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Universidade Estadual do Ceará – UECE

Centro de Estudos Sociais Aplicados - CESA


Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas – PPGPP
Disciplina: Tópicos Especiais em Metodologias Avaliativas
Profa.: Socorro Osterne

Georgia Clara Soares Rodrigues


É POSSÍVEL
DEMOCRATIZAR OS
DIREITOS HUMANOS
E A DEMOCRACIA?
Boaventura de Sousa Santos
Na oficina do sociólogo artesão
Aula 08
Por que rever os direitos
humanos e a democracia?
“Para alguém que viveu sob uma ditadura, a
democracia e os direitos humanos não são coisas triviais
(p.288);
 DH nos seus aspectos mais elementares: liberdade
de expressão e dos direitos cívicos e políticos;
 Os DH como gramática decisiva da dignidade humana
só entraram nas agendas internacionais nos anos de
1970 e 1980: hegemonias recentes e frágeis
 Déc. 1970 - apenas 40países entre os 200 existentes
eram considerados democráticos;
Volta ao básico: questões mais elementares sobre os
discursos e a literatura sobre DH e a democracia;
Teorias nortecentradas: rasas e triunfalistas – não
questionam a substância da verdade realidade para além dos
discursos;
HERMENÊUTICA DA SUSPEITA – para construir uma
concepção contra-hegemônica;
Ernst Bloch, séc.XVIII, interroga – o conceito de utopia
como medida de uma política emancipadora foi sendo
superado e substituído pelo conceito de direitos;
Moyn considera os DH como sendo a última utopia, a
grande missão política;

Em busca de uma concepção alternativa


Discutir direitos humanos a partir
da perspectiva daqueles que não
têm DH
Os DH servem eficazmente à luta dos excluídos, dos explorados e dos
discriminados, ou pelo contrário, dificultam essa luta?
Por que é que tanto sofrimento humano não conta como violação dos
DH?
A maioria das pessoas do mundo não são sujeitos de
direitos humanos, são objetos dos nossos discursos de DH;
Existem diferentes concepções de DH e democracia e,
provavelmente, o consenso é produto de um erro de
interpretação;
Criticar a concepção hegemônica existente sobre DH:
concebe as visões da modernidade ocidental como
construídas a partir de uma pensamento abissal que dividiu
o mundo em sociedade metropolitanas e coloniais – o que
acontecia do lado de lá da linha abissal era invisível do lado
de cá da linha;
Enquanto discurso de emancipação os DH foram historicamente
concebidos para vigorar apenas do lado de cá da linha abissal, nas
sociedade metropolitanas;
Pensar o consenso superficial dos direitos humanos;
A concepção hegemônica, convencional, sobre os DH assenta uma
série de ilusões que, por sua vez, alimentam uma série de tensões:
oIlusão Teleológica;
oIlusão Triunfalista;
oDescontextualização;
oTensão: Universal e Fundacional
oTensão: Secular e o Pós Secular
oTensão: Razão do Estado e a continuidade nos processos de justiça de
transição
oTensão: Princípio da igualdade e princípio do reconhecimento
oTensão:Direito ao desenvolvimento e o direito a autodeterminação
Ilusão
Teleológica
Significa ler a história passada como uma caminho linear
orientado para conduzir o consenso e o bem incondicional;
Cada momento histórico diferentes ideias estiveram em
competição e a vitória de uma delas é resultado contingente;
A vitória histórica dos direitos humanos traduziu-se muitas
vezes num ato de violenta reconfiguração histórica “ as
mesma ações que, vistas da perspectiva de outras concepções
de dignidade humana, eram ações de opressão ou dominação,
foram reconfiguradas como emancipatórias e libertadoras, se
levadas a cabo em nome dos DH.
Ilusão
Assume que outras gramáticas ou
Triunfalista
linguagens de dignidade
humana, de libertação e emancipação alguma vez discutidas ou
em contraponto com os DH eram inerentemente inferiores em
termos éticos ou políticos;
Avaliar criticamente as razões da superioridade ética e política
dos DH em relação a outras gramáticas ou linguagens de
emancipação social – gramáticas alternativas de dignidade
humana;
O triunfo dos DH pode ser considerado para uns, um progresso,
uma vitória histórica, e, para outros, um retrocesso, uma derrota
histórica.
Ilusão da
Linguagem emancipatória que Descontextualização
provém do Iluminismo séc. XVIII, da
revolução francesa (1789) e revolução americana (1776);
Os DH foram usados como discurso e como arma política, em
contextos muitos distintos e como objetivos contraditórios;
Legitimar praticas consideradas opressivas;
A partir do séc. XIX, o discurso do DH se separou da tradição
revolucionária e passou a ser concebido como graática despolitizada de
transformação social – antipolítica;
Os DH foram subsumidos no direito do Estado – assume o monopólio
da produção do direito e de administração da justiça;
Herança das revoluções modernas ou ruínas destas revoluções?
Recontextualizar: o mesmo discurso de DH significou coisas muitos
diferentes em diferentes contextos.
Tensão Universal e
Fundacional
 Os DH são rotulados como universais o que reforça a ideia de que
seriam uma única gramática válida para falar em dignidade humana;
Universal é tudo que é válido, independente do contexto.
Fundamental é algo que vem desde a fundação, da criação, das
raízes de uma dada comunidade ou entidade – raízes dessa sociedade;
A forma como os DH são concebidos é muito ocidental – origem
fundamental no Ocidente :
oindividualismo da tradição liberal (indivíduo antes da comunidade);
oo reconhecimento na DUDH de dois sujeitos jurídicos: o indivíduo e o
Estado – povos são reconhecidos apenas na medida em que se tornam
Estado; torna invisíveis exclusões do outro lado da linha abissal.
Tensão Direitos Individuais e Direitos
Coletivos
 Resulta da luta histórica dos grupos sociais que, sendo excluídos
ou discriminados enquanto grupo, não podem ser adequadamente
protegidos pelos direitos humanos individuais;
Os direitos coletivos existem para eliminar ou minorar a
insegurança e a injustiça suportadas pelos indivíduos que são
discriminados como vítimas sistemáticas da opressão apemnas por
serem o que são, e naão por fazerem o que fazem;
Existem direitos que só podem ser exercidos coletivamente -
direito a autodeterminação;
O não reconhecimento da diversidade é o que fomenta as tensões
em que assenta a concepção hegemônica de DH.
Tensão Secular e Pós-
Secular
 Há culturas em que essa divisão do sagrado e o secular,
entre a esfera das religiões e a esfera secular do Estado, não
é aceita;
A questão do secularismo, na separação ou não entre
religião e o Estado;
A solução nortecentrada é uma solução muito peculiar,
pois considera que só é possível a liberdade de religião em
um mundo livre da religião e, por isso como parte da esfera
privada, só admite a religião
Tensão Razão do Estado e a continuidade dos
DH na justiça de transição

 Crimes foram cometidos pelo Estado em países que


atravessaram períodos de ditadura;
A questão é saber se é possível punir esses crimes quando na
transição da ditadura para a transição da democracia se fez sob
a premissa de que nunca seriam punidos;
Pactos foram feitos para garantir que os ditadores nunca
seriam levados a julgamento.
Tensão Princípio da Igualdade e o Princípio do
Reconhecimento
 Princípio foram criados com base na igualdade e liberdade, mas
não na base do reconhecimento da diferença (mulheres e homens,
negros e brancos, etc.);
Eles têm histórias diferentes, diferentes memórias, e querem ser
iguais para serem diferentes

Tensão Direito ao Desenvolvimento e o Direito a


Autodeterminação
 Ásia, África e América latina reinvidicam o direito ao
desenvolvimento (exploração de suas riquezas) e que se sobrepõe ao
direito da autodeterminação pois viola o direito de camponeses,
indígenas, povos tribais...
Análise crítica da Democracia
 Democracia alvo de consenso generalizado, o qual deve-se aplicar
a hermenêutica da suspeita;
No séc. XX não é um valor pelo qual todos os povos lutam;
A teoria e a ciência existentes determinavam que para ser
democráticos, um país tinha que cumprir com determinadas
condições – democracia é exigente e por isso acessível a poucos
(privilégio de poucos países globais);
Teoria de 1960 versa as condições para um país ser democrático:
oreforma agrária que cria rentabilidade econômica para a
agricultura e expulsa os camponeses, massa de indivíduos que
migra para cidades;
oClasse média: sustenta a estabilidade da democracia, pois a
democracia é um sistema político instável;
 Platão e Aristóteles até séc. XIX: democracia sistema político
altamente perigoso (vir a dar o poder os mais ignorantes;
Teoria Elitista da Democracia - cidadão não devem participar
muito da democracia;
Teoria Democrática Liberal – baseada na ideia de suspeita contra
a participação, pelo medo que ela causa – o poder irrestrito do povo
comprometem a estabilidade, a governabilidade e a existência do
Estado;
Na brecha da Guerra Fria países não alinhados vão desenvolver
ideias interessantes acerca dos seus próprios DH e democracia –
formas outras de democracia adaptadas a diferentes realidades
(desenvolvimentista, de partido único);
Regras – democracia procedimental- separa o político do
econômico/ Estado da sociedade civil
Conceito de Sociedade Civil - Habermas:
Composta pelos domínios nos quais o cidadão se pode
equilibrar, sem coerção política, nem sob o peso do
dinheiro, que constituem os dois elementos que destroem
a sociedade civil.
A sociedade civil tem uma forma de deliberação e de
criação da opinião política muito específica, que vai se
chamar esfera pública.
A esfera pública é o modo político da sociedade civil se
afirmar
Identificar os problemas do modelo
hegemônico e pensar um modelo alternativo
de democracia
 Questões do modelo Hegemônico:

oDemocracia é condição para tudo - não pode haver


desenvolvimento, ajuda externa ou assistência internacional se não
houver democracia;
oOs modelos de democracia vigentes são modelos em que a
democracia não conta e nem cuida das condições para que as
pessoas possam ser democratas, exercer a democracia;
oRelação política cidadão-cidadão (horizontal) / cidadão-Estado
(vertical): dupla relação marco de toda política liberal da
modernidade - democracia liberal trata da relação vertical e não
entra na relação horizontal – não vai tentar democratizar a vida
dos cidadãos a qual decorre das relações horizontais;
 Questões do modelo Hegemônico:
oRelação política horizontal fica fora do espectro: impedem as
pessoas de passarem de relações de poder desigual para relações de
autoridades;
oSobreposição do constitucionalismo global ao constitucionalismo
nacional: constitucionalismo neoliberal tem normativas que são
impostas a todos os países – choque constitucionalismo global do
neoliberalismo e o que está na Constituições a nível nacional;
oPromiscuidade entre o econômico e o político contaminação do
mercado político pelo econômico;
oSeparação de poderes: equilíbrio de poder destruído
fundamentalmente em favor do executivo, não tem contraponto
eficaz do poder judiciário – corrupção;
oCidadãos decidem cada vez menos;
 Questões do modelo Hegemônico:
oCondição política determinada pelo econômico das sociedades;
oCidadãos decidem cada vez menos: programas eleitorais mentiras
sitemáticas;
oPrincípios da autorização e da prestação de contas: cidadão não
decidem (autorização) elegem decisores, cidadão podem retirar o
mandato de seus decisores (prestação de contas), se houvesse fáceis
sistemas de revogação de mandato;
Ideias para uma democracia de Alta
Intensidade
 Não existe democratização do estado sem democratização da
sociedade civil (relações familiares, as relações comunitárias, as
relações na educação, no trabalho, na área econômica, etc., nunca
democratizaremos a sociedade;
Temos que analisar os contextos para perceber até onde podemos
levar as tarefas de democratização;
Democracia pós-capitalista pois na sociedades capitalistas não
consegue democratizara a relação central destas sociedades –
capital –trabalho/ o capitalismo não quer a democracia – não quer
redistribuição social;
Transferência de poder das unidades nacionais para as unidades
transnacionais – transferir poderes reduz a densidade democrática
Como democratizar as relações horizontais entre cidadãos?

Tem que haver diferentes forma de democracia e de deliberação;


Democracia deve considerar a diferença cultural no que se refere
as pertenças individuais e coletivas;
Demodiversidade: aceitar que existem diversas formas do
exercício democrático, contribuir de forma mais rica com a
inclusão;
Não abandonar a democracia representativa, dar-lhe mais força,
através do mecanismos de participação;
Transforma a democracia em processos de democratização cada
vez mais avançados!
Obrigada!

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