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Orientações e Ações para a

Educação das Relações Étnico-


Raciais

15 de AGOSTO de 2019
Profª Jéssica Maria
Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem
oferecer garantias, a essa população, de ingresso, permanência e
sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico-
cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dos
conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos
estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista
a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para atuar
como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem
com qualificação uma profissão.
• [...]Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o objetivo de educação das relações étnico/raciais

positivas têm como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os negros poderão

oferecer conhecimentos e segurança para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos poderão permitir que identifiquem

as influencias, a contribuição, a participação e a importância da história e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, de se

relacionar com as outras pessoas, notadamente as negras. Também farão parte de um processo de reconhecimento, por parte do

Estado, da sociedade e da escola, da dívida social que têm em relação ao segmento negro da população, possibilitando uma tomada

de posição explícita contra o racismo e a discriminação racial e a construção de ações afirmativas nos diferentes níveis de ensino da

educação brasileira.

• Tais pedagogias precisam estar atentas para que todos, negros e não negros, além de ter acesso a conhecimentos básicos tidos como

fundamentais para a vida integrada a sociedade, exercício profissional competente, recebam formação que os capacite a forjar novas

relações étnico-raciais. Para tanto, há necessidade de professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos e

além disso sensíveis e capazes de direcionar positivamente as relações entre pessoas de diferentes pertencimentos étnico-raciais, no

sentido do respeito e da correção de posturas, atitudes, palavras preconceituosas. Daí a necessidade de se insistir e investir para que

os professores, além da solida formação na área de atuação, recebam formação que os capacite não só a compreender a importância

das questões relacionadas à diversidade étnico-racial, mas a lidar positivamente com elas e sobretudo criar estratégias pedagógicas

que possam auxiliar a reeducá-las.


A educação das relações étnico-raciais

[...]Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o padrão estético negro e


africano e um padrão estético e cultural branco europeu. Porém, a presença da
cultura negra e o fato de 45% da população brasileira ser composta de negros (de
acordo com o CENSO do IBGE) não tem sido suficientes para eliminar ideologias,
desigualdades e estereótipos racistas. Ainda persiste em nosso país um imaginário
étnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raízes europeias
da sua cultura, ignorando ou pouco valorizando as outras, que são a indígena, a
africana, a asiática.
POVOAMENTO BRASILEIRO

Quem foram nossos índios e negros do


período colonial?
Motivações essenciais para a
A escravidão Negra escravidão negra no Brasil:

 domínio de Portugal em regiões


da África, especialmente litoral;

 lucro da Coroa Portuguesa com a


venda dos negros;

 apoio da própria Igreja Católica


que associava os africanos à
prática do ocultismo;

 Incentivo de novas atividades


econômicas como a indústria
naval e a agricultura ( tabaco e
cana de açúcar)
• Quilombagem é o movimento de rebeldia A resistência Negra e os
quilombos
permanente organizado e dirigido pelos
próprios escravos que se verificou durante o
escravismo brasileiro em todo o território
nacional. Movimento de mudança social
provocado, ele foi uma força de desgaste
significativa ao sistema escravista, solapou as
suas bases em diversos níveis – econômico,
social e militar – e influiu poderosamente para
que esse tipo de trabalho entrasse em crise e
fosse substituído pelo trabalho livre.
A escravidão indígena

 Empreendimento de modelo de
exploração econômica das terras
brasileiras capaz de gerar lucro em
pouco tempo.
 Ampla mão-de-obra capaz de
produzir riquezas em grande
quantidade com garantia de lucro
para a Coroa Portuguesa.
[...] as mortes causadas pelo trabalho forçado, as mortais epidemias contraídas
no contato com o homem branco e ruptura com a economia de subsistência
dos indígenas impedia a viabilidade desse tipo de escravidão.

O controle sobre os índios escravizados era bem mais difícil tendo em vista o
conhecimento que tinham do território.
O interesse da Igreja em converter religiosamente os indígenas
contribuiu, dentre outros fatores, para a substituição da mão de obra
escrava indígena pela negra, mas não fez da igreja menos opressora
. Catequizar os índios era símbolo de controle dos povos e de suas
terras.
Ao contrário do imaginário nacional, as
populações indígenas existente no território brasileiro não
se concentram apenas na região Amazônica, mas estão
distribuídas nas cinco regiões do país. Nota-se que uma
parte significativa das tribos indígenas estão
concentradas na região norte e isso se justifica, em
grande parte, pelas extensas áreas conservadas de
florestas nativas, ainda não ocupadas pelo homem
branco, todavia palco de muitos conflitos pela ocupação
de terras e extrativismo dos recursos naturais, muitas das
vezes realizado de forma ilegal.
A população indígena brasileira, mesmo diante da conquista de direitos
que visam garantir a sua cidadania, vem enfrentando uma complexa
transformação social, que exige a construção de novas ações para a sua
sobrevivência física e cultural e garantir às próximas gerações melhor
qualidade de vida. Estar inserido num contexto urbano possibilita ao índio
o acesso à escola pública, serviço público de saúde e demais direitos
constitucionais concebidos aos demais brasileiros, mas também os coloca
diante de problemas reais, tais como a exploração sexual, exploração do
trabalho infantil, pobreza e demais problemas sociais que fazem do Brasil
um pais tão desigual.

No que se refere a cidadania indígena a Funai aponta que,


[...] Além da garantia ao cidadão indígena da participação na vida política
nacional com direito a voto, acesso a documentação, não-discriminação e
direitos de cidadania, reconhece-se que os povos indígenas também se
apresentam como coletividades singulares frente à sociedade nacional.
Isso significa dizer que os povos indígenas organizam-se por meio de
usos, costumes, tradições dentro de sociedades indígenas - inclusive com
regras internas próprias - e que, como coletividades distintas, também
participam das decisões políticas de Estado.
As dificuldades para a manutenção das práticas culturais e a própria sobrevivência das
populações indígenas são diversas. No Mato Grosso do Sul, como notamos, existe uma atribulada
disputa territorial entre índios e fazendeiros. A violência, a dificuldade para sobreviver dos recursos da
floresta e a miséria decorrente destas circunstâncias têm levado à degradação das tribos. No passado
os índios foram dizimados diante de processos violentos de escravidão e miscigenação e hoje
padecem diante da necessidade de manter vivas seus costumes e estilos de vida próprio.

A manutenção da cultura indígena está intimamente ligada a questão do território, e por isso,
notamos que historicamente a posse de terra sempre foi eixo de diversos conflitos e transformações.
Diante de seu vasto conhecimento do território, como vimos em capítulos anteriores, os indígenas
contribuíram para as transformações no sistema escravocrata, o que também possibilitou sua
resistência e fuga.
Ainda dentro dessa perspectiva de território a FUNAI contribui ao revelar que:

De acordo com a Constituição Federal vigente, os povos indígenas detêm o direito originário e o
usufruto exclusivo sobre as terras que tradicionalmente ocupam. A efetivação de direitos de cidadania
para povos indígenas pressupõe o reconhecimento de sua autonomia, enquanto coletividades
diferenciadas. Assim a participação indígena na construção de políticas públicas diferencia-se de
outros grupos sociais à medida que é representativa de coletividades com especificidades que as
distinguem da sociedade nacional. (grifos nossos)

Ter legalmente constituído o direito à terra tradicionalmente ocupada não vem garantindo as populações
indígenas de fato a preservação de seus costumes e valores e portanto a existência de reservas
indígenas se tornaram indispensáveis para a manutenção desse direito. De acordo com a FUNAI, o
direito originário consiste na posse das " terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem estar e as necessárias a sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições." Trata-se de uma conquista de
direito iniciada no século XVII e que foi mantido pelo Sistema Legal Brasileiro, inclusive considerando as
necessidades existentes no passado, no presente e no futuro das diferentes populações indígenas.
Por reservas indígenas compreendemos,

[...] As terras de posse e ocupação dos povos indígenas brasileiros, que possuem como origem a desapropriação ou compra pela União, como também
doações realizadas por terceiros. As terras das reservas indígenas são destinadas ao uso dos povos indígenas, não podendo ser comercializadas ou
emprestadas para outros fins, pois são também patrimônio da União. Estas reservas são previstas e regulamentadas no Estatuto do Índio, conjunto de
leis decretadas e sancionadas pelo governo federal do Brasil. (FUNAI – Fundação Nacional do Índio)

Negros e índios, assim como mulheres, crianças, deficientes, compõem hoje o que
chamamos de minorias, justamente por necessitarem de ações, políticas e posicionamentos sociais,
culturais e econômicos que garantam o seu desenvolvimento e valorização de suas especificidades.
Assim como a população indígena, a população negra no Brasil ainda padece diante do
distanciamento existente entre as correções que a legislação garante e a qualidade de vida que de
fato se estabelece. Depois da Nigéria, o Brasil é considerado o país com maior população negra do
mundo, todavia sua contingencia demográfica não foi historicamente suficiente para garantir a esses
brasileiros a efetivação de seus direitos enquanto cidadãos e principalmente romper com uma cultura
de preconceito, racismo e discriminação, que ainda colocam os negros e seus descendentes a mercê
da sociedade.
Ao negro, por exemplo, foi possibilitado acesso ao mercado remunerado de trabalho, todavia se analisarmos esse
mercado, é constatável que a quantidade de negros em setores mais elitizados ainda é baixa, assim como sua ascensão em
áreas do mercado de trabalho com maior status social.
De acordo com a SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) publicou um estudo em 2015 sobre o mercado de trabalho
para os negros nas principais capitais do país. Tal estudo fez as seguintes revelações:

[...] Apesar dos avanços nos últimos anos, as desigualdades raciais no mercado de trabalho ainda permanecem. O Dieese
afirma que essas desigualdades condicionam as oportunidades de vida desses grupos populacionais na sociedade brasileira.
[...]Entre os grupos mais afetados, a entidade destaca as mulheres negras. “A desigualdade no acesso ao mercado de
trabalho e nas condições de trabalho que afeta os negros é ainda mais intensa quando se trata das mulheres negras. A
dinâmica do mercado de trabalho expressa os padrões vigentes nas relações raciais e de gênero na sociedade brasileira”.
[...]“O rendimento médio por hora dos negros cresceu na maioria das regiões, mas ainda experimenta diferencial expressivo
e bastante inferior em todas elas. Em Salvador, onde há maior presença de negros na estrutura produtiva, o rendimento
médio por hora recebido por eles correspondia a 62,7% do dos não negros. Em Fortaleza, onde a situação era menos
desigual, a proporção era de 77,5%. A diferença salarial desse segmento revela a dimensão da discriminação vivida. Os
negros estão mais presentes em ocupações mais precárias, caracterizadas pela ausência de proteção social e, por
consequência, menores remunerações”.
Além da renda, o documento sinaliza um contingente crescente de negros desempregados, em todas as seis regiões
pesquisadas entre 2013 e 2014.
Não pretende-se aqui supervalorizar uma prática profissional em detrimento de outras, mas chamarmos a atenção para
o fato de que a presença de fatores históricos, sociais, educacionais, culturais e econômicos são decisórios na ocupação de
áreas de menor remuneração e projeção social, áreas essas ocupadas em grande parte pelos negros.
O negro hoje no Brasil conquistou diversos espaços, fruto como já vimos do Movimento Negro nos diversos
períodos históricos, todavia a existência de um “Dia de consciência Negra” não pode ser banalizado e considerado apenas
como mais um feriado nacional, assim como as reflexões acerca das necessidades da minoria não devem se estabelecer
apenas diante de datas pontuais tais como,” Dia do Índio, “Dia da Mulher”, “Dia da Libertação dos escravos”, entre outras
datas expressivas do calendário nacional. A celebração de uma conquista historicamente construída deve nos levar,
enquanto brasileiros, a refletir sobre o papel dos negros e negras para construção do país, os espaços que essas pessoas
ocupam e/ou deveriam ocupar, assim como a busca de novas e melhores formas de se combater o racismo ainda presente nos
dias de hoje.

Para a mudança desse cenário é indispensável dentre outras ações repensarmos o papel da educação. No que se
refere a educação formal as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 trouxeram grandes contribuições ao tornar obrigatório o estudo da
história e cultura afro-brasileira e indígena, uma vez que a partir de as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico raciais torna-se possível a sistematização dessas reflexões já no seio escolar, nas diversas etapas do ensino e por
tanto acredita-se que isso contribua no processo de construção de novos e indispensáveis espaços de diálogos que de fato
reconheçam as necessidades e especificidades de toda a população brasileira.
É importante destacar que a garantia legal dos direitos
não promove sua concretização. São as atitudes
efetivas e intencionais que irão demonstrar o
compromisso com tais direitos. Reconhecer as
diferenças é um passo fundamental para a promoção
da igualdade, sem a qual a diferença poderá vir a se
transformar em desigualdade.
IMPORTANTE

Para a próxima aula (22.08.2019) terão aula de Estagio Supervisionado –


Profº Drª Silene Fontana

Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Farão um estudo


dirigido em sala e a organização de seminário assim estruturado:

GT1 – Educação Infantil


GT2 - Ensino Fundamental
GT3 – Ensino Médio
GT4 – Educação de Jovens e Adultos
GT5 - Licenciaturas
GT6 - Educação Quilombola

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