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CAMINHOS PARA A

INTEGRALIDADE DO
CUIDADO:
SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO
BÁSICA

Brasília, Janeiro de 2014


Finalidades do CAMINHOS DO CUIDADO

- Quebrar a logica do “especialismo” no cuidado em saúde mental;

- Qualificar o debate sobre atenção em saúde junto ao território


fortalecendo o debate e “empoderando” a população sobre as mudanças
de paradigma na atenção em Saúde Mental;

- Promover convergência da atenção envolvendo diversas áreas e setores


no território;

- Promover a ampliação da RAPS em seus propósitos e comprometimento


dos ACS’s na lógica da Atenção Psicossocial.

- Identificar ações de Saúde Mental nas praticas cotidianas da Atenção


Básica, fortalecendo e objetivando tais ações.
A Política Nacional de Saúde Mental
A POLITICA NACIONAL DE SAUDE MENTAL

Antes da Reforma Psiquiátrica Depois da Reforma


• Cuidado Centrado na internação • Criação de ampla rede de cuidado
em Hospital Psiquiátrico: em saúde:

– Isolamento; – Territorial;
– Normatização dos sujeitos; – Complexificação do objeto de
– Lógica da Instituição total; cuidado;
– Violação dos direitos – Ampliação das práticas e
humanos. saberes;
– Co-responsabilização pelo
cuidado.
Alguns Marcos da Reforma Psiquiátrica
• 1970:
 Inicia-se amplo processo de mobilização pela redemocratização do país;
 1978: criação do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental.

• 1980:
 CAPS Professor Luiz da Rocha Cerqueira- SP e Intervenção da Casa de Saúde Anchieta-
Santos/SP;
 1987-I Conferência Nacional de Saúde Mental e o posterior II Encontro Nacional dos
Trabalhadores em Saúde Mental- “Por uma Sociedade sem Manicômios”;
 1989- o deputado Paulo Delgado (PT-MG) apresentou o projeto de lei no 3.657/89.

• 2000:
 2001 – Lei 10.216 (06 de abril) – redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

• 2010:
 Portaria 4279, de 30 de dezembro de 2010- Estabelece diretrizes para a organização da
Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS);
 Decreto presidencial 7508, que regulamenta a LOS nº 8.080/ 1990, institui as regiões
de saúde e garante o cuidado em saúde mental nas RAS;
 Portaria 3.088, (23 DE DEZEMBRO DE 2011) Institui a Rede de Atenção Psicossocial
para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes
do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de saúde (SUS).
Coesão Social Como Norteadora do Cuidado
O grau de coesão social de uma comunidade pode servir como um medidor da saúde
da comunidade.

“Sociedades com baixo senso de coesão estão propensas a múltiplos


problemas dos quais o abuso de drogas e criminalidade podem ser apenas os sinais
mais visíveis.”

Ameaças a coesão social:


- Desigualdade social persistente;
- Migração;
- Transformações políticas e econômicas;
- A crescente cultura do excesso;
- Crescente individualismo e consumismo;
- Deslocamento dos valores tradicionais;
- Sociedades em conflito ou pós-conflito;
- Urbanização rápida;
- Quebra no respeito à Lei;
- Economia local das drogas.

Fonte: Informe 2011, Junta Internacional de Fiscalização Entorpecentes – JIFE (www.incb.org)


REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DIRETRIZES PARA PROMOVER A COESÃO

• Fortalecimento de Rede de saúde mental diversificada, integrada,


articulada, considerando as especificidades loco-regionais de base
comunitária, atuando na perspectiva territorial;

• Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde;

• Combate a estigmas e preconceitos favorecendo a inclusão social com


vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania;

• Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado


integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar;

• Atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas;


REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL:
DIRETRIZES PARA PROMOVER A COESÃO

• Participação dos usuários e de seus familiares no controle social;

• Organização dos serviços em rede de atenção à saúde, com


estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do
cuidado;

• Promoção de estratégias de educação permanente;

• Desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos;

• Desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com transtornos


mentais e com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras
drogas, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico
singular.
Perspectiva para Ações Intersetoriais

TRATAMENTO

TRABALHO MORADIA

GARANTIA DOS DIREITOS DE CIDADANIA PARA A EMANCIPAÇÃO


SOLIDÁRIA
Determinantes para a evolução dos transtornos mentais (Saraceno,
1999)

 Condições do ambiente (contexto)


 Funcionamento social do indivíduo
 Contexto familiar
 Densidade e homogeneidade da rede social

A atenção primária é lugar privilegiado para trabalhar estas questões


Organização da RAPS
Componentes da Rede de Atenção Psicossocial
• Unidade Básica de Saúde;
• Núcleo de Apoio a Saúde da Família;
Atenção Básica em Saúde
• Consultório na Rua;
• Centros de Convivência e Cultura.
Atenção Psicossocial • Centros de Atenção Psicossocial, nas suas diferentes
Estratégica modalidades,

• SAMU 192;
Atenção de Urgência e
• UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à
Emergência urgência/pronto socorro, Unidades Básicas de Saúde.

Atenção Residencial de • Unidade de Acolhimento;


Caráter Transitório • Serviço de Atenção em Regime Residencial CT´s.

Atenção Hospitalar • Leitos de saúde mental em Hospital Geral.

Estratégias de • Serviços Residenciais Terapêuticos;


Desinstitucionalização • Programa de Volta para Casa.

Estratégias de Reabilitação • Iniciativas de Geração de Trabalho e Renda;


Psicossocial • Fortalecimento do Protagonismo de Usuários e Familiares.
CONSTRUINDO O CUIDADO
&
COMPREENDENDO O SOFRIMENTO

(A PESSOA, O SOFRIMENTO E O CUIDADO)


A pessoa

• Correlações entre esferas (mundos):

- Vida passada
- Vida futura
- Vida familiar
- Mundo cultural
- Ser político
- Papéis sociais
- Trabalho
- Vida secreta
- Autoimagem
- Necessidade de automanutenção, auto
cuidado e de lazer...
O Sofrimento

• É sobre essa pessoa complexa que emergem os fenômenos


que denominamos de doença.

• Podemos entender a doença como sendo o surgimento de


uma nova dimensão. Irá influenciar todas outras esferas, de
acordo com as relações que se estabelecerem entre elas.

• O que é o Sofrimento: Vivência da ameaça de ruptura de


unidade/identidade da pessoa.

• Interdependência das pessoas, família, território, sociedade

Sofrimento - vivência
Doença – descrição
O Cuidado

• Atenção ao conjunto de esferas que compõem a pessoa (abordagem


integral) e suas correlações com a doença existente e /ou promotora de
doenças;

• Acolhimento – disponibilidade em receber e ofertar na relação de


cuidado - favorecimento do vínculo

• Da mesma forma, devemos identificar quais esferas ou relações propiciam


mais movimento, estabilidade e coesão ao conjunto.

O que é o cuidado:
Elaboração das estratégias de intervenção em algumas ou várias dessas
esferas.

Plano Terapêutico Singular- PTS


Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_34_saude_mental.pdf
Plano Terapêutico Singular

• É um plano de ação compartilhado composto por um


conjunto de intervenções que seguem uma
intencionalidade de cuidado integral à pessoa. Nesse
projeto, tratar doenças não é menos importante,
mas apenas uma das ações que visam ao cuidado
integral.
Trilhas do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica

• Observar e escutar o grupo familiar e a inserção da pessoa em


sofrimento neste contexto – conhecer a historia familiar;

• As famílias em maior dificuldade e com maior vulnerabilidade


devem ser atendidas prioritariamente. Sem discriminação de
patologias ou faixa etária.

• A responsabilidade pelo cuidado é das ESF e dos profissionais de


SM – os ACS são peças-chave na identificação dos casos e no
mapeamento das redes afetivas, sociais e familiares dos usuários

• Adotar a Redução de Danos como estratégia que permeia o cuidado


em saúde.
Trilhas do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica

 Em situações de intenso sofrimento psíquico, fragilidade dos


laços familiares e sociais, agudização da sintomatologia
psiquiátrica, dificuldade de manejo por parte da equipe
multiprofissional, a internação de curta permanência é um
recurso previsto, privilegiando os pontos da rede (leitos em
HG, emergências gerais, CAPS III, CAPS AD III).

 Há diversas formas de cuidado que os ACS e equipes da AB já


sabem e que podem ser usadas no cuidado em saúde mental
mas é preciso estar aberto a este cuidado

 A internação, sempre que necessária, será conduzida pelas


equipes de saúde mental em conjunto com as equipes da AB.
Trilhas do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica

Território: fundamento da organização da Atenção


Básica;

 Lugar onde as pessoas vivem e constituem suas


subjetividades- relações.

A Atenção Básica, por meio do desenvolvimento de


tecnologias leves e intervenções, pode possibilitar a
configuração/ desconfiguração/ reconfiguração dos
territórios individuais e coletivos
Saúde Mental na Atenção Primária:
o vínculo e o diálogo necessários

AB como campo potencial para a SM:


a) Acolhimento no território
b) O usuário é atendido onde está: atendimento da necessidade e
não só da demanda
c) Intervenção a partir do contexto familiar – família como parceira
no tratamento
d) Cuidado longitudinal
e) Potencialidades da rede sanitária e comunitária

Há de se deslocar o olhar da doença para o cuidado, para o alívio e a


ressignificação do sofrimento e para a potencialização de novos modos
individuais e grupais de estar no mundo
Pesquisa FIOCRUZ - 2013
O que é possível verificar e concluir a partir da pesquisa da
FIOCRUZ :

 Nas cenas de uso, 80% dos usuários são negros ou pardos;

 80% dos usuários não chegou ao ensino médio;

 Aproximadamente, 80% dos usuários frequentes são homens;

 20% das mulheres são ainda mais vulneráveis do que esses


homens, do ponto de vista social: das mulheres ouvidas, quase
metade relatou violência sexual e práticas de prostituição para
comprar droga ou se sustentar;

 Os usuários de crack/similares é de adultos jovens com idade


media de 30 anos;
Pesquisa FIOCRUZ - 2013
 O tempo de uso de crack está em torno de 08 anos: contradiz
as notícias comumente veiculadas de que os usuários de crack/similares
teriam sobrevida necessariamente inferior a 3 anos de consumo.

 Aproximadamente 40% dos usuários no Brasil encontravam-


se em situação de rua. isto não quer dizer que esse contingente,
necessariamente, mora nas ruas, mas que nelas passava parte expressiva
do seu tempo.

 Atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e furtos/roubos


e afins, foram relatadas, 6,4% e 9,0% dos usuários,
respectivamente: não se observou serem essas as principais fontes de
renda a dos usuários de crack e/ou similares. A forma mais comum de
obtenção de dinheiro são provenientes de trabalho esporádicos e
autônomos - 65% dos entrevistados.

 Entre os usuários, quase a metade relataram ter sido detidos


no último ano (anterior a entrevista).
Perfil Pesquisa FIOCRUZ 2013
 A prevalência de HIV/Aids e de tuberculose nessa população
é bem maior que na população geral.

 O maior problema das substâncias psicoativas diz respeito ao


álcool e tabaco (poliusuários): O Crack é uma questão emergente e
importante que se manifesta mais fortemente por seu impacto social. Ganha
espaço, não por ser um problema de saúde pública, mas pela ótica moralista.

 80% dos ouvidos apresentou interesse por tratamento. É


recorrente àqueles que disseram ter interesse em voltar a estudar, conseguir
emprego e ter um lugar onde morar.

Tanto pelo perfil de vulnerabilidade quanto pelas


manifestações dos entrevistados, fica evidenciado o aspecto
social relacionado às drogas e a necessidade de articulação
intersetorial para formulação de estratégias de atenção e
cuidado.
Fonte: Pesquisa Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) 2013
CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA

Contextos de violência (violência urbana, de gênero, violência


domiciliar) e abuso/dependência de álcool e outras drogas surgem
naturalmente como demanda nos atendimentos clínicos, atribuindo a
equipe a necessidade de buscar ações que respondam a esta
realidade.

 Formação de uma rede de identificação e proteção com escolas,


assistência social local (CRASs), conselho tutelar e da mulher e outros
atores.

Destacamos a importância do apoio matricial para as Equipes de SF,


prioritariamente através dos NASF e CAPS, dentre outros,
potencializando o cuidado que facilita uma abordagem integral.
Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras
Drogas/DAET/SAS/MS

saudemental@saude.gov.br

(61) 3315 9144

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