O documento discute a origem e influência cultural dos escravos negros trazidos para o Brasil. Aponta que vinham de diversas áreas da África, incluindo regiões com culturas avançadas de agricultura, metalurgia e criação de gado. Essas culturas trouxeram contribuições significativas para a sociedade brasileira, apesar de terem sido oprimidas sob o regime da escravidão.
Descrição original:
Apresentação do referido capítulo, da Obra Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.
Título original
Capítulo IV – O Escravo Negro na vida sexual e família do brasileiro (Gilberto Freyre)
O documento discute a origem e influência cultural dos escravos negros trazidos para o Brasil. Aponta que vinham de diversas áreas da África, incluindo regiões com culturas avançadas de agricultura, metalurgia e criação de gado. Essas culturas trouxeram contribuições significativas para a sociedade brasileira, apesar de terem sido oprimidas sob o regime da escravidão.
O documento discute a origem e influência cultural dos escravos negros trazidos para o Brasil. Aponta que vinham de diversas áreas da África, incluindo regiões com culturas avançadas de agricultura, metalurgia e criação de gado. Essas culturas trouxeram contribuições significativas para a sociedade brasileira, apesar de terem sido oprimidas sob o regime da escravidão.
• “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na
alma, quando não na alma e no corpo – há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil – a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro.” (p. 283)
• “Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo [...], na
música, no andar, na fala, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra.” (p. 283). Sobre a superioridade/inferioridade do negro
• Houve uma ideia, em meios ortodoxos e oficiais do
Brasil, em que o negro era superior ao indígena e até ao português em vários aspectos de cultura material e moral. Superior em capacidade técnica e artística.
• Mas a Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, à época, questionou a rudimentar organização política dos “filhos da terra adusta de Cam”, que não poderiam ser colocados em um grau acima dos “autóctones do Brasil”. Sobre a superioridade/inferioridade do negro
• Além da maior superioridade técnica e de cultura dos
negros, tinha mais predisposição biológica e psíquica para a vida dos trópicos.
• Considerava-se que o indígena na América era
introvertido, enquanto o negro, mais extrovertido. Onde pode constatar-se o comportamento de populações negras como a baiana – alegre, expansiva, sociável – e outras mais influenciadas por sangue indígena (piauiense, paraibana ou pernambucana) – tem-se a impressão de serem mais caladas, tristonhas. Sobre a superioridade/inferioridade do negro
• Essa disposição psíquica de maior adaptação biológica
ao clima quente, explicam em parte o motivo do negro na América Portuguesa ter sido o maior colaborador do branco na obra de colonização agrária, e ter desempenhado mais que os indígenas a “missão civilizadora europeizante”.
• Tem-se ressalvas com relação a essa extroversão dos
negros, pois não lhe atribui influência absoluta. E o critério histórico-cultural demonstra que houve antes uma incapacidade técnica e social, do que psíquica e biológica. Além disso, a cultura, a dieta ou o regime alimentar dos negros também contribuíram. Sobre a superioridade/inferioridade do negro
• Parte dessa superioridade de eficiência econômica e
eugênica, era que o negro tinha um regime alimentar mais equilibrado e rico, uma agricultura regular e criação de gado, diferente dos indígenas, que eram nômades.
• Uma vez no Brasil, em um certo sentido, além de serem
considerados os verdadeiros donos da terra, dominaram a cozinha. Nossa culinária se enriqueceu e refinou com a contribuição africana.
• Acreditava-se que o negro, por suas características
somáticas, era a raça mais próxima da forma ancestral do homem, cuja a anatomia supôs-se que era semelhante a do chimpanzé. No entanto, os lábios dos macacos são finos como o da raça branca, como pontuou Franz Boas. Sobre a superioridade/inferioridade do negro
• Os antropólogos revelaram que os negros tinham capacidade
mental similar a de outras raças (embora não se negou que houvesse diferenças). Mas é difícil comparar o europeu com o negro em termos ou sob condições iguais.
• Max Schmidt destaca dois aspectos da colonização africana
que deixam entrever superioridade técnica do negro sobre o indígena e até sobre o branco: o trabalho de metais e a criação de gado.
• Goldenweiser salientou que era absurdo julgar o negro por
sua capacidade de trabalho e sua inteligência, através do esforço desenvolvido por ele nas plantações da América sob o regime da escravidão. O negro devia ser julgado pela atividade industrial que desenvolvia no ambiente de sua própria cultura, com interesse e entusiasmo pelo trabalho. Sobre a origem e a influência cultural
• Os negros importados para o Brasil eram da área mais
penetrada pelo islamismo, de cultura superior não só a dos indígenas, mas da maioria dos colonos brancos (que tinham que se reportar ao padre-mestre). Escravos liam o Alcorão e faziam propaganda contra a missa católica, dizendo que era o mesmo que adorar pau. Foram obrigados a despir a camisola de malê para virem de tanga, nos negreiros imundos.
• Forte relação do movimento malê da Bahia, em 1835,
com uma erupção de uma cultura adiantada, oprimida por outra, menos nobre. Relatório da polícia da província da Bahia relatou o nível de instrução dos “revoltosos”. Sobre a origem e a influência cultural
• Alguns historiadores do século XIX limitaram a
procedência dos escravos importados para o Brasil ao estoque banto. Sá Oliveira, por exemplo, colocou na estratificação social da Bahia que os negros eram quase todos “colhidos” nas tribos mais selvagens dos cafres e atirados aos traficantes de escravos no litoral da África.
• Mas as pesquisas em torno da imigração de escravos
negros para o Brasil tornaram-se muito difíceis, depois que o Governo Provisório de 1889, mandou queimar os arquivos de escravidão na Bahia, sob a circular do Ministério da Fazenda, em 13 de maio 1891. Sobre a origem e a influência cultural
• Mesmo sem o valioso recurso das estatísticas
aduaneiras de entrada de escravos, Nina Rodrigues conseguiu destruir o mito da colonização africana no Brasil ter sido exclusivamente do povo banto.
• A carta escrita por Henrique Dias aos holandeses em
1647 traz a respeito: “De quatro nações se compõem esse regimento: Minas, Ardas, Angolas e Creoulos: estes tão malévolos que não temem nem devem; os Minas tão bravos que aonde não podem chegar com o braço, chegam com o nome; os Ardas tão fogosos que tudo querem cortar de um só golpe; e os Angolas tão robustos que nenhum trabalho os cança.” Os Ardas ou Ardras eram gege ou daomeanos; os Minas, nagô; os Angola, apenas, banto. Sobre a origem e a influência cultural
• Além da língua banto, quimbunda ou congoense, Nina
Rodrigues apontou que os negros que aqui vieram também falavam a gege, a haúça, a nagô ou ioruba.
• Sobre as importações, o critério utilizado foi quase
exclusivamente agrícola. Para o Brasil, a importação de africanos fez-se atendendo-se a outras necessidades e interesses. À falta de mulheres brancas; às necessidades de técnicos em trabalhos de metal, ao rugirem as minas. • Mulheres eram criteriosamente selecionadas, no caso de Minas Gerais, e diziam que eram pessoas de delicadeza de traços e relativa beleza. Sobre a origem e a influência cultural
• Os escravos vindos das áreas de cultura negra mais
adiantada foram um elemento ativo, criador, e quase que se pode acrescentar nobre na colonização do Brasil; degradados apenas pela sua condição de escravos.
• Vieram da África “donas de casa” para seus colonos
sem mulher branca; técnicos para as minas; artífices em ferro; negros entendidos na criação de gado e na indústria pastoril; comerciantes de panos e sabão; mestres, sacerdotes e tiradores de reza maometanos. Além disso, a proximidade da Bahia e Pernambuco da costa da África atuou o sentido de dar às relações entre o Brasil e o continente negro um caráter todo especial de intimidade. Sobre a origem e a influência cultural
• As áreas de cultura de onde vinham (pgs. 309 e 310)
não tinha nenhum confronto com a dos povos indígenas do Brasil.
• Embora não seja unicamente, a colonização africana do
Brasil foi principalmente com elementos bantos e sudaneses. Gente de áreas agrícolas e pastoris. Bem alimentada a leite, carne e vegetais. Os sudaneses da área ocidental, senhores de valiosos elementos de cultural material e moral próprios.
• Importavam tecebas ou rosários, instrumentos sagrados
como o heré ou chéchéré (chocalho de cobre que nos xangôs ou toques alvoroça as filhas-de-santo; ervas sagradas e para fins afrodisíacos ou de puro prazer. Sobre a origem e a influência cultural
• Os nagôs, por exemplo, do reino de Iorubá, deram-se ao
luxo de importar, tanto quanto os maometanos, objetos de culto religioso e de uso pessoal (Noz-de-cola, cauris, pano e sabão-da-costa, azeite-de-dendê).
• Obs.: Até fins do século XIX deu-se o repatriamento de
haúças e nagôs libertos da Bahia para a África, que geges libertos repatriados fundaram em Ardra uma cidade com o nome de Porto Seguro.
• Do contrário que é falado, o primeiro volume de
documentos relativos às atividades de bruxaria no Brasil, registra vários casos de bruxas portuguesas. Sobre a origem e a influência cultural • Principais áreas de cultura (estudo de Melville Herskvotis sobre a África): a) Hotente, caracterizada pela criação de gado, pelo uso de bois no transporte de fardos, pela utilização de suas peles no vestuário, pelo largo consumo de sua carne, etc.; b) Boximane – cultura inferior à primeira, pobre, nômade, sem animal nenhum a serviço do homem a não ser o cachorro, sem organização agrária ou pastoril, semelhante nesses traços à cultura indígena, mas superior a esta em expressão artística (pintura); c) A área de gado da África oriental (banto), caracterizada pela agricultura, com a indústria pastoril superimpostal; trabalhos em ferro e madeira, poligamia, fetichismo; Sobre a origem e a influência cultural d) Área do Congo – (também de lingua banto, e na fronteira ocidental falavam tibo, fanti, etc.) a economia agrícola, além da caça e da pesca; a domesticação da cabra, do porco, da galinha e do cachorro; mercados em que se reúnem para a venda produtos agrícolas e de ferro, balaios, etc.; posse da terra em comum, a escultura em madeira como expressão artística e os artistas ocupavam lugar de honra na comunidade;
e) Horn Oriental – mistura do contato da cultura negra do Sul
com a maometana do Norte, atividade pastoril, utilização de numerosos animais (vaca, cabra, carneiro e camelo), organização social influenciada pelo islamismo;
f) Sudão Oriental – área mais ainda influenciada que a anterior
pela religião maometana; língua árabe; abundância de animais a serviço do homem; atividade pastoril; grande uso de leite de camelo; nomadismo; tendas; vestuários de panos semelhantes aos dos berberes; Sobre a origem e a influência cultural
g) Sudão Ocidental – outra área intercultural, a negra
propriamente dita e a maometana; região de grandes monarquias ou reinos (Daomei, Benin, Axanti, Haúça, Bornu, Ioruba); sociedades secretas de largo e eficiente domínio sobre a vida política; agricultura, criação de gado e comércio; notáveis trabalhos artísticos de pedra, ferro, terracota e tecelagem;
h) Área do deserto (berbere);
i) Área egípcia, não foi muito mencionada, pois para o nosso
contexto, não influenciou diretamente a colonização; mas tiveram uma e outra larga influência sobre o continente africano. Sobre a origem e a influência cultural
• O grosso das crenças e práticas da magia sexual que se
desenvolveram no Brasil foram coloridas pelo intenso misticismo do negro; algumas trazidas da África, outras africanas apenas na técnica, servindo-se de bichos e ervas indígenas. Nenhuma mais característica que a feitiçaria do sapo para apresentar a realização de casamentos demorados.
• Como em Portugal, a feitiçaria no Brasil, depois de
dominada pelo negro, continuou a girar em torno do motivo amoroso, de interesse de geração e de fecundidade; a proteger a vida da mulher grávida e da criança ameaçada por tantos males. Sobre a origem e a influência cultural
• As canções de berço portuguesa, modificaram-se na
boca da ama negra, alterando as palavras e adaptando às condições regionais, ligando-as às crenças dos índios e às suas (p. 327).
• Novos medos trazidos da África, ou assimilados dos
índios pelos colonos brancos e pelos negros, juntaram- se aos portugueses. No mato, o saci-pererê, o caipora, o homem de pés às avessas, o boitatá. Por toda parte, a cabra-cabriola, a mula-sem-cabeça, o tutu-marambá, o negro do surrão, o tatu-gambeta, o xibamba, o mão-de- cabelo. Sobre a origem e a influência cultural
• Processo de reduplicação da sílaba tônica, atuou sobre
várias palavras dando ao nosso vocabulário infantil um especial encanto. O “dói” dos grandes tornou-se o “dodói” dos meninos.
• A ama negra fez muitas vezes com as palavras o
mesmo que com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. Ex. cacá, pipi, bumbum, tentém, nenen, tatá, papá, papato, lili, mimi, au-au, bambanho, cocô, dindinho, bimbinha.
• Os nomes próprios foram dos que mais se amaciaram:
Antônia, ficaram Toninhas, os Manuéis, Manés, etc. Sobre a origem e a influência cultural
• O brasileiro – pelo menos do Norte – não sente exotismo em
• Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama era um dos que se
indignavam quando ouvia “meninas galantes” dizerem mandá, buscá, comê, mi espere, ti faço, mi deixe, muler, coler, le pediu, cadê ele, vigie, espie. E dissesse algum menino em sua presença um pru mode ou um oxente. Veria o que era beliscão de frade zangado (p. 334). Sobre a origem e a influência cultural
• Temos no Brasil dois modos de colocar pronomes,
enquanto o português só admite um – o “modo duro e imperativo”: diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezarmos o modo português, criamos um novo, inteiramente nosso, caracteristicamente brasileiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido. [...] “Faça-me”, é o senhor falando: o pai; o patriarca; “me dê”, é o escravo, a mulher, o filho, a mucama (pgs. 334 e 335). Sobre a origem e a influência cultural
• As diferenças que separaram cada vez mais o
português do Brasil do português de Portugal não resultaram todas da influência negra, também da indígena, dos ciganos, dos espanhóis, mas nenhuma influência foi maior que a do negro.
• Caldcleugh, que esteve no Brasil em princípios do
século XIX, deliciou-se com o português colonial. Um português gordo, descansado. Distinguiu-se logo do da Metrópole. A pronúncia dos brasileiros pareceu-lhe menos nasal do que a do português [...]. P. 332 Sobre o lado afetivo e sexual
• Suposição de que as mulheres negras eram mais
fogosas que as mulheres brancas foi rechaçada. • Suposição da mulher negra ser responsável pelo contágio de sífilis também foi rechaçada. “O negro foi patogênico, mas a serviço do branco; como parte irresponsável de um sistema articulado por outros.” (p. 321) • Os negros mais jovens eram tratados como “brinquedos” pelos filhos dos senhores de engenho. • Era com a mulata de estimação que as meninas se iniciavam nos mistérios do amor. E também, que muitas vezes eram amamentadas. Importância das Mães Pretas. • As sinhás-moças tinham muito ciúmes das mucamas Notas de conclusão
• A doçura nas relações de senhores com escravos
domésticos, talvez maior no Brasil do que em qualquer outra parte da América.
• A verdade, porém, é que nós é que fomos os sadistas; o
elemento ativo na corrupção da vida de família; e muleques e mulatas o elemento passivo. Na realidade, nem o branco nem o negro agiram por si, muito menos como raça, ou sob a ação preponderante do clima, nas relações do sexo e de classe que se desenvolveram entre senhores e escravos do Brasil. Exprimiu-se nessas relações o espírito do sistema econômico que nos dividiu, como um deus poderoso, em senhores e escravos. Dele se deriva toda a exagerada tendência para o sadismo característica do brasileiro, nascido e criado em casa-grande, principalmente em engenho [...] (p. 379).