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A ARTE DA POLÍTICA

Fernando Henrique
Cardoso
Fortuna e alguma virtù
• Aos 37 anos ele foi professor de Ciência Política da USP.
• Em 1964 ele saiu do Brasil por conta do regime autoritário.
• Em 1969 ajudou a fundar em São Paulo o Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
• Em 1974 ajudou o MDB a elaborar seu programa para a
campanha eleitoral.
• 1977 FHC foi lançado candidato ao Senado pelo MDB-SP.
• 15 de novembro de 1978 são realizadas as eleições e ele fica
em segundo lugar na legenda do MDB, que pelas regras,
fica de suplente de Montoro.
• FHC foi presidente do partido em SP quando passou de
MDB para PMDB.
• Em 1983 assume a cadeira de Montoro, que
se elegeu governador (1982), no Senado.
• Antes da campanha de 1982, FHC lecionava
nos EUA.
• Em 1985, com a volta das eleições diretas,
concorreu à Prefeitura de SP, mas perdeu
para o ex-presidente Jânio Quadros (PTB).
• Alguns boatos podem ter contribuído para
derrota de FHC.
• Hélio Jaguaribe, em 1986, pediu para que
FHC concorresse à Câmara dos Deputados.
• Em 1992, com o impeachment de Collor,
Itamar Franco assume o governo, dispensa
os ministros militares e convida FHC para
ser ministro das Relações Exteriores.
• Fez campanha pela recuperação do
prestígio internacional do Brasil.
• Em maio 1993 Itamar faz de FHC ministro
da Fazenda.
Aprendendo em casa o enredo da
política
• Em 1975 foi preso pelos órgão de segurança por
haver escrito e falado sobre o Brasil e contra o
autoritarismo militar.
• FHC esteve entre os fundadores da Associação dos
Docentes da USP (Adusp).
• Foi eleito representante dos ex-alunos junto ao
Conselho Universitário, em abril de 1957,
participando da campanha para modernizar a
instituição.
• Em 1962, ajudou a criar a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de SP (Fapesp).
A democracia e o contexto social
• Nos anos 1960 e 1970 escreveu para combater
o militarismo e a ditadura.
• Na década de 50 participou da Campanha pela
Escola Pública.
• Integrou o conselho diretor da Revista
Brasiliense e colaborou com a revista
Fundamentos.
• Escreveu teses de mestrado e doutorado sobre
a sociedade escravocrata no Sul do Brasil.
• “A caracterização da sociedade, dos regimes
políticos e das qualidades requeridas para o
exercício da liderança sofreram
modificações profundas com o advento das
sociedades de massa e com a atuação dos
modernos meios de comunicação.”
• “O instrumento para obter a aprovação
democrática é a palavra, sempre ao lado da
imagem.”
• “A palavra, nos dias de hoje, é a
‘mensagem’ e o meio de sua difusão é
eletrônico e não mais o púlpito ou a
tribuna.”
O Plano Real
• 19 de maio de 1993 foi nomeado Ministro da
Fazenda.

• “minha obsessão naquele momento era buscar


cérebros, pessoas que me ajudassem a pensar.”

• Em 23 de maio de 1993 ele diz: “como chanceler


eu viajara muito mundo a fora tentando
convencer que havia crescimento em nossa
economia. Mas a inflação toldava o cenário. O
motor de nossa organização, do
empobrecimento crescente e da corrupção teria
de ser eliminado.”
• O começo da organização da equipe foi difícil.
• A inflação no Brasil era de 3mil % ao ano.
• Governava-se às cegas e na desordem: “ alguns
congressistas poderosos, alguns lobistas muito
bem relacionados, conseguiam ‘agilizar’ a
liberação de recursos contingenciados, cuja
liberação depende do decreto do presidente.”
• Várias foram as tentativas para deter a inflação
nos governos Sarney ( 1985-1990) e Collor
(1990-1992), os quais deixaram um travo
amargo nos economistas e o povo apavorado.
• O único plano do qual o público e os políticos
tinham saudade era o Cruzado.
• O Cruzado terminou em moratória e na volta da
inflação, no entanto, legara a boa lembrança do
gosto de expansão do consumo e de melhores
salários durante um certo período.
• Quem realmente pagava o custo era a massa de
assalariados e os pobres que não tinham conta
remunerada em banco e nem poupança para ser
resguardada pela correção monetária, instituída
no regime militar pelo governo de Marechal
Humberto Castello Branco e parte integrante da
vida do país desde então. Não apenas os bancos,
mas também o governo ganhava com a inflação.
Quatro frentes de batalha e uma
arma: a persuasão
• A primeira frente de batalha era ajustar o
orçamento do ano de 1993.
• A sociedade precisava acreditar que o governo
estava de fato comprometido com o equilíbrio das
contas públicas.
• A terceira frente consistiu em defender a
necessidade de caminhar no processo de
privatização de empresas estatais.
• A quarta frente dizia respeito a renegociação da
dívida externa e ao retorno do Brasil ao mercado
financeiro internacional, com a suspensão da
monatória.
A dura tarefa de pôr a casa em ordem
• Dia 13 de junho, 3 semanas, após ter assumido a
Fazenda apresentou o Plano de Ação Imediata
(PAI) .
• O PAI era um programa de ajuste fiscal, uma
visão estratégica sobre os passos necessários à
retomada do crescimento.
• No dia 13 de julho obteve a aprovação de uma
nova lei orçamentária, com o corte requerido de 6
bilhões de dólares.
• “Ajudou-me, nesta como em outras ocasiões, ter
sido senador da República e líder do Senado tanto
do PMDB quanto do PSDB.”
• Desenhado por Edmar Bacha com a
colaboração do economista Raul Velloso,
economista e funcionário de carreira da área
econômica Daniel de Oliveira foi elaborado o
Fundo Social de Emergência (FSE).
• Houve críticas à designação Fundo “Social” de
Emergência, quando seu objetivo na verdade
nada teria de social.
• 1º de julho de 1994 foi lançada a nova moeda,
quando FHC já estava afastado do ministério
para ser candidato a presidência da República.
A candidatura ajudou a aprovar o
FSE
• Em abril, depois que o PSDB visitou FHC no
Ministério da Fazenda ele aceitou formalmente ser
candidato.
• 19 de janeiro de 1994 o Congresso começou a
aprovar, por etapas e com alterações, as principais
medidas do Plano Real.
• A emenda constitucional sobre FSE ocupava o
último lugar na pauta do Congresso. Foi preciso
que o deputado Luiz Carlos Santos (PMDB- SP),
líder do governo e com o a ajuda do líder do PFL,
Luís Eduardo Magalhães, lançasse mão de uma
manobra regimental pedindo preferência para
O triunfo do Real e o papel de
Ricupero
• FHC exonerou-se, no dia 2 de abril, do Ministério da
Fazenda para ser candidato à Presidência da República.
Mas voltou ao Senado e continuou apoiando as lutas do
governo Itamar para consolidar o Plano.
• Rubens Ricupero, diplomata com excelentes
conhecimentos de economia, o qual foi embaixador nos
EUA (1991-1992), ficou no lugar de FHC no Ministério da
Fazenda.
• “Ricupero manteve toda equipe econômica e se
transformou em um apóstolo do Real, ganhou a confiança
da sociedade e teve papel decisivo na implementação do
programa. Até que uma ‘armadilha’ o impediu de
continuar.”
• Mesmo fora do governo FHC interferiu na
implementação do programa.
A campanha eleitoral
• Apoiado pelo PSDB e o faro político de outros
partidos, a ação da mídia e do empresariado
tiveram papel importante na aceitação do
Programa e na candidatura de FHC.
• No dia 11 de julho de 1994, no sertão da Bahia
FHC percebeu que ganharia as eleições. Pois, o
povo com notas de um real na mão pediram que
ele autografasse.
• FHC entregou-se de corpo e alma ao objetivo de
“convencer” as pessoas, de ganhar suas mentes e
seus corações para suas ideias e projetos.
No Planalto
• “Solidão do Poder” era assim que FHC se
sentia, pois um partido ainda pequeno e
inexperiente, que elegeu menos de 20% da
Câmara de deputados. Porém, FHC dizia
que fez “cursinho” de presidente quando
estava no Ministério da Fazenda e assistiu
ao desmanche do Congresso com a CPI dos
Anões do Orçamento. Com a colaboração
dos seus amigos José Serra e Sérgio Motta.
A verdadeira história da reeleição
• Pelo temor da eleição de Lula.
• A aprovação da emenda constitucional
permitiu a reeleição.
• No início de março houve uma quase
rebelião no Senado e na Câmara.
Começaram fortes rumores sobre uma CPI.
“Me vi obrigado a mobilizar congressistas
para impedir a constituição da CPI que
além de ser uma provocação ao governo,
punha em risco a estabilidade do sistema
financeiro.”
• O IBOPE registrou o estado de animo da
população, medido a 12 de dezembro de
1996: a tese da reeleição tinha o apoio de
63% dos entrevistados.

• A emenda da reeleição terminaria sendo


aprovada na Câmara, na data em que FHC
queria, 28 de janeiro de 1997, por uma
expressiva maioria de votos.
Reforma do Estado
• Durante seus oito anos de mandato, o gasto
público se expandiu e empreendeu grande
esforço para a reconstrução do Estado e da
Administração Pública.
• Em 1995 houve o plano diretor da Reforma do
aparelho do Estado, seguida por um projeto de
emenda constitucional enviada ao Congresso.
• Pregava uma clara busca de qualificação e
valorização do pessoal.
• A administração deveria ser menos “estatal” no
p burocrática, e cada vez
sentido de exclusivamente
mais pública.
• De 1999 a 2003 foram criados programas de
microcréditos criados por bancos públicos
federais, como o banco do Nordeste e o BNDES,
na ação do SEBRAE em apoio a arranjos
produtivos locais e no próprio Plano Plurianual
de Investimentos (PPA).
• Criação de novas instituições e órgãos públicos.
• Programa Nacional de Desestatização começou
com a lei aprovada pelo Congresso em 1990, sob
cuja égide se privatizou a Usiminas, em 1991.
Agências reguladoras e
privatizações
• A mais significativa privatização no setor
industrial foi a da Vale do Rio Doce:
controlada por capitais financeiros, paga hoje
mais impostos ao Tesouro do que rendiam suas
ações quando sob controle governamental.
• Durante os dois mandatos, as privatizações
geraram receitas de 78,6 bilhões de dólares,
somados a outros 14,8 bilhões correspondentes
às transferências de dívidas das empresas
privatizadas, em um total de 93,4 bilhões de
dólares, que abateram dívidas do governo.
• Aspecto importante da privatização foi a redução do
número de postos nas empresas estatais, cobiçados na
partilha política dos cargos, que contribuiu para reduzir
a corrupção no país.
• Imunizar de ingerências políticas áreas tão importantes
da economia foi uma das razões que levaram à criação
das agências reguladoras.
• Áreas de infra-estrutura: ANP, Anatel, Aneel.
• Área de transporte: ANTT e Antaq.
• Área cultural: Ancine.
• Área da saúde: Anvisa e ANS
• Não são as agências que definem o teor dos contratos, as
metas e as condições para o desempenho dos serviços.
Essas continuam a ser atribuições dos ministros e, em
última instância, do presidente e do Congresso, que
aprova, modifica ou derruba os projetos de lei
encaminhados pelo executivo.
Industrialização e Competitividade
• A abertura da economia produziu um tremor de terra
em alguns setores. “É assim que o sistema competitivo
cresce: destrói, reconstrói e, se houver sorte e condições
favoráveis, continua crescendo.”
• De início, alguns segmentos industriais sofreram
bastante, não só por causa da competição com os
produtos importados, mas porque as taxas de juros, as
dificuldades para a obtenção de empréstimos de longo
prazo e a modernização do parque produtivo, exigindo
investimentos crescentes, os afetaram fortemente.
• Houve contato direto com os presidentes do BNDES
para incentivá-los a reestruturarem os setores
industriais fundamentais e assegurar a presença de
grupos nacionais.
• as indústrias tradicionais, prejudicadas pela
abertura, pelos juros elevados e pela apreciação do
real, se beneficiaram, principalmente depois de 1999,
do ajuste do câmbio.
• Reconstituiu a lavoura algodoeira, que tinha sido
muito prejudicada, com recursos emprestados pelo
BNDES.
• De 2001 em diante, as exportações de têxteis deram
vida nova ao setor.
• No setor automotivo, a intervenção do governo foi
decisiva. Em 1995, promoveu uma legislação criando
incentivos para baratear o custo do investimento,
reduzindo o imposto de importação de bens de capital
e o custo da produção, baixando impostos sobre a
importação de componentes dos veículos e sobre as
matérias primas.
• No setor siderúrgico, entre 1994 e 2001 o BNDES destinou
14 bilhões de reais para apoiar o setor. Os recursos visavam
o aumento de produtividade e eficiência, bem como a
modernização de sua estrutura de controle.
• A expansão da rede de telefonia fixa e móvel, com
as privatizações, deu um salto de 800 mil celulares
em 1995 para mais de 80 milhões em 2005. Na
expansão da telefonia fixa, em 1994 havia 12
milhões de linhas que passaram para mais de 40
milhões em 2005.
• Na área de petróleo e gás, além do que o Tesouro
arrecadou com a concessão de novas áreas de
exploração, houve explicitamente o propósito de
manter a competitividade, aumentando a
concorrência e a produtividade, além de
assegurar participação crescente dos produtores
nacionais de equipamentos na expansão da
indústria.
Política Externa: o papel do

presidente
Na política externa, a atitude progressista requer ações que
quebrem as barreiras e impedimentos internacionais acaso
existentes, para favorecer o desenvolvimento econômico-
social e a democratização de cada país.
• Nos dias de hoje, graças às facilidades de comunicação e de
deslocamento de pessoas, a diplomacia dos países inclui
uma dimensão presidencial. O número de reuniões de
cúpula é grande, e nelas a presença presidencial é
obrigatória e os interesses do país levam a reuniões
bilaterais frequentes.
• Embora seja importante para a diplomacia a preservação
de uma linha de conduta coerente, é essencial que a política
externa sinta os ventos do mundo. Não para curvar-se a
eles, mas para utilizá-los na direção do interesse nacional e
poder assim projetá-lo com algum impacto num mundo em
acelerada mudança.

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