1º Passo
Segundo Berger, a exteriorização é algo
imanente ao ser humano, que tem em si uma necessidade de se sociabilizar, estabelecendo uma relação com o mundo, produzindo a si próprio. Fica claro que este é um processo contínuo no homem: criar elementos que totalizarão na cultura que abarcará tanto produtos materiais como os não materiais. Por exemplo, a linguagem. OBJETIVAÇÃO 2º Passo
Um próximo momento consiste na
objetivação, que vejo como sendo uma legitimação do que é produzido pelo homem. Essa transformação dos produtos do homem em um mundo que não só deriva do homem como ainda passa a confrontar-se com ele como uma facticidade que lhe é exterior, está presente no conceito de objetivação. INTERIORIZAÇÃO 3º Passo
Finalmente a interiorização, que consiste
na assimilação de valores já anteriormente criados pelo homem, fazendo parte agora de sua consciência, não só pessoal como coletiva da sociedade. Esta interiorização é feita de forma não passiva, a socialização é a apropriação destes elementos. INTERAÇÃO DOS MUNDOS
O ser humano não pode ser concebido como
algo isolado em si mesmo, numa esfera fechada de interioridade, partindo em seguida para se exprimir no mundo que o rodeia. Isto é , o processo biológico de “ torna-se homem” ocorre num tempo em que o infante humano se encontra em interação com um ambiente exterior ao seu organismo, e que inclui o mundo físico e o mundo humano da criança. NOMOS – ORDEM SIGNIFICATIVA
Esta sociedade, que vimos ser a exteriorização das
atividades dos indivíduos, é o mundo construído em cima de uma ordem significativa, ou nomos. Podendo ser nomo objetivo, como acorre com a linguagem que é interiorizada nas atividades do individuo na sociedade, ou nomo subjetivo que seria a estrutura da consciência do indivíduo.
Berger afirma “viver num mundo social é viver uma
vida ordenada e significativa”, ou seja, estar fora desta ordem é viver na incoerência, na loucura, é viver na anomia, no mundo sem sentido, no caos . O PROFANO E O SAGRADO
Porém para legitimação do nomos, desta ordem
social, é necessária a existência desta marginalidade, a anomia, para que se afirme a ordem . É neste momento que a religião aparece nesta discussão. Ela é o cosmo sagrado, uma legitimação da ordem. O pensamento religioso é interiorizado para que tenhamos uma ordem que nos norteie. A falta deste sagrado é o profano, são fenômenos que fogem da qualidade do sagrado como a rotina da vida. O que irá confrontar o sagrado é o caos, seu terrível contrário. A religião é a maior auto- exteriorização do homem, é a efusão de seus sentidos sobre a realidade. CULTURA AFETADA PELO BIOLÓGICO
O mundo do homem é imperfeitamente
programado pela sua própria constituição. É um mundo aberto. Ou seja, um mundo que deve ser modelado pela própria atividade do homem. O homem precisa fazer um mundo para si. A atividade que o homem desenvolve em construir um mundo não é, portanto, um fenômeno biológico estranho, e sim a consequência direta da constituição biológica do homem. PRODUZ O MUNDO, PRODUZ A SI MESMO
O homem precisa estabelecer continuamente
uma relação com ele. De um modo curioso, o homem está “fora de equilíbrio” consigo mesmo. Não pode descansar em si mesmo, e para entrar em harmonia consigo mesmo precisa exprimir-se continuamente em atividade. O mesmo processo que constrói o seu mundo também dá o “remate” ao seu próprio ser. Em outras palavras, o homem não só produz um mundo como também se produz a si mesmo. “SEGUNDA NATUREZA”
A cultura, embora se torne para o homem uma
“segunda natureza”, permanece algo de muito diferente na natureza, justamente por ser o produto da própria atividade do homem. Suas implicações de longo alcance nos ocuparão em detalhe considerável um pouco mais adiante. A cultura consiste na totalidade dos produtos do homem. O homem produz instrumentos de toda espécie imaginável, e por meio deles modifica o seu ambiente físico e verga a natureza à sua vontade. Há boas razões para pensar que a produção de uma cultura não –material foi sempre de par com a atividade do homem de modificar fisicamente o seu ambiente. INTERAÇÃO
Nesse processo de construção de si, cria
consequentemente todo o arcabouço de significados da cultura. Por conseguinte, a cultura é a totalidade das construções humanas. Apesar da complexidade e força da cultura na significação da realidade para o homem, ela se constitui como uma estrutura precária, pois suas bases já nascem predestinadas à mudança. O homo-sapiens é um animal social, e somente nesse engajamento com a sociedade é possível produzir significados, que por sua vez esses significados somente se expressam com inteligibilidade na própria sociedade, que necessariamente dentro dessa lógica dialética, encarrega-se de transformá-los. CULTURA E SOCIEDADE
A relação da cultura com a sociedade se
estabelece a partir de uma dinâmica conflitiva. Nessa dialética social os significados e sentidos são estabelecidos por indivíduos em construção, que nesse processo de acabamento constituem as suas teses. Porém, essas teses são inseridas num contexto de significados já estabelecidos, fator este de tensão e rechaçamento, o que constituiria a sua antítese. Como a mudança é a lógica dessa estrutura, por um mecanismo de assimilação surgem novos elementos culturais na sociedade sintetizados nessa fusão de significados. AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
No processo histórico de construção do lócus humano
que é a sociedade, o autor se refere à construção de grandes hipóstases sociais (família, economia, estado), elevadas a condição de instituições. Essas instituições são imbuídas de legitimidade para referenciar e exercer poder sobre o indivíduo para que ele cumpra os seus desígnios como sujeito social. Esses elementos coercitivos são necessários para conter a resistência de alguns indivíduos em ajustar-se a realidade objetiva do meio social. A transgressão as estas normas suscitam penalidades, pois o descumprimento desses padrões de pertencimento pode direcionar a sociedade para o caos, para a anomia. “O indivíduo é socializado para ser uma determinada pessoa e habitar um determinado mundo” (p.29) CULTURA COMO REALIDADE OBJETIVA
Uma vez o mundo produzido, ele subsiste fora da
subjetividade do indivíduo, tornando -se uma realidade objetiva. A cultura, por exemplo, tem caráter objetivo, pois pode ser apreendida, apreciada, experimentada. Esse patrimônio social que funda e estabelece a sociedade, precisa de uma proteção intensa, pois dele depende a própria existência do mundo. Berger reflete que o nomos socialmente estabelecido seria “um escudo contra o terror”, a manutenção e preservação da exteriorização de sentido que o homem determina à realidade. RELIGIÃO COMO CONDIÇÃO
Nessa linha de reflexão da produção de sentido
como atividade estruturante da realidade, Peter Berger apresenta a religião como condição sine qua non na construção do cosmos, ou seja, do próprio mundo. Pautado nessa perspectiva a religião seria a possibilidade máxima que o homem construiu para significar não apenas a sua realidade, mas o próprio universo. Assim, a manutenção da realidade social sustentada em frágeis alicerces empíricos, adquiriu com o advento da religião uma legitimidade suprema, um status ontológico. “OS HOMENS FAZEM SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, MAS NÃO A FAZEM SOB CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA ESCOLHA E SIM SOB AQUELAS COM QUE SE Karl Marx DEFRONTAM DIRETAMENTE, LEGADAS E TRANSMITIDAS PELO PASSADO...” RELIGIÃO E ORDEM SOCIAL
Assim como a linguagem, a religião também é uma
construção nomica; ordenadora das atividades humanas e sociais. Ela estabelece um cosmo sagrado, isto é, de poder misterioso, algo fora do alcance humano. Cria uma realidade dotada de significado, distinta do homem, mas que dá ordem à sua vida. Sob o dossel sagrado da religião, o homem encontra proteção contra o caos e contra o terror da anomia. A religião tem o poder de transformar as ações e construções humanas em algo que transcende a própria humanidade. A legitimidade dessas ações se fundamenta na sacralidade atribuída à realidade pela religião. A criação do homem, que nomiza, dá sentido e baliza a estruturas da sociedade, tornam -se sagradas, universais, absolutas. RELIGIÃO E ALIENAÇÃO
O autor define o extraordinário poder de nomização da
religião exatamente pela sua poderosa capacidade alienante. Seu poder de simbolizar e significar a realidade são tão surpreendentes que até mesmo a morte, talvez a maior ameaça contra a nomia social, a religião resolve esta questão estabelecendo uma vida espiritual, pós-morte, que afasta o homem da extinção. Assim, a religião possibilita ao homem uma capacidade de se relacionar satisfatoriamente com o seu suposto fim, o que segundo o pressuposto religioso seria um processo transcendente, a continuidade da vida num plano superior. Para Berger, esta falsa consciência instituída pela religião significa talvez a principal fonte de sentido da realidade humana. MANUTENÇÃO DA ORDEM
O autor mostra que toda instituição possui fissuras e para que
se mantenha a ordem social, o processo de legitimação vai auxiliar nesta manutenção . Esta legitimação é o saber socialmente objetivado – torna o discurso social real e são as respostas para os questionamentos dos dispositivos institucionais. São respostas que ao longo da vida social devem ser repetidas para sempre serem lembradas. A religião é o instrumento histórico mais amplo no processo de legitimação, serão os discursos legitimadores que auxiliarão na manutenção do mundo. Para que o nomos, a ordem, possa perdurar nas gerações é necessário que haja fórmulas legitimadoras para as novas questões que surgirão. A LEGITIMAÇÃO
As legitimações podem ter níveis de discurso,
como o pré-teórico, que é menos elaborado; há o incipientemente teórico, que seriam os saberes populares, como os ditos; e, os explicitamente teóricos que são de caráter científico e estão ancoradas nos paradigmas das ciências estabelecidas. A legitimação surtirá efeito quando internalizada no nosso subjetivo, colocada em nossos valores. Para tanto a sociedade deve estar estruturada para que os discursos legitimadores façam sentido. QUESTÃO DE FUNDO
A análise da sociologia da religião é abordada
em “Dossel Sagrado” através de um discurso dialético bastante interessante sobre a correlação entre homem – sociedade e os processos legitimadores. Instigadora a importância dada à religião como legitimadora da ordem através do tempo. Mas fica a dúvida: a sociedade se utilizada da religião para buscar uma ordem ou a religião é um dos pilares para a legitimação da sociedade? RELIGIÃO E GUERRA
Para explicar o estado de anomia ao longo
dos séculos, diversos analistas apontaram o dedo acusador para a religião. As guerras seriam religiosas? A religião parece ser muito mais a circunstância do que o motivo dos conflitos em questão. O que está em jogo, na verdade, são os interesses ideológicos de sempre, sendo a religião apenas uma máscara legitimadora para os discursos daqueles que detêm o poder político. BIBLIOGRAF IA
BERGER, Peter L. O dossel
sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985.