vocação hereditária. Aceitação e renúncia da herança. Cessão de direitos hereditários.
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka
Professora Titular de Direito Civil da FADUSP. Aceitação da herança • O herdeiro sucessível pode aceitar ou renunciar à herança. • Princípio constitucional da liberdade ou de autodeterminação. • A aceitação (e também a renúncia) só pode ser juridicamente considerada feita após a morte do autor da herança. • Vedação total a qualquer ato que tenha por objeto herança de pessoa viva (pacto sucessório). • A aceitação tem por efeito a confirmação da transmissão legal (droit de saisine) – art. 1.804 CC. • Efeito meramente declaratório de confirmação da transmissão das titularidades, que já havia se operado desde a abertura da sucessão. Aceitação da herança • O Código Civil não exige manifestação expressa da aceitação. • Reputa-se existente a aceitação se o herdeiro não manifestar expressamente a renúncia. • Termos utilizados como sinônimos, na linguagem jurídica: • Adir (aceitar) • Adição (aceitação) • A lei não determina prazo para que ocorra a aceitação. Mas o juiz estabelecerá prazo razoável, se e quando necessário. • Vencido o prazo, tem-se como aceita a herança, de modo irrevogável. Aceitação da herança • Sucessíveis não plenamente capazes para aceitar: • Absolutamente incapaz (representante legal) • Relativamente incapaz (assistente legal) • Nascituro – o início do prazo para aceitar só se iniciará com o seu nascimento com vida, e desde que conte com representante legal.
• Aceitação inexistente: se feita antes da abertura da sucessão (óbito do
autor da herança). • Aceitação nula: viola lei expressa (aceitação feita por curador ou tutor, quando não expressamente autorizados pelo juiz). • Aceitação anulável: feita diretamente por relativamente incapaz, sem assistência. Aceitação da herança • Modalidades de aceitação: • Expressa: utilização rara; se for expressa, deve ser por documento escrito. • Tácita: decorre de atitudes ou comportamentos (quando não renuncia; quando realiza atos próprios de herdeiro; quando assume a posse imediata de bens e os administra; quando paga dívidas do espólio; quando cobra créditos do falecido; quando toma providências para a abertura do inventário, etc. • Situações vedadas na aceitação da herança: • Aceitação sob condição, ou a termo; aceitação parcial da herança (exceção = herança + legado). Renúncia à herança • Declaração unilateral do beneficiado, subjetiva e não sindicável por quem quer que seja, incluindo o próprio Poder Judiciário. • Só se renuncia a direito já nascido (droit de saisine) e incorporado ao patrimônio do renunciante. • Tem efeito retroativo e deve ser interpretada restritivamente. • A forma é indispensável (expressa por escrito), para que se torne conhecida e indiscutível. • Por escritura pública, lavrada por tabelião, ou • Por termo nos autos. Renúncia à herança • A herança ou legado renunciados não se disponibilizam para os sucessores do renunciante – art. 1.811 CC: “ninguém pode suceder representando herdeiro renunciante”. • Em casos outros (morte do herdeiro, herdeiro excluído ou deserdado), os sucessores destes podem substitui-lo. • A renúncia é irrevogável. Pode haver especiais exceções: • Herdeiro que renunciou por serem excessivos os gravames impostos pelo testador. Mas, depois, decisão judicial considerará nulos tais gravames. O herdeiro que havia renunciado pode propor ação de anulação da renúncia. • A renúncia pode ser feita por procurador, mas com poderes específicos e bem definidos, para tanto. Renúncia à herança • Espécies de renúncia: abdicativa e translativa. • Abdicativa: rejeição pura e simples da herança. Quinhão renunciado volta ao espólio e será distribuído entre os demais herdeiros. • Translativa: renúncia em favor de determinada pessoa – não existe. • Mas, o CC inovou (art. 1.805, §único), atendendo a práticas comuns e costumes repetidos: • “Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples da herança, aos demais coerdeiros”. • A rigor, não é cessão, nem renúncia – apenas se cede o que está incorporado ao patrimônio jurídico do cedente. Cessão da herança • O herdeiro pode transferir para outrem sua parte na herança. • A herança é um todo indivisível (regras do condomínio). • A cessão dará ensejo à transferência de apenas parte ideal. • A cessão (gratuita ou onerosa) se dará por instrumento público: cedente (o herdeiro) e cessionário (o adquirente da parte ideal da herança). • Não há necessidade de registro público deste instrumento. • Cede-se a posição (não a qualidade) de herdeiro, inclusive para fins de aceitação e petição de herança. • O cessionário é alcançado pela transmissão do domínio e da posse do herdeiro cedente, desde a abertura da sucessão. Cessão da herança • Cessão gratuita = • equivale à doação. • Cessão onerosa = • equivale à compra e venda, ou • equivale à permuta, ou • equivale à dação em pagamento.
• Direito de preferência assegurado aos coerdeiros.
• Aplicável apenas nos casos de cessão onerosa (não há preferência, na cessão gratuita – art. 1.794 CC.